Contos de Amor à Meia Noite:

Primeiro Amor

Poster ... by Free-Counters.org

Sinopse: – Posso trocar meu sorvete por um beijo?
– Nem pensar, seu babaca.

Cena Um

- Você está fazendo tudo errado, seu burro!
- E como é que você sabe?
- Plutão é vermelho, não verde.
- E quem disse? Não faz diferença nenhuma.
- É claro que faz, seu babaca. Verde é Marte.
bufou, irritado, e revirou os olhos.
- De onde é que você tirou essas coisas? Tanto faz as cores, o importante é pintar.
- Se você prestasse atenção no que eu falo, saberia que eu já pintei Marte de verde – peguei a meia bola de isopor recém pintada e a chacoalhei na cara dele, arqueando as sobrancelhas. deu um sorriso sem graça e molhou o pincel na água, trocando o pote de tinta verde pelo vermelho. – Babaca – ri.
- Se você não tagarelasse tanto, eu prestaria atenção – o disse em tom de reclamação, mas havia um sorriso humorado no canto de sua boca. Revirei os olhos.
- Quantos planetas faltam?
- Hm, esse e mais um.
- Termine de pintar, eu vou marcar a cartolina.
Levantei da cadeira e fui lavar as mãos na pia, enxugando-as com um pano de prato, mas meus dedos estavam tão sujos que alguma coisa acabou ficando nele. Droga, mamãe ficaria uma fera. Voltei ao meu lugar e peguei a cartolina preta. Já havia traçado as órbitas com grafite, então só as contornei com uma caneta gel prateada com extremo cuidado. Nosso trabalho seria o mais lindo! Se o babaca do não fizesse o favor de estragar, é claro.
Comecei colando o sol. tinha cortado todas as bolas de isopor ao meio, porque assim seria mais fácil de colar e também porque algumas eram grandes demais. Depois, colei Mercúrio, e assim por diante.
- Você já fez muita coisa, deixa eu fazer – o veio com as mãos imundas para pegar a cartolina e eu o impedi com um grito.
- NÃO! , não coloque essas mãos cheias de tinta no trabalho. Vai se lavar na pia, vai, seu porquinho.
- Foi mal.
- E lave direito.
- Nossa, você tá uma grossa hoje, .
- Você que é um descuidado.
- Pronto, já lavei. Com o que enxugo?
- Com sua língua – comecei a rir. Ele passou aquelas mãos geladas nas minhas costas, molhando minha blusa branquinha, e abri a boca.
- Ai, eu não acredito, seu imbecil – deu a volta na mesa com as bochechas vermelhas de tanto rir. – Isso vai ter troco.
- To morrendo de medo. Me passa logo o trabalho, anda.
Suspirei e virei a cartolina na mesa com cuidado. começou a colar os nomes dos planetas logo abaixo deles e a escrever o pequeno resumo que tínhamos feito sobre cada um. Para não dar brigas, resolvemos revezar.
Eram quatro horas da tarde quando terminamos o trabalho. Disse a que o guardaria aqui em casa, porque ele era desastrado demais e acabaria o estragando. Ele protestou por um segundo, mas acabou concordando comigo.
- Vamos jogar vídeo game lá em casa? – ele me perguntou com empolgação e eu concordei com a cabeça.
- Tem tinta no seu cabelo, seu babaca – avisei assim que chegamos à calçada.
- Onde? – ele percorreu os dedos pelos fios, olhando para cima como se pudesse enxergá-los.
- Aqui, ó – levantei o pote de tinta azul que tinha escondido atrás do corpo acima de sua cabeça e deixei o conteúdo cair. Ele arregalou os olhos e me olhou furioso enquanto eu ria vendo a tinta escorrer pelo seu rosto. Saí correndo para o outro lado da rua e veio atrás de mim, atirando o máximo da tinta que conseguia.
- Eu vou te pegar, sua idiota!
E nós gargalhamos, sujos, o resto da tarde.



Cena 02

À noite, depois de levar uma bronca da mamãe por ter sujado a calçada de tinta, nós sentamos à mesa para jantar. Ela também tinha ficado brava por termos sujado o chão do alpendre, a grama do jardim, as flores do jardim, a rua e o pneu do carro do papai. Mas esse último foi culpa do , que mirou em mim e arremessou no lugar errado.
- Mas foi culpa do imbecil do – disse antes de comer uma batata frita. Mamãe me olhou feio.
- Não o chame de imbecil, .
- Mas ele é.
Papai riu e também ganhou um olhar feio.
- O importante é que vocês não saiam por aí jogando tinta no condomínio inteiro, ou podem arrumar algum problema, entendeu?
- Entendi, papai.
- Vocês fizeram o trabalho direitinho? – a mamãe perguntou.
- Fizemos, sim. Onde está a ?
- Sua irmã saiu com o namorado.
- Até hoje eu não sei o que ela viu naquele babaca – papai resmungou, o que eu achei não ter sido uma boa ideia.
- Henrique! – mamãe gritou, brava.
- O quê?
- Pare de chamar o menino de babaca. Ele é irmão do , esqueceu?
- Mas ele é.
Eu comecei a rir. Mamãe respirou fundo, balançando a cabeça em negação.
- Você só diz isso porque não queria ver sua filha com rapaz nenhum. Não dê ouvidos para o que seu pai diz, , o sempre foi um excelente menino.
- Eu gosto do – disse. Mamãe abriu um sorriso.
- Todos nós gostamos, não é, Henrique?
- Claro – o papai respondeu mal humorado.
- Ele é menos babaca que o .
Mais uma vez, ela respirou fundo, rolando os olhos antes de olhar para o papai.
- Não da nem para dizer que não é sua filha.

Depois do jantar, eu peguei uma barra de chocolate na gaveta do armário e subi para o quarto. Ainda tinha um último exercício de ciências para fazer, então voltei para a escrivaninha. Um barulho na minha janela me tirou a atenção antes de eu dar a primeira mordida. Olhei para frente, vendo me encarando do outro lado. Acho que ele tinha acabado de tomar banho, porque seus cabelos estavam molhados e espetados. Não que eles conseguissem parecer normais na cabeça dele mesmo secos. Afastei meu livro e subi na escrivaninha, ficando sentada sobre minhas pernas, e abri a janela.
- Me joga um pedaço do seu chocolate – ele disse apressado.
- E por que eu faria isso?
- Porque eu to mandando – o respondeu convencido. Eu franzi a testa, sorrindo com o canto da boca.
- E desde quando você manda em mim, seu babaca?
- Vamos lá, , só um pedacinho... – ele fez cara de coitado e eu ri.
- Você está sempre comendo chocolate, por que quer o meu?
- Minha mãe me proibiu.
- Sério? – aquilo me espantou. – Por quê?
- Porque, bom... eu estou sempre comendo chocolate.
Apenas olhei para ele durante algum tempo, tentando entender o que aquilo significava.
- E daí?
- E daí que... Tipo... Ah, não devo explicações para você, me joga logo seu chocolate! – ele ficou nervoso do nada, o que me deixou ainda mais espantada. Me ajeitei na escrivaninha, sentando com pernas de índio, e dei uma bocada no meu chocolate. O queixo dele caiu. – Qual é, , só um pouquinho, não vai te fazer falta.
- Pensasse duas vezes antes de ser grosso comigo.
- Me desculpe! – ele logo pediu com cara de desespero. – Me desculpe, nunca mais vou ser grosso com você, mas, por favor, me da um pedaaaaaço!
- Tudo bem, tudo bem... – eu concordei, quebrando um pedaço da minha barra. Ele abriu um sorriso enorme. – Mas só se me contar por que sua mãe te proibiu de comer chocolate.
E o sorriso dele se foi. pareceu respirar fundo e desviou os olhos dos meus, olhando para o lado e coçando com uma das mãos a cabeça. Achei estranho, mas ele era estranho, então só esperei.
- Bom, é que... eu meio que... eu comi demais, sabe? Comi muitão, muito mesmo, e aí... – ele fez uma pausa de novo, e dessa vez eu fiquei nervosa.
- Ai, céus, fala logo!
- Eu entupi o vaso, tá legal? – ele disse rápido, ficando sem graça em seguida. Demorei um pouco para entender do que ele estava falando e, quando entendi, soltei uma gargalhada.
- , seu nojento!
- Ei, pare de rir de mim. Eu não rio de você.
- É porque eu não faço essas coisas nojentas.
- Escuta aqui, você vai me dar um pedaço ou não? – o cruzou os braços, ficando irritado.
- Tá legal, saia de frente da janela.
Ele deu alguns passos para trás e eu joguei o pedaço que havia ficado dentro da embalagem pela janela dele, acertando no joelho.
- Obrigado, .
- De nada. Agora vai entupir o banheiro, vai.
Ele ficou sério e bateu a janela na minha cara, fechando as cortinas. Eu então desci da escrivaninha, terminei meu dever de casa e me preparei para dormir.



Cena 03

No dia seguinte, mamãe me acordou às seis horas da manhã. Eu odiava ter que acordar tão cedo desse jeito, mas eu sempre espiava pela minha cortina, porque, às vezes, o se esquecia de fechar a dele e vê-lo dormir sentado na cadeira da escrivaninha com a boca aberta depois de colocar o uniforme realmente tornava as coisas melhores. Hoje eu não veria tamanha proeza, porque ontem ele fechou a cortina na minha cara. Mas ri com isso mesmo assim.
Tirei o pijama e vesti uma calça jeans, a camiseta branca da escola e calcei meus tênis. Depois de usar o banheiro, prendi meus cabelos em um rabo de cavalo e peguei minha mochila, indo para a cozinha.
- Bom dia, meu amor – papai disse, beijando meu rosto. , que já estava tomando café, fez o mesmo.
- Bom dia – eu me sentei ao lado dela e peguei um pedaço de bolo.
- Coloquei seu trabalho na mesa da sala, não vá esquecê-lo – mamãe avisou.
- Está bem.
Algum tempo depois, a campainha tocou, fazendo com que minha irmã parasse de jogar os cabelos para lá e para cá para se levantar e ir à escola com o . Antes, eles iam comigo e com o (no carro do papai ou do pai do ), mas depois que o aprendeu a dirigir, eles passaram a ir sozinhos. Papai não ficou muito feliz com isso e foi um período em que mamãe e eu ouvimos a palavra babaca muitas vezes. Antes de sair, reparei que ela usava uma calça clara e sapatilhas vermelhas como as unhas.
- Olá, senhor e senhora apareceu na cozinha com a mochila nas costas e os cabelos bagunçados.
- Olá, querido. Quer um pedaço de bolo? – mamãe ofereceu. Ele arregalou os olhos , tentado, mas recusou.
- Não, obrigado, eu acabei de comer.
- Vamos? – papai perguntou. Eu terminei meu suco e levantei, dei um beijo na mamãe, peguei nosso trabalho e andei com até o carro.

O caminho até a escola foi silencioso. E sempre era, na verdade. Dei um beijo no papai quando chegamos e então e eu subimos a escada, tomando todo o cuidado com a cartolina até entramos na sala.
- É melhor a gente colocar na sua carteira – o falou e concordei. Ele sentou na dele, que ficava em frente à minha, na fileira encostada à parede. – Sua mãe ficou muito brava por causa da tinta?
- Só um pouco. E a sua?
- Não. Ela só reclamou de ter que lavar meu cabelo, porque eu não lavei direito.
Eu ri.
- Você nunca faz nada direito.
abriu a boca para me xingar, mas apareceu todo empolgado do nosso lado.
- Vocês tão sabendo do interclasse?
- É só no final do ano, não é? - perguntei.
- É, mas acabei de ouvir o diretor dizer que vai ter um campeonato fora de época agora!
arregalou os olhos, pulando na cadeira.
- Agora quando?
- Daqui uma semana.
- Uou, maneiro! - a cara dele se contorceu toda numa careta feliz enquanto ele socava o ar, me fazendo rir.
- Acho que vão passar os detalhes pra gente hoje.
- Não sei por que vocês tão empolgados - disse naturalmente, fazendo os dois me olharem confusos. - Vocês são péssimos.
- Fica quieta, - se levantou, chutando uma bola imaginária no ar. - Tá vendo isso? Esse ano é nosso!
entrou na onda e também levantou, mexendo os pés de forma desordenada.
- Esse campeonato é nosso! A gente tá treinando forte desde o ano passado, a gente vai ganhar e esfregar na sua cara!
Rolei os olhos. chegou para dar suporte.
- É verdade o que tão falando do interclasse? - perguntou, e os dois confirmaram com entusiasmo. - Irado! Reunião no recreio pra acertar os detalhes!
- Sim! - gritou com as mãos no ar. - Precisamos de um nome forte pra chegar chegando.
- Que tal A Gangue? - sugeriu. Senti minhas sobrancelhas levantarem.
- Hm, não sei, não me pegou... - disse com as mãos na cintura.
- Chute Furioso! - sugeriu, então eles começaram uma sequência de nomes tão idiotas quanto eles mesmos.
- A Máfia!
- Ratos Doentes!
- Resistência!
- Pés Furiosos!
- Bulldogs!
- Maneiro! O que você acha, ? - se virou pra mim com os olhos brilhando. Mordi o lábio pra prender o riso, respirando fundo.
- Acho que vocês tão mais pra Os Babacas.



Cena 04

Três semanas depois, eu estava de pé junto ao time de futebol mais derrotado de toda a história do Campeonato Interclasse. Eram duas horas da tarde e o campo do colégio estava lotada de pais e alunos.
- Eu duvido que algum de vocês faça um gol.
- Pois eu vou fazer – disse com uma segurança que me espantou.
- Nós vamos ganhar o campeonato – deu aquele sorriso colgate que só ele sabia dar. Suspirei.
- Vocês não ganharam nenhum jogo até agora, como querem ganhar o campeonato?
- Ela está certa... – disse com desânimo, passando os dedos pelos cabelos da nuca. – Olha só o tamanho deles, são o dobro da gente!
- Deixa de ser mulherzinha, deu um tapa na cabeça dele – Nós podemos não ganhar o campeonato, mas vamos ganhar esse jogo.
Eu olhei o time adversário do outro lado do campo. Os meninos eram grandes e fortes, pareciam ser mais velhos e tinham ganhado a maioria dos jogos. E, à minha frente, eu tinha... bem, eu tinha um magrelo que cutucava o nariz, um nerd que não sabia pra onde correr, três patetas que tropeçavam na bola, alguns bobocas que não sabiam o que estavam fazendo lá e , e . Não eram grandes coisas.
É, eles iriam perder.
- Bem, boa sorte. Vocês vão precisar.
O treinador os chamou para o aquecimento e comecei a andar até a arquibancada.
- ? – ouvi chamar.
- O que foi, bobão?
- Duvida de que eu faço um gol?
Ri.
- É claro que duvido.
- Bem... – ele curvou os lábios em um meio sorriso. – E se eu fizer?
- Bom, vocês serão um pouco menos fracassados!
olhou para baixo por um segundo, coçando a cabeça em seguida.
- Se eu fizer um gol, você me da um beijo?
Pega de surpresa, senti minhas bochechas esquentarem imediatamente. Uma risada nervosa escapou de minha garganta e não sabia como responder àquilo. O que o estava arrumando?
- Nem sonhando, seu babaca.
Saí correndo para a arquibancada. já estava no campo quando me sentei ao lado da aluna nova, que estava meio perdida. Ele aquecia com o e fiquei o observando por algum tempo, me perguntando o que ele teria na cabeça para me dizer aquilo.

O jogo foi bastante previsível. Os meninos estavam perdendo feio de quatro a zero. às vezes ficava nervoso e ia tirar satisfação com o bandeirinha, que ria do jeito dele, assim como nós. era mais durão, ele apontava o dedo na cara dos próprios adversários e saia correndo atrás quando um deles tirava sarro. Enquanto isso, saia correndo toda vez que o outro time olhava para ele. Ele era desengonçado e medroso, e eu não me surpreenderia se ele fizesse um gol contra apenas para não correr o risco de ter o dinheiro do lanche roubado. Mas, nos últimos minutos do segundo tempo, as coisas mudaram. conseguiu interceptar um passe e cruzou o campo com toda a velocidade. Era como se não tivesse ninguém a sua frente. Corria com força, desejo e um sorriso confiante e louco nos lábios, a torcida vibrando mais a cada vez que ele se aproximava do gol. A causa era perdida, mas e daí? Eu sabia o quanto isso significava para ele, para eles, e se era importante para , era importante para mim. Levantei. Senti uma energia estranha dentro de mim. Comecei a gritar o nome dele junto ao resto das pessoas e, de repente, gol!
saiu correndo pelo gramado com os braços abertos e um sorriso triunfante. Eu pulava de felicidade. Os meninos correram para o abraço e o bandeirinha apitou, indicando o fim do jogo. Eles tinham perdido, mas o que importava? Era o primeiro gol do time deles e eles comemoraram como se tivessem ganho todo o campeonato.
Os olhos do encontraram os meus em meio à multidão e o aplaudi. Ele esticou um dos braços e apontou o indicador para mim, movendo os lábios em um pra você, babaca. Novamente, senti meu rosto esquentar.
- Quem é aquele, ? – a garota nova perguntou para mim. Reprimindo um sorriso, respondi.
- Aquele é um babaca.

Cena 05

- Eu estou entediado – disse ao meu lado, deitado no chão da sala.
- Eu também. O que vamos fazer?
- Não sei, não consigo pensar em nada.
- Que novidade – debochei. Ele me deu um soco leve nas costelas. – Quer jogar vídeo game?
- Não, estou enjoado.
- Andar de bicicleta?
- Não.
- Assistir televisão?
Ele fez uma careta. Bufei.
- Ai, , como você é difícil.
- Já sei o que eu quero.
- O quê?
- Eu quero um beijo.
Virei meu rosto para olhá-lo. Ele me encarava com um misto de humor e aflição. Dei um meio sorriso enquanto revirava os olhos, voltando o rosto para frente.
- Pense em uma coisa que você possa conseguir.
Ele riu baixo.
- Ok, ok... que tal uma corrida até a sorveteria? – franzi o cenho.
- E que graça tem isso?
- Quem perder, paga.
- Não vou gastar minha mesada com você, seu bobão.
levantou e calçou os tênis de qualquer jeito.
- Então me vença, boboca.
E abriu a porta e saiu correndo. Levantei no segundo seguinte e percebi que tinha vindo até a casa dele de chinelos. Droga, era horrível correr de chinelos. Sem muita opção e tempo para pensar, saí em disparada atrás dele totalmente descalça.
Estava a centímetros dele, mas o babaca do era rápido como uma bala. A sorveteria ficava a quatro quarteirões e nós já estávamos no final do segundo. Eu via os cabelos despenteados e espetados dele balançando com o vento e tinha certeza de que ele usava aquele sorriso de louco no rosto. Ele sempre ficava com cara de louco quando corria, era engraçado. Meus pés estavam doloridos, tamanha a força com que batiam no chão frio e esburacado. Algumas pedrinhas pontiagudas dificultaram as coisas para mim. Quando percebi, já havia chegado.
- Você paga, perdedora! Vou escolher o mais caro que tiver – ele pegou o cardápio que estava em cima de uma das mesas, passando os olhos por ele.
- Pago nada, não valeu! – apoiei as mãos nos joelhos, ofegando.
- Claro que valeu, eu cheguei primeiro. Vou querer um sundae duplo de chocolate com chantilly e calda de cereja.
Sentei na cadeira ainda sentindo meu peito arfar.
- Não valeu, você saiu primeiro – fiz bico, apoiando um dos meus pés no joelho para avaliar a sola. Estava vermelha e cheia de buraquinhos.
- Você veio descalça? – se sentou ao meu lado.
- Eu fui pra sua casa de chinelo. Não ia correr de chinelo.
- Por que não pegou um tênis meu, sua burrinha?
- Porque eu ia perder tempo, seu burrão! – disse como se fosse óbvio.
- Parece feio – ele analisava.
- Só está marcado.
- Está doendo?
- Bastante – torci um canto da boca em sinal de dor. passou os dedos cuidadosamente em meu pé, limpando a sujeira.
- Daqui a pouco passa. Me diz o sabor do seu sorvete que eu pego.
Parei pra pensar. Minha testa se franziu quando percebi que havíamos esquecido o mais importante.
- Você trouxe dinheiro?
- Não, já sabia que você iria perder.
- Ai, seu babaca, eu também não trouxe!
Ele arregalou os olhos.
- Então eu não vou tomar meu sundae duplo de graça? – disparou com incredulidade. Achei aquilo divertido.
- Se deu mal, bobão.
- Você fez tudo de caso pensado, tenho certeza – disse emburrado, sentando-se novamente. Rolei os olhos e ficamos em silêncio por um momento. – Vamos embora, então.
- Pode esperar mais um pouco? Meu pé está doendo – pedi enquanto o massageava. Ele chegou sua cadeira mais perto da minha e tirou seus tênis. Estranhei, então pegou minha perna com cuidado e a colocou em cima das suas, tirando um dos pares do chão para, delicadamente, calçá-lo em meu pé. Tive vontade de impedi-lo, mas não consegui, e apenas fiquei o olhando com um pequeno sorriso nos lábios. Ele trocou de pé e senti alguma coisa crescer dentro de mim, e isso fez cócegas no meu coração. era meu melhor amigo em todo o mundo e eu o adorava. Ele era um babaca, mas era meu babaca.
- Pronto, isso vai ajudar – sorriu de um jeito fofo.
- Desculpe não poder comprar seu sorvete. Prometo que te dou um depois.
- Não tem problema, eu nem queria tanto assim.
Sorri. Sabia que ele estava mentindo, já que era um eterno esfomeado. Ele me sorriu de volta e me ajudou a levantar. Comecei a rir quando dei o primeiro passo e vi que tinha muito tênis para pouco pé. colocou as mãos nos bolsos do jeans surrado e nós voltamos vagarosamente para casa.
- Posso trocar meu sorvete por um beijo?
- Nem pensar, seu babaca.

Cena 06

Eu estava lendo um livro em um banco da escola. Na verdade, eu estava matando aula de educação física, nossa última do dia. Conseguia ouvir um barulho de pessoas falando ao mesmo tempo, mas ele estava distante o suficiente para não atrapalhar minha concentração. Infelizmente, não.
- ! ! Graças a Deus eu te encontrei! – ele apareceu exaltado e com a respiração falha. Fiquei assustada.
- Nossa, o que aconteceu?
- Temumabrigalanaquadra – suas palavras saíram emboladas e de uma só vez e não entendi nada.
- O quê?
- Tem uma briga lá na quadra! – ele apontou a direção com o dedo, arqueando as sobrancelhas.
- Ai, menino, eu lá quero saber de briga – respirei fundo. – Quero mais é que se matem para deixarem de ser babacas.
balançou negativamente a cabeça, ficando ainda mais nervoso.
- O está no meio!
Congelei. Meus olhos se arregam e senti meu queixo cair, o coração disparando. Joguei o livro de qualquer jeito no banco, me levantei e nós corremos.
Havia uma roda em volta dos dois, mas não tinha muita gente. Vi levar um soco e se desequilibrar, levando as duas mãos ao rosto. Quando ele se virou para encarar o adversário, estremeci. Seus olhos transbordavam ódio de um jeito que eu nunca tinha visto. Ele correu para revidar, mas o outro garoto segurou seu punho e o jogou no chão. Não consegui ver o rosto dele, mas ele era forte, bem forte. Aquelas costas não me eram estranhas. Ele fez menção em se sentar em cima de , com certeza para socá-lo, mas foi mais rápido e o chutou com força nas partes íntimas. O garoto soltou um grito e caiu de joelhos no chão, se contorcendo ao som das gargalhadas. Aproveitei o momento para correr até , que já estava de pé e se preparava para chutá-lo novamente, e o segurar pelos braços.
- Você perdeu a noção das coisas, seu idiota? – gritei. Ele me olhou assustado.
- Me solte, , eu vou acabar com esse infeliz – e foi para cima do menino, que gemia no chão, mas eu entrei na sua frente.
- Já chega, , você não vai acabar com ninguém!
- Não vai mesmo – uma voz masculina e grossa soou atrás da gente. Me virei. O diretor estava parado a poucos centímetros e olhava de para o outro menino com seriedade. As pessoas desfizeram a roda rapidinho. – Eu quero o senhor na minha sala agora – ele apontou para o e se ajoelhou ao lado do menino, fazendo sinal para um dos faxineiros se aproximar. Foi então que vi seu rosto. Rony Blake. Perigo, para os íntimos. Era o garoto mais valentão do colégio e nem mesmo os professores gostavam dele. Sua ficha criminal era extensa e, não por coincidência, era o arqui-inimigo de . – Ajude-o a andar até a enfermaria, por favor.
O diretor olhou novamente para antes de sair, apressado.
- Por que você fez isso, seu babaca? – o repreendi. Ele me olhou sem uma expressão definida e suspirou, esbarrando fortemente em meu ombro ao sair de perto de mim. Fiquei o olhando se afastar, confusa, pensando o que diabos tinha sido aquilo.

Longos minutos se passaram desde que entrara na diretoria. Eu estava sentada no banco de madeira encostado à parede dela, abraçando minhas pernas. Não conseguia escutar nada além das batidas apreensivas de meu coração. Queria estar ao lado dele e saber o que tinha acontecido. era briguento, mas não saia chutando as partes íntimas das pessoas sem ter um motivo muito bom, disso eu tinha total certeza. E, conhecendo Perigo, eu sabia quem tinha começado.
- , até que enfim, eu estava super preocupada! O que aconteceu? – disparei assim que o vi sair pela porta. Ele tinha uma expressão séria e passou apressado por mim sem ao menos me olhar. Coloquei minha mochila no ombro e peguei a dele (que tinha esquecido na quadra), correndo para alcançá-lo. – , da pra falar comigo, pelo amor de Deus? – ele me ignorou. – ! – segurei com força em seu braço, puxando-o sem delicadeza.
- Da o fora, , me deixa em paz! Sua idiota – as palavras saíram ríspidas e levei um pequeno susto com isso. Ele me olhava com frieza e uma pontada atravessou meu peito, um nó se formando em minha garganta.
-O que eu te fiz?
- Nada, e esse é o problema! Até quando te defendo eu não passo de um babaca pra você. Eu sou só um babaca pra você.
- O quê? Não! Você não é um babaca, você é meu melhor amigo, . Eu adoro você.
A expressão dele de repente se suavizou e ficamos em silêncio por alguns segundos. Minhas bochechas arderam. Era a primeira vez que eu dizia aquilo.
- Me desculpe – sussurrou, arrependido. Larguei as mochilas e o abracei. – Eu também adoro você.
- O que aconteceu? – afastei o rosto para olhá-lo. Ele tinha um corte pequeno no canto da boca.
- Aquele filho da mãe passou dos limites.
- Ele te ofendeu?
- Não – franzi o cenho – Ele te ofendeu.
- O quê?
- Ele te chamou de vadiazinha e eu perdi a cabeça. Não admito que ninguém fale essas coisas de você – disse meio envergonhado, desviando o olhar. Reprimi um sorriso.
- Ah, , você não deveria ter brigado com aquele idiota daquele jeito.
-Eu sei, mas meu sangue subiu e eu não consegui não dar um soco nas fuças dele – fechou uma das mãos em punho, nocauteando o ar. Achei graça.
- Ele não vale a pena. Promete que não vai mais perder a cabeça?
- É só ele não falar de você.
Dessa vez eu sorri abertamente. deu um sorriso de lado e se abaixou para pegar sua mochila. Fiz o mesmo.
- Sério, eu não quero mais te ver assim, machucado.
- Certamente não verá pelos próximos três dias.
- Como assim?
- Fui suspenso.
Suspirei.
- Bem feito – ele me olhou atravessado e comecei a rir. Nós andamos em direção à saída e não pude deixar de completar minha frase com meu xingamento favorito. – Seu babaca.

Cena 07

Saí correndo escada acima assim que mamãe me deixou na escola. A mochila pesava em minhas costas, fazendo meus ombros doerem, mas eu não me importava. Apenas corria alegremente pelos corredores como se fosse a única pessoa ali. Quase tropecei nos meus próprios pés ao chegar à sala. estava de pé chutando uma bolinha de papel com .
- Feliz aniversário, seu bobão! – eu o abracei apertado, quase o sufocando. Ele riu, me abraçando de volta.
- Obrigado, bobona.
- Oi, .
- Oi nada, você chutou minha bola longe!
Rolei os olhos. Ele era outro babaca. Procurei pela mochila de e me sentei na carteira logo atrás e os dois logo se juntaram a mim.
- Vai à minha festa hoje à noite, né? – perguntou com os olhos brilhando.
- É claro que vou.
- Vai ter bastante comida, não é mesmo? – também tinha os olhos brilhando.
- Minha mãe comprou salgadinho e fez um monte de doces.
- Eu estarei lá!
- Meu Deus, vocês são dois mortos de fome – ri. O professor entrou na sala.
- Comprou o meu presente, sua bobona? – sussurrou.
- Quem disse que eu vou te dar presente? – disse fingindo indiferença. Ele me olhou com os olhos semicerrados e sorriu de lado.
- Eu sei que você vai.
O professor nos deu bom dia e começou a falar. A sala ficou em silêncio por quase uma hora. Já não estava mais aguentando ficar com os olhos abertos quando escutei alguma coisa cair em minha carteira, fazendo um pequeno barulhinho. Passei os olhos atentamente pelo local e vi um pedacinho de papel cuidadosamente dobrado. Só poderia ser do . Peguei e abri.

Me da um beijo de presente?

Senti meu corpo esquentar e um leve desconforto se instalar em mim. Mais uma vez, isso fez cócegas em meu coração. Eu não sabia por que ele insistia tanto nesse negócio de beijo. Era tão... nojento. Não era? Ou não? Porque beijava o o tempo todo, pensando bem... Talvez fosse apenas para me irritar, mas, se fosse, não era exatamente isso o que estava acontecendo. Mordi meu lábio inferior quando, por um momento, considerei aquilo. Peguei meu lápis e respondi.

Vou pensar no seu caso.

Cutuquei-o pelas costas e ele fingiu se espreguiçar, colocando as mãos por trás da cabeça. Depositei rapidamente o bilhetinho em uma delas. Em menos de trinta segundos, ele estava em minha mesa novamente.

Já pensou?

Ri baixinho, balançando a cabeça.

Tenta mais tarde, seu babaca.

Cutuquei-o novamente e o ritual se repetiu. Ouvi-o rir baixinho também.
As aulas seguintes passaram com metade da turma dormindo, nenhum novo bilhetinho e eu não conseguindo tirar os olhos dos cabelos bagunçados da nuca do menino que estava sentado à minha frente.

Cena 08

A festa de aniversário do tinha sido um sucesso e eu, ele e estávamos jogados no chão da sala com a barriga cheia demais pra fazer qualquer tipo de movimento.
- Minha barriga tá lotada - resmungou.
- Acho que vou vomitar - sussurrou.
- Melhor do que entupir o vaso - provoquei.
- Sua babaca!
- , isso é jeito de falar com a ? - a mãe dele apareceu na sala, parando de braços cruzados entre nós.
- Mas ela é.
Comecei a rir.
- Babaca é você, seu babaca.
A mãe dele rolou os olhos, rindo antes de começar a limpar a sujeira que tínhamos feito. Nossa sala toda foi convidada e quase a sala toda apareceu.
- , meu amor, seu pai veio te buscar. E vocês dois vão lá pra cima pra eu limpar toda essa bagunça, vão.
Relutantemente, nos levantamos devagar, sentindo o excesso de peso revirar dentro de nós. Nos despedimos de , que pegou uma fatia gorda do bolo antes de ir embora, e subimos para o quarto do .
- Você ganhou muitos presentes, hein?
- Quer abrir comigo?
Assenti com um sorriso e sentamos no chão, onde os pacotes estavam.
- To curiosa pra saber o que é essa caixa verde grandona.
pegou a caixa e rasgou o papel ferozmente, revelando um jogo de tabuleiro de futebol.
- Demais! - comemorou.
- Agora você pode treinar pra ficar menos péssimo - ri.
- Muito engraçado. Me da essa caixa colorida aí.
- Tá meio pesada - analisei-a antes de entregá-la.
- Vamos ver... MANEIRO! - gritou, tirando jogos de vídeo game de dentro.
ganhou várias coisas legais, incluindo um Xbox, uma câmera fotográfica, roupas e um mini drone, e não paramos até o último papel ser animosamente rasgado.
- Até que enfim você chegou no meu presente.
Ele sorriu e se levantou apressado assim que reconheceu a peça, rasgando o plástico com os dentes e correndo até a guitarra para colocar a correia vermelha nela. Logo a tinha no corpo, palhetando as cordas como o mais novo rockstar.
- Ficou da hora essa cor, valeu!
- De nada, bobão.
- Sabe, um dia eu vou fazer muitos shows - disse em meio à música imaginária que tocava com vontade, me fazendo rir.
- Ah, é? Vai ser famoso então?
- Muito, no mundo todo! Todo mundo vai saber quem eu sou.
Franzi a testa.
- Uai, mas isso todo mundo já sabe.
- Acho bom você não dizer que todo mundo já sabe que eu sou um babaca.
Ri mais alto.
- Viu só?
- Pode rir - deu de ombros. - Quando eu for famoso, você não vai ver meu show.
- Quer dizer então que você vai me abandonar?
parou a performance e me encarou sério.
- Te abandonar?
- É, uai. Se você for famoso no mundo todo, a gente não vai mais se ver porque você vai estar ocupado fazendo shows.
Ele pensou naquilo por um momento, parecendo ficar triste, e então seus olhos encontraram os meus de novo.
- Eu nunca vou te abandonar, .
- Mas se você quer fazer muitos shows, então vai ter que me abandonar. É uma questão de matemática.
- Então eu escolho outra coisa pra fazer.
- Tipo o quê?
- Ah, não sei... - ele coçou a cabeça, guardando a guitarra. - Que outras coisas têm pra fazer?
- Hm, muitas... você pode ser jogador de futebol.
- Não é você que vive dizendo que sou péssimo nisso? - questionou com as sobrancelhas juntas na testa.
- Você é, mas pode ficar bonzão se treinar muitão.
- É, verdade, e aí posso ser famoso no mundo todo também - ele disse erguendo os braços em comemoração. Inclinei a cabeça.
- Mas se você for famoso no futebol, então vai viajar muito também, não é?
fez a mesma cara pensativa de antes.
- E aí vou ter que te abandonar também, né? - assenti. - Tá, então acho que não vou poder ser famoso.
Ri baixinho.
- A gente encontra um jeito.
Passamos alguns segundos em silêncio, ele com a mesma cara pensativa enquanto eu brincava com os pedaços rasgados de papel no chão, e então ouvi a voz dele.
- Eu posso ser seu marido.
Olhei para o com a cabeça inclinada e a boca entreaberta.
- Meu marido?
- É, aí não te abandono.
- Não entendi.
Ele deu de ombros.
- O papai tá sempre junto da mamãe, o seu pai tá sempre junto da sua mãe. O que eles são? Maridos! Eu posso ser seu marido.
Pensei naquilo por um momento, concordando de leve com um gesto de cabeça.
- É, faz sentido. Mas o que maridos fazem?
- Eles, bem... eles... uai, são maridos.
Gargalhei.
- Ah, jura?
- Ah, , eu sei lá o que maridos fazem! Só sei que eles ficam por perto e eu quero ficar por perto.
Senti um sorriso se abrir em meus lábios e, mais uma vez, cócegas no meu coração.
- Bom, acho que achamos uma função pra você então, porque também quero que fique por perto.
- Ah, é? E vai parar de me chamar de babaca?
Ri.
- É claro que não.
- Minha mãe chama meu pai de morzão, como sua mãe chama seu pai?
- Hm, de meu amor.
- Temos que achar algo pra você me chamar - disse pensativo e eu abri a boca, mas ele me cortou. - Babaca não!
- Por que não? Combina com você - ele bufou, rolando os olhos. - Vou te chamar de Marido Babaca.
- Então te chamo de Marida Idiota!
- Marida? - estranhei.
- A mulher do marido não é a marida?
Pensei naquilo.
- Meio estranho, mas faz sentido. Enfim, você gostou do presente?
- Bastante, obrigado. Você pensou sobre o outro presente?
Eu fiquei gelada, depois senti minhas bochechas esquentarem. Por que diabos ele insistia tanto naquilo?
- Por que você tá insistindo tanto nesse beijo? - perguntei meio sem jeito. Ele coçou a nuca e deu de ombros, enrolando os dedos em uma fita azul.
- Não sei, só uma ideia.
Ficamos em silêncio de novo, ele olhando a fita nos dedos e eu sem saber o que fazer com os meus. O quarto do não era grande, mas era confortável e bonito, e bati os olhos na janela aberta, conseguindo ver a minha do outro lado. A imagem dele dormindo na cadeira quase todas as manhãs depois de colocar o uniforme cruzou minha cabeça e ri baixinho, pensando em quantas coisas engraçadas já tinha visto o fazer pela minha janela. De repente percebi que o céu estava bem escuro.
- , que horas são?
Ele olhou para o lado, consultando o despertador.
- Meia noite.
- Está tarde, talvez seja bom eu ir embora.
concordou com a cabeça e se levantou, sem muita emoção, caminhando comigo até a sala. A luz estava acesa, mas acho que os pais dele não estavam por perto.
- Quer levar bolo?
- Quero sim.
Vi-o cortar uma fatia bem grande e colocar num pratinho, depois encher um copo plástico com docinhos e me entregar. Antes que pudesse agradecer, ele correu até a cozinha e voltou de lá com uma caixa branca pequena nas mãos.
- Minha mãe fez tortinha de morango e pedi pra ela embrulhar duas pra você porque sei que você gosta.
- Ah, , obrigada! - sorri, vendo-o colocar a caixa em cima do copo em minhas mãos.
- Cuidado pra não cair, hein.
Assenti, então ele abriu a porta pra mim.
- Adorei a festa e obrigada por tudo isso aqui!
sorriu e fechou a porta quando desci o segundo degrau, e estava quase cruzando a linha que separava a calçada dele da minha quando meus pés pararam de andar. Eu senti uma coisa quente no meu coração e um arrepio nas costas e, por um momento, observei a caixa que equilibrava no copo. Tinha sido muito legal o dividir a tortinha comigo. Na verdade, ele sempre dividia um monte de coisas comigo. Olhei para a casa dele. era um babaca, mas estava sempre do meu lado e me defendia, me protegia, me divertia e cuidava de mim. Olhei para meus pés e sorri, lembrando da corrida até a sorveteria e, sem pensar muito, coloquei os doces perto da porta de casa e corri para a porta dele de novo, tocando a campainha. Não demorou até que ele aparecesse, e acho que já estava indo dormir porque tinha trocado a camiseta pela blusa do pijama.
- Você esqueceu alguma coisa, ?
Abri a boca pra responder, mas fiquei sem saber o que falar. Como faria aquilo? Ele ficou me olhando, os cabelos espetados combinando com a cara de sono, então cheguei mais perto e segurei em uma das mãos dele. levou o olhar até ela, me olhando confuso em seguida e senti as bochechas tão quentes que achei que fossem estourar. Eu estava sem jeito e resolvi não pensar muito, apenas selei os lábios nos dele e contei mentalmente até cinco antes de me afastar. demorou para abrir os olhos e a gente só se olhou por um tempo antes de eu soltar a mão dele e sorrir, ainda tímida.
- Feliz aniversário, seu babaca.

Fim!

Nota da autora: Olá! Espero que tenha gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrever!
E me diz aqui nos comentários o que achou, please!? =D
Obrigada por ler <3