Estúpido Cupido

Thaay Marques

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Sinopse: Quem será o alvo da flecha do Cupido?

Capítulo Único

Uma semana antes...
- Chega de falar sobre tristeza e vamos de amor! Muito amor! – Anunciou a âncora do jornal News 4 You.
- Claro, Jane! O amor está no ar em Bayview. – Falou John animado enquanto exibia seu sorriso perfeito. – Estamos a poucas flechas para a chegada do Cupido... – fez piada, recebendo a risada da colega de bancada como resposta – E Annelise Normatenda, nos mostra como está à ansiedade dos solteiros para o tão esperado dia! – Finaliza.
- Que porcaria! – Reclamou Camila entediada enquanto cobria o rosto com a almofada do sofá.
Risadas abafaram a voz da repórter que andava pelas ruas da cidade.
- Pode parando com isso! – Falou Laura que estava estirada no tapete felpudo, envolvida nos braços do seu namorado e alma gêmea.
- Fácil falar, né? Finalmente a flecha acertou vocês e acabou com a longa jornada pela busca da alma gêmea. – Retrucou debochadamente enquanto atirava a almofada no casal, acertando o rosto de Malcom que a atirou de volta, errando a mira.
Ambos riram da palhaçada.
- Cami, já disse para não desistir. No momento certo, o Cupido vai te escolher e você sabe disso, né? – Questionou a amiga enquanto se sentava e sorria docemente.
- Que momento? Estou quase completando trinta anos e nada! Esse Cupido estúpido acertou até mesmo dona Angeline do sétimo andar. Até mesmo ela! – Rebateu inconformada enquanto se jogava novamente no sofá, encarando o teto amarelado do pequeno apartamento que dividia com sua melhor amiga.
- Pense pelo lado bom, se até ela foi alvo do Cupido ainda existe esperança para você – Disse Malcom zombeteiro enquanto se levantava para abrir a porta do apartamento.
- HAHAHAHA – Camila forçou uma risada debochada atirando outra almofada no amigo, errando grotescamente.
- E então? O que é tão engraçado? – Perguntou Rodrigo curioso enquanto sentava no sofá, fazendo com que a jovem sentasse para dar espaço a ele.
- Licença existe – Resmungou debochadamente enquanto se encolhia no canto, abraçando a almofada.
- Cami e sua crise do Cupido. – Fofocou Laura enquanto se acomodava melhor nos braços do seu namorado.
Rodrigo gargalhou sem parar por vários minutos, irritando a jovem que deu alguns chutes na coxa dele.
- Qual a graça? Você também não achou a sua! – Lembrou a ele provocadoramente.
- E daí? Enquanto não aparece, vou curtindo com outras. – Provocou sorrindo, fazendo com que ela revirasse os olhos e bufasse indignada.
- Tenho pena da garota que for sua alma gêmea. Tadinha! – Rebateu num tom de falsa tristeza.
- Vocês levam isso a sério demais! – Comentou Malcom despreocupadamente, se aconchegando melhor em sua garota. Ambos observavam os amigos tranquilamente, pois, estavam acostumados com as reações de ambos quando estavam no mesmo ambiente.
- Fácil falar, amigão! Quem era que estava pirando meses atrás achando que não tinha alma gêmea? – Lembrou Rodrigo debochadamente, atirando uma almofada na direção de Malcom, mas acertando a perna de Laura. Ele murmurou uma desculpa e mandou um beijo no ar, sorrindo docemente para a amiga.
- Vocês deveriam relaxar e esperar o Cupido agir! – Aconselhou Laura enquanto se levantava e seguia para a cozinha com a bacia vazia.
- E então, quer apostar quem vai ser flechado primeiro? – Perguntou Rodrigo animado, virando-se na direção de Camila e ignorando totalmente o que foi dito pelo casal de amigos.
A jovem encarou-o incrédula enquanto se acomodava melhor no sofá.
- Prepare-se para perder, amigão! – Anunciou ela deixando que seu espírito competitivo e sua sede de vitória lhe dominassem. Apertaram as mãos, selando a aposta.
E que os anjos lhe ajudassem, pois não perderia a chance de se enlaçar com a sua alma gêmea.

Bayview, 12 de Junho – 00h15.
- Não acha que essa aposta é idiotice? – Perguntou Laura calmamente numa tentativa de pôr um pouco de juízo na cabeça da melhor amiga.
Ambas dividiam uma mesa no bar do Joey enquanto aguardavam a chegada de Malcom e Rodrigo. O combinado havia sido se reunirem a partir da meia-noite para que pudessem estar perto para testemunhar a flechada.
Camila sabia que ganharia a aposta. Contava os minutos para isso acontecer e ver a cara de babaca do garoto que só existia para acabar com sua paciência. A verdade é que ambos só se suportavam em consideração ao namoro dos amigos.
Fazia apenas um ano que Camila e Laura conheciam Malcom e Rodrigo. Era madrugada do dia dos namorados, o grupo estava na mesma balada, curtindo como se não houvesse amanhã e quando as garotas resolveram seguir para o banheiro, esbarraram com os garotos e puf! Tudo aconteceu muito rápido, o Cupido apareceu e todos que estavam ali, pararam de respirar em desespero e ansiedade para saber qual seria o novo casal do ano.
Era tradição no mundo inteiro. Quem comandava a vida amorosa das pessoas era aquele pequeno serzinho angelical. Bastava ser acertado e toda sua vida deveria ser ao lado da bendita pessoa. Foi assim com os pais de Camila, os avós, bisavós, tataravós e com toda população nas muitas décadas. Todo doze de junho, algumas vidas mudavam para sempre. Não existia um padrão. Apenas acontecia com os escolhidos. Azar? Sorte? Ninguém sabia.
Ela apenas esperava ansiosamente por esse dia. Sempre sonhou em encontrar a sua alma gêmea e ter uma família enorme, feliz. Infelizmente, estava demorando demais para esse dia chegar.
- Relaxa! Eu tenho certeza que vou ganhar essa aposta! – Reafirmou para a amiga enquanto observava sorridente o seu crush lhe servir duas canecas de chopp.
Lucas Souza era a sua alma gêmea.
As únicas coisas que ela tinha certeza nessa vida eram: que um dia morreria e que o jovem era a sua alma gêmea. Ela o conhecia tinha seis meses, desde que começou a frequentar o bar. Foi amor à primeira vista. Ele se tornou seu crush a partir do momento em que sorriu lindamente, mostrando sua covinha na bochecha esquerda. Sempre que podia, ia até lá tomar uma cerveja - mesmo que odiasse o gosto da bebida. Geralmente, Laura tinha o azar de lhe acompanhar e ter que aturar a amiga babando pelo rapaz.
- Você sabe que ele tem namorada, né? – Questionou Laura enquanto dava algumas goladas em sua bebida.
O bar estava com pouco movimento naquela noite, com exceção das duas amigas, apenas três mesas estavam ocupadas. O ritmo estava tão tranquilo que o Lucas estava com tempo para ficar limpando o balcão. Algo raro de se acontecer.
- E daí? Se o Cupido nos acertar, muda tudo. – Comentou Camila tranquilamente enquanto olhava mais uma vez o rapaz. Suspirou chateada. Sempre pensava nessa possibilidade de estar se enganando, mas era tão mais fácil acreditar que tudo daria certo no final.
Lucas era lindo. Seu sorriso era lindo. Sabia conversar sobre diversos assuntos e era a simpatia e educação em pessoa. Gostava de ler e usava óculos. Tudo o que poderia conquistar o coração da jovem. O problema era ele ter sido enlaçado antes que ela pudesse o conhecer, mas tinha esperanças de que o dia do Cupido pudesse mudar tudo.
- Não acredito que você escolheu aqui de propósito! – Constatou Laura indignada aumentando o tom de voz. Camila arregalou os olhos tentando acalmar a amiga.
- Se esqueceu que devemos estar no mesmo lugar que nossa possível alma gêmea? Já parou para pensar que se não estivesse na balada aquela noite, não teria conhecido o Malcom? – Perguntou tentando demonstrar sua teoria, adquirida depois de ouvir todos os relatos das pessoas que conhecia.
- Nem brinca com isso! Uma hora iríamos estar juntos de qualquer forma. – Falou num tom doce e sonhador enquanto bebia um pouco mais.
- Quando? Poderia ter demorado ainda mais até que estivessem no mesmo local! Consegue me entender? – Perguntou novamente enquanto suspirava observando a decoração temática daquele dia. Milhares de adesivos de corações cobriam as paredes, rosas estavam enfeitando o lugar e tinha um Cupido de papelão próximo à entrada do lugar.
- Tudo bem! Só tente não pirar com tudo isso. – Alertou Laura seriamente.
Camila confirmou com um gesto de cabeça.
- CARAMBA! É ELE! – Gritou uma voz feminina próxima a mesa das garotas e o silêncio dominou o lugar.
O coração da jovem bateu acelerado enquanto ela procurava desesperada por todo o local. Até que o localizou. O Cupido estava próximo à porta de entrada. Ele parecia um menininho em miniatura com seus cabelos loiros e encaracolados, rechonchudo, envolvido apenas por uma espécie de vestido branco. Flutuava calmamente, sustentado por suas asas brancas enquanto segurava seu arco, observando todo o ambiente com uma concentração absurda.
Camila congelou em sua cadeira. O seu coração poderia explodir feito uma granada a qualquer momento por causa do batimento acelerado. Começou a suar frio sem quaisquer condições de mexer qualquer centímetro do seu corpo.
Deveria correr até ele? Ou deveria se manter ali? Ela teria condições de correr?
Ela não sabia. Apenas continuou olhando com atenção cada gesto do cupido, sem ao menos piscar e acabar o perdendo de vista.
- É agora! – Murmurou Laura animada enquanto se contorcia em sua cadeira, tentando observar a cena.
O Cupido encaixou a primeira flecha em seu arco, fechou um de seus olhos enquanto mirava com precisão o seu alvo: Camila.
A flecha veio certeira. Quando sentiu o suave roçar em sua testa, seu coração pareceu ser capaz de bater ainda mais rápido. Um calor aconchegante lhe atingiu dos pés a cabeça. Um ploc! parecido com uma bolha de sabão estourando foi ouvido, em seguida, a flecha se desfez em diversos pequenos corações vermelhos que estouraram feito bolhas de sabão.
A boca de Camila estava escancarada em descrença. Não conseguia se mexer enquanto observava a próxima vítima, o novo alvo.
Novamente o Cupido pegou uma flecha, encaixando-a em seu arco e virou-se em direção ao balcão, mirando em seu alvo.
- ISSO! – Gritou Camila em comemoração por estar certa durante todo aquele tempo enquanto ficava de pé e levantava seus braços.
Mas como nem tudo acontece como queremos, com a jovem não seria diferente. Poucos segundos e tudo deu errado.
- Claro que sim! – Respondeu Malcom abrindo a porta do bar repentinamente ao entrar, causando o maior desastre.
A porta atingiu o Cupido bem na hora em que iria acertar Lucas no balcão. O pobrezinho foi arremessado longe, fazendo com que soltasse a flecha e a mesma atingisse o alvo errado.
Um grito de pavor ecoou pelo bar. E a confusão já estava armada.
Rodrigo havia sido atingido certeiramente na barriga.
- Não pode ser! – Falou Camila desesperada, correndo em direção ao Cupido que havia caído em cima de uma mesa. O mesmo piscou diversas vezes atordoado e desapareceu num passe de mágica.
- NÃO, NÃO! – Gritou ela em negação ao se aproximar da mesa em que foi ocupada pelo serzinho momentos antes de desaparecer no ar.
- Eu encontrei minha alma gêmea? – Questionou Rodrigo abobado enquanto observava o local animado.
Ninguém teve coragem de se pronunciar por tamanha descrença sobre o que tinham presenciado naquela noite.
Camila não conseguia encontrar sua voz para responder ao infeliz. Poderia surtar a qualquer momento. Não conseguia acreditar que aquela situação absurda havia acontecido justamente com ela. ELA. Milhares de pessoas no mundo e a azarada havia sido ela.
- Eu ganhei a aposta, Cami! – Anunciou Rodrigo animado enquanto se aproximava da jovem, tocando seu ombro.
Ela não reagiu.
- Eu sabia que iria ganhar de você! – Provocou risonho, recebendo o silêncio da jovem que estava quase debruçada na mesa a sua frente.
Ele estranhou o silêncio de todos e virou em direção a Laura, esperando uma explicação da namorada de seu melhor amigo.
- Drigo... – Pigarreou ela, respirando fundo e continuou: - O Cupido acertou a Cami primeiro – Finalizou seriamente.
Camila estava de olhos fechados, revivendo a cena diversas vezes. Seu sangue começou a ferver de raiva, indignação. Bateu com as mãos na mesa, assustando as pessoas. Virou em direção ao culpado: Malcom.
- Isso é sua culpa! – Acusou irada enquanto seguia em direção ao jovem que a encarou confuso.
- O que eu fiz de errado? – Perguntou confuso enquanto se afastava do olhar assassino da amiga e seguia até a sua namorada, escondendo-se atrás dela.
- Foi um acidente, Cami! – Defendeu Laura, segurando a amiga pelos ombros.
Rodrigo assistia a toda cena, completamente confuso.
- Eu vou te matar! – Anunciou Camila irada enquanto tentava acertar Malcom com tapas por cima da cabeça de Laura que se esforçava para segurar a melhor amiga e impedir que acontecesse um assassinato.
- O que eu fiz? – Perguntou novamente em desespero enquanto se mantinha atrás de sua namorada, olhando assustado a expressão assassina de Camila.
- VOCÊ ACERTOU O CUPIDO COM A PORTA! – Berrou ela indignada.
- FOI SEM QUERER! – Gritou Malcom desesperado enquanto tentava se desviar dos tapas da amiga. Sua namorada em meio ao fogo cruzado, sendo usada como escudo humano.
- Com licença... – Interrompeu uma voz masculina, chamando a atenção do trio.
- Lucas! – Chamou Camila a beira das lágrimas de desespero naquela situação louca.
O jovem estava sério enquanto encarava a garota como se a mesma não estivesse quase tendo um surto.
Resolveu continuar: - Preciso que se retirem. Estão assustando nossos clientes... – tentou continuar, mas foi interrompido pela garota.
- COMO ASSIM? Você viu tudo o que aconteceu? O Cupido se enganou! – Camila começou a tagarelar incrédula enquanto o jovem continuava a encarando, como se a maior confusão da vida deles não tivesse ocorrido.
- Desculpe, senhorita. Não vi nada além de um casal que foi finalmente acertado pelo Cupido! – Respondeu friamente dando de ombros.
- Mas o Cupido iria acertar você! – Manifestou-se Laura indignada com o papel ridículo feito pelo cara.
- Não iria, não. Ele apenas estava se preparando para mirar naquele cara ali! – Justificou-se apontando para Rodrigo que continuava estático, encarando o chão.
- COMO ASSIM? VOCÊ PIROU? É MÍOPE? – Questionou Camila indignada enquanto gesticulava loucamente, prestes a perder as estribeiras.
- Eu tenho uma namorada e a amo. Não é um maldito Cupido que vai definir a minha vida! – Soltou Lucas irritado dando as costas para Camila e seguindo em direção ao balcão, como se nada estivesse acontecido.
Todos que assistiam aquela cena, mantiveram-se em silêncio.
Camila segurou as lágrimas pois, não aceitaria derramar qualquer uma – não ainda. Respirou fundo e seguiu o rapaz até o balcão. Cutucou o ombro dele com agressividade, aguardou que virasse em sua direção.
- Você pode não querer que defina a sua vida, mas eu quero! É importante para mim! Me diz uma escolha do Cupido que não deu certo até hoje? – Lucas ameaçou abrir a boca para responder, mas ela ignorou e continuou: - Exatamente! – Como se tivesse permitido ouvir a resposta dele, continuou: - Nenhum! Não vou permitir que aquele babaca ali – apontou para Rodrigo que observava a cena chocado.
- EI! – Reclamou do xingamento.
E Camila ignorou, continuando: - ... perca a chance de achar a pessoa certa. Vou desfazer essa confusão! – Finalizou, respirando fundo numa tentativa de recuperar o fôlego.
- Boa sorte! – Desejou Lucas debochado enquanto voltava para suas atividades.
Ela deu de ombros, fingindo estar super de boa, mas, por dentro estava arrasada. Seguiu para a saída, seus amigos indo atrás. Todos preocupados enquanto ela caminhava determinada sem olhar para atrás.
- Só mais uma coisa: ainda bem que ele errou! – Disse repentinamente ao passar pela porta.


XXX


Após aquela noite, Camila tentou bravamente – e insanamente – encontrar o Cupido, mas ele já se encontrava em outro continente flechando outros casais. Esteve a ponto de comprar passagens de avião até o Brasil, mas corria o risco de não o encontrar mais lá. Graças a Laura, foi impedida de fazer muitas loucuras.
- Cami, você está bem? – Perguntou Laura docemente enquanto observava a amiga jogada no sofá.
- Bem? Bem? – Questionou indignada, afundando o rosto numa almofada.
- Não gosto de te ver assim! – Confessou tristemente ao se aproximar do sofá, ajoelhando ao lado e acariciando os cabelos da amiga.
- Eu perdi a minha chance, La! Você sabe o quanto era importante para mim. – Disse chorosa enquanto secava algumas lágrimas e olhava a amiga nos olhos.
- Eu sei, meu anjo. Se te consola, você iria namorar um cara nem um pouco interessante! – Consolou a amiga fazendo uma expressão de tédio.
- E o Rodrigo consegue ser melhor? Ele também perdeu a oportunidade de ser feliz!
- Olha, o Drigo é o Drigo né... Você sabe que ele nunca se importou com isso. – Comentou Laura levantando-se e sentando ao lado da amiga, as pernas formigando por ter ficado ajoelhada por muito tempo.
- Mas, mesmo assim. Nada justifica o que aconteceu!
- Você ainda está magoada com o Malcom? – Perguntou cuidadosamente enquanto segurava uma das mãos da amiga.
Camila negou com um gesto de cabeça e sorriu.
- Ele estava muito triste e se sentindo culpado. – Falou ela dando de ombros.
- Já superei tudo isso. – Conformou-se dando de ombros.
A campainha tocou e ambas se olharam confusas pois não aguardavam visita. Laura ia se levantar, mas Cami tomou a dianteira e seguiu até a porta. Olhou pelo olho mágico da porta e ficou confusa com a cena: rosas vermelhas impediam a visão.
- Laura, acho que é para você! – Chamou Cami dando de ombros enquanto a amiga se aproximava, confusa.
Laura também olhou pelo olho mágico e eufórica com o que viu, abriu a porta rapidamente.
- Malcom! – Falou animada, mas sua animação foi substituída por confusão pela cena em sua frente.
Rodrigo estava ali com os cabelos normalmente rebeldes, fixados por um gel. Vestia um smoking preto e segurava um buquê enorme de rosas vermelhas. Estava mais vermelho que as flores em suas mãos.
O silêncio foi quebrado pelas gargalhadas escandalosas das amigas que estavam quase derramando lágrimas. Riram sem parar, deixando o jovem super sem graça com a situação.
- Podem parar? – Perguntou Rodrigo seriamente enquanto revirava os olhos.
- Desculpa, desculpa! – Pediu Laura secando algumas lágrimas enquanto respirava fundo tentando recuperar o fôlego.
- Cara... acho que... está no endereço... errado! – Cami disse entre as gargalhadas enquanto estava apoiando-se no batente da porta.
- Vocês podem parar?! – Perguntou indignado.
- Tudo bem! Tudo bem! – Falou Cami com ambas as mãos para o alto, rendendo-se. Respirou fundo diversas vezes, tentando se acalmar, mas cada vez que olhava aquela cena a risada voltava com força total.
- Toma essa porcaria! Desisto! Sabia que não iria dar certo! – Falou derrotado, num tom irritado e quase que arremessando o buquê na cara da jovem. Virou em direção ao elevador, decidido a sumir dali e abandonar a ideia louca de Malcom.
- Drigo, volte aqui! – Pediu Laura risonha enquanto corria até o amigo, segurando-o pelo braço.
Camila ficou estática com o buquê em suas mãos. Sua expressão era de pura confusão. Pensamentos a mil, possibilidades enchendo sua mente romântica.
- Você veio dizer que me ama, Rodrigo? – Ela questionou inesperadamente, olhando-o atentamente.
- Claro que não, mulher! – Riu ele enquanto retornava acompanhado de Laura.
Ela sorriu sem graça.
- Malcom me contou que você ainda estava arrasada com tudo que aconteceu... – Tentou continuar, mas foi interrompido pela amiga.
- Não estou! Sabe como Malcom é exagerado... – Desconversou ainda segurando as flores e sentindo o perfume delicioso.
Quem diria que o primeiro buquê da sua vida amorosa seria dado pelo babaca do Rodrigo...
Continuou: - Pensei em tentarmos dar certo. O que acha? E assim, quem sabe, atrair o Cupido e resolver essa confusão. – Propôs ele dando de ombros enquanto entravam no apartamento, fechando a porta atrás de si.
- Vocês sabem que ele pode não aparecer, né? – Questionou Laura, demonstrando a maior possibilidade de todas, mas sabia que era em vão.
Camila e Rodrigo sorriram verdadeiramente um para o outro pela primeira vez na vida. Ambos se agarraram ao único fio de esperança de que se livrariam um do outro.


XXX


Assim como o Cupido aparece uma vez ao ano, existem boatos de que casais vivenciando um momento romântico e de puro amor foram capazes de atraí-lo. E apostando nesse boato, ambos decidiram recriar encontros românticos e clichês numa tentativa de consertar a confusão em que se meteram.
Possível?
- Não acredito que estamos fazendo isso! – Falou Camila incrédula enquanto mordia seu cachorro quente.
- Gostou? – Perguntou Rodrigo enquanto mastigava.
- Super clichê! Eu e você. Pôr do sol. Lanche. – A jovem começou a apontar os fatos enquanto mordia outra vez o lanche.
Ambos se olharam por alguns instantes, gargalharam enquanto se davam conta de toda a confusão que se meteram. Era o segundo momento clichê que estavam criando. Rodrigo decidiu que deveriam vivenciar uma situação perfeita: pôr do sol.
Eles estavam na cobertura do prédio, em que as meninas moravam, sentados em um lençol velho. O vento fresco de um fim de tarde bagunçava o cabelo de ambos enquanto estavam em silêncio comendo. O sol sumindo aos poucos no horizonte acima dos diversos prédios e antenas parabólicas num cenário totalmente urbano.
- Uma música favorita? – Perguntou Rodrigo estirado de barriga para cima, sua atenção presa ao céu escuro enquanto sua música favorita do Ed Sheeran tocava ao fundo, numa tentativa de tornar o ambiente menos desconfortável.
- Não tenho – Ela respondeu tranquilamente enquanto dava de ombros. Estava sentada envolvendo seus joelhos com os braços, observando o horizonte dominado por prédios e estrelas. Buzinas, passos, músicas aleatórias podiam ser ouvidos, lembrando-os que o tempo e a vida continuavam em constante movimento.
- Como assim? – Perguntou ele incrédulo enquanto erguia metade do seu corpo, apoiando o peso nos braços. Encarava-a como se fosse um alien.
- Só não tenho. Eu amo música e sou feita de momentos, mas ainda não adquiri a habilidade de escolher apenas uma. – Explicou revirando os olhos, olhando-o rapidamente e voltando sua atenção para o horizonte, descansando a cabeça nos braços.
- Você é muito esquisita! – Comentou ele revirando os olhos e rindo em seguida, deitando novamente. Cruzou os braços atrás da cabeça.
- E você perfeito... Quer saber? Vou voltar para casa! – Anunciou ela impaciente, levantou-se e ajeitou sua roupa, respirou fundo e observou pela última vez o céu noturno.
- Mas já? E se ele aparecer? - Questionou Rodrigo apressadamente enquanto se sentava e encarava a jovem em dúvida.
- Não estou a fim de ficar aqui sendo insultada por não ser igual a você – Disse seriamente, dando de ombros enquanto seguia até a enorme porta de ferro que os separavam da escada.
- Cara, você leva tudo muito a sério! – Ele falou rindo enquanto observava ela seguir decidida, sem ao menos olhar para trás.
- Ao contrário de você, né? Não tem responsabilidade com nada, bancado pelo papai. – Rebateu ela irritada, parando com a mão na maçaneta.
- Calma, estressadinha!
- Estressadinha? Você sugere um plano para consertar essa confusão, mas não está levando a sério. Eu não te escolhi como minha alma gêmea e nem era para ser assim! – Confessou o que vinha pensando desde aquela ideia maluca.
- O que eu te fiz para me odiar assim? – Questionou curioso e magoado enquanto absorvia as palavras duras da garota.
- Além de ser um babaca egoísta, roubou a única coisa que eu queria muito nessa vida! Está bom ou quer mais motivos?
- Eu não escolhi me meter nessa confusão. Vamos fazer o seguinte: eu prometo que vou resolver isso! O Cupido vai reaparecer e nunca mais vai precisar me ter como alma gêmea! Pode ser? – Prometeu ele seriamente enquanto observava a expressão irritada da garota que parecia prestes a jogá-lo dali de cima.
- Tanto faz. – Ela deu de ombros mau humorada, mas, por dentro, se sentiu mais aliviada em saber que ele se empenharia em ajuda-la.
Camila só queria poder voltar no tempo e jamais ter permitido que a flecha atingisse Rodrigo.


XXX


- Até agora não entendi o que tem de clichê e romântico em um parque de diversões! – Resmungou Rodrigo enquanto comprava outro algodão doce azul que tanto amava.
- Meu caro, tudo! Principalmente, naquela barraca – Respondeu Camila animada segurando uma das mãos dele e o arrastando até a barraca de tiro ao alvo.
Era a quinta tentativa de ambos em recriar momentos clichês, mas, depois daquela noite no telhado, tudo deu errado. Teve uma tentativa de serenata na qual ele colocou uma caixinha de som tocando Thinking Out Loud do Ed Sheeran no último volume na porta do prédio, resultando em um balde de água gelada atirado pela dona Ana do primeiro andar. E depois a ideia de Camila em passearem de moto pela cidade que terminou com eles ensopados e com uma baita gripe.
- Você só tem mais uma tentativa. – Avisou o senhor que tomava conta da barraca.
- Calma que eu vou ganhar aquele urso enorme para você! – Disse Rodrigo irritado enquanto fechava o olho direito tentando mirar no alvo de maior pontuação.
Camila estava em pé próxima a ele enquanto observava as tentativas do rapaz em conseguir acertar o tiro na garrafa de maior pontuação. Ela estava adorando implicar com ele a cada erro, mas também estava preocupada por não terem conseguido tornar aquele passeio o mais clichê possível.
A frustração estava muito presente nos últimos encontros em que algo sempre dava errado e estragava tudo. Dias antes, uma pessoa postou na internet ter visto o Cupido no mesmo local em que um homem pedia uma mulher em casamento, tornando a possibilidade de atraí-lo nesses passeios ainda maior.
Ela observou Rodrigo xingar diversas vezes após, errar o alvo pela quinta vez. Ainda era capaz de se surpreender quando pensava na confusão em que se meteu. Detestava o Rodrigo desde a noite em que se conheceram e parecia que era a única coisa em que concordavam. O jeito dele todo confiante como se fosse a última bolacha do pacote, ficando com várias meninas sem dar qualquer importância para elas e sempre comendo os biscoitos que ela comprava tiravam-na do sério. Só sabia viver implicando com o rapaz. Admitia que o achava muito bonito e que numa realidade paralela em que ela não fosse ela e ele não fosse ele, poderiam ficar juntos.
- Não acredito que vamos sair daqui sem ganhar esse urso! – Reclamou indignado.
- Eu sou um merda mesmo! – Dramatizou enquanto negava com um gesto de cabeça.
Camila riu com pena do jovem.
- Podemos acrescentar ruim de mira na lista de qualidades suas. – Zoou enquanto agradecia ao senhor e se afastavam da barraca, seguindo para a fila do carrinho bate-bate.
- Te garanto que não sou ruim de mira em outras coisas... – Provocou ele enquanto jogava seus braços por sobre os ombros da jovem.
Ela riu sem graça.
A fila estava grande para o brinquedo, até mesmo aquela noite o parque no píer de Bayview estava bem movimentado. Parecia que todos decidiram ir ao mesmo lugar que o casal.
- Você acha que vamos conseguir? – Perguntou Camila insegura, demonstrando pela primeira vez, o que estava rondando seus pensamentos nas últimas semanas.
- Claro que vamos! O Cupido sabe que somos um perigo juntos – Respondeu ele fingindo confiança enquanto a dúvida o dominava por dentro.
Ambos riram tentando disfarçar o medo.
- Guarda o meu lugar. Vou ao banheiro e já volto. – Pediu Camila enquanto sorria e se afastava em direção ao banheiro.
Demorou uns vinte minutos para retornar pois, até mesmo o banheiro estava com grande movimento. Irritada pela dificuldade, resolveu retornar para a fila e encontrar com Rodrigo que já estava sozinho por tempo demais.
Conforme foi se aproximando da fila, avistou algo enorme e azul bebê. E quando reconheceu o que era e quem era sua expressão foi de pura surpresa. Lá estava Rodrigo lindamente segurando um enorme urso de pelúcia azul enquanto mexia no celular com uma das mãos livres.
- Não acredito que conseguiu! – Falou ela repentinamente, assustando-o que sorriu convencido.
- Tive que voltar e acertar aquela merda. Eu não iria conseguir dormir sabendo que deixei você voltar para casa triste sem seu ursinho de pelúcia, bebê – Provocou ele fazendo uma voz melosa enquanto praticamente atirava o bicho para cima dela e apertava as suas bochechas.
Camila revirou os olhos, abraçando a gigante pelúcia.

XXX


- Que tal uma noite de folga? – Sugeriu Rodrigo enquanto brindavam com um shot de tequila.
- Folga? – Perguntou confusa.
- Isso! Nada de Cupido, romance. Apenas dois amigos que querem beijar outras bocas, beber, dançar e jogar! – Respondeu ele animado enquanto sentia o líquido atear fogo em sua garganta.
- Ótimo!
Ambos estavam em um bar no píer de Bayview. O local estava abarrotado de gente naquela noite quente. Eles estavam em pé em frente a uma pequena mesa de madeira onde apoiavam suas bebidas. Música animada tocava sendo preenchida por diversas conversas, risadas. Todos ali pareciam se divertir.
Eles riram e brindaram felizes por aquela folga.

XXX

- Não quero ir embora! – Choramingou ela enquanto caminhava trôpega pela rua, apoiada em Rodrigo que estava na mesma situação que ela.
Ambos haviam bebido, dançado, ficado com outras pessoas. Se divertido como nunca haviam antes, felizes com a companhia um do outro. Uma parceria nasceu entre eles, passavam boa parte do tempo juntos. A implicância entre eles não tinha diminuído, mas a mudança deles era perceptível.
- Então, vou te largar aí – Ameaçou ele risonho enquanto caminhavam pela calçada deserta, seguindo até o ponto de ônibus mais próximo.
- Estou cansada – Reclamou ela parando, tirando o sapato de salto e voltando a caminhar.
O silêncio do trajeto era quebrado apenas pelas risadas, comentários bêbados de ambos que se divertiam.
- Quer que te carregue? – Ofereceu.
- Jura? – Perguntou esperançosa e animada pois ninguém nunca havia feito isso por ela.
- Não! Você é muito pesada! – Provocou ele rindo alto enquanto ela seguia irritada até ele, batendo diversas vezes com seus sapatos nas costas dele.
- Ai, ai – Reclamou ainda rindo enquanto corriam trôpegos.
- Você merece, seu babaca! Se fosse a loirinha do bar você estaria levando ela a pé até em casa – Reclamou enquanto parava e cruzava os braços irritada.
Rodrigo parou próximo a Camila, tentando abraça-la.
- Ciúmes, Camilinha? – Perguntou ele provocando a jovem que tentava se desviar dos braços dele.
- Jamais
- Me solta! – Reclamou ela enquanto ele a abraçava forte, tirando-a do chão e segurando-a feito um neném.
Ambos gargalhavam enquanto seguiam até o ponto de ônibus, algumas quadras dali. Vez ou outra, um veículo passava buzinando pela algazarra feita pelo casal embriagado.
- Merda! – Xingou Rodrigo e um gritinho de susto escapou dos lábios da jovem.
Ele se pisou em falso e ambos se estabacaram no chão. Um por cima do outro, face com face. Olho no olho. Um respirando o bafo de bebida do outro, mas presos em um transe que não conseguiam explicar. Poderiam ser suas mentes embaralhadas pelo álcool ou apenas imaginação, mas tudo aconteceu muito rápido. Lá estavam eles em um beijo repleto de desejo. Suas línguas degustando o sabor daquelas bocas que jamais haviam se encontrado. Uma situação jamais imaginada por ambos.
Camila e Rodrigo realmente estavam se beijando.

XXX


- Rodrigo não vem hoje? – Perguntou Laura estranhando o rapaz não estar ali naquela noite.
- Saiu com uma garota. – Respondeu Camila pensativamente enquanto estava estirada no sofá. Seus olhos presos na televisão, mas a mente bem longe dali.
Dois dias haviam se passado desde a noite do beijo. A última noite em que se viram e que tiveram coragem de se olhar. Ela não conseguia definir o que estava sentindo depois de tudo o que tinha ocorrido. Eles se aproximaram muito nas últimas semanas, se conheceram melhor e estavam acostumados a estarem juntos sempre.
Aquela era a primeira vez que Rodrigo havia dito que sairia com outra pessoa e ela apenas respondeu que também tinha um encontro.
Apaixonada por Rodrigo?
Jamais.
Mas tinha que admitir que pela primeira vez sentiu falta da companhia do rapaz.

XXX


- Não vai encontrar Camila hoje? – Perguntou Malcom enquanto coava o café, prestes a voltar aos estudos naquela noite.
- Não. Ela finalmente conseguiu ter um encontro com alguém que não fosse eu. – Respondeu convencido enquanto enchia a boca de pipoca. Ele estava estirado no sofá tentando assistir um filme de ação qualquer, mas sua mente só conseguia lembrar-se do beijo e a situação esquisita depois.
Se o amigo realmente não o conhecesse poderia dizer que estava tudo normal, mas Malcom o conhecia o bastante para saber que Rodrigo parecia incomodado com alguma coisa.

XXX


- Nossa! Vai sair? – Perguntou Laura surpresa enquanto estava em pé no batente da porta do quarto da amiga.
- Não! Estou esperando o Rodrigo, temos que continuar o plano. – Respondeu Camila enquanto passava um batom e admirava mais uma vez o seu reflexo no espelho.
- E desde quando se arruma tanto assim para ver ele?
- Não me arrumei por causa dele. Não posso querer me arrumar uma vez na vida? – Perguntou irritada enquanto se levantava, saindo do quarto.
Laura riu, seguindo em direção ao quarto para pegar suas coisas.

XXX


- Caraca, Rodrigo! Tomou banho de perfume? – Perguntou Malcom ao chegar na sala e encontrar o amigo prestes a sair de casa.
Espirrou diversas vezes ao sentir o perfume forte do rapaz dominar o ambiente, deixando-o alérgico.
- E ainda fez a barba! – Exclamou abismado em meio aos espirros.
- Tenho que andar todo esculachado agora? – Ele perguntou irritado enquanto pegava suas chaves e a carteira, saindo do apartamento em seguida.
Malcom riu sozinho, voltando a espirrar sem parar.

XXX


Vinte minutos ou uma hora?
Rodrigo não saberia dizer. Cansou de esperar por Camila naquela noite. Tinham marcado de irem ao cinema e ela não apareceu. Não deu qualquer sinal de vida. Não atendeu suas ligações ou mandou uma única mensagem. Simplesmente, fez ele de palhaço esperando com pipoca e refrigerante.
E uma única coisa rondava a sua mente: será que ela havia desistido do plano? Tudo por causa do maldito beijo?
Ele apenas tentou se conformar e foi assistir Vingadores, acompanhado apenas de sua pipoca com cobertura de dúvidas e um refrigerante com bastante gelo.

XXX


O coração de Camila estava prestes a fugir pela sua garganta e correr para o mais longe possível, caso a jovem não tomasse essa decisão. Estava escondida atrás de uma pilastra sem coragem de sair. Observava feito uma stalker o cara responsável pela confusão em que se metera.
Lá estava Rodrigo lindamente segurando um enorme balde de pipoca com chocolate – o favorito dela e que ele detestava – e um enorme copo de refrigerante.
Ela não sabia o motivo, mas perdeu a coragem de encontra-lo. Era somente mais uma saída para se encontrarem e tentar encontrar o Cupido, mas em algum momento pareceu que isso tudo perdeu o sentido. No início parecia um sacrifício ter que estar na presença do cara e hoje não.
Totalmente bizarro.
O conhecia bem o suficiente para saber que ele tinha mania de roer a unha do polegar quando estava nervoso ou em dúvida sobre algo. E que era ruim de mira. Adorava comer cereal com calda de chocolate no café da manhã. E que sua cor favorita era roxo.
Isso era muito difícil de aceitar.
Eles sempre se detestaram e lá estavam destinados como alma gêmea, passando um tempo junto numa tentativa de atrair o Cupido e resolver essa bagunça toda.
Rodrigo não era sua alma gêmea.
Um tempo atrás, isso era algo muito bom, mas, em algum momento em que não percebeu acabou se tornando algo triste.
O que estava acontecendo com ela?

XXX


- Cami, aconteceu alguma coisa? Você anda tão esquisita... – Questionou Laura enquanto as duas assistiam um episódio de Gossip Girl.
Fazia dois dias que Camila não falava com Rodrigo.
Depois de ficar escondida observando ele e dar um bolo no cinema, não teve coragem de falar com ele até entender o que estava acontecendo. Mesmo distantes, o rapaz não saía da sua mente.
E o beijo?
Torturava-se sempre relembrando as sensações daquele beijo embriagado.
E o que Rodrigo sentiu também?
Só conseguia pensar que ele já estava acostumado em dar muitos beijos apenas para saciar suas vontades. E pensar assim, lhe machucava de alguma forma.
- E então? – insistiu Laura pausando o episódio em que Blair abandonava o princípe no altar.
Camila nunca se conformou com o envolvimento de Blair e Dan. Eles não combinavam, assim como ela e Rodrigo.
Totalmente nada a ver.
Ele era como um carregador de celular que não tinha o encaixe perfeito para a tomada dela.
Diferentes.
- Lala, eu só não sei o que fazer. A minha vida amorosa virou um caos. Em um dia, o meu crush ia ser minha alma gêmea e no outro é apenas o Rodrigo estragando tudo... – Desabafou agoniada enquanto deitava a cabeça no colo da amiga que tinha uma expressão de preocupação. Laura acariciou seus cabelos numa tentativa de reconfortar a amiga.
- O Drigo é uma vítima como você – Lembrou-a.
- Eu sei! E já aceitei isso! Só que ele não deveria estar lá, sabe? – Questionou sem desejar uma resposta.
- Nunca consegui entender o motivo de você odiar o Drigo logo de cara. Ele pirou em você depois daquela noite em que o Cupido uniu a mim e ao Malcom. – Confessou Laura enquanto parecia estar recordando de algo.
- Ele era muito convencido e detestei o que ele disse sobre sermos almas gêmeas. Falando como se fosse algo ridículo! – Falou indignada enquanto fechava os olhos aproveitando o cafuné.
- Pura fachada dele – Riu Laura. – Ele é louco para encontrar a alma gêmea dele. Malcom me falou que ele ficou arrasado, quase chorou de desespero quando a ficha caiu que o Cupido havia a sua flecha nele. Ficou doido da vida tentando pensar em algo para resolver e não te fazer perder a sua oportunidade.
- Rodrigo queria uma alma gêmea? – Perguntou Camila incrédula, sentando e olhando a amiga nos olhos.
- Sim! E muito! Teve uma época que ele sempre brincava dizendo que o destino iria sacanear. E veja só! Sacaneou mesmo! – Laura riu.
- Merda! – Ela xingou com tamanha surpresa enquanto cobria o rosto com as mãos e deixava a cabeça tombar para trás, imenso seu choque.
- E você nunca me disse nada! – Reclamou indignada voltando a encarar a amiga.
- Eu pensei que você soubesse o clichê que ele era. O bonitão, garanhão que finge não gostar de romance e blá blá.
- Não! Ele me irritava tanto que não me importava em analisar o que ele dizia ou fazia, apenas ignorava ou implicava. – Respondeu dando de ombros.
- Mas isso mudou, né? – Perguntou Laura sorrindo docemente enquanto segurava uma das mãos da amiga, olhando-a nos olhos.
- Eu só queria uma alma gêmea, Laura. Meus pais tiveram, assim como você e Malcom e outros milhares de desconhecidos por aí. Alguém que vá me amar de verdade. Achava que somente o Cupido poderia decidir isso por mim e sei lá... – Disse derramando algumas lágrimas de tristeza.
- Meu anjo, você tem que viver por si mesma e não depender de um anjo do amor que não sabe de nada!
Camila riu.
- Falou a pessoa que encontrou a alma gêmea, né? – Debochou.
- É sério, Cami! Eu poderia não ter dado certo com o Malcom. Seus pais poderiam não ter dado certo...
- Nem brinca com isso! – Falou rindo.
Continuou Laura docemente, segurando as mãos da amiga: - O Cupido sai flechando as pessoas aleatoriamente. Você tem a liberdade de escolher com quem quer ficar. Lembra o que seu crush fez?
Ela confirmou chateada ao se recordar.
- Ele seguiu o coração. Você deveria fazer o mesmo! – Aconselhou.
- O problema é esse! Estou apaixonada por um cara que eu não gosto! – Confessou arrasada enquanto cobria novamente o rosto com as mãos.
- Oi? Apaixonada por um cara que não gosta? – Perguntou Laura confusa, rindo com a resposta sem sentido da amiga.
- É!
- Você criou uma imagem ruim do Rodrigo e depois disso tudo, tenho certeza que viu o quanto ele é diferente disso tudo, né?
Camila confirmou envergonhada.
- Se você realmente gosta dele, vai ser ainda mais feliz, mulher! – Ordenou Laura animada, descobrindo o rosto da amiga para que pudesse ver o enorme sorriso de felicidade em seu próprio rosto.
- Não sei...
- Você é sempre tão decidida com a sua vida, mas, quando se trata do amor é uma mulinha, hein! – Laura falou rindo.
- Eu só não sei se é o certo! E se o Cupido reaparecer e consertar essa confusão?
- Você vai ter que escolher entre seguir o que um serzinho celestial que não te conhece acha ou o que o seu próprio coração quer. Simples assim! – Constatou Laura dando um leve beijo na testa da amiga e saindo da sala.
Camila bufou em frustração, se jogando no sofá novamente.
- Eca! – Reagiu desligando a televisão ao ver o beijo de Blair e Dan.
Tudo poderia ser tão mais fácil...

XXX


Aquele restaurante era maravilhoso. Um clima aconchegante que fazia parecer que estava na sua própria casa. A comida muito deliciosa. O lugar estava com diversas mesas ocupadas e em uma delas se encontrava Rodrigo e Camila.
Após a profunda conversa com sua mente, coração e sua melhor amiga decidiu o que faria com sua vida.
E lá estava ela para um último encontro com Rodrigo – o fim de uma farsa que criaram para si mesmos.
Levou três dias para que ele aceitasse suas desculpas e topasse sair com ela, mas sem saber o que a mesma pretendia ao leva-lo até ali.
Na verdade, nem ela mesma sabia se teria coragem para encerrar toda aquela situação.
- Eu preciso te contar uma coisa, Camila. – Disse Rodrigo seriamente e parecendo estar levemente constrangido.
O coração da menina acelerou.
Temendo gaguejar, confirmou com um gesto de cabeça e bebeu um gole do seu refrigerante.
- Eu sempre quis encontrar minha alma gêmea. – Confessou sorrindo envergonhado enquanto desviava o olhar para a toalha de mesa.
- Sabia que você estava se fazendo de durão esse tempo todo! – Acusou Camila debochadamente, rindo em seguida.
Rodrigo deu de ombros.
- Adorava ver sua cara quando eu falava que você era uma boba em acreditar nessas coisas. – Ele riu recordando as vezes em que isso aconteceu.
- E veja só quem era o bobo no final das contas. – Constatou risonha.
- Eu só queria te dizer que mesmo que essa oportunidade tenha sido perdida por nós... Eu realmente gostei do tempo que passamos juntos. Foi legal te conhecer melhor! – Falou ele sincero enquanto cobria a mão direita dela com a sua mão quentinha.
Camila estava morrendo de vergonha, sem saber o que dizer ou fazer. Escolheu dizer a primeira coisa que veio a sua mente.
- Vou ao banheiro! – Anunciou retirando sua mão bruscamente e levantando feito um foguete, toda atrapalhada.
Seguiu feito uma bala até o banheiro. Lavou as mãos cinco vezes com bastante daquele sabonete cheiroso enquanto tentava se acalmar. Observava seu rosto no espelho, a conversa de Laura passando mil vezes pela sua mente. E admitia que se sentia um pouco indignada.
- Foi legal te conhecer melhor! – Repetiu para si mesma com uma voz mais grossa numa tentativa de imitar a forma que foi dita por Rodrigo. - Legal? Legal? – Se questionou indignada.
Fechou a torneira assustada ao ouvir alguns gritos femininos, um falatório repentino. O seu coração se acelerou em preocupação sobre algo de errado estar acontecendo.
Saiu em disparada pela segunda vez naquela noite – pensando que deveria fazer mais exercícios físicos – e quando chegou ao salão presenciou a cena que iria destruir o seu coração em segundos.
O Cupido estava ali no restaurante.
Foi capaz apenas de procurar Rodrigo em meio aquele fuzuê. E a cena que viu não lhe impediu de tomar a decisão mais louca da sua vida.
Enquanto uma flecha se desfazia em diversos corações no peito do rapaz, o Cupido já estava prestes a acertar uma jovem que estava sentada duas mesas depois dele.
Camila não pensou, apenas seguiu o seu coração naquele momento.
Respirou fundo e correu.
Tentou disparar na velocidade de uma flecha, de preferência mais rápida do que a flecha do Cupido. Desviou de mesas pelo caminho, derrubou bandejas carregadas pelos garçons que atrapalhavam seu trajeto e se arremessou para frente quando a flecha foi disparada em direção a jovem.
Sempre acreditou que essas coisas só aconteciam nos filmes de Hollywood, mas estava completamente enganada. Jurava ter visto toda a cena em câmera lenta. Até mesmo o impacto de sua queda tardia, sentiu aos poucos. Seguido de um ‘Ohhh’ coletivo.
E nem toda rapidez foi capaz de mudar o que tinha acontecido.
Rodrigo foi flechado e sua alma gêmea, mais uma vez, não era ela.
Estirada ali no chão, sentindo dores da sua queda – e do seu coração partido – segurou as lágrimas enquanto olhava os milhares de pés das pessoas presentes. Não conseguia acreditar que mais uma vez o Cupido estava brincando com ela.
- Cami? Você se machucou? – Perguntou Rodrigo preocupado enquanto a ajudava a se levantar do chão.
Ela apenas confirmou com um gesto de cabeça, sem condições de encará-lo nos olhos e desmoronar.
- Oi – Cumprimentou ele timidamente, fazendo com que Camila o olhasse ao ouvi-lo falar daquela forma.
- Oi – Respondeu a jovem que momentos antes foi flechada pelo Cupido.
Camila procurou desesperada pelo Cupido, mas ele já tinha sumido.
Como sempre! – Pensou ela indignada.
Respirou fundo conformada com tudo que aconteceu. Virou as costas e seguiu em direção à saída do restaurante.
Parou na calçada secando as lágrimas que teimavam em molhar seu rosto. Respirou fundo tentando se acalmar e pegou o celular, digitando o número de Laura.
- CAMILA! ESPERA! – Gritou Rodrigo em desespero enquanto corria em direção a ela.
Secou as lágrimas rapidamente numa tentativa falha – depois de se atirar em uma flecha para não perder o rapaz - de não demonstrar o que estava sentido.
- Espera... Espera! – Pediu ele enquanto tentava recuperar o fôlego perdido.
- Parece que não sou a única precisando deixar o sedentarismo de lado! – Brincou ela forçando um sorriso que mais parecia uma careta.
Rodrigo encarou-a sério.
- Eu não fiz de propósito! Eu juro! O que eu preciso fazer para você me perdoar? – Perguntou ele num tom desesperado enquanto colocava as mãos nos ombros dela.
- Te perdoar pelo o quê? Você finalmente encontrou sua alma gêmea verdadeira! – Riu, fingindo estar feliz.
- Eu quebrei a promessa que te fiz! – Falou ele com uma expressão como se fosse algo óbvio.
- Ah! Que nada! O importante era consertarmos essa situação. O Cupido apareceu e isso é o que importa! – Disse docemente enquanto sorria.
- Mas não era isso que eu queria!
O coração de Camila começou a bater ainda mais acelerado, os olhos arregalados pelas palavras repentinas.
- Eu queria você... Quero você! – Confessou desesperado enquanto segurava o rosto dela entre as mãos dele, olhando-a nos olhos seriamente.
A boca dela se escancarou em surpresa. Não conseguiu dizer uma só palavra.
- E eu sei que você também pensa o mesmo! Eu vi o que você fez por mim! –
- Cara, você se atirou na frente de uma flecha POR MIM! POR MIM! - Continuou empolgado, soltando o rosto dela e apontando para si mesmo, rindo e sorrindo maravilhado.
Camila apenas olhava aquela cena totalmente surreal que estava presenciando.
- Eu sempre fui igual a você! Eu sempre sonhei em ter a sorte dos meus pais. Sempre acreditei que o Cupido decidiria isso por mim.
- E mesmo assim sempre zombou! – Lembrou indignada enquanto cruzava os braços. Conseguindo pela primeira vez, dizer algo.
- Só para te irritar! – Respondeu risonho enquanto acariciava o rosto dela.
- E a menina? – Perguntou preocupada em machucar uma pessoa que não tinha noção em que foi jogada pelo Cupido.
- Aceitou de boas! Ela tem o próprio amor. – Falou ele dando de ombros.
- Rodrigo... Eu estou... – Tentou criar coragem e realmente expor o que sentia.
- Eu também estou apaixonado por você! – Revelou ele seriamente.
Rodrigo se lançou em cima dela, enlaçando sua cintura e colando suas bocas em um beijo apaixonado.
E ali, terminou uma confusão e se iniciou outra. Dois seres diferentes que acreditavam que somente o Cupido seria capaz de encontrar a alma gêmea deles.
E juntos descobriram a verdade: eles não precisam do Cupido para encontrar sua verdadeira alma gêmea.

Fim.

Nota da autora: sem nota.