Sinopse: Filha do magnata Toto Wolff, diretor executivo da Mercedes, nossa protagonista vive na Áustria com a mãe, mas sente o distanciamento de sua relação com o pai. Porém, isso está prestes a mudar. Toto a convida para um evento beneficente em sua cidade natal: uma tentativa carinhosa de se aproximar de sua filha e passar uma noite de gala ao lado dela. E, para a surpresa dos dois, um encontro com o piloto Esteban Ocon é leiloado. Além de uma paixão arrebatadora, seria essa a chance que a protagonista esperava para, enfim, se conectar mais ao seu pai? Leia e se envolva nessa trama cheia de comédia, romance, drama e, é claro, muita Fórmula 1.
alisou o tecido do vestido preto, toda a sua atenção focada no reflexo do espelho, que exibia uma jovem de cabelos escuros, arrumados num coque elegante e uma maquiagem que não pareciam se adequar a si mesma. O desânimo estava escancarado em sua expressão, pois não estava acostumada a frequentar eventos sofisticados como aquele leilão beneficente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) para arrecadar fundos para uma instituição de caridade que combatia a fome. Acreditava que os mais afortunados e aqueles que estavam na mídia deveriam usar sua influência como personalidade além das suas condições financeiras para ajudar em causas como aquelas. Algo que a organização pensou em fazer após o GP da Áustria que tinha acontecido três dias atrás e que ela foi obrigada a comparecer.
Passou um batom vinho nos lábios e aproximou o rosto do longo espelho para conferir se os dentes não tinham sujado, depois guardou o batom na bolsinha de mão que combinava com o seu vestido.
Naquele instante, ouviu uma batida na porta, seguiu a passos firmes e conferiu no olho mágico antes de abri-la.
— Você está linda! — o seu pai a elogiou, com um sorriso orgulhoso, as mãos guardadas nos bolsos da calça do smoking preto.
Ela revirou os olhos, lutou contra o sorriso, mas apareceu e evidenciou a timidez.
— O senhor também — soltou, com muito esforço, entre dentes, entretanto foi sincera.
— Hoje a lua pega fogo e o sol congela! — Riu incrédulo.
— Não precisa exagerar. — Revirou novamente os olhos e trancou a porta atrás de si.
A verdade é que o pai era considerado um dos homens mais bonitos da F1 e uma das razões era o fato de não aparentar a verdadeira idade. Torger Christian Wolff, mais conhecido como Toto Wolff, poderia competir facilmente com um cara dez anos mais novo e ganhar. Além da sua bela aparência, ele é diretor executivo da Mercedes, a equipe de Fórmula 1 e também, muito apaixonado por sua profissão. Ela admirava a trajetória do pai, entretanto, nunca desejou seguir os passos dele e, talvez, tenha o decepcionado anos atrás ao escolher sua formação.
Ele digitou o código no painel do elevador, destravou as portas e estendeu um dos braços para segurá-las. A filha entrou na caixa metálica e encostou as costas na parede, em seguida, o mais velho entrou e digitou o térreo.
— Tiramos algumas fotos, vou conceder entrevistas e, depois da abertura, você está liberada para curtir com os outros jovens. — Ele a encarou seriamente.
Ela suspirou desanimada.
— Cadê a animação? — perguntou brincalhão. — Você está num evento com os astros da Fórmula 1, deveria se empolgar. Não estou te levando para a forca! — Riu.
A jovem encarou os próprios pés tristemente.
— O senhor sabe que não gosto desse universo… Isso é coisa sua. — Mirou-o tristemente.
Ele desviou o olhar, passou a mão nos fios escuros, idênticos ao dela, os bagunçando e depois a olhou.
— Você é a minha filha — declarou.
— O meu sobrenome confirma isso — soltou sarcástica.
Wolff respirou fundo antes de continuar.
— E por isso, quero que esteja ao meu lado nessa noite — finalizou.
Percebeu que não tinha comovido a mais jovem, então resolveu ser o mais sincero possível.
— É muito importante a sua presença… Isso me faria muito feliz. — Sorriu sem graça.
Ela confirmou com um gesto de cabeça e desviou o olhar, pois aquelas palavras haviam tocado em um ponto sensível. A relação deles não era das melhores, além da ausência do homem na maior parte da sua criação e depois que alcançou uma idade que conseguia compreender o que estava acontecendo, as coisas se tornaram ainda mais difíceis para ambos. Se viam cada vez menos, o contato por mensagens se resumia a parabenizações e presentes de aniversário. A saudade existia, a falta da presença paterna era um vazio que só aumentou com o passar dos anos e talvez nunca fosse preenchido.
No momento perfeito, as portas do elevador abriram e eles saíram. Toto ofereceu o braço num convite para que ela se enlaçasse ao dele, observou o gesto e respirou fundo, o aceitando. Estavam no espaço de eventos do hotel, o saguão tinha um mural com os patrocinadores onde os convidados eram fotografados e concediam entrevistas. Havia alguns convidados ali, além dos profissionais que trabalhavam na festa. Conforme seguiam em silêncio para a fila das fotos, percebeu alguns olhares curiosos na direção de ambos. Imaginou como deviam estar se perguntando a identidade da acompanhante de Toto Wolff.
Quando pararam no final da fila, atrás de um casal, o homem virou-se para trás e abriu um sorriso animado ao reconhecer o pai da jovem.
— Toto, meu amigo! — Ele estendeu uma das mãos, um sorriso enorme no rosto. A mulher ao seu lado tinha uma expressão educada.
— Andreas! — cumprimentou-o e depois virou-se para a mulher. — Jennifer! Finalmente, o Seidl está em boa companhia! — Riu.
Jennifer riu lisonjeada.
— Eu não iria perder esse evento! — contou.
Todos riram.
Wolff descansou uma das mãos no ombro da filha e sorriu orgulhoso. — Essa é a minha filha mais velha, . Andreas é o chefe de equipe da McLaren e Jennifer é uma das mecânicas da equipe, além de esposa dele.
Seidl encarou-o surpreso.
— É um prazer conhecê-la! Você é a cara do seu pai! — Riu.
— Você é mesmo mecânica na equipe? — perguntou admirada.
Jennifer abriu um sorriso orgulhoso.
— Sim, o meu trabalho é a minha maior paixão.
— Ei! — o marido protestou.
Todos riram.
— Vocês são os próximos! — Toto informou.
O casal virou para a frente e avistou a assessora, que pediu para que seguissem para a frente das câmeras. Eles voltaram a encarar pai e filha.
— Nos vemos lá dentro, ok? — Seidl falou.
— Foi um prazer conhecê-la, .
A jovem sorriu de volta enquanto observava o casal seguir em frente e posar para as fotos.
Pai e filha permaneceram em silêncio enquanto aguardavam a vez, atrás deles a fila só aumentava, assim como o nervosismo dela em pensar no que a esperava logo à frente. As mãos suavam frio, o coração batia agitado no peito ao observar a movimentação com a imprensa. Wolff pareceu sentir a tensão e virou-se, deu um leve aperto no ombro dela.
— Respire fundo e relaxe — aconselhou. — Vamos parar, posar feito estátuas sorridentes e depois seguimos em frente. Vai ser bem tranquilo! — Tentou amenizar a agitação dela.
Ela confirmou com um gesto de cabeça ao respirar fundo e voltar sua atenção à frente.
Assim que receberam o sinal para prosseguir, o nervosismo triplicou e decidiu evitar encarar os rostos ou iria desmaiar ali mesmo. Sempre foi muito tímida e aquela era a primeira vez que se encontrava numa situação como aquela. O seu pai convidou-a algumas vezes para os eventos sociais e competições, entretanto, conseguiu evitar todas. Invejou o carisma de Toto ao caminhar do seu lado, cumprimentando a todos com grande simpatia e o seu sorriso mais bonito.
Ela respirou fundo e colocou um sorriso em seu rosto que deveria se assemelhar a uma careta de desespero. Posicionou-se ao lado homem, ele enlaçou-a pelos ombros e logo a chuva de flashes quase a cegou. Tentou evitar piscar durante os cliques, entretanto foi difícil. Depois do que pareceu uma eternidade, seguiu o seu pai para a lateral das entrevistas com a visão repleta de pontinhos pretos. Quando Toto parou na frente da repórter, tentou se afastar, mas ele segurou-a delicadamente pelo braço.
— Pode ficar aqui — ele falou suavemente.
Ela encarou-o em desespero.
Ele ignorou e se virou para a câmera, deu o seu melhor sorriso para a repórter.
— Senhor Wolff! — a mulher começou a falar no microfone.
decidiu ignorar a situação e deixou a mente viajar para bem longe em vez de mergulhar ainda mais fundo nas suas emoções. Perdeu a noção do tempo, após ouvir o seu nome e, em seguida, ter um microfone estendido em sua direção. Ela arregalou os olhos numa desesperada surpresa.
— Como se sente no seu primeiro evento, ? — a repórter perguntou, com muita simpatia.
— É… é… — Procurou as palavras, mas pareciam ter fugido de sua boca. Olhou para o pai em busca de socorro, o homem apressou-se em ajudá-la.
— Muito feliz em estar com papai, não é, querida? — perguntou brincalhão, ao abraçá-la de lado.
O comentário causou risadas.
— Muito obrigada e espero que aproveitem o evento! — a repórter desejou simpática.
Ambos se despediram.
Caminharam para longe das câmeras, atravessaram a porta que levava para dentro do salão, várias mesas redondas foram espalhadas pelo lugar e alguns convidados ocupavam seus lugares e outros preferiam socializar de pé.
— Senhor Wolff, pode me seguir, por gentileza — a mulher pediu, ao indicar com um dos braços a direção que deveriam seguir.
Quando o pai ia prosseguir, a jovem impediu-o, segurou levemente o braço dele.
— Te encontro daqui a pouco — ela avisou.
— Ok, querida. — Sorriu e virou as costas, partindo para a sua mesa.
Finalmente, respirou fundo e soltou o ar. Aliviada, pegou uma taça de champanhe que um garçom passou servindo ao seu lado. Procurou um canto mais afastado da movimentação e virou todo o conteúdo num único gole. Fez uma careta ao beber todo o líquido gelado, a bebida não era uma das suas favoritas, entretanto, a ajudou a relaxar um pouco.
Observou a decoração do enorme salão, as grandes mesas redondas espalhadas por todo o lugar com serviço de jantar refinado, toalhas que ela apostou que o tecido era feito da seda mais cara. O palco estava posicionado no fundo propositadamente para que os convidados tivessem uma boa visão. Tudo muito lindamente chique e fino, o tipo de lugar que ela nunca frequentou, mas que com toda certeza o seu pai estava mais do que acostumado.
— Noite difícil?
Ela tomou um susto e se virou na direção daquela voz masculina.
A visão do homem à sua frente causou uma reação totalmente surreal. Pela primeira vez na sua vida, ela perdeu a fala. O sorriso bonito do rapaz era tão hipnótico naquele rosto, completando o conjunto da obra, que ela não conseguia reagir. O cabelo dele era num tom parecido com o dela, o corte baixo e caprichado no gel. A pele do rosto lisa, sem qualquer vestígio de barba e que deu uma vontade de se aproximar, acariciar o local e encostar os seus lábios em cada bochecha para provar da maciez. Vestia um terno azul marinho combinado com uma gravata vermelha.
Quando voltou a olhar para cima, ele tinha uma das sobrancelhas arqueadas e claramente tinha percebido o interesse dela.
Ela deu uma risadinha sem graça que não era costume e se sentiu muito envergonhada com a situação. Ela não era de risadinha bobas. Esforçou-se para responder.
— O suficiente para querer fugir. — Risadinha mais uma vez.
Ele mordeu o lábio inferior, querendo disfarçar o riso.
Ela levou a taça até a boca, mas parou no meio do caminho, quando viu que estava vazia. Xingou-se mentalmente e se virou nervosa, à procura de um garçom.
— Aqui — ele a chamou. — Pode ficar com a minha. — Estendeu a taça na direção dela.
Ela apressou-se em negar, surpresa.
— Não, eu insisto. O garçom está do outro lado e parece que não vai vir. — Tinha um sorriso que pareceu tão bonitinho que ela não resistiu e aceitou a taça.
Ele pegou a dela.
— Obrigada — falou timidamente e tomou um pequeno gole.
Se encararam por um minuto inteiro em silêncio, até que um clique pareceu trazer sentido à situação e ele estendeu a mão livre num cumprimento.
— . — Mais uma vez, aquele sorriso irresistível e que trouxe um frio na barriga da jovem.
Ela aceitou o gesto.
— . — Sorriu.
Ambos pareciam presos nos olhos um do outro, as mãos continuavam unidas por um tempo, até que riram levemente do momento e soltaram. Ela sentiu o desejo de continuar perto, o cumprimento deles forçou-a a ficar mais próxima, então podia sentir o perfume dele, que trouxe a vontade de encostar o nariz no pescoço e desfrutar o aroma da fonte. Tomou outro gole da bebida, os olhos arregalaram-se, a careta pelo nível de pensamentos que cruzaram sua mente sobre um cara que havia acabado de conhecer. Entretanto, não queria e não iria negar para si mesma que beijar seria a melhor coisa da sua noite.
Uma voz soou, informando que o evento estava prestes a começar.
virou-se e viu que o lugar estava muito mais cheio. Pessoas riam, se cumprimentavam e seguiam para as suas mesas. Mirou novamente o rapaz, um sorriso triste em seu rosto que tentou disfarçar, mas a vontade de permanecer na presença dele era grande.
— Vai começar. — Ela soou conformada.
— Sim.
Eles se encararam timidamente, depois riram.
— Foi um prazer te conhecer, . — Sorriu.
— O prazer foi meu. — Deu aquele sorriso que fez o coração dela acelerar.
Ela apressou-se em virar ou não teria forças para se afastar. Avistou o seu pai numa mesa e um lugar vago ao seu lado.
Quando ocupou a cadeira, rostos se viraram em sua direção.
No mesmo instante, Toto gesticulou com o polegar e falou somente com o movimento da boca, sem qualquer som. A voz do apresentador era pano de fundo.
— Minha filha. — Sorriu orgulhoso. O que a surpreendeu com a reação do pai e causou um sorriso envergonhado ao ver os rostos encarando-a com surpresa, analisando os seus traços e desconfiou que comparando com o mais velho.
Ela apenas forçou o sorriso a parecer simpático e fez um leve aceno com a cabeça em cumprimento. Mirou o palco, o apresentador fazendo alguma piada envolvendo a Fórmula 1 e que ela não entendeu nada, entretanto, pareceu ser realmente engraçado, pois as risadas permearam o ar.
— O que achou do ? — A voz de Wolff sussurrando em sua direção chamou sua atenção e ela o mirou.
A sua face expressava confusão com o questionamento.
— ? — repetiu o nome.
O homem sorriu de lado.
— . — Ele continuava com aquele sorriso que parecia achar graça de algo que ela não estava pescando.
— Ah. — Ela ligou o primeiro nome à pessoa. — Não sabia que o sobrenome dele era — confessou.
— Ele é um dos pilotos da Alpine.
Deu um pequeno aceno em falso entendimento sendo que a verdade era que nunca ouviu falar dessa equipe. Muito mal sabia sobre a Mercedes. Voltou a assistir o apresentador, um homem vestindo um refinado smoking, cabelos perfeitamente alinhados e um sorriso muito simpático e reluzente.
— Gostaríamos de agradecer a presença de todos e por aceitarem participar deste evento. Tenho certeza de que conseguiremos ajudar as milhares de crianças carentes espalhadas ao redor do mundo. — Ele começou a ler diversos nomes no pequeno cartão, Wolff estava incluso na listagem.
Uma movimentação no lado esquerdo do palco tirou sua concentração. Avistou uma fila sendo formada por vários rapazes elegantemente vestidos, assim como todos os convidados. Observou com curiosidade, entretanto, não conseguiu decifrar o mistério. A fala do apresentador prendeu o seu olhar novamente.
— Senhoras e senhores, como podem observar — o homem apontou a palma aberta em direção à fila de rapazes —, os nossos rapazes investiram pesado na produção para o evento de hoje. Todos muito belos, elegantes e — ele aproximou a boca do microfone e pareceu confidenciar algo, a diversão jamais abandonando o seu olhar — provavelmente, perfumados. — As risadas dominaram o lugar, ela surpreendeu-se ao ouvir a própria fazendo parte do coro. — Uma salva de palmas para o empenho dos nossos rapazes. — Riu.
Os aplausos e assobios eram altos. Muitos dos pilotos acenaram, outros pareceram mais tímidos e apenas sorriram.
— Bom, sem mais delongas, vamos ao “Arrematando o meu piloto.'' — Ele pausou e aguardou o fim dos aplausos da plateia. Continuou, um sorriso brincalhão. — Essa noite alguns de vocês vão ter o seu próprio piloto por um dia ou, quem sabe — deu uma piscadela —, mais de um. — Risos foram ouvidos.
estava surpresa com o evento, principalmente, por estar se divertindo em algo totalmente fora de sua bolha e, sim, na realidade de seu pai. Talvez fosse o carisma do apresentador, ou o relaxamento dos convidados, ou o tipo não-convencional de leilão. A questão é que ela não imaginava que a noite poderia ser tão alegre. Virou-se para mirar o pai e verificar se era a única se divertindo com a atmosfera do lugar, o encontrou a encarando de volta, com um grande sorriso no rosto. Ele estendeu uma mão por baixo da mesa e apertou uma das mãos dela com delicadeza. Gesto que a surpreendeu e, inesperadamente, embaçou levemente sua visão. Quando ele quebrou o inesperado gesto de afeição e mirou novamente o apresentador, ela forçou-se a fazer o mesmo e se concentrar no palco ou poderia cair em lágrimas bem ali. Pode parecer besteira para alguém de fora, mas, para a pequena , a filhinha de Toto Wolff que viveu os anos sem a presença paterna, era algo muito importante.
— Todos vocês receberam placas. — Ele apontou com o indicador para a mesa mais próxima do palco. — Isso mesmo, essa aí. — Voltou a mirar os outros convidados. — Com o seu número e quando quiserem dar um lance, basta levantá-la e dizer o valor. A regra é simples: leva quem der o maior lance. Vamos começar!
Salva de palmas.
O primeiro piloto subiu a escada lateral e seguiu, com passos confiantes, em direção ao apresentador.
— Senhoras e senhores, vinte quatro anos de muita beleza distribuída em um metro e oitenta de altura. — A voz séria. — O piloto da Ferrari, Charles Leclerc.
Mais palmas.
A jovem ficou impressionada com a beleza do rapaz, incapaz de desviar o olhar.
— Vamos aos lances.
Algumas placas foram levantadas e o maior lance já estava em trinta mil dólares.
— Toto Wolff. — O apresentador a surpreendeu ao falar o nome do pai dela.
Ela se virou e o viu com a placa levantada, um sorriso simpático.
— Trinta e oito mil dólares — falou.
— Alguém cobre a oferta?
Quando o pai abaixou a placa, ela o encarou.
Ele deu de ombros com um sorriso divertido.
— Charles Leclerc vendido para o trinta e sete.
Salva de palmas.
O rapaz acenou em despedida, um enorme sorriso no rosto e saiu pelo outro lado do palco.
Cinquenta mil dólares por um piloto, a jovem estava realmente abismada. Os convidados estavam realmente engajados em ajudar a causa.
Nomes como Carlos Sainz, Max Verstappen, Sergio Perez, Lance Stroll e entre outros foram anunciados um após o outro e todos sendo arrematados por quantias que oscilavam de cinquenta mil dólares para cima.
Os pilotos que mais a atraíram foram o Daniel Ricciardo, que chegou a brincar com o apresentador e levou o público às gargalhadas, além de ter ficado muito feliz com a jovem que o arrematou (uma namorada, talvez?); o espanhol Fernando Alonso, que era mais maduro do que os outros rapazes e que atraiu totalmente. Após eles, vieram Nicholas Latifi, Alexander Albon, Valteri Bottas, Lando Norris e Lewis Hamilton. O último teve uma competição acirrada e o maior lance foram cem mil dólares — o que pensou significar que ele tinha conquistado os holofotes na carreira. Wolff fez alguns lances, inclusive entrou na briga acirrada pelo Lewis, entretanto, desistiu do lance.
— Um jovem francês de apenas vinte e cinco anos, mas não se enganem com a cara de bom moço, pois na pista ele se transforma num tigre. — Riu. — Senhoras e senhores, .
arregalou os olhos, o coração errou trocentas batidas ao ver o rapaz que conheceu mais cedo. Ele caminhou pelo palco num ritmo mais contido, uma mão escondida no bolso da calça social e um sorriso tímido, entretanto, muito bonito e que evidenciava a sua beleza, além de evidenciar a imagem de bom moço. Parou ao lado do apresentador, que começou o lance e a disputa também foi acirrada.
Ela não conseguia acompanhar a situação, pois o seu olhar não desviava do rapaz. Queria guardar a lembrança dele para sonhar quando voltasse para o quarto e fosse seguir a sua vida. De alguma forma, ele a atraiu e conquistou todo o seu interesse. beijaria , não se importaria de mergulhar naqueles braços e nunca mais soltar, entretanto, sabia que seria apenas um crush impossível.
Realmente acreditou nisso, até que o inesperado aconteceu.
— Setenta e cinco mil dólares para o trinta e dois.
Ela arregalou os olhos, pois, coincidência ou não, encontrou o seu olhar e pareceu, de alguma forma, surpreso por algo que não soube identificar. Entretanto, segundos depois, pareceu ter um estalo e se virou confusa para Wolff.
— Você o arrematou? — Incredulidade em seu tom e rosto.
O pai sorriu de canto e aproximou-se da filha, sussurrando: — Um presente para você. — E virou-se novamente, como se nada tivesse acontecido.
A boca dela escancarou-se.
— Isso é loucura! — falou incrédula. — Que tipo de pai dá um piloto de Fórmula 1 de presente para sua filha? — Os ombros erguidos, os braços abertos numa pose que espelhava os seus sentimentos.
Assim que terminou o evento, eles retornaram para o quarto dela no hotel e o homem informou que ela iria se encontrar com no lugar dele.
Ele riu.
Ela sentou-se na cama, irritada, arrancou as sandálias com impaciência. Continuou a discussão em que havia apenas um único participante: — Eu não vou sair com um cara que o meu pai escolheu e… — falou sem parar, colocando toda indignação para fora, sua atenção voltada para os pés doloridos que tentava massagear.
Ao mesmo tempo que Wolff deixou a filha esvaziando toda a raiva, decidiu procurar algo para se ocupar durante a situação. Abandonou a parede que estava encostado, caminhou até o pequeno armário envidraçado, recheado de quitutes, e escolheu a sua batatinha favorita. Colocou três batatinhas na boca e se agachou em frente ao frigobar que ocupava a parte inferior do armário, o abriu e parou, pensativo sobre o que combinaria melhor. O refrigerante gelado com a batatinha seria a escolha perfeita, entretanto, a magia de uma cerveja tinha um canto mais irresistível do que uma sereia. Uma latinha e o homem dormiria igual com os anjos, totalmente relaxado depois de horas tão agitadas no evento, além das milhares de preocupações em relação ao próximo GP.
Franziu a testa, indeciso, mas apenas por um segundo, e logo deu de ombros. Pegou a cerveja e a abriu, tomando um grande gole. Dormir não seria ruim, principalmente com a filha tagarelando sem parar.
Toto esqueceu-se e também perdeu muita coisa relacionada à filha. Aquela noite foi um lembrete do passado, presente e futuro que estava reservado para si, caso não desse o seu melhor para se aproximar dela. A distância o fez esquecer sobre as características que a jovem herdou dele e da mãe. A teimosia foi uma delas e só ele sabia o quanto era insistente para afirmar que o traço veio do lado materno. Um meteoro poderia atingir a Terra e ele não daria o braço a torcer, jamais.
— Ei! Não se come batatinha de hotel! Custa uma fortuna! — resmungou.
Ele tomou um susto e tombou sentado, a boca cheia do quitute.
— Precisava me ocupar até você se acalmar — disse, sem qualquer remorso, e continuou comendo.
— Você ouviu uma palavra do que eu disse? — Cruzou os braços, fuzilando-o com o olhar.
— Não. — Tomou mais cerveja.
Ela ficou incrédula, a boca escancarada, totalmente desarmada pela resposta do homem.
Wolff engoliu a última porção do biscoito, se levantou e jogou a embalagem na pequena lixeira. Restou apenas a lata de cerveja em sua mão.
— Você é muito tagarela, formiguinha. — Sorriu divertido e bebeu mais um gole.
A incredulidade despencou do rosto dela, os olhos entristeceram-se, se tornando mais brilhantes.
Ele franziu a testa, confuso.
— Acho melhor o senhor ir. — levantou-se da cama, desviou o rosto e se abaixou para a mala, a revirando. Não procurava nada, queria apenas uma desculpa para não o encarar com os olhos tão embaçados pelas lágrimas. Aquele apelido de infância trouxe lembranças e sentimentos que ela se esforçou por anos para enterrar, fundo o suficiente para que não voltassem à sua mente e lhe machucassem.
— Tem certeza? — perguntou calmamente.
Ela se manteve no lugar sem desviar a atenção. Confirmou com um gesto de cabeça.
— ?
— Vou manter a minha decisão, o senhor que arrematou o encontro e é quem deve ir.
— Mas… — Ele suspirou.
Ela ouviu os seus passos se aproximando, o corpo ficou rígido e apertou a peça de roupa com força entre as mãos. O coração acelerou quando a mão do pai bagunçou o topo da sua cabeça, estragando o coque num gesto de carinho paterno.
— Se precisar de mim, sabe onde me encontrar. — Wolff depositou um beijo no topo de sua cabeça e se afastou. Segundos depois, ela ouviu o clique da porta fechando atrás do pai.
, abalada, se sentou na frente da mala, as lágrimas escorriam livremente por seu rosto. Abraçou a peça de roupa amassada que continuava em suas mãos, o olhar preso à parede creme à sua frente. A dor latente em seu peito, acompanhada das lembranças infantis e que a machucavam sem piedade.
abraçou o travesseiro com mais força, afundou o rosto na maciez e gemeu de frustração com o som insistente que interrompeu o seu descanso. O quarto estava escuro, as cortinas fechadas impediam qualquer fresta de luz, tornando a cama muito mais convidativa. Ela teria mais um dia de hospedagem pago pelo pai e não era boba em recusar aquele luxo antes de voltar para a realidade.
Ignorou a batida, permaneceu em silêncio com a esperança de que a pessoa desistisse de chamá-la. Toc, toc, toc.
Resmungou mais uma vez, entretanto, levantou. Os pés descalços tocaram o chão, o mau humor de ter sido despertada fez com que uma carranca dominasse sua expressão e simplesmente não se importou com o fato de estar descabelada, a cara inchada e de pijamas. Abriu a porta com a intenção de expulsar até mesmo o presidente.
Os seus olhos lutavam para se acostumar com a luz repentina do corredor que atingiu o seu rosto, piscando várias vezes sem parar.
— Bom dia — a voz masculina soltou educadamente.
Ela coçou os olhos e encarou o rosto conhecido.
— Não — falou friamente, segurou a maçaneta e fechou a porta. Toc, toc, toc.
Virou de costas, respirou fundo sem um pingo de paciência, as mãos cobriram o rosto.
— Eu te odeio, Torger Christian Wolff. — O nome do pai saiu com raiva em seu tom. Toc, toc, toc.
— Calma, ! — Tentou pensar friamente. — O é a vítima, ele não tem culpa do pai que você tem. — Soltou uma lufada de ar, os braços caíram ao lado do corpo. Toc, toc, toc.
A insistência do piloto irritou-a profundamente. Retornou a passos decididos até a porta, abriu-a no supetão, surpreendendo-o. Entretanto, ela não imaginava que ele estaria apoiado na madeira e a cena pegou ambos desprevenidos. Num momento, ela abria a porta e no outro, o homem já estava com olhar de desespero enquanto tentava recuperar o equilíbrio e evitar a queda — infelizmente, falhou miseravelmente. A trajetória foi certeira na jovem, que não teve outra reação, além de fechar os olhos e soltar um gritinho, as palmas das mãos abertas, tentando evitar a queda.
Ambos caíram em cheio no chão, uma bagunça de pernas e braços. O coração de batia ferozmente em seu peito, não sabia se era apenas pelo susto ou a preocupação de ter machucado a jovem. gemeu baixinho, os olhos fechados firmemente, uma careta de dor já que seu corpo doía pelo impacto e o peso em cima dela não ajudava.
— , tudo bem? — ele perguntou preocupado. Rolou com cuidado e saiu de cima dela. Parou de joelhos ao lado dela, inclinou-se até o seu rosto ficar a poucos centímetros de distância, envolveu o dela entre suas mãos e a chamou delicadamente mais uma vez: — ?
Ela choramingou, a expressão de dor, os olhos ainda fechados.
— Perdão! Eu não queria te machucar, mas perdi o equilíbrio. — Soou arrependido. Acariciou as bochechas dela com os polegares.
— Tudo dói — ela choramingou. Cada pedacinho de seu corpo doía, a única parte que ela conseguiu proteger foi a cabeça e, por isso, caiu desajeitadamente, piorando a situação.
— Olha pra mim, por favor — ele pediu desesperado, as mãos mantinham o rosto dela numa pegada suave.
Ela abriu os olhos devagar, molhados pelas lágrimas não derramadas. Quando viu aquele par de olhos encarando-a com uma carga de preocupação e tão próximos, apenas uma respiração de distância, o coração dela bateu mais forte. As mãos quentes seguravam o seu rosto de forma tão delicada que suspeitava de que a sensação tinha penetrado em sua pele. Tinha acabado de sofrer uma queda, sendo atingida pelo peso daquele homem, cada pedacinho doía e ela não conseguia abrir a boca ou se mover, presa naquele rosto. Totalmente enfeitiçada.
— Onde dói? — ele perguntou delicado, não desviou a atenção do rosto dela, permanecia no mesmo lugar.
— Tudo — sussurrou.
— Vou te colocar na cama, ok? — avisou. Deu uma última olhada para ela, parecia querer confirmar que estava acordada e moveu as mãos.
Quando ele afastou as mãos do rosto dela, deixou o rastro quente sob sua pele e, sem pensar, movida pela sensação, ela tocou uma de suas bochechas e o observou envolvê-la feito um bebê que precisava ser ninado. Pegou-a em seus braços com delicadeza, como se ela fosse quebrar ao menor movimento.
— Me põe no chão, eu sou pesada! — pediu apressada, mas não iria admitir que gostou do gesto do rapaz. Nunca fantasiou sobre estar nos braços de alguém, mas, de forma assustadora, percebeu que não seria ruim se ele não a libertasse mais.
ignorou-a e seguiu, devagar e cuidadosamente, em direção à cama. Depositou-a com toda delicadeza, depois arrumou os travesseiros e franziu a testa em preocupação.
— Eu estou bem, só caí de mau jeito. Não precisa me tratar como se tivesse quebrado um osso. — Sorriu, achando graça.
— Posso só verificar?
Ela suspirou.
— Não precisa, eu estou bem. Nada que um remédio para dor não resolva.
— Eu te machuquei e, nesse momento, estou me sentindo péssimo! Será que não pode me deixar cuidar de você? — perguntou frustrado, os braços cruzados na frente do corpo. — Que eu me lembre, não sou nada leve.
revirou os olhos e confirmou com um gesto de cabeça.
sorriu satisfeito e entrou em ação, passou alguns minutos verificando cada centímetro do corpo dela e só parou quando se sentiu satisfeito com a inspeção.
— Não vai rolar mais o encontro — declarou.
— E quem disse que iria rolar? — perguntou incrédula.
— Bom, eu pretendia te convidar para almoçar. — Sorriu timidamente.
— Eu não quero sair com você. O seu encontro é com o meu pai — soltou friamente, arrependeu-se do seu tom e das palavras ao ver a expressão do piloto.
— Okay — respondeu num tom decepcionado e virou as costas, indo embora.
A atitude pegou a jovem de surpresa, sentou-se rapidamente na cama e gemeu com o movimento.
— Espera! ! — chamou-o.
Ele parou com a mão na maçaneta, virou-se para encará-la, a decepção ainda em seu olhar.
— Me desculpa! — Sorriu tristemente. — Eu não costumo agir assim, eu só… — Ela encarou as próprias mãos que descansavam em seu colo. — Minha cabeça anda cheia. Desculpa!
— Tudo bem, eu entendo. — Ele deu um pequeno sorriso.
— Eu não posso ir a um encontro com você. Não fui eu quem te arrematou. — Voltou a encará-lo.
— Sim, eu sei. — Ele riu. — Mas não vim até aqui por esse motivo. Estou aqui, porque me interessei por você.
Ela escancarou a boca em choque.
— Mas… mas e o leilão?
— O date foi com o seu pai. — Ele sorriu divertido. — Tomamos um café, falamos de vários assuntos que não fossem os nossos trabalhos e depois ele me disse qual era o seu quarto. — Deu de ombros. — E criei coragem para vir te convidar, não achei que iria atrapalhar o seu sono ou te transformar numa panqueca — brincou.
— Você foi num date com Toto Wolff? Meu pai? — perguntou incrédula.
— Fiz inveja em muita gente. — Continuou com o tom de brincadeira.
— E ele te disse qual era o meu quarto?
— Exatamente.
— Okay… muita informação para um dia só. — Descansou a mão na testa, atordoada e se deitou novamente na cama.
— Acho melhor te deixar descansar.
— Não vá. Fica — pediu, com um pequeno sorriso. — Não sou o meu pai, mas garanto que o date comigo vai ser muito melhor.
abriu e fechou a boca várias vezes, totalmente sem saber o que dizer. Contentou-se em fechar a porta do quarto e seguir para a cama, parou em pé ao lado dela.
— Deita aqui. — Ela esticou a mão e deu algumas batidinhas no espaço vazio ao seu lado.
Ele arqueou uma de suas sobrancelhas em dúvida.
— Eu não mordo.
— Mal nos conhecemos e você já me convidou para a sua cama? — Entrou na brincadeira.
— Não é a minha cama, é do hotel. — Riu. — Touché. — Seguiu para o outro lado, se sentou no colchão, retirou os sapatos e virou para encará-la.
— Fique à vontade.
— Estou à vontade.
— Você parece que acabou de se sentar num espinho. Pode relaxar, te falei que não mordo. — O olhar que ela lançou em sua direção e o tom de voz deixaram algo implícito no ar.
se deu por vencido, deitou-se nos travesseiros, cruzou as mãos em cima da barriga e encarou o teto, pensativo.
virou-se de lado para poder encará-lo, as mãos aninhadas embaixo de sua bochecha.
O silêncio recaiu no ambiente, mas não o tipo desconfortável, pelo contrário, ambos relaxaram, sem pressão para iniciar uma conversa. Foram longos minutos assim, até que o piloto quebrou o momento.
— Nunca tive um date num quarto de hotel — murmurou pensativo, a atenção presa ao teto.
— Somos dois. — Riu meio sonolenta.
— Não acredito que está dormindo! — reclamou, incrédulo. Imitou a posição dela na cama, mirando-a diretamente.
— Desculpa! Tive uma noite difícil! — Ela bocejou.
— Quer compartilhar?
Ela suspirou, pensativa.
— É o meu pai. Esses dias com ele me trouxeram muitas lembranças, muito sentimento enterrado. — Abriu e fechou a boca diversas vezes, um som desconexo saiu e morreu. Por mais que sentisse todo o peso no peito, toda a carga que tinha dentro de si, não conseguia pôr em palavras tudo aquilo.
— Relaxa, parece que você se sentou num espinho — provocou, tentando aliviar a tensão do rosto da mulher à sua frente.
Ela pareceu surpresa, em seguida riu. Uma risada vinda tão de dentro de si que fechou os olhos para apreciar a diversão do momento. O piloto observou-a com um sorriso no rosto, parecia encantado como se acabasse de ser enfeitiçado e não fosse capaz de se afastar daquele momento.
O riso parou e ambos se encararam em silêncio, tranquilamente, sem paranoias.
— Você gosta da França? — perguntou, repentinamente.
Ele deu uma risadinha, fez uma careta e deu de ombros.
— Gosto…?
— Parece não ter certeza… — Ela instigou-o.
— É porque você me perguntou algo do nada, meio nada a ver com a nossa situação. — Riu.
— Mas a graça de se interagir socialmente é essa. — Ela fez uma careta divertida, demonstrando o quanto queria provocá-lo. — Ou você prefere perguntas mais pessoais? — Mordeu o lábio inferior, pensativa.
A mulher não percebeu, mas o olhar do piloto acompanhou o gesto e só desviou de volta para os olhos dela quando ela estalou os dedos na frente do rosto dele, tentando atrair sua atenção.
— Alô, Terra para ! — Franziu a testa, desconfiada.
— Sim, claro! — Ele envergonhado e querendo evitar que descobrisse a direção de seus pensamentos, respondeu qualquer coisa que veio à sua mente.
— Então, você me odeia? — Fingiu-se ofendida, mas tinha percebido que a resposta do rapaz foi apenas para enganá-la e desviar sua atenção de alguma coisa que não conseguia interpretar. Por isso, decidiu tirar sarro da cara dele.
— Não, não é isso! — sentou-se num pulo, sacudindo as palmas das mãos em desespero.
— Ué, mas você acabou de responder que sim. — Ela copiou a posição dele e fez um biquinho triste.
— Eu… — Ele pareceu entrar em parafuso, sem saber o que fazer, então apenas levantou da cama e começou a calçar os sapatos, sem coragem de encará-la, soterrado em vergonha.
— ? Tudo bem? — chamou-o num tom suave.
Ele virou levemente o rosto para o lado, permitindo que ela visse somente a lateral de seu rosto.
— Eu preciso ir… Eu… eu esqueci que tinha uma sessão de fotos do leilão. — Soltou a primeira coisa que veio à sua cabeça.
— Você ficou chateado? — perguntou. Aproximou as pernas do corpo, envolveu-as com os braços e descansou o queixo nos joelhos.
Ele parou, prestes a calçar o sapato, a mente a mil com o que responderia. Tinha que pensar bem ou iria estragar as coisas com a garota. Gostou de desde o momento que a viu no leilão e queria vê-la mais vezes, conhecê-la melhor, beijá-la, tocá-la e muito mais. Queria ouvir sua risada muitas e muitas vezes até se cansar, o que seria impossível, pois era impossível desviar o olhar das feições da garota quando ela sorria ou gargalhava. Todo o conjunto parecia se iluminar como um farol no meio da escuridão.
— Não, eu só preciso ir. Você topa jantar comigo hoje? — perguntou.
— Uma despedida — ela assinalou.
Ele permaneceu em silêncio e terminou de calçar os sapatos. Virou-se rapidamente, viu-a parecendo pensativa, sua atenção na parede do outro lado do quarto.
— Acho que você deveria ser sincera com o seu pai.
virou-se para ele e franziu a testa, confusa com suas palavras.
— Wolff parece ter muito orgulho de você. Tirar o peso de dentro de você, deixar tudo isso e tentar começar do zero ou apenas esclarecer as coisas entre vocês.
Ela parecia tão atordoada com o que havia sido dito por ele, perdida, confusa, que a vontade dele era se aproximar e a abraçar apertado. Ficou dividido em fazer acontecer ou se afastar, por isso, com muita dificuldade, engoliu em seco e se virou, afastando-se da garota. Seguiu até a porta, segurou a maçaneta e sorriu da melhor maneira possível.
— Te vejo mais tarde! Passo aqui.
Ela apenas permaneceu alheia a ele.
fechou a porta atrás de si e encostou-se na madeira, um suspiro de frustração escapou de sua boca. Ele fugiu! Fugiu! Estava na companhia de uma garota tão legal e simplesmente fugiu! Era como o pior dos piores covardes! Mas ele ficou sem saber o que fazer, quando quase percebeu que ele estava desejando beijá-la, aqueles lábios…
Decidiu afastar-se dali e clarear a mente. Tentaria resolver a situação no jantar e quem sabe realizar o desejo.