Two of Us

Fernanda Gonçalves

Poster free Counters

Sinopse: Desde que o conhecera, ela nunca imaginou o quanto suas vidas estariam interligadas e, muito menos, o quão breve a jornada deles juntos seria. “Eu sei que você estará esperando, eu te verei novamente.”

Capítulo Único


Ela estava atrasada, mas esse era o menor de seus problemas. estava completamente perdida dentro do edifício que mais parecia um labirinto de longos corredores sem nenhuma informação para identificar onde estava.
Os passos corridos e em alguns momentos vacilantes cruzavam passagens e guiavam a garota à portas que ela não sabia identificar. Por mais parecia ser uma situação totalmente contornável, ela sentia seu coração bater de forma errática. Era como se estivesse presa em uma infinita mansão com um relógio marcando o tempo e alguém a perseguindo.
Havia, de fato, um relógio marcando o tempo em seu pulso, lembrando-a que ela estava quase 15 minutos atrasada para o seu primeiro dia de emprego e isso não a ajudava em nada.
Quem pudesse observar a garota - se é que aquilo fosse possível, pois a empresa parecia mais um prédio sem nenhum funcionário - veria que ela tentava ao máximo se manter calma e pensando de forma lógica. O segurança havia dito que ela deveria seguir de elevador até o quinto andar, virar à esquerda e então virar na terceira entrada à direita.
Não era difícil apenas... Improvável levando em conta o estado de nervos que se encontrava desde o momento em que acordara naquela manhã. Em retrospecto, talvez ela devesse ter ficado em casa.
deu mais alguns passos adiante antes de parar em frente à uma porta, o relógio de pulso ainda correndo como se sua atitude não influenciasse em nada no desespero da garota. Ela tinha mesmo virado à esquerda depois do elevador?
Típico. Era o típico comportamento que poderia esperar de si mesma. Só ela seria capaz de acordar cedo, se arrumar levando em conta todo o tempo que levaria para chegar no novo trabalho, apenas para ser boicotada pelo trânsito repentino que aparecera em seu caminho. Talvez tenha sido ali que as coisas começaram a dar errado.
Respirando fundo, a garota levantou os olhos e os percorreu pelo corredor procurando qualquer coisa que pudesse usar para se localizar. O número da porta à sua frente marcava 435. Perfeito. Era o andar errado.
Existem pequenos momentos no tempo e espaço que às vezes resolvem coincidir com os caminhos percorridos por quem jamais esperava. Alguns chamam de destino, outros de milagre. Qualquer um que fosse, jamais esperaria que resolvessem acontecer naquele exato momento.
Porque coisas assim simplesmente não aconteciam com pessoas comuns como ela.
Mas, talvez, dentre todos os revés que haviam sido lançados sobre ela naquele dia, essa pequena sorte tenha se perdido e caído de paraquedas na situação.
Então, ainda que aos tropeços e com um leve ecoar de suas sapatilhas contra o chão amadeirado, chegou ao elevador ofegante, algumas mechas do cabelo soltas do elástico que prendia o restante em um rabo de cavalo alto, e o coração ainda batendo levemente descompassado.
Era simples. Ela só tinha que subir mais um andar, virar à esquerda e virar na terceira à direita. E quando a alta campainha sinalizou a abertura das portas, a garota se enfiou para dentro do elevador sem nem se preocupar em observar se havia alguém do lado de dentro.
No curto percurso entre um andar e outro, porém, do canto esquerdo em que se encontrava, observava uma garota que parecia completamente acelerada e descompassada, como se ela tivesse corrido uma maratona antes de, magicamente, aparecer ali.
Os dedos dela apertavam repetidamente o botão de número 5, como fosse o que faria as portas se fecharem mais rapidamente. As pernas, cobertas por uma calça jeans, pareciam querer sair de dentro do cubículo antes mesmo que ele pudesse se movimentar em direção ao próximo destino.
Ele não conseguiu enxergar o rosto dela depois que se virou para frente sem nem ao mesmo desejar bom dia, mas tinha certeza de que uma expressão de ansiedade tomava conta de toda sua feição.
Ao contrário dela, observava tudo isso admirado, achando graça na pequena cena que estava à sua frente, indagando-se em que momento sua vida havia se tornado tão tumultuada para fazer com que ele se interessasse por minutos descontraídos de desconhecidos.
Mas, ainda assim, ele não conseguia desviar o olhar da garota que beirava o desespero à sua frente e muito menos conseguia parar de pensar no que poderia estar acontecendo para que a repentina parada do elevador no quinto andar fizesse com que ela se lançasse para fora sem nem se dar conta do pequeno degrau que se formara entre a porta e o piso do corredor.
E, como um espectador da primeira fila, observou a garota levar um pé para frente, mas não alto o suficiente para que atingisse o chão do corredor. Seria a típica cena de uma comédia romântica se ele estivesse do lado de fora, com os braços cheios de papeis que seriam lançados para cima enquanto ele se preparava para pegá-la antes que pudesse cair.
Entretanto, nenhum dos dois tiveram aquela sorte, e apenas sentiu seu pé a traindo e prendendo no pequeno degrau, seu corpo catapultando para frente numa velocidade que ela não julgava ser capaz de atingir após um único passo.


...


piscou fortemente algumas vezes, sua mente voltando do que parecia ter sido uma longa viagem. De fato, havia sido. Parecia que anos haviam se passado entre aquele momento que ainda estava nítido em suas memórias e o que estava vivendo naquele segundo.
Eram tantas diferenças que ela não sabia por onde começar.
Primeiramente, não havia ao seu lado; O vazio que sentia no lado esquerdo do peito não poderia ser preenchido por ninguém, por mais que tentassem. A presença de de nada adiantava, muito menos os olhares que ele lançava sobre ela quando imaginava não estar sendo observado.
sabia que ele só queria ter certeza de que tudo estava bem e, por mais que ela quisesse demonstrar que sim, que estava melhor do que poderiam imaginar, ainda havia uma pequena parte dela que só queria recostar-se em uma parede, escorregar até o chão e deixar-se esvair em lágrimas.
As mãos trêmulas eram uma constante lembrança a ela mesma de que ainda havia muito que melhorar para que ela estivesse bem. Qualquer pequena movimentação à sua volta fazia com que seu coração disparasse de uma maneira inteiramente nova, desejando que seu olhar recaísse sobre o de novamente.
A cada nova palavra proferida por alguém que entrasse no ambiente, ela desejava, desesperadamente, que soasse com a voz dele, mas era em vão.
Era desnecessário avisar ao seu cérebro que ela não poderia mais ouvir aquela voz ou ver aquele semblante. Era desnecessário brigar com seu coração por um minuto de paz diante de tudo o que ela estava sentindo. Era incompreensível pedir aos seus sentimentos que se mantessem sob controle toda as vezes que os olhos de recaíssem sobre a foto do rapaz sorridente.
Ela havia sido enfeitiçada por ele havia muito tempo e nada parecia ser capaz de mudar isso.

...


desbloqueava a tela do celular, olhava para o objeto por alguns segundos e tornava a bloqueá-lo. Era uma ação um tanto inconsciente que ele estava repetindo pelos últimos minutos sem chamar a atenção de ninguém.
Seu olhar corria sobre o aparelho, depois desviava-se para a porta de entrada do restaurante, onde repousava na infinita expectativa de ver, mesmo que fosse um vislumbre, de , que parecia ter se esquecido completamente dele.
Era mais um ato de reflexo, olhar para frente todas as vezes que o sino acima da porta ressoava na mera esperança de ver a garota vindo em sua direção. Ele sabia que ela ainda não estava atrasada, mas não podia evitar a ansiedade que insistia em fazer morada dentro de si.
havia tomado as rédeas de sua vida no que parecia ser a primeira vez em anos quando tomou a coragem de finalmente chamá-la para sair, as mãos suadas correndo pelas calças repetidas vezes até que ele conseguisse dizer as poucas palavras que foram necessárias.
Era tudo novo, todo aquele sentimento repentino que o fazia querer acordar cada vez mais cedo e se arrumar ainda mais antes de entrar no prédio onde trabalhava apenas para vê-la entrar pela porta do escritório.
Era empolgante tentar adivinhar qual seria o olhar que lançaria para ele a cada dia, sempre de forma positiva, tentando dizer, com um simples meneio de cabeça, mensagens corriqueiras como “bom dia”.
E era em momentos seguidos à esses, que se deparava com a incontrolável verdade que seu coração não mais batia corretamente todas as vezes que ele olhava no relógio de seu computador e então virava-se para a porta na esperança de ver a garota passando por ela. A cada novo dia, era como se uma nova força o compelia a atrair o olhar dela por mais tempo, dizendo coisas novas que talvez só ela pudesse entender.
Foi aos poucos, mas a verdade sobre seus desejos desses pequenos segundos roubados durante o dia foram o acertando com força até que, por fim, não poderiam mais ser afastados e muito menos abafados. Cada novo segundo era passado na ânsia de poder vê-la novamente, de poder falar com ela sem que os minutos fossem contados ou que as palavras pudessem ser medidas.
Eram sentimentos novos que ele descobria a cada novo passo que dava em direção à libertação de seus pensamentos e que desejava, mais do que qualquer outra coisa, que fossem correspondidos por ela.
Por isso era completamente compreensível a forma que seus olhos não conseguiam focar em um único ponto do restaurante. Ele queria acreditar que era verdade que, a qualquer instante, fosse entrar pela porta, sentar-se à frente dele e aproveitar de sua companhia assim como ele aproveitaria da dela. Em algum lugar, seus pensamentos o traíam e diziam que era esperar demais de alguém como ela.
Mas, completamente alheia a todos esses pensamentos, estava , do outro lado do vidro da fachada do restaurante, olhando para dentro repetidas vezes tentando ver se estava realmente lá dentro, sentindo seu coração vibrar na garganta todas as vezes que achava que o havia visto.
A leve brisa do verão fazia com que o vestido dela balançasse suavemente em seu corpo, agarrando-se de forma singela à garota que estava cada vez mais fria e trêmula devido aos nervos. O fato de ter alguém como esperando por ela era praticamente inconcebível. Logo ela, que nunca havia chamado a atenção de ninguém, que sempre fora atrapalhada e de certa forma negligenciada por qualquer cara que ela pudesse ter algum tipo de apreço.
Ainda assim, tentando esquivar-se de todo tipo de sentimento negativo que poderia ter sobre ela e toda a situação, levantou a cabeça, jogou os ombros para trás e respirou fundo.
Ela conhecia bem o suficiente para saber que ele não era o tipo de cara que aceita um encontro por caridade, muito menos que faria isso de caso pensado para humilhar ou brincar com alguém. Era um rapaz de bom coração que havia conquistado a atenção dela de forma lenta e gradativa. Ele havia a chamado para sair primeiro. Fora ele quem tinha dado a abertura para que esse encontro pudesse acontecer.
Então, surrando palavras encorajadoras para ela mesma, firmou a bolsa em seus ombros e deu passos decisivos até a entrada do restaurante, o coração ainda martelando contra seu peito e os dedos ainda gelados pelo nervosismo, mas se era para que aquele encontro acontecesse, não era ela quem iria desistir.


...


O verão estava chegando novamente. Era essa a única informação que conseguia assimilar naquele dia.
As folhas de cerejeiras já haviam caído há meses e o sol ia esquentando cada vez mais, mas ainda sem se tornar completamente insuportável.
Sentada no banco do parque e observando as pessoas que andavam de um lado para o outro, a mulher mantinha seus pensamentos fixos , a única pessoa em quem conseguia se lembrar naquele momento.
Tudo corria em sua mente em ordem cronológica, desde quando se conheceram, todos os momentos que passaram no escritório, a amizade que desenvolveram, ao crescimento dos sentimentos. Era possível pontuar e se lembrar de cada um deles com tamanha precisão e veracidade que ficaria difícil seguir com a vida dali para frente.
Era difícil se esquecer e superar todos os momentos que viveram juntos, todas as situações inusitadas que ela, em sua tamanha desorganização, conseguira colocá-los.
E, no fim, o que restava era exatamente isso, as memórias, as risadas e sentimentos compartilhados e correspondidos, tudo isso dando lugar às lágrimas que ainda teimavam em fazer rastro pelo rosto da jovem.
Era difícil colocar um ponto final numa história que estava apenas começando e que tinha tudo para continuar por anos à fio. Era dolorido pensar que ela continuaria trilhando aquele mesmo caminho sem a presença iluminada de , sem o sorriso faceiro que ele costumava lançar para ela todas as manhãs e todas as noites.
Parecia ser improvável conseguir seguir em frente com tanta coisa para viver quando a vida dele havia sido interrompida da maneira mais abrupta possível, de uma forma tão trágica que não deu tempo para que ela pudesse se adaptar à incerteza de um futuro sozinha.
Um pequeno raio de sol conseguiu furar as folhas sob as quais havia se escondido, brilhando coincidentemente sobre o anel dourado que repousava na mão esquerda dela, seus olhos se voltando para o objeto por alguns segundos.
Bom, não tão sozinha, ela pensou consigo mesma, as mãos se movendo da superfície do banco para a barriga já crescida, os olhos agora voltando-se para o horizonte.


So I will keep you day and night,
Here until the day I die
I’ll be living one life for the two of us.



Fim!

Nota da autora: sem nota.