Sinopse: “Cada momento acordado em que ele não conseguia vê-la, era como se pequenas adagas se pressionadas contra seu peito, cortando através do tecido, deixando-o sangrando e agonizando, algo que o rapaz nunca havia sentido antes, algo que ele nunca pensou ser capaz de sentir. Havia uma mão imaginária pressionando contra sua garganta, o prevenindo de respirar, apenas soltando quando ela aparecia em seu campo de visão”.
A brisa quente da noite era suficiente para manter acordada qualquer alma perdida que pudesse estar andando sem rumo pela praia naquele horário. O som das ondas quebrando contra a areia numa violenta espiral de espuma branca e água azul era capaz de acalmar quem quer que fosse, a melodia do oceano vibrando pelos corpos num ritmo doce, fazendo com que quem parasse para escutar fosse mergulhado nas mais delicadas lembranças de verão. Mais à frente, era possível ver o contorno de um coqueiro, uma verdadeira floresta deles plantada orgulhosamente, escondida na escuridão da noite, as longas folhas dançando com a vento calmo, pequenos grãos de areia voando pelo ar, contaminando tudo que pudessem tocar.
E ali, sentado perto do oceano com a cabeça voltada para trás do jeito mais preguiçoso possível, estava Dylan, os olhos cansados encarando o céu azul escuro aveludado, as estrelas brilhando como se fossem pequenos vagalumes presos em papel adesivo, para sempre perdidos deste mundo, brilhando até o último dia de suas vidas. Havia um sorriso faceiro em seus lábios, os dedos enterrando-se na areia, a respiração fazendo seu peito subir e descer inúmeras vezes num movimento sereno, como se não houvesse nada com o que se preocupar, o que não era o caso, mas ele estava disposto a negligenciar tudo isso naquele momento.
Ao seu lado, completamente esquecido, estava um pacote vazio de cigarros, descartado descuidadamente numa pequena pilha de areia, o isqueiro branco por cima escondido sob as sombras do céu da noite escura. A verdade era que Dylan queria se esquecer de tudo que o cercava, cada objeto que pudesse conectá-lo ao mundo. Não havia nada em sua mente que não fosse a sensação da brisa quente contra sua pele pálida, roçando levemente nele, fazendo seus cabelos escuros balançarem como os coqueiros à distância, a sensação da areia em seus dedos, lentamente fazendo suas mãos mais ásperas pela grãos minúsculos presos à sua palma, o jeito que seus pés sentiam a água gelada cada vez que o oceano decidia estender-se até à praia. Ele não queria nada mais do que fingir que tudo estava bem quando, claramente, não estava.
Primeiramente, porque ele estava sem cigarros e tinha prometido a si mesmo que começaria a fumar menos - algo que ele claramente não tinha pensado direito -, podia ainda sentir o fraco cheiro da nicotina no ar, entrando por seus pulmões quase que imperceptivelmente, mas ainda havia um tipo de satisfação. Dylan estava muito chapado para desfrutar totalmente, mas ainda causava nele o mesmo tipo de contentamento e por causa de sua atual situação, os efeitos da maconha inebriando seu cérebro, tudo o que ele queria era ficar por ali e sentir a natureza ao seu redor, nem uma sombra de cansaço em seu corpo. Não enquanto aquela garota ainda estivesse em seus pensamentos. Não enquanto os lindos olhos iluminados dela continuassem assombrando seus sonhos toda as vezes que fechava os olhos ou tentasse pensar em outra coisa.
Dylan não tinha percebido quando começou, mas não havia dúvidas de que não pararia tão cedo. Ele podia ouvir distintamente o som da voz dela em um espaço cheio de gente, soando em seus ouvidos como se ele devesse ir atrás. Ele conseguia achá-la encostada no balcão do bar em um segundo, mesmo que não estivesse tentando porque era isso que sua vida tinha se tornado: uma série de eventos que pareciam o levar a ela. Então Dylan decidiu parar de negar e apenas se render a ela.
Mas não era fácil. Cada momento acordado em que ele não conseguia vê-la, era como se pequenas adagas se pressionadas contra seu peito, cortando através do tecido, deixando-o sangrando e agonizando, algo que o rapaz nunca havia sentido antes, algo que ele nunca pensou ser capaz de sentir. Havia uma mão imaginária pressionando contra sua garganta, o prevenindo de respirar, apenas soltando quando ela aparecia em seu campo de visão, sempre tão graciosamente, um sorriso radiante enfeitando seus lábios cheios.
Dylan não conseguia ter o suficiente dela. Era como se, num curto período de tempo, ela tivesse se tornado sua forma pessoal de heroína, uma coisa nova que ele poderia ficar viciado facilmente, e mesmo que ele não gostasse do quanto estava se enfiando de cabeça no primeiro momento, não pode deixar de soltar as amarras que o prendiam à superfície, deixando-se afundar em águas profundas e turbulentas que era aquela garota. Desde o momento em que a conheceu, tudo tinha mudado, mesmo se ele não tivesse notado. Desde o momento em que ele a viu andando em sua direção, Dylan estava perdido.
E aquele era o modo que passava a maior parte de seu tempo desde então, fantasiando sobre a garota, pensando nela a cada segundo de seu dia, tentando, desesperadamente, alcançar alguém e pedir por ajuda, mas não havia como retornar. Não havia como se retirar daquele lugar.
E talvez fosse a maconha dançando em seu sistema ou como sua mente havia se aventurado naquela noite, mas havia algo que o mantinha cego a tudo que estava acontecendo. Enquanto seus olhos olhavam para o céu enxergando nada mais do que o rosto dela e seus olhos brilhantes, Dylan não conseguia parar de pensar em como seria sentir seus lábios contra os dela, levemente no começo, apenas crescendo em intensidade e desejo, como as ondas que ele podia sentir em seus pés, a noite se transformou em dia, o céu azul escuro tornando-se numa versão amarelo-alaranjado de si mesmo, o sol lentamente aparecendo no horizonte, queimando como quando o rapaz não era capaz de saciar sua necessidade de ver o objeto de seu desejo.
Dylan percebeu, em choque, que ele havia se perdido muito mais do que antes. Estava sentado lá, tentando pensar em quando havia se desligado do mundo a ponto de perder a noite inteira, mas nada parecia lhe ocorrer, exceto aquelas malditas pernas torneadas, ligando-se ao corpo mais sensual que ele já havia visto, os olhos mais bonitos, a aura mais radiante que ela era capaz de produzir. Ele estava apaixonado por tudo que ela representava e só havia um problema nisso tudo: ele nem ao menos sabia o nome dela.
Entre suas tentativas de se manter longe dela e não se apaixonar, Dylan havia negligenciado totalmente a fase que ele geralmente passava, a parte onde ele tentava conhecer a pessoa. Dylan estava apaixonado pela garota ideal que havia criado em sua cabeça pelo modo que ele a via interagir com outras pessoas, pelo modo que ele a via caminhar pelo píer, pelo modo que ela sempre parecia ter um sorriso em seu rosto quando passava por ele.
Uma pequena parte dele, onde seu lado lógico deveria estar, dizia que estava sendo patético, que havia algo completamente errado com ele, que, talvez, a falta de uma presença romântica em sua vida fizesse com que ele projetasse esses sentimentos quando, na verdade, não era nada mais do que um devaneio que ele havia criado para não se sentir tão solitário. E Dylan concordava com isso. Ele podia se sentir achando coerência no que estava sendo dito. Ele precisava superar e seguir com sua vida real.
Mas quando ele finalmente havia se convencido a fazer isso, como se o próprio destino estivesse zombando dele mais uma vez, ela finalmente fez uma aparição diária, o corpo coberto por um vestido branco e esvoaçante, escondendo o biquíni que ele sabia que ela usava sob ele, os passos a levando até ele, como todas as outras vezes em que Dylan a havia visto.
E então ela olhou para ele pela primeira vez naquele dia, o sol envolvendo sua pele como um cobertor dourado, reluzindo sobre os olhos dela enquanto um sorriso tímido aprecia em seu rosto, os dentes escondendo-se por detrás dos lábios, os mesmos que Dylan havia fantasiado beijar muitas vezes antes, um leve rubor tingindo as bochechas da garota. E então, num momento, tudo sumira. Ela passou por ele para o outro lado do píer, o vento causando arrepios nos braços dela, o cabelo voando livremente ao redor de seu rosto enquanto Dylan sentia seu próprio coração acelerar e ignorar tudo que seu cérebro, agora sóbrio, estava dizendo momentos antes.
Mas então, num piscar de olhos, ela estava longe de seu alcance novamente, deixando-o lá apenas fantasiando tudo novamente, o tom de rosa na pele dela agora adicionado ao seu deleite.