Café com Pattinson

Thaay Marques

Poster free visitor counters

Sinopse: Quando temos sonhos, muitas vezes, temos que arriscar tudo por uma oportunidade de realizá-lo e com você não seria diferente. Abandonou sua vida pacata em Utah pelo brilho da ‘Cidade dos Anjos’: a bela Los Angeles. Sua vida se resume em tentativas para se tornar uma atriz e servir café para as estrelas de Hollywood, inclusive, o seu crush master RPattz. Para você tudo parece cada vez mais difícil mas, o que você não sabe é que apenas uma xícara de café com uma pitada de drama, duas colheres de romance e um pedaço de comédia para acompanhar, pode ser o começo de tudo.

Prólogo


“— Eu volto logo pra que você não precise sentir a minha falta. Tome conta do meu coração – eu deixei ele com você.” — Saga Crepúsculo: Eclipse, Stephenie Meyer.


tinha um sonho.
Desde muito pequena, sonhava em ser atriz como aquelas que estrelavam os seus filmes favoritos. Brincava com sua irmã, fingindo gravar algum vídeo ou cena que haviam assistido. Nas noites de Natal, juntavam as crianças na sala e tentavam fazer uma peça improvisada, e, claro, o papel principal era sempre dela.
Conforme os anos foram passando, o amor pelo teatro e cinema foi ficando bem evidente para sua família. Entrou para o grupo da escola, participando e organizando diversas peças com bastante dedicação, rendendo grandes elogios. Conheceu Hollywood numa viagem que seus pais lhe deram de presente, de onde retornou repleta de gás para lutar por seu sonho.
Entretanto, no auge dos seus vinte anos, precisava tomar uma decisão importante que definiria toda a sua vida: deveria permanecer em Salt Lake City, comandando os negócios da família, e casar, ou juntar o máximo de dinheiro possível para morar em Los Angeles e realizar seu sonho?
O grande empecilho era o medo do fracasso, principalmente por não ter o apoio de seus pais. Viviam a desanimando, tentando fazê-la desistir do seu sonho, pois queriam que administrasse os negócios da família.
Mas esse não era o sonho de .
Ela queria mais para si.
Queria experimentar mais do mundo, conhecer, encantar, levar o seu trabalho para as pessoas de diversos lugares. Amava a sensação de viver mil personalidades em baixo de uma mesma pele, estar fisicamente como , mas a personalidade de um personagem, uma outra vida.
Por isso, correria atrás do seu sonho: seguiria a carreira de atriz.


Capítulo 1 – Tribbiani’s Coffee


“A vida é muito curta para tomar cafés ruins.” — Autor desconhecido.


Los Feliz, Holywood.

O gosto do fracasso era como o café que tanto detestava: amargo e impossível de ser digerido. Seguia para o trabalho depois da tentativa fracassada de participar de um teste para a série Grey’s Anatomy. Infelizmente, os produtores não deixaram que ela fizesse o teste, dando uma desculpa esfarrapada de que não possuía as características ideais para a personagem.
Resumindo: a vaga já estava garantida para alguma outra atriz apadrinhada por um agente famoso.
Não era a primeira vez que enfrentava esse tipo de situação frustrante, pois era mais do que óbvio esse favorecimento. Muitos talentos – como ela – eram descartados por causa disso. Não se ressentia pela falta de uma agente com toda essa bagagem, pois Veronica foi a única que acreditou em seu potencial e se esforçava muito para encontrar boas oportunidades, mesmo sendo nova na caça de talentos.
Mais uma vez, havia dado de cara na porta e com três horas a menos de salário no final do mês.
— É, esse dia não será fácil. — Constatou, desanimada, enquanto avistava o enorme e familiar letreiro preto escrito em letras brancas “Tribbiani’s Coffee”.
Ela era uma mulher cheia de manias, principalmente quando se tratava da decoração da cafeteria. Foi preciso apenas um segundo em frente à fachada preta com enormes vidraças para começar a mudar a posição dos vasos de plantas que decoravam as pilastras e a calçada.
Quando leu o quadro de promoções do dia, revirou os olhos, achando graça. Reconheceu a letra de .
Entrou no café e seguiu direto ao caixa.
. — Chamou, risonha, enquanto estendia a mão sob o balcão, em direção a jovem loira que contava algumas notas de dinheiro.
encarou-a confusa, por alguns segundos, mas logo entendeu o pedido silencioso. Pegou um pedaço de giz branco que guardava no caixa e entregou-o para a amiga.
— Ah, não. De novo? Não é possível, . — Falou, indignada, fazendo um biquinho engraçado.
Conferiu novamente as notas em suas mãos e guardou-as no caixa.
— Hoje é dia de dois pelo preço de um, e não frappuccino à la Joey Tribbiani. — Explicou , enquanto tirava seu casaco e jogava em cima da amiga, pegando seu avental e colocando-o.
— Não sei como ainda não decorei isso. — Comentou, rindo.
Pegou o casaco da amiga e dobrou, guardando em baixo do caixa.
— Quem sabe no dia que eu conseguir ser uma atriz de sucesso e não estiver mais aqui. — Falou, implicante, enquanto seguia em direção à saída.
— Ih, então vou conseguir decorar as promoções e o cardápio completo! — Debochou , rindo alto.
Quando percebeu os olhares de alguns clientes nela, disfarçou o riso com uma tosse e fingiu procurar algo no balcão.
mostrou o dedo do meio para amiga e saiu da cafeteria. Apagou o quadro, escreveu a promoção correta e se afastou, o suficiente para a observar toda a fachada. Finalmente satisfeita, se alongou e deu uma rápida olhada para o céu nublado. Entrou novamente, embalada pela melodia animada de seu assovio.
— E então, como foi o teste? — Perguntou com uma expressão séria, enquanto observava a amiga com atenção.
parou o assovio, dando de ombros, enquanto acenava para Enrico, que servia uma cliente.
Esse gesto foi o suficiente para a jovem entender que novamente a amiga havia fracassado. Sentiu-se triste por ela, sabia como era doloroso quando não se conseguia aquilo que tanto queria. A nova meta da amiga era conseguir um papel com um pouco de mais destaque, até ser suficiente para alcançar o que tanto desejava para sua carreira de atriz.
— Você sabe que estava brincando, né? Não foi por mal. — Falou , arrependida.
— Relaxa! Sei que foi zoeira, mas está difícil para mim. Estou cogitando desistir desse sonho louco, voltar para Utah, aturar meus pais com sorrisos de vitória e seguir a vida na pizzaria. — Confessou tristemente, enquanto encostava a lateral do seu corpo no enorme balcão de madeira.
— Você não vai desistir, . Não você.
Se pudesse ser definida em apenas uma palavra, seria contagiante. Não por sua beleza de cabelos longos e loiros, olhos cor de mel e pele clara, mas, sim, por sua alegria.
Era uma garota tão alto-astral, sempre com um sorriso no rosto e pensamentos positivos num nível que chegava a ser irritante às vezes. No início, pensou ser algo forçado pela garota, mas, durante um tempo, percebeu que era algo natural; fazia parte da personalidade da jovem. passou a admirá-la muito por isso, pois foram incontáveis as vezes em que conseguiu erguer a amiga.
Parecia filha de sangue de Joey, mesmo sendo apenas enteada. Ambos compartilhavam de uma animação capaz de incendiar o mundo, caso quisessem. Ou seria normal alguém acordar animado numa segunda-feira de manhã? Anormalidade pura.
Ela é filha da atual namorada de Joey. Trabalhavam juntas há dois anos, sendo tratada como uma funcionária sem qualquer vínculo com o patrão. Seu sonho é ser uma cantora de sucesso. Gravava vídeos cantando diversas músicas e postava na internet. Aos sábados à noite, apresentava-se em um bar na Sunset Boulevard. O tempo convivendo na cafeteria tornou-as muito amigas e parceiras de loucuras. Costumava estar com e .
— Passou no teste, princesinha do Joey? — Perguntou num tom de deboche, enquanto colocava sua bandeja vazia em cima do balcão.
revirou os olhos ao ouvir o apelido ridículo que a jovem deu a ela.
, deixe a trabalhar em paz. — Pediu , séria, encarando a garota.
se afastou extremamente irritada.
Bilhões de pessoas no mundo, pensava que sua irmã fosse a única pessoa capaz de tirá-la do sério com tanta facilidade. Um grande engano. conseguiu ocupar o lugar que era liderado pela irmã caçula. Estar no mesmo ambiente era motivo para começarem as confusões.
Trabalhavam juntas há um ano e não se suportavam, porém não foi assim desde o início. O desentendimento gratuito começou mais da parte de , ela ficou indignada por Joey não ter demitido após a mesma ter desobedecido uma das regras mais importantes. Na época, Joey apenas conversou com ela, achou graça da situação e disse que numa próxima teria que punir a jovem apenas para não perder o respeito dos colegas.
A forma como Joey lidou com a situação, a reação dos outros companheiros de trabalho que acharam graça só contribuiu para o nascimento do desentendimento entre as duas. Esse ocorrido só não caiu no esquecimento graças a e o famoso, que aparecia quase todas as manhãs para tomar café. Por causa desse dia, surgiu o apelido carinhoso de “princesinha do Joey”. Os outros colegas costumam chamá-la assim quando querem zoar, exceto , que faz para irritar mesmo. A verdade é que todos acham que ela é a queridinha do patrão, título que nega até o fim — mesmo sendo verídico.
— Que cara é essa? — Perguntou Enrico repentinamente próximo, assustando-a.
estava distraída limpando uma mesa que havia sido desocupada por alguns clientes.
— A única que eu tenho. — Respondeu, irritada, enquanto abastecia a mesa com guardanapos, sachês de açúcar e adoçantes.
— Ei, tigresa, guarde as garrinhas para . — Falou Enrico, risonho, erguendo as mãos num gesto de paz e arrancando um sorriso da jovem.
— Seria mais fácil bater com uma bandeja na cabeça dela. — Comentou, irritada, enquanto era seguida de perto por Enrico até outra mesa livre, repetindo o processo de limpeza que realizou na mesa anterior.
Costumava ser uma pessoa pacífica, sem sentimentos assassinos, mas, quando ficava com raiva, falava mil besteiras e mais tarde remoía-se pelo o que havia sido dito. E, por incrível que pareça, até mesmo quando se tratava de .
Achava a bailarina canadense muito bonita; a pele morena, cabelos escuros e ondulados, na altura dos ombros, olhos de mesma cor. Fisicamente parecia um anjo, agora a personalidade era extremamente irritante. Tinha uma memória absurdamente admirável, mas que, na maioria das vezes, era usada apenas para jogar na cara algum favor antigo. Escorpiana pura, principalmente quando pisavam no seu pé. Dona de uma lábia e um carisma que faziam muitos clientes comprarem litros de café. Liderava no quesito “queridinha dos clientes”.
— Você está muito estressadinha. — Constatou pensativo e continuou. — Não passou em outro teste, né? — Perguntou com uma expressão preocupada.
Cruzou os braços na frente do corpo, aguardando uma resposta.
Convivência era uma merda. Os seus amigos que a conheciam tão bem conseguiam identificar quando ela estava sofrendo por causa dos seus fracassos intermináveis. Como conseguia esconder alguma coisa deles? Pensou irritada.
— Alguma apadrinhada ficou com a vaga, não me deixaram nem interpretar. — Contou, irritada, enquanto encarava os olhos verdes do jovem.
— Calma, princesinha, sua hora vai chegar. — Consolou, dando dois tapinhas no ombro direito dela.
Encarou-o ameaçadoramente, enquanto segurava uma bandeja. Ele riu, retornando para a cozinha.
Enrico Bellinaso era o mais velho da equipe, vinte e sete anos de pura beleza italiana. O cozinheiro galã fazia muito sucesso com as clientes. Quando foi contratada por Joey, ele já estava lá. Seu cabelo castanho, cortado bem curto, olhos de mesma cor, pele morena e sua famosa barba por fazer.
Ele fazia sucesso com as mulheres, aventura de uma noite. não escapou das garras dele, apaixonou-se e sofreu. Surpreendentemente, conseguiu fisgar o coração do crush, deixando todos perplexos. Eram um casal água e vinho, mas que estava dando certo.
Enrico estava prestes a sair da cafeteria. Sua banda de rock, Midnight in Venice, assinou contrato com uma grande gravadora.
Ela se sentia satisfeita em ver seu amigo prestes a realizar um sonho e muito merecido. Tinha muitos questionamentos sobre si mesma, se algum dia a próxima sortuda seria ela.
— Princesinha, o seu cliente VIP chegou. — Falou debochadamente, enquanto seguia para uma mesa próxima.
Naquele momento, não era preciso se virar e olhar para saber quem era o cliente. Todas as vezes que ele ia até ali, queria se esconder na cozinha até qualquer outra pessoa o atender. Infelizmente, não podia fazer isso. Todos os dias era a mesma coisa: aquele olhar sem graça que ele lhe lançava e o desejo que ela tinha de voltar no tempo.
Respirou fundo, pegou o seu bloco de papel e a caneta do bolso da frente do avental – por mais que já soubesse de cor qual pedido faria. Olhou na direção da mesa de sempre, tendo a visão mais maravilhosa do planeta.
Lá estava ele.
Esbanjando a sua beleza, acompanhado da sua atual noiva: FKA Twigs.
O cliente VIP de era apenas Robert Pattinson.
Somente Robert Pattinson.

Capítulo 2 – Robert Pattinson

“Acontecimentos infelizes sempre ocorrem em série.”- Lei de Murphy


Segundo as leis de Murphy, acontecimentos infelizes sempre ocorrem em série e naquele dia, ficou claro para o quanto era verdade aquela afirmação. Seu dia começou com o teste fracassado e quando achou que nada de pior poderia acontecer, o seu cliente favorito – ironicamente falando – chegou para a sua dose de café matinal, acompanhado da sua simpática noiva – o que ela realmente era.
Seu nome é Tahliah Debrett, mas na mídia se chamava FKA Twigs. Uma bela cantora britânica com sua pele morena, cabelos cacheados escuros e olhos de mesma cor. Seu estilo era bem ousado, criativo e tinha um piercing no septo, o qual sempre pensava na dor que a mesma deveria ter sentido ao furar.
Desde que Robert havia assumido o relacionamento e ela passou a frequentar a cafeteria, sempre tratou todos com muita simpatia. Quando soube que a mulher estava sendo vítima de racismo por namorar o cara, se sentiu enojada pela situação de uma pessoa tão doce como ela ser tratada dessa forma. Uma situação nojenta.
Quando resolveu se aproximar da mesa, pôde constatar facilmente que ela não era a única tendo um dia difícil. O casal estava em silêncio com expressões sérias enquanto olhavam para qualquer ponto dentro da cafeteria, evitando se encarar.
Para ela foi como um alarme que soou na sua cabeça, um aviso de que deveria ter se escondido na cozinha, evitando a todo custo atendê-los. Sabia que nem mesmo as estrelas de Hollywood viviam presas num conto de fadas, mas realmente se preocupou, pois eles costumavam ser um casal tão feliz.
E era esse tipo de relacionamento que gostaria de ter, caso achasse o cara da sua vida. Tudo bem que ele era o amor da sua vida, mas ok. Eles faziam o tipo que no período da manhã – horário que costumavam frequentar a cafeteria – estavam sorrindo, tagarelando sem parar e quando ia atendê-los, Tahliah era a primeira a abrir um sorriso animado enquanto Rob sorria sem graça – que não poderia culpá-lo depois do que aconteceu.
Algo estava acontecendo entre eles e não era nada bom. - Constatou apenas os observando. Respirou fundo e seguiu a passos firmes até a mesa.
- Bom dia! Como estão? – Cumprimentou-os educadamente enquanto segurava a caneta e o bloco, pronta para fingir que nunca se recordava do pedido deles.
Ambos direcionaram a atenção para ela, uma expressão séria.
- Café puro, sem açúcar. – Respondeu Rob forçando um sorriso que pareceu mais uma careta.
- O mesmo, por favor. – Tahliah pediu sorrindo educadamente, óculos escuros cobrindo seus olhos.
Putz! A situação está hardcore mesmo! – Pensou mordendo a língua numa tentativa de evitar se intrometer na situação em que seu astro favorito e noiva enfrentavam.
- Apenas café? – Questionou erguendo as sobrancelhas, uma expressão de surpresa estampada na sua cara.
Tahliah riu dando de ombros.
sorriu em resposta e retornou para o balcão onde estava com um olhar atento em direção ao casal. Seguiu até a cozinha, entregando a folha em que anotou o pedido para Enrico.
- – Sussurrou chamando-a com a sua melhor expressão de super espiã demais. Ela caminhou discretamente até o caixa, expressão de paisagem evitando chamar a atenção dos clientes e de seus colegas de trabalho.
- Eles não estão bem! – Revelou num tom de voz baixo enquanto fingia estar limpando o balcão ao lado da amiga que fingia estar contando o caixa. Continuou: - Pediram somente café puro e sem açúcar.
encarou-a horrorizada.
- Não pediram nem uma rosquinha açucarada? – Perguntou numa expressão de espanto.
- Nada. Só o bendito café. – Respondeu dando de ombros.
- A situação desta vez é nível hardcore heavy metal, . – Constatou preocupada ainda fingindo estar prestando atenção no dinheiro em sua mão.

e compartilhavam de uma mesma ideia mirabolante: o que a pessoa come ou bebe diz muito sobre ela e o seu estado de espírito. Costumavam prestar muita atenção no que era consumido por seus clientes assíduos e diversas vezes se comprovou ser verdade.
Cada doido com suas manias.
- Espero que não – Ela concluiu tristemente. Guardou o pano e o produto de limpeza e observou o casal que continuava em total silêncio, observando qualquer lugar menos um ao outro.
- Parem de fazer fofoca – Falou implicante, surpreendendo-as. Colocou sua bandeja no balcão e olhou em direção ao casal. Analisou-os atentamente, a parte superior do seu corpo debruçada sobre o balcão, concluiu minutos depois: - Definitivamente, problemas no paraíso. – Comentou seriamente, uma expressão de expert no assunto como se soubesse todos os segredos do casal.
- Não sabia que era amiga deles – Provocou revirando os olhos enquanto seguia até a bandeja com as duas enormes xícaras de café. Serviu o pedido para o casal, sorrindo em resposta aos agradecimentos e retornou para o balcão ao lado das garotas que continuavam no mesmo lugar.
- Aposto vinte pratas que amanhã estarão separados. – Anunciou ajeitando seu escuro cabelo preso no topo da cabeça, um sorriso provocativo estava estampado em seu rosto.
- Quinta-feira – Apostou , apertando uma das mãos de fechando a aposta, logo em seguida, olharam para em expectativa.
- Não acredito que estão apostando contra o amor de um casal! Que absurdo! – Ela falou indignada tentando não chamar a atenção dos clientes, inclusive do casal.
- Também quero participar da aposta! – Anunciou Enrico repentinamente aparecendo por trás de e envolvendo-a pelos ombros. Ele tinha um sorriso animado no rosto.
No mesmo instante, a expressão de mudou e ela fingiu estar achando mais interessante procurar algo dentro de seu caixa.
- Não acredito que estava prestando atenção na nossa conversa – Reclamou fingindo indignação.
- Claro! Quando vocês estão juntas, conversando civilizadamente, só podem estar fofocando sobre os clientes. – Comentou despreocupadamente, dando de ombros.
- Está nos chamando de fofoqueiras, Enrico? – Perguntou indignada, voltando sua atenção para o jovem.
Ele riu em resposta.
- Quero apenas entrar na aposta.
- Parem de avacalhar o relacionamento dos outros! – Falou irritada enquanto observava algumas vezes ao redor para ter certeza que não estavam sendo ouvidos.
- Aposto vinte pratas que eles terminam hoje. – Falou ele decidido enquanto dava um beijo na bochecha da amada.
desviou o olhar rapidamente, numa tentativa de esconder seu incômodo com a cena.
- Vocês são inacreditáveis! – Suspirou revirando os olhos, passou uma das mãos pelo cabelo. Continuou: - Aposto cinquenta pratas que eles não terminam e vão se casar mês que vem! – Falou ousada, fazendo com que e Enrico rissem, roubando um assovio de surpresa de . tinha um sorriso de satisfação e determinação estampado no rosto, mas que escondia a dúvida em suas palavras.
- Alguém vai ficar rico essa semana e não vai ser você, . – Provocou enquanto pegava sua bandeja e seguia em direção ao casal de clientes que se preparavam para pedir a conta.
- É, . Você escolheu a aposta errada... – Constatou Enrico dando dois tapinhas no ombro da jovem, sorriu e seguiu assoviando até a cozinha.
manteve sua expressão de confiança, evitando dar o braço a torcer.
- Preciso ganhar essa aposta! – Falou determinada antes de atender um cliente.
- Por favor, se casem! – Pediu baixinho enquanto apoiava os cotovelos no balcão, descansando o rosto entre as mãos. Sua expressão era de pura desolação enquanto observava Robert e Tahliah que continuavam em um silêncio, apenas degustando o seu café.
Talvez se desejasse com todas as suas forças, as coisas dessem certo para o casal... ou não.


☕☕☕☕☕


- Se quiser pode ir para casa descansar e eu ajeito tudo. Hoje é o meu dia mesmo! – Falou docemente enquanto fechava o caixa do dia.
Era uma noite chuvosa, final de expediente, todos os funcionários se preparavam para encerrar o turno daquele dia. A rotina era abrir o café todas as manhãs e o restante da equipe revezava durante a semana para limpar o lugar e fechá-lo. Tudo deveria estar limpo e organizado para que no dia seguinte estivesse pronto para funcionar. Fazia parte de um acordo entre eles, pois moravam mais distantes do que ela. De qualquer forma, adquiriu sua própria mania. Adorava arrumar a fachada todas as manhãs e a hora de silêncio que tinha até a chegada do pessoal e dos clientes.
- Não precisa, . Você madrugou para que pudesse me cobrir, vá descansar e hoje ficar por minha conta. - Respondeu enquanto passava o pano no balcão.
prendeu suas madeixas e bocejou enquanto se espreguiçava.
- Tem certeza? – Perguntou insistindo, uma expressão de preocupação estampava a sua face.
- Que cara é essa de preocupação? Vá descansar, mulher! – Falou risonha enquanto abandonava a limpeza, se aproximando da amiga e abraçando-a rapidamente, deu um beijo estalado em sua bochecha.
- Tá bom! Se precisar de qualquer coisa, me manda mensagem que eu volto na hora! – Falou seriamente colocando sua bolsa no ombro e seguindo em direção à porta.
- Sim, senhora. – Confirmou brincalhona enquanto mostrava a língua.
revirou os olhos e depois riu, andou até a porta e abriu-a.
- Droga! Está chovendo muito! – Reclamou enquanto abria sua enorme bolsa feminina, pegou seu guarda-chuva e abriu. Acenou em despedida, fechando a porta atrás de si.
observou o local que estava repleto de mesas que precisariam ser limpas. Teria que recolher a louça suja, lavar, jogar o lixo fora, limpar as mesas e o chão, somente depois de cumprir tudo isso poderia ir para casa descansar.
Retornou ao balcão e continuou a limpá-lo com o pano.
- , estamos indo. – Despediu-se Enrico enquanto segurava o seu capacete. Ele e vestiam seus trajes de chuva enquanto seguiam até a porta da cafeteria.
- Vão com cuidado! – Recomendou enquanto acenava em despedida.
- Parece que a princesa hoje está mais para gata borralheira – Provocou enquanto dava uma piscadela na direção de que revirou os olhos em resposta.
- Boa noite para você também, . – Ela desejou entediada enquanto suspirava e voltava sua atenção para o balcão.
Assim que finalizou a limpeza do balcão, seguiu para a tarefa de recolher as louças sujas das mesas. Ficou vários minutos assim, até que teve um estalo e lembrou-se que não havia trancado a porta do café.
Uma coisa que nunca admitia é que morria de medo de ficar sozinha durante a noite, fosse em sua casa ou ali no café. Como não tinha o costume de ficar depois do horário, sentia medo de aparecer algo humano ou até mesmo, algo sobrenatural, principalmente, quando se tratava do estoque.
Girou a chave na porta, encostou o rosto tentando enxergar o clima lá fora, mas só podia ouvir o barulho da chuva e algumas pessoas que vez ou outra, cruzavam a fachada da cafeteria. Respirou fundo, virou a placa de “aberto” para “fechado” e continuou a recolher a louça suja.
Após lavar toda a louça e pôr para secar, retornou ao salão para limpar as mesas e abastecer com os sachês de açúcar, sal, palitos de dentes e guardanapos. Cantarolava baixinho uma música animada enquanto tentava terminar o serviço o mais rápido possível, tinha que admitir que estar ali sozinha lhe deixava com medo.
- Merda. – Sussurrou baixinho enquanto encostava as mãos no peito, o coração batendo acelerado e o corpo retesado pelo susto. Batidas agitadas que pareciam vir da porta de entrada da cafeteria quase foram capazes de lhe causar um infarto. estava tão assustada que continuou estática com o olhar na mesa a sua frente.
Mil pensamentos malucos de que seria um ladrão ou algum maluco querendo invadir o local passavam por sua cabeça. O pior de tudo era que do lado de fora poderiam enxergar tudo ali dentro, devido a porta de vidro e as enormes vidraças, então não poderia se esconder debaixo de alguma mesa até que ficasse sozinha novamente.
As batidas continuaram por vários minutos, até que a pessoa não satisfeita decidiu chamá-la. O seu coração parecia prestes a fugir pela boca tamanho o medo.
- EI! ! – Praticamente berrava a voz masculina.
Os olhos da jovem praticamente saltaram das órbitas ao reconhecer a voz que lhe chamava do lado de fora do lugar.
- Robert? – Perguntou ela surpresa ao se virar e ver o homem todo ensopado com o seu belo rosto colado ao vidro. Mordeu o lábio inferior para segurar a risada, mas lembrou-se que graças ao gesto do homem ela teria que limpar a vidraça também.
- PODE ABRIR AQUI? – Gritou novamente enquanto apontava em direção a maçaneta. Ele tinha uma expressão de desespero.
- Ai, caramba! O que será que esse homem quer? – Perguntou para si mesma enquanto seguia rapidamente até a porta, sem abri-la.
- Estamos fechados! – Ela explicou enquanto apontava para a placa que estava pendurada ao vidro.
- QUÊ? – Gritou ele novamente enquanto a encarava confuso.
- Es-ta-mos fe-cha-dos – Soletrou ela numa tentativa de que ele fizesse uma leitura labial ao invés de fazê-la gritar feito uma louca.
- FALA MAIS ALTO! – Pediu ele aos berros enquanto grudava a orelha no vidro.
- Merda! Vou ter que limpar o vidro! – Reclamou ela revirando os olhos.
- QUÊ? – Gritou novamente achando que a mesma estivesse falando com ele.
- Não é possível que esse homem esteja surdo! – Resmungou irritada enquanto destrancava a porta.
Robert invadiu o local feito um furacão, molhando todo o piso, pois ele estava totalmente ensopado.
- Senhor, estamos fechados. – Comunicou seriamente enquanto tentava disfarçar a confusão e curiosidade que lhe dominava. Pensou que naquela noite quem lhe faria uma visita era algum fantasma que vivia no estoque e não o seu tão amado cliente VIP.
- , você precisa me ajudar. – Jogou pegando-a de surpresa.
- Depende. O que o senhor precisa? – Perguntou curiosa enquanto seguia até a porta, olhou rapidamente o movimento na rua para se certificar que não tinha nenhum paparazzo a espreita do rapaz e entrou, trancando a porta novamente.
A última coisa que queria era aparecer nas notícias no dia seguinte ao ser apontada como o pivô na crise do relacionamento dele com a noiva. Ela queria mesmo é ganhar a aposta e ver a quebrando a cara por ter perdido.
- Você tem torta de maçã e frappuccino à lá Joey? – Perguntou ele com uma expressão de desespero enquanto passava os dedos por entre as madeixas encharcadas pela chuva.
O desejo de em relação ao homem, era poder esfregar os dedos por entre aqueles fios que pareciam ser sedosos. Fazer o carinho até que o mesmo pegasse no sono em seus braços. Segurou um suspiro ao imaginar como seria tê-lo em seus braços.
- E então? Poderia me vender? – Perguntou ele novamente despertando-a de seus devaneios.
A expressão de Robert era de puro desespero, como se sua vida dependesse daquele momento e isso pesou sobre os ombros da jovem que teve receio em responder o que é que tenha sido perguntado.
- Ér... desculpe. Não entendi o que você pediu.
- Torta de mação e frappuccino à la Joey. – Repetiu ele encarando-a como se ela fosse descompensada.
- Não tenho como te vender. Acabou o que tínhamos do dia e somente o Enrico que sabe preparar. – Respondeu dando de ombros.
Robert praguejou baixinho e sentou-se na cadeira mais próxima, esfregou as mãos no rosto e bagunçou os cabelos, ficou absorto em pensamentos.
só conseguia pensar indignada: “Vou ter que limpar a vidraça e ainda sentou com a bunda molhada no estofado!” .
- E agora? O que eu faço? O meu relacionamento vai acabar de vez! – Revelou em completo desespero enquanto passava os dedos pelo cabeço, uma mania quando estava nervoso.
- Você disse acabar o seu noivado? – Perguntou abruptamente ao compreender o nível da situação em que se encontravam.
- Sim! Tahliah acha que devemos terminar. Eu não tenho sido o melhor noivo... – Falou sorrindo tristemente enquanto voltava sua atenção para a jovem a sua frente.
- Calma! Nesse caso, podemos dar um jeito! – Murmurou tentando tranquilizar o homem e ajudá-lo a resolver toda a confusão.
Robert se levantou abruptamente com a esperança voltando a reluzir em seu rosto ao ouvir as palavras pronunciadas por ela.
- Qual é a comida favorita da Tahliah? – Perguntou enquanto seguia para o balcão onde ficava uma estufa para conservar os doces e bolos que eram preparados para o dia de trabalho. Pegou três cupcakes que restavam – e que iria levar para casa, mas que resolveu fazer uma boa ação e salvar um relacionamento. Colocou-os dentro de um saco de papel pardo e entregou nas mãos de um surpreso Robert Pattinson.
- Além da torta de maçã que vocês fazem, ela ama comida chinesa. – Respondeu ele enquanto observava atentamente .
- Não temos torta de maçã e frappuccino, então leve esses cupcakes de chocolate como sobremesa. E passe no restaurante mais próximo e compre a bendita comida chinesa. – Ordenou com um leve sorriso de satisfação ao ver os olhos do homem se arregalarem com as palavras da jovem e em seguida, abrir um enorme sorriso no rosto.
- Quanto te devo? – Perguntou procurando a carteira de couro preta que estava no bolso traseiro da sua calça jeans.
- Um convite para o casamento. – Falou sorrindo brincalhona enquanto agitava as mãos no ar negando as notas que o rapaz havia estendido em sua direção.
- Obrigado, ! – Agradeceu ele sorrindo sincero, aproximou-se atrapalhado e pegou-a desprevenida, envolvendo-a em um abraço apertado.
A jovem não teve condições de falar ou se mexer, não foi capaz de retribuir o abraço. Permaneceu de pé – e não tinha noção de como conseguiu permanecer com seus pés fincados ao chão – os braços caídos ao lado do corpo enquanto sentia o gelado das roupas molhadas do rapaz encostar-se às suas, arrepiando-a da cabeça aos pés. Possuía a maior certeza do mundo que estava com os olhos esbugalhados e a boca escancarada, tamanha era sua surpresa. O seu coração parecia prestes a explodir feito uma granada. O cheiro de suor, chuva e perfume cítrico exalava da nuca do homem. Quando Robert soltou-a de seus braços, murmurou um último agradecimento e correu para fora da cafeteria, batendo a porta atrás de si.
encarou a porta por vários segundos, finalmente soltando o ar dos pulmões e caindo sentada no chão.


Capítulo 3 – Corações e Estrelas 💕⭐

"A fama não é real, sabia? Não se esqueça que eu também sou só uma garota, parada em frente a um garoto, pedindo para que ele a ame". - Um Lugar Chamado Notting Hill (1998)

Lá estava linda e bela, pura deslumbrância, desfilando pela pré-estreia do seu filme ao lado de Robert Pattinson. Quer dizer, até que tudo aconteceu muito rápido. Rolou para a outra ponta do colchão até que seu corpo atingiu outra coisa, fazendo com que seu coração fosse na boca e voltasse.
Abriu os olhos assustada e viu . Xingou-a trocentas vezes enquanto respirava fundo tentando acalmar seu pobre e fraco coração. Se jogou novamente no colchão, encarando o teto. Respirou fundo, fechando os olhos e tentando recuperar o seu sono. Não poderia perdê-lo, pois era sua folga. O seu dia de descanso. Ela merecia dormir até que seu corpo ficasse dolorido.
Dormir.
amava dormir ou apenas ficar estirada na cama o dia inteiro fingindo que sua lista de folga não existia – algo super simples de se esquecer a existência. Ao mesmo tempo que amava dormir e não fazer nada - quando podia -, também odiava o sono com todas as suas forças. Detestava o fato do bonitinho resolver dar o ar da graça quando a jovem precisava levantar para encarar mais um dia de trabalho.
“Quem consegue entender?” - pensou irritada enquanto se revirava pela milésima vez na cama. Revirou os olhos e cobriu a cabeça com o travesseiro numa tentativa de pegar no sono novamente.
Foram longos minutos trocando de posição, bufando e nada de conseguir dormir. Perdeu a paciência e desolada resolveu se levantar. Antes de seguir para fora do quarto, lançou um olhar que poderia queimar a cama e até mesmo o quarto inteiro. Bufou revoltada ao ver que continuava dormindo feito uma pedra.
Derrotada, seguiu até a sala e pegou sua lista de tarefas para seu dia de folga – que nunca cumpria e só aumentava – e leu os itens. Suspirou preguiçosamente e decidiu encher a barriga, afinal saco vazio não fica em pé.
Pegou sua tigela de cereais, jogou-se no sofá e ligou a TV.
- Olá, querida! - Falou docemente e repentinamente, quase matando do coração pela segunda vez naquele dia.
- Que merda, ! Não posso dormir em paz e nem ficar quieta no meu canto! Que merda! - Reclamou irritada enquanto encarava a amiga.
- E quem disse que vai ficar em paz? - Perguntou brincalhona enquanto se jogava ao lado da amiga no sofá. Pegou a colher da mão dela e comeu o cereal.
observou a cena atentamente, os olhos pequenininhos e a sobrancelha esquerda levantada. Sua mão continuava na posição em que segurava uma colher imaginária.
- Prefiro quando você está viajando! - Comentou docemente enquanto tomava a colher da mão dela e comia uma colherada do cereal.
- Quem fica mandando mensagem direto com saudade? - Perguntou com um enorme sorriso enquanto apertava uma das bochechas da melhor amiga mal-humorada que tentava comer o cereal e ignorá-la.
revirou os olhos enquanto mastigava.
- Estão vendo como a é malvada comigo? Depois reclama que não ganha presente! - Falou enquanto se filmava para postar no seu stories. O seu cabelo lilás estava solto, vestia um pijama laranja de bolinhas brancas enquanto estava encolhida no sofá ao lado da melhor amiga.
- VOCÊ ME FILMOU, ? - Perguntou estressada aumentando o tom de voz. Colocou a tigela de cereal no chão e virou com o rosto vermelho em direção a amiga.
riu enquanto se levantava do sofá. repetiu a mesma atitude e saiu em disparada.
- VOLTA AQUI, SUA PALHAÇA! - Gritou enquanto corria atrás da amiga pelo pequeno corredor do apartamento que dividiam desde que foram morar em Los Angeles.
tentou fechar a porta do próprio quarto, mas foi mais rápida. Entrou com tudo, se jogando em cima da amiga fazendo com que caíssem na cama dela.
- Apaga! - Pediu enquanto tentava tomar o celular da mão dela.
A cena era cômica. estava jogada por cima da amiga enquanto a mesma segurava o telefone com uma das mãos no alto, tentando evitar que fosse pego. As duas riam até que acabaram fazendo cosquinha uma na outra. Minutos depois, cansaram e começaram a rir enquanto se afastavam, ficando apenas deitadas de barriga para cima no colchão.
- Senti sua falta – Confessa após alguns minutos de silêncio.
- Também senti a sua.
- Como foi o evento? - Perguntou de olhos fechados enquanto bocejava, o sono querendo retornar. Descansou o braço direito na barriga e cobriu o rosto com o braço esquerdo.
- Foi bem legal! - Respondeu animada, olhando brevemente para a amiga e voltando a atenção para a tela do seu celular. Continuou: - Trouxe algumas coisas para você e a . E como foi o trabalho? - Perguntou enquanto olhava as fotos no seu feed, bocejando.
relembra os últimos acontecimentos e dá de ombros, como se não fosse tão importante tudo que lhe aconteceu.
- Ah, tudo igual. Querendo matar a como sempre, sofrendo pelo Enrico... - Contou num tom monótono tentando disfarçar a agitação do que estava prestes a contar e que faria a amiga surtar como ela. Continuou: - E que inclusive, conseguiu assinar um contrato com uma gravadora. Em breve seremos apenas eu e as meninas. - Finalizou dando de ombros, continuava na mesma posição.
- Ah, sim!
- E o Robert que me abraçou uma noite dessas... - Desembuchou tranquilamente como se estivesse apenas falando a previsão do tempo. Segurou a vontade de rir enquanto sentia o frio na barriga ao compartilhar com a amiga o que havia acontecido na noite anterior.
Lembrou que não tinha contado para ainda.
começou a rir.
descobriu o rosto e encarou a amiga, surpresa por sua reação.
- Eu sei que o seu trabalho anda um tédio, mas não precisa apelar tanto! - Falou ela em meio as gargalhadas.
Ela apenas encarou a amiga seriamente, esperando que a mesma compreendesse que não era brincadeira.
se recompôs com os olhos arregalados enquanto sentava na cama.
- É verdade? - Perguntou surpresa.
confirmou com um gesto de cabeça, sentando-se de frente para a amiga.
Ela arregalou tanto os olhos que poderia pular do rosto enquanto sua boca estava aberta em um ‘O’ enorme.
- E como consegue estar tão calma? Se o Shawn tivesse me abraçado, eu estaria surtando até agora. - Constatou ela revirando os olhos enquanto observava a amiga.
riu ao lembrar que chegou em casa em estado de choque e que quando digeriu tudo o que aconteceu, caiu no choro em meio as gargalhadas até pegar no sono.
- Surtei ontem à noite! - Riu e continuou: - Você tinha que ver, ! Fiquei sozinha para fechar o café e chovia pra caramba. Ele quase me matou do coração quando apareceu do nada todo molhado e desesperado. - Falou sorrindo tristemente ao lembrar do desespero que estava estampado no rosto de Pattinson.
- Desesperado com o quê? - Perguntou confusa.
- Ah! Parece que está passando uma crise no relacionamento com a FKA e queria fazer uma surpresa pra ela.
- Surpresa? E recorreu a você? - Perguntou incrédula.
confirmou com um aceno de cabeça.
- Sem mais nem menos? Mesmo depois do que aconteceu entre vocês? - Perguntou novamente, confusa.
- Bem, não foi com a intenção de pedir a minha ajuda especificamente. Ele apareceu quando estava fechado e pediu que o ajudasse com o que queria. - Falou, dando de ombros. Continuou: - E dei bolinho para levar já que o Enrico não estava lá para fazer o que a FKA gostava de comer.
- Ah, sim! E deu tudo certo? - Perguntou curiosa enquanto sorria para a amiga.
- Não sei – Confessou fazendo uma careta enquanto deitava novamente na cama.
- E ele te abraçou? - Perguntou.
- Sim – Suspirou sonhadoramente, abriu um sorriso enorme. segurou uma de suas mãos, retribuia o sorriso. Ela sabia o quanto estar perto do Robert era importante para a amiga.
- E como foi? - riu apertando levemente a mão da amiga, olhando-a atentamente.
- Foi maravilhoso! Aquele cheiro de pele com cheiro de molhado e algum perfume junto. Ele deixou minha roupa úmida! - Falou sorrindo.
- Safadinha! - Zoou rindo ao entender o duplo sentido na fala da amiga.
riu ficando vermelha.
- Achei que ele fosse me ignorar para sempre. - Comentou com os olhos cheios de lágrimas.
- Eu também! Só que sabemos que seria exagero da parte dele, né? Você é a fã número um dele! Até eu queria ter uma fã assim. - Falou rindo enquanto abraçava a amiga.
sorriu.
- Você acha que eles vão terminar? - Soltou repentinamente.
pareceu pensar por alguns minutos.
- Acho que não! Você deve ter salvado a pátria como sempre. Amanhã ele vai te procurar imensamente agradecido por evitar que ele ficasse encalhado novamente. - Brincou dando de ombros. Continuou, seriamente dessa vez: - Deve ser apenas uma crise. Vão ficar bem! - Finalizou.
- Espero que fiquem mesmo. Ele finalmente encontrou a felicidade.
- Será que realmente é a verdadeira? Além do mais, você sabe que a felicidade não pode depender de outra pessoa. - Disse sabiamente enquanto dava um beijo na bochecha da amiga.

☕☕☕☕


- Queria um Peter K. na minha vida – Comentou sonhadora enquanto estava jogada no sofá com , as duas assistiam ao filme enquanto devoravam uma bacia de pipoca.
suspirou e concordou com um gesto de cabeça enquanto enchia a boca com mais pipoca.
O seu celular vibrou duas vezes seguidas. Ambas ignoraram.
- Você já leu os livros? - Perguntou olhando rapidamente para a amiga e voltando a atenção para o filme.
- Ainda não.
O celular vibrou algumas vezes novamente.
- São maravilhosos e tem mais detalhes do que o filme. Se quiser pode pegar os meus emprestados. - Sugeriu empolgada, pois amava fazer com que as pessoas lessem livros e melhor ainda se fossem os seus preferidos.
Se remexeram no sofá novamente, prestando a atenção no filme. dividia a atenção entre seu feed e a televisão.
Mais uma vez, pôde-se ouvir a vibração no braço do sofá fazendo com que suspirasse. Voltou sua atenção para a amiga e disse: - Acho melhor você ver o que querem. - Sugeriu voltando sua atenção para o filme enquanto enchia a boca com mais pipoca.
- Se fosse caso de vida ou morte teriam me ligado. - respondeu dando de ombros.
Bocejou enquanto assistia a cena da Lara Jean tentando criar coragem de conversar com a Margot.
Parece que havia ouvido o que tinha sido pela amiga, pois segundos depois seu celular começou a vibrar com o nome da amiga na tela. pegou o telefone com os olhos arregalados e encarou .
- Credo, hein! Diz que vou ganhar na loteria! - Falou risonha enquanto aceitava a ligação curiosa.
- Olha o grupo! - Pediu sussurrando num tom de desespero e desligando logo em seguida, sem qualquer oportunidade de resposta.
afastou o aparelho da orelha e encarou a tela confusa. A testa franzida e a confusão estampada na sua cara.
- O que ela queria? - Perguntou enquanto continuava com os olhos presos a televisão.
- Pediu para olhar o grupo.
Em resposta fez um som de compreensão.
desbloqueou a tela e leu as mensagens do grupo enquanto enchia a boca de pipoca novamente. Segundos depois, ela começou a tossir loucamente enquanto se engasgava com os grãos da pipoca. se assustou com o rosto vermelho da amiga e começou a dar tapas nas costas da amiga – um pouco forte - até que finalmente a tosse cessou.
- Cruzes credo! Não sei se ia morrer engasgada ou pelos tapas! - Reclamou enquanto respirava fundo e secava os olhos que haviam se enchido de lágrimas durante a crise de tosse.
riu e voltou sua atenção para o filme.
- Não acredito! - Murmurou chocada enquanto seus olhos quase pulavam das órbitas, após reler as mensagens no grupo.

[ 👸]: "Vcs já estão sabendo? 😭😭"
[ 😒]: "Disto?" - escreveu como legenda de uma foto que observou com atenção. Quando abriu a imagem prendeu a respiração e identificou ser Robert e FKA. Reconheceu a roupa que Robert vestia quando foi até o café e a sacola marrom com os doces. Era nítido nas fotos que ambos discutiam.
[Enrico 🎸]: "😓😓"

Ela ofegou e apenas digitou em desespero, os dedos rápidos feito uma flecha.

[]:
"COMO ASSIM?????!”
[ 😒]: "Isso mesmo que vc viu. Passa o money AHAHAHAHAHA”


- Não, não, não... - Repetia sem parar enquanto pegava o controle da televisão desesperada e trocava de canal até encontrar o que queria.
- EI! - Reclamou sendo pega de surpresa pela amiga que tirava do filme, protestou confusa.
“Parece que Robert Pattinson está solteiro novamente...” Comentou o apresentador do canal de fofoca sobre os famosos de Hollywood.
- Mentira! - Reagiu largando o celular e prestando atenção na televisão.
“Ele e sua namorada, quer dizer, ex foram flagrados em frente a gravadora Music na noite de ontem. Segundo testemunhas, eles discutiram na entrada e tiveram uma conversa acalorada por alguns minutos.” - Finaliza o apresentador enquanto as imagens do casal eram mostradas na tela.
Uma das imagens, reconheceu sendo a mesma enviada por no grupo.
- O pior lado da fama é que você não tem direito a ser traído ou brigar. Esses papparazzis não deixam o povo nem tomar um chute na bunda em paz! - Comentou inconformada enquanto assistia as notícias seguintes que eram mostradas no programa.
não respondeu. Estava parada na mesma posição em que começara a assistir o programa. Poderia parecer que estava concentrada na televisão, mas seus pensamentos estavam à mil. Se recordou do que aconteceu no café na noite anterior e seu coração se apertou. Era nítido que Robert temia pelo término e se esforçou para tentar reverter a situação, mas, outra vez, teve que enfrentar o fim de um relacionamento com quem ama.
O seu coração se apertou ao pensar no quanto estava sendo difícil para o seu ídolo.
- Amiga? - Chamou preocupada enquanto se ajeitava no sofá e se aproximava, acariciou os cabelos da amiga e observou-a.
apenas olhou-a com uma expressão triste. Deu de ombros e descansou a cabeça no ombro da amiga. O seu celular ainda estava em suas mãos.
- Tente relaxar, tá? - Pediu docemente enquanto acariciava os cabelos da amiga.
- Como? Fico com pena dele. Um relacionamento acabar e ainda o mundo inteiro ficar sabendo da sua desgraça! Isso é uma merda... - Comentou indignada enquanto suspirava tristemente.
- Ele vai sair dessa e além do mais, logo as pessoas vão esquecer. Ele tem a família, amigos e você!
- Eu? - Perguntou levantando a cabeça e encarando a amiga com uma expressão confusa.
- Sim! - Confirmou seriamente, continuou: - Claro! Você é um raio de sol na vida das pessoas que estão por perto. Pode ajudar ele tornando as manhãs dele agradáveis. - Falou com um sorriso doce nos lábios enquanto olhava atentamente para a amiga.
riu.
- Só você para me fazer rir num momento desses! - Comentou risonha.
- Estou falando sério! Pensa nisso! - Finalizou seriamente dando de ombros e seguindo para a cozinha, deixando sozinha com seus pensamentos.
Suspirou tristemente e voltou a atenção para o seu celular. Deitou-se no sofá e abriu o grupo novamente, lendo as mensagens.

[ 👸]: "N deveríamos ter apostado. Acabamos com um noivado! 😂😂😂"
[ 😒]: "Eu nunca erro HAHAHAHA"
[]: "Tadinho do Rob 💔"
[ 😒]: "😎💸💰💲"
[Enrico 🎸]: "Vai pagar meu almoço hj 😂"
[ 😒]:"Quero meu dinheiro hj kkk e sou tão linda q vou pagar bebida pra geral hj 😎"
[ 👸]: "Com nosso dinheiro, né? 😩"
[ 😒]:"Agora, meu dinheiro HAHAHA ainda estou sendo boazinha de gastar com vcs 😂"
[]:"Por mim, cancelava essa aposta. Acabamos com o noivado deles 😭"
[ 😒]: "N sabe brincar n desce p o play 😉"
[Enrico 🎸]: "👀"

larga o telefone em cima da barriga e fecha os olhos. Seus pensamentos estavam direcionados apenas para uma pessoa: Robert Pattinson. Queria poder ir até ele e o abraçar, dizer que não importasse o que tiver que enfrentar estaria sempre ao lado dele. Diria trocentas vezes o quanto ele era maravilhoso e que poderia contar com ela para qualquer coisa, mas a situação era outra. Teria que se conformar em apenas saber qual seria o pedido do dia e ter que ver a tristeza estampada na face do cara que era uma inspiração para ela.
- Vai ficar tudo bem – Disse para si mesma e fingiu acreditar nas suas palavras.


Capítulo 4 – Onde está você?

Fugir - verbo - escapar(-se), desviar(-se) precipitadamente de (perigo, pessoa ou algo ameaçador, desagradável ou tentador). - Fonte: Dicionário, Google.

amava Los Angeles e principalmente, a Sunset Boulevard. Uma rua repleta de histórias sobre a fama de alguns e decadência de outros. Repleta de pessoas com suas culturas diferentes que iam até ali para usufruir de tudo que aquele lugar tinha a oferecer.
E ela era uma daquelas pessoas. Ah, como ela amava!
Conforme foi combinado mais cedo, lá estava e na calçada do seu bar preferido e palco das melhores apresentações, principalmente de . O lugar sempre estava lotado e era minúsculo por ficar espremido entre outros dois bares famosos.
Pink Rose era o melhor bar de todos, a sua batata-frita era a mais deliciosa da Sunset, acompanhada de cerveja barata e gelada com uma boa pitada de música. As suas paredes eram pintadas na cor rosa bebê e repleta de quadros e fotos emolduradas que mostravam momentos e formas das lindas e belas flores. E no outro canto do bar, em frente a essa parede, ficava um balcão de mogno e uma parede repleta de prateleiras com diversas garrafas de bebidas.
Ela amava o charme daquele lugar. Nem mesmo o fato de viver apinhado de gente conseguia deixar de ser o bar preferido de muitos, principalmente quando a equipe do Tribbiani’s Coffee queria se reunir para curtir a noite pós expediente.
— Que maravilha! Agora, podemos fazer o tão esperado brinde! - Anunciou ao se levantar da mesa, segurava uma long neck estendida para o alto como se estivesse esperando que alguém brindasse com ela, fazendo com que revirasse os olhos.
estava com seu cabelo castanho escuro solto e usando um suéter caramelo com uma calça preta. Simples, mas sempre destilando veneno. E acompanhada de Enrico e que bebiam suas cervejas tranquilamente e a olhavam como se fosse algo rotineiro – e realmente era.
— Debochada, como sempre... - Comentou revirando os olhos.
— Imagine aturar isso o dia todo. - Falou dando de ombros.
— Guerreira! - deu uma leve batidinha consoladora no ombro esquerdo da jovem.
As duas se olharam e deram uma risadinha.
, é você? - Perguntou forçando uma expressão de incredulidade enquanto tomava mais um gole de sua bebida.
— Não! Sou um alienígena que está se infiltrando no planeta Terra. - Respondeu irônica enquanto revirava os olhos.
— Um docinho como sempre... - Comentou revirando os olhos. Deram um gritinho repentino e se abraçaram animadas. Agindo como se a situação anterior jamais tivesse acontecido.
suspirou dando de ombros, sentando-se enquanto aceitava a long neck que Enrico lhe estendia com uma expressão de compaixão pela amiga.
— E como está a minha garota? - Perguntou enquanto dava aquele sorriso de capa de revista. Ele estava usando uma camisa preta com uma jaqueta de couro, calça jeans. E sentado da forma que achava estar arrasando, com as pernas abertas e o corpo descansando no encosto da cadeira.
— Eu estou bem. - Respondeu pensando que a pergunta estava sendo dirigida a ela, até pensou o mesmo.
— Como está a minha garota ? - Repetiu a pergunta ignorando a intromissão de sua namorada enquanto dava ênfase ao nome da amiga e colega de trabalho.
bufou colocando a garrafa que estava bebendo na mesa e cruzou seus braços, descansando as costas no encosto da cadeira em que estava sentada. Sua expressão era de puro tédio, já estava acostumada com esse tipo de atitude do namorado.
sempre achou que eram um casal muito inesperado e fora dos padrões em quesito personalidade. Se entendiam da sua própria forma e aceitavam a personalidade louca um do outro. E ambos não eram pessoas fáceis de entender, principalmente por mudarem de humor facilmente, deixando e loucas de irritação.
Eles eram perfeitos um para o outro, até que nutria amores por ele pensava o mesmo.
— Com menos cinquenta pratas no bolso, mas sigo bem. - Respondeu dando de ombros enquanto saboreava mais um gole de sua bebida.
Todos riram.
— Ninguém mandou apostar em algo que estava fadado ao fracasso. - Soltou acidamente enquanto tomava mais um gole de sua bebida.
suspirou.
! - Chamou Enrico num tom de irritação.
— Você prometeu que não iria perturbar a com isso! - Repreendeu irritada enquanto encarava-a com a mesma expressão que a mãe de usava quando queria lembrá-la de suas promessas.
— Nada a ver ela ficar assim. O cara nem gosta dela! - Rebateu dando de ombros.
— Como consegue ser tão cruel? - Perguntou indignada.
suspirou, acreditando que com toda certeza do mundo se arrependeria das suas próximas palavras.
— Ela tem razão. - Soltou dando de ombros novamente enquanto forçava um sorriso.
Sabia que era loucura se sentir daquela forma, mas era difícil não se sentir próxima de Robert, como se fizesse parte de toda a vida do cara. E como não se sentiria? Acompanhou toda a trajetória dele desde o sucesso de Crepúsculo, o término com a Kristen e agora, FKA. Gostava dele e de poder vê-lo pessoalmente todas as manhãs, mas isso não quer dizer que ele também retribuía o sentimento.
— Meu Deus, o mundo está acabando! - Falou horrorizada com o que havia acabado de presenciar.
e não se bicavam desde que se conheceram e jamais, JAMAIS, em hipótese alguma, concordavam numa mesma coisa.
— Depois dessa, vou até pagar uma cerveja para você. - Disse radiante enquanto se levantava, pegando a long neck vazia de .
— Com o seu dinheiro ou o meu? - Perguntou a ela debochada.
— Vai ser paga, independente de quem for o dono do dinheiro. - Respondeu risonha enquanto seguia quase que saltitante para a muvuca de pessoas que estavam dentro e fora do bar, desaparecendo de vista.
— Ela é... - Falou fazendo o gesto de louca com a mão enquanto fingia uma cara de medo.
Enrico riu.
— E quando você sai do trabalho? - Perguntou tomando sua cerveja.
— Caramba, está ansiosa para se livrar de mim mesmo hein... - Comentou ele fazendo uma cara de indignação, rindo em seguida ao ver a jovem ficar vermelha.
e riram.
Continuaram curtindo a noite, deixando o assunto Robert Pattinson engavetado para a loucura que ainda estava por vir.

☕☕☕☕

bufou de irritação.
— Nenhum sinal dele, né? - Perguntou ao abandonar o seu tão amado caixa e se aproximar dela que estava com o corpo escorado no balcão, olhando o site de fofocas pela vigésima vez somente naquela manhã.
— Como pode, ? O cara desapareceu do mapa desde aquela noite. Ninguém o viu. Só tem fotos da FKA entrando, saindo da gravadora, indo malhar, saindo com os amigos. Ela realmente está tentando superar o término, mas e ele? - Perguntou num tom de desespero enquanto olhava para a amiga.
— Você sabe que ele manja de se esconder da mídia nos piores momentos, né? - concordou, recordando-se da época do término do namoro com a Kristen e como ele também conseguiu sumir da mídia. Ela ainda se lembrava de como surtou em não ter notícias dele. O pior era que dessa vez, ele estava há quase um mês desaparecido.
— Sim, nisso ele é mestre. - Concordou largando o telefone e apoiando o rosto em uma das mãos, bocejando. Desolação estava estampada em seu rosto. Observou enquanto servia alguns de seus clientes.
O movimento estava bem tranquilo naquela manhã e parecia que iria durar todo o dia, mas percebeu que não seria assim. Doce engano. E constatou isso ao ver algo que jamais havia presenciado desde que chegou a Los Angeles e ao Tribbiani’s Coffee. Claro, havia sim visto outros famosos serem perseguidos por paparazzi, mas não na quantidade enorme que estava perseguindo a ex de Rob.
— Puta merda! - Xingou e em coro ao ver FKA andando apressada do outro lado da rua com uma horda de paparazzi atrás de si, fotografando-a loucamente. Ela atravessou a rua seguindo em direção ao café. Usava roupas de academia preta, óculos escuros e um boné combinando com a roupa – talvez numa tentativa fracassada de escapar dos seus perseguidores.
sentiu pena da jovem ao se imaginar na mesma situação, sem qualquer privacidade para alimentar a curiosidade de pessoas como... si mesma. Naquele instante, ela se sentiu péssima ao se recordar que minutos antes estava fuçando notícias deles.
FKA entrou feito um furacão na cafeteria sem expressar qualquer tipo de reação. Sentou-se no fundo, longe das vidraças enquanto eles gritavam seu nome, amontoados na calçada em frente ao café e fotografavam toda a movimentação dela. Pegou o cardápio e começou a lê-lo numa forma que escondesse seu rosto.
seguiu rapidamente até a mesma, passando por alguns clientes que encaravam toda a movimentação assustados.
— Bom dia! - Cumprimentou ela sorridente em uma tentativa de tirar a expressão de irritação do belo rosto da mulher. Ela retirou os óculos e voltou sua atenção para o rosto tão familiar da atendente.
— Desculpe por agitar o seu expediente hoje. - Disse sorrindo docemente.
riu.
— Estamos acostumados e você não está sendo seguida por tantos... - Abaixou-se um pouco e colocou a mão em concha ao lado da boca com uma expressão estampada no rosto como se estivesse prestes a confidenciar um segredo. Continuou: — Justin Bieber e Hailey Baldwin fizeram pior. - Finalizou rindo junto com a mulher.
— EI, SAIAM DAQUI! DEIXEM OS MEUS CLIENTES ENTRAREM! - Disse repentinamente aos berros enquanto tentava afastar os paparazzi para que os clientes conseguissem entrar na cafeteria. Alguns corajosos confiavam nela e entravam, outros desistiam e saíam rapidamente.
— Você já sabe o que vai pedir? - Perguntou tentando evitar que a mulher visse toda a cena que estava causando para eles.
Ela confirmou com um gesto de cabeça.
— Torta de maçã e frappuccino à lá Joey? - Perguntou fingindo pensar muito.
Confirmou novamente enquanto sorria.
— Já, já estarei trazendo o seu pedido! - Sorriu uma última vez antes de se virar e seguir novamente para o balcão.
— Me desculpe pela confusão mais uma vez. Eu deveria ter ficado em casa, mas enlouqueceria... - Confidenciou num tom baixo, fazendo com que parasse e se virasse ao ouvir aquelas palavras e o tom triste na voz da mulher.
— Relaxa! Logo eles irão embora e você vai seguir sua vida de boa. - Falou sorrindo enquanto fazia um sinal de positivo com uma das mãos, seu coração apertado pela expressão da mulher e tudo que estava enfrentando.
retornou ao balcão e colocou o pedido na porta da cozinha para que fosse preparado por Enrico.
retornou da porta de entrada bufando de irritação, pisava forte até que parou na frente de , do outro lado do balcão encarando-a.
— Ela pediu para a viagem, né? - Perguntou lançando um olhar rápido para as costas da mulher que escondia seu rosto atrás do cardápio novamente.
revirou os olhos e negou com um gesto de cabeça.
— Não teremos clientes enquanto esses urubus não saírem daqui. - Falou irritada enquanto suspirava e apoiava o rosto em uma das mãos enquanto os cotovelos descansavam no balcão.
— Como ela está? - Perguntou ao se aproximar e parar ao lado de .
— Pediu desculpas pela confusão e que não tinha como ficar presa em casa. - Respondeu fuzilando com o olhar para demonstrar o quanto estava sendo difícil aquela bagunça para a mulher.
revirou os olhos.
— Coração mole... - Soltou como quem não quer nada, numa tentativa de implicar com .
— Pobrezinha! - Comentou tristemente.
ouviu o sino que Enrico tocava quando algum pedido estava pronto. Ela foi até lá e pegou o pedido. Seguiu tranquilamente até a mesa e serviu-a, retornando para seu lugar no balcão.
— E ele? Já apareceu? - Perguntou curiosa enquanto observava indignada os paparazzi parados na entrada.
— Nada ainda.
— Otário! Deixou tudo nas costas dela. - Falou irritada enquanto voltava a encarar .
— Ué? Agora, está defendendo ela? - Perguntou provocativamente.
abriu a boca para responder, mas foi interrompida pelas risadas de que tentava não chamar a atenção cobrindo a boca com as mãos.
— Está pirando? - Perguntou encarando-a como se fosse louca. apontou para a frente, ambas olharam na mesma direção e começaram a rir.
Avistaram Enrico fingindo limpar a mesa que ficava atrás de FKA que nem tinha noção do que estava acontecendo enquanto mexia em seu celular. Ele ficava em ângulos que pudessem permitir que aparecesse nas fotos tiradas pelos paparazzi. Sua pose era inclinada na direção da mesa, limpando-a com um pano, mas o rosto estava estampado com sua melhor expressão sedutora na direção das câmeras. Ele mudava de local a cada instante, mas sempre mantendo a mesma expressão.
— Enrico sempre me matando de vergonha! - Falou irritada enquanto colocava a mão na testa e chacoalhava a cabeça em negação. Bufou entediada e seguiu com passos decididos até ele, parou atrás dele puxando-o pelo colarinho da camisa verde musgo e arrastando-o em direção a cozinha, enquanto o mesmo reclamava e ela dava um esporro nele.
e riram da cena.
Elas voltaram a se apoiar no balcão e observar toda a cena enquanto uma única pergunta não saía da cabeça de .
“Onde está você, Rob?” - Pensou suspirando tristemente.


Capítulo 5 – Família

“A vida pode dar muitas voltas e me levar por diversos caminhos, mas onde estiver minha família lá estará meu coração.” - Autor desconhecido.


Dias depois…
O sol estava brilhando lá fora, os passarinhos pareciam cantar alegremente enquanto voavam ao redor de que atendia um dos seus clientes do dia com um enorme sorriso no rosto. Fogos de artifícios, estrelas cadentes, pássaros, purpurina, tudo parecia envolvê-la em sua aura de felicidade. Sentia-se tão leve que poderia sair flutuando pela cafeteria como uma bolha de sabão que explodiria quando atingisse o teto branco.
A felicidade lhe consumia com a expectativa de conseguir um novo teste. Aguardava ansiosamente pela resposta de Veronica sobre a oportunidade de participar do comercial de uma nova marca de creme dental. Não era uma vaga em uma série de TV, mas precisava apenas de uma chance e quem sabe assim, seus pais enxergassem o seu potencial e aceitassem suas escolhas.
Suspirou enquanto o sorriso continuava colado em seu rosto. Caminhou de volta ao balcão de forma contida enquanto segurava o bule de café quente, guardando-o com cuidado para não se queimar - algo de costume. Acomodou-se novamente em seu costumeiro balcão e pegou o celular no bolso do avental. Foi como se tudo estivesse dando o sinal de que daria certo ao menos uma vez na sua carreira e o seu celular vibrou com a mensagem confirmando que a vaga era dela e em anexo as falas que deveriam ser estudadas.
Os seus olhos se arregalaram ao ler trocentas vezes a mensagem da sua agente em seguida dando lugar às lágrimas que sentiram-se na obrigação de dar o ar da graça em comemoração, secando-as ligeiramente e evitando que os outros percebessem.
— HEY! HEY! HEY! - Anunciou uma voz animada, fazendo com que tomasse um susto e quase deixasse o celular cair no chão. Respirou fundo com uma das mãos no peito enquanto tentava se acalmar. Virou-se na direção da voz e suspirou, revirando os olhos enquanto guardava o celular no avental.
— Escandaloso, como sempre! - Sussurrou ao se aproximar de , segurando o riso ao observarem ele com mais atenção.
Faziam algumas semanas que Joey Tribbiani e sua namorada, mãe de , haviam viajado para o Havaí numa comemoração de aniversário de namoro. E estava escancarado que eles haviam realmente curtido todo o sol que tinham direito, pois Joey estava vermelho feito um tomate. Vestia uma camisa de botões azul marinho estampada por flores vermelhas, bermuda preta e calçava chinelos. O colar de flores que costumavam colocar nos visitantes, continuava pendurado em seu pescoço. O óculos escuro estava descansando no topo da sua cabeça grisalha.
Todos o adoravam, até mesmo os clientes, era o tipo de pessoa que contagiava as outras com sua alegria e suas palhaçadas, principalmente, as asneiras que soltava vez ou outra. perdeu as contas de quantas vezes desejou que seu pai fosse como Joey, mas, infelizmente, a realidade era outra.
— Hey, Joey! Curtiu mesmo o Havaí hein! - Enrico cumprimentou-o dando aquele abraço e aperto de mãos, seguido de alguns tapinhas nas costas. O sorriso de Joey foi substituído por uma careta de dor enquanto soltava um riso que parecia mais um gemido doloroso. As meninas cobriram a boca com as mãos enquanto tentavam disfarçar a risada que queria escapar. Enrico se afastou, ficando de costas para as meninas que estavam atrás do balcão.
Joey descansou as mãos na cintura e respirou fundo em puro alívio e falou: — E vocês? Não vão me dar um abraço? - Perguntou com um sorriso forçado no rosto, mas o olhar era de puro desespero.
— Cadê a mamãe? - Pergunta numa tentativa de mudar o assunto e poupá-lo do sofrimento, pois sabiam que ele jamais admitiria que estava realmente doendo.
— Foi ao salão de beleza. Não parou de dizer a viagem inteira que precisaria de uma boa hidratação quando voltasse. - Falou revirando os olhos e dando de ombros.
— Bem típico dela. -
Todos riram.
seguiu para o caixa para atender um cliente enquanto retornava para próximo do grupo.
— E o Havaí é tão bom quanto dizem, Joey? - Ela perguntou com interesse enquanto se aproximava e sentava em uma das cadeiras próximas.
— Aquele lugar é maravilhoso! -
— Quando eu for uma coreógrafa famosa e estiver nadando no dinheiro irei ao Havaí e também para as ilhas Maldivas. - Comentou sonhadora enquanto descansava o rosto em uma das mãos.
seguiu até a mesa recém-ocupada por um cliente, anotou o pedido e entregou para Enrico.
— O dever me chama! - Falou ele seguindo para a cozinha com o pedido em mãos. retornou ao balcão.
— Maldivas é maravilhoso! - Comentou ela enquanto prestava atenção na conversa.
— E como você sabe? - Perguntou numa tentativa de mexer com quem estava quieto.
revirou os olhos.
— Instagram, querida. - Respondeu impaciente.
fez pouco caso da resposta e voltou sua atenção para Joey.
— Pode deixar que vou levar você, Jane e até mesmo, e . - Falou sorridente enquanto cutucava o esmalte vermelho de uma de suas unhas.
— Fique tranquila que vou ficar famosa bem antes de você. - Comentou debochada enquanto um sorrisinho provocador estampava seu rosto.
— Estava bom demais para ser verdade… - Comentou Enrico derrotado, soltando um suspiro ao seguir até com a bandeja de comida. Ela aceitou com cuidado e seguiu até a mesa, servindo o cliente e retornando para o grupo.
— Fiquem tranquilas que muito em breve, todos terão condições de ir. - Falou Joey tentando evitar que se iniciasse os desentendimentos que estava cansado de presenciar e que na maioria das vezes, começava pelos comentários venenosos de .
— Como assim? - Perguntaram todos com expressões que misturavam surpresa, expectativa e espanto com o comentário do patrão.
— Para isso acontecer devemos continuar desempenhando o excelente atendimento. Então, vamos voltar ao trabalho?! Já conversamos muito e tenho várias coisas para verificar com vocês. - Falou dando o assunto por encerrado, seguiu em direção a cozinha fazendo um sinal com a mão para que Enrico o acompanhasse. Ele seguiu Joey, dando de ombros ao passar pelas meninas.
As meninas deram de ombros umas para as outras e resolveram fazer o mesmo: voltar ao trabalho.


☕☕☕☕☕


O expediente estava quase se encerrando, a cafeteria estava vazia e os silêncio reinava enquanto todos estavam focados em suas atividades. começava a conferir o caixa, limpava as mesas, varria o chão e Enrico limpava toda a cozinha. Joey havia ido embora alegando que tinha que buscar Devon no salão de beleza e que precisavam se preparar para um evento que deveria comparecer.
— E a despedida do Enrico? - Perguntou num tom baixo enquanto olhava para a cozinha algumas vezes, tentando se certificar que o mesmo não ouvisse a conversa das meninas.
e pararam suas atividades.
— Eu nem tinha pensado nisso ainda. Ele só tem mais duas semanas com a gente e depois vai entrar em estúdio para gravar o álbum de estreia. - Falou pensativa enquanto dava de ombros, mas a sua expressão era triste.
sabia que não seria a única a sentir falta de Enrico. Por mais que odiasse admitir, todos sem qualquer exceção, eram sua família e mesmo com os desentendimentos. Que família não briga entre si? Seria esquisito não vê-lo todos os dias, acompanhar as brincadeiras e a cantoria que costumava rolar em dias mais calmos. Jamais admitiria isso, mas o amava como a um irmão mais velho. É, realmente sentiria falta. - admitiu para si mesma.
— Vai ser tão esquisito quando Joey contratar outra pessoa para assumir a cozinha. - Ela falou enquanto voltava a varrer o chão.
Todas ainda tentavam manter a conversa entre si.
— Ele não… - Soltou no automático, interrompendo repentinamente ao se dar conta do que havia acabado de revelar. Instantaneamente, e largaram suas tarefas e seguiram rapidamente até , parando em frente ao caixa. A curiosidade estava estampada no rosto de ambas que encaravam-na ameaçadoramente.
— Pode abrindo o bico. - Ordenou enquanto encarava-a seriamente.
— Não confia em mim, ? - Perguntou .
— Ei! - Reclamou ofendida ao entender o comentário da jovem.
Ela suspirou dando-se por vencida, pois sabia que de uma forma ou de outra, as meninas ficariam sabendo das notícias.
— Eu sei que posso confiar em você, . - Esclareceu seriamente, continuando — Mesmo tendo roubado o Enrico de mim, mas tudo bem! - Finalizou com um sorriso brincalhão no rosto.
cruzou os braços, revirando os olhos, mas com um sorriso satisfeito no rosto. só não sabia se ela estava satisfeita em ouvir que confiava nela ou a confissão de que doeu ter perdido o Enrico. Suspeitava que seria pelos dois.
— Anda, ! - Pediu enquanto checava rapidamente se Enrico continuava cantarolando concentrado na cozinha. também verificou e quando teve certeza que não corriam o risco de serem ouvidas,resolveru passar a informação completa.
— Outro dia, ouvi Joey e minha mãe. Ele vai voltar para a cozinha. - Revelou dando de ombros e completou: — Segredo absoluto, por favor!
e se encararam pensativas por alguns instantes.
— Então, não vai contratar outra pessoa para substituir o Enrico? - Perguntou confusa.
negou com um gesto de cabeça.
— Ele não acredita ser possível encontrar alguém com as habilidades de Enrico. - Explicou.
— Nesse ponto, não concordo. Ninguém é insubstituível. - Comentou pensativa.
— Se for assim, o que vai fazer quando cada uma de nós sair? - Questionou-se preocupada.
— Ele sabe dos nossos planos e inclusive, nos dá a maior força para não desistir. - Falou seriamente, a preocupação lhe dominando.
fez um gesto para fazer menos barulho e checou novamente a cozinha.
— Sinceramente? Eu não sei. - Disse dando de ombros.
— Eu não acho uma ideia ruim, Joey retornar ao trabalho e além do mais, o ideal é o dono estar sempre por perto. Sabemos que não é ruim quando ele fica aqui direto, torna o dia até menos estressante. - Confessou enquanto apoiava um dos braços no balcão. As meninas concordaram com um gesto de cabeça, ao ouvirem atentamente a opinião da amiga.
Sabia que Joey confiava cegamente em cada um deles e que a saída do Enrico não seria nada fácil, mas acreditava que ele deveria se preparar para o dia em que cada uma das meninas teria que seguir outro caminho.
— Eu não vou mentir para vocês e também, não tem necessidade já que nos conhecemos muito bem… - falou repentinamente enquanto tinha uma expressão de seriedade. Continuou, enquanto e ouviam a jovem atentamente e temendo o que estava por vir: — Eu serei a próxima! - Revelou.
— Graças a Deus! - Soltou aliviada.
revirou os olhos, mas a sua expressão denunciava um sentimento diferente que não soube identificar.
— Como assim? - Perguntou aumentando um pouco o tom de voz.
— Shiuuu - e pediram para que a amiga diminuísse o tom de voz, todas voltaram novamente a atenção para a cozinha e se certificaram que ainda era seguro manter a conversa por mais que essa parte Enrico soubesse dos planos da namorada.
— Assim que possível, Enrico e o empresário vão deixar as coreografias dos clipes por minha conta e aí, já sabem, né? O sucesso vai ser instantâneo. - Gabou-se com um sorriso convencido no rosto.
deu um assovio de surpresa.
— Com certeza! Você tem talento, né ? - Perguntou buscando concordância por parte da amiga.
Ela encarou-a incrédula com o que ouviu.
, não seja uma pessoa horrível e diga a verdade! - Apelou fazendo uma chantagem emocional na amiga.
Ela suspirou derrotada, mas não se daria totalmente por vencida.
— Desde que não seja o Enrico montando as coreografias… - Falou risonha cruzando os braços.
deu de ombros, ignorando o comentário.
— Admito que fico feliz por estarmos correndo atrás dos nossos sonhos, mas admito que dói saber que em breve não estaremos todos juntos. -
Todas concordaram com um gesto de cabeça, a expressão de pesar e uma tristeza bem no fundo do coração.
Não se sabe se foi pelas emoções do momento - e realmente esperava que sim - resolveu abrir seu coração.
— Você é realmente boa e vai dominar o mundo. Eu vou sentir sua falta e do Enrico quando saírem. - Confessou sorrindo levemente.
A princípio foi pega de surpresa pelas palavras ditas pela jovem, mas em seguida, seus olhos se encheram de lágrimas.
— Awwwn - Reagiu beirando as lágrimas, jogou metade do seu corpo por cima do balcão numa tentativa de abraçar as amigas sem precisar sair do lugar. Ambas passaram os braços em volta uma das outras.
— Não chore por mim, baby! - Debochou enquanto tentava secar discretamente uma lágrima que escorria por sua bochecha.
— Palhaça! - Reagiu envergonhada com o comentário.
sorriu verdadeiramente com lágrimas nos olhos também.
— É o fim dos tempos? - Perguntou Enrico repentinamente, assustando-as que deram um leve gritinho.
— Enrico! - Reclamaram ao mesmo tempo enquanto dividiam expressões emocionadas, ainda em voltas nos diversos braços.
— Não me chamaram para o abraço coletivo. - Soltou fazendo um biquinho e uma carinha triste, fingiu até secar algumas lágrimas com o pano de prato que estava pendurado em seu ombro esquerdo.
— Ah, vem cá! - Chamou com o rosto vermelho enquanto ria e chorava ao mesmo tempo.
E ali envolvidos em um abraço coletivo, compartilhavam todos os sentimentos de cada um. Seja o medo do futuro, a rejeição da família de sangue, as dores dos vários “não” recebidos, a iminente separação. O fato é que compreenderam que família não é unida apenas por sangue e sim, pelos sentimentos que uns nutrem pelos outros, e o mais importante, em breve, seguiriam a lei das famílias: caminhos diferentes serão trilhados por cada um, mas sempre estariam por perto.


☕☕☕☕☕


Família era um assunto muito delicado para ela e que doía no fundo da alma. Foi magoada tantas vezes, por diversas pessoas e situações, mas o que realmente lhe machucava dia e noite era a mágoa que carregava por seus parentes de sangue. Uma ferida profunda e que continuava infeccionada, sem qualquer iminente chance de ser suturada. Qualquer pessoa poderia ter encher de pedradas, mas quando uma delas era atirada por seu pai ou mãe, machucava mil vezes mais. E o pior de tudo isso, era saber que eles não compreendiam o tamanho do estrago que lhe causavam.
Ela sabia que seus pais lhe amavam, mas utilizavam esse sentimento como desculpa para forçá-la a aceitar um destino que não queria para si. Sabia que apenas desejavam o que acreditavam ser o melhor e também, não queriam que se machucasse ao encarar o peso que o mundo lança em suas costas. Queriam protegê-la de tudo o que hoje está enfrentando e tem consciência do quanto as pessoas podem ser cruéis, insensíveis e egoístas, mas não enfrentar tudo isso significaria não estar lutando pela sua verdadeira felicidade: ser atriz.
queria apenas atuar e ter dinheiro suficiente para se sustentar. Queria dar vida aos personagens e fazer com que todo o mundo conhecesse cada um deles. Essa sim, seria sua verdadeira felicidade.
Seria o seu paraíso.
Mas e quando o seu paraíso tem apenas você?
Sabia que a dor de não ter contato com seus pais estaria sempre ali, machucando-a e lembrando-a de que faltava algo. Queria realizar o seu sonho, mas ter os seus pais por perto e poder compartilhar toda a sua felicidade. Seria pedir muito conseguir ter ambos?
Desde que resolveu largar Utah e tentar realizar o seu sonho em LA estava sem ter contato com seus pais. Abandonou-os, a pizzaria e o possível casamento que teria com algum morador da cidade. E fingiu ser outra pessoa, uma que fosse corajosa e não temia nada ou ninguém. Assim tem seguido os seus dias, mesmo que já tenham fechado diversas portas em sua cara e enfrentado os dias mais difíceis em que tudo parece dar errado, numa tentativa de convencê-la que fez a escolha errada.
Sentiu o celular vibrar em seu bolso, deixou o roteiro do comercial em cima da cama e viu o visor: uma mensagem de Catherine dizendo que estava a caminho de LA e queria ver a irmã. estranhou o fato dos seus pais terem deixado a irmã viajar para vê-la, mesmo assim perguntou o horário que chegaria e onde deveria buscá-la. Largou o celular e pediu aos céus que Cat não trouxesse problemas na mala.


Capítulo 6 – Catherine

Catherine estava envolta em uma aura de felicidade desde o nascimento – a caçula era uma das pessoas favoritas de e que mais fazia falta nos momentos ruins – quem conhecia se contagiava. Entretanto, impulsiva e teimosa até o último fio de cabelo, mas era o perdão em pessoa. Nunca viu a caçula guardar uma mísera mágoa em seu coraçãozinho doce. Gostava de zoar dizendo que sofria da síndrome de Dory e que todas as pessoas deveriam ser contaminadas para que o mundo fosse um lugar melhor.
Desde que começou a andar e falar passou a se meter em enrascadas com suas ideias mirabolantes. Era só Cat aparecer desesperada chamando pela mais velha que sabia que teria algum pepino para resolver antes que os pais se dessem conta da confusão. A dupla colecionava momentos e segredos, contavam tudo uma para a outra, entretanto aquela vez não foi assim.
— Cadê Catherine? – Sussurrou sua mãe num tom que deixava bem claro que estava extremamente estressada.
A jovem abriu os olhos, bufou irritada e sentou-se, ajeitando as costas nos travesseiros. Era madrugada e a ligação inesperada de sua mãe a acordou no susto.
respirou fundo se preparando para a discussão que se iniciaria.
— O quê a Cat aprontou agora, mãe?
— Ah, você não sabe? – Perguntou irônica abandonando o tom sussurrado e aumentando um pouco.
— Não, mãe. –
— Catherine fugiu de casa, ! Ela fugiu! – Revelou impaciente enquanto suspirava do outro lado da linha.
retribuiu com um suspiro cansado.
— Ah, agora entendi! Fui boba ao ponto de achar que vocês tinham deixado ela vir me visitar, já que eu não sou bem-vinda aí! – Confessou indignada enquanto fechava os olhos e deixava a cabeça tombar para trás.
No fundo sabia que seria impossível a caçula ter viajado com o consentimento dos seus pais, só não quis acreditar na hipótese que a mesma fosse ter coragem de fugir. Deveria ter se lembrado de como a irmã conseguia ser impulsiva em qualquer situação, ao contrário de .
— Isso é tudo culpa sua, ! Você foi embora, nos abandonou, abandonou Catherine e olha o que sua irmã fez na tentativa de te ver! – Acusou magoada atingindo-a em cheio à milhares de quilômetros de distância.
Desde que trocou sua vida em Utah pela aventura de realizar o seu maior sonho em Los Angeles estava sem ter contato com seus pais que não aceitaram a situação. E jamais imaginou que quando tivesse contato novamente, seria para ser acusada de incentivar as loucuras de sua irmã mais nova. Esperava ansiosa pelo dia em que aceitariam a escolha que ela havia feito para tentar tornar o seu sonho realidade, mesmo que ainda não tivesse dado certo – e daria sim, acreditava fervorosamente nisso. Era inaceitável retornar para casa sem ter conquistado uma parcela do seu sonho.
O seu coração estava pesado pela tristeza em ter que ouvir aquelas palavras vindo da boca de sua mãe e não conseguiu evitar que lágrimas escorressem pelo seu rosto.
— Se vocês tivessem deixado ela vir, não teria escolhido sair fugida! – Rebateu enquanto a preocupação dava lugar a tristeza.
Alice chorou copiosamente do outro lado da linha, a filha podia ouvir seus soluços.
— Você sabe muito bem o quanto ela ainda é inocente, . O mundo não é brincadeira! Agora, ela está por aí sozinha indo atrás de você! Eu não aguento mais isso! Vocês querem me enlouquecer! Você, sua irmã e seu pai estão me enlouquecendo! – Alice desabafou em meio ao choro.
— Mãe, eu te entendo.
— Me entende, ? Tem certeza? Se realmente entendesse teria pensando na sua família antes de tomar qualquer decisão. O seu pai ainda está muito magoado! E você acha que é fácil para mim? Você longe e agora, Catherine por aí à mercê de algum maluco! Se acontecer alguma coisa com ela, eu nunca vou te perdoar! Nunca! – Metralhou sem dó nem piedade.
respirou fundo tentando manter a calma.
— E você acha que não me preocupo com ela? Pode deixar que amanhã ela estará aqui segura e vou dar um belo de um esporro nela! – Garantiu seriamente.
— Vou contar ao seu pai e iremos imediatamente! Ela pode dizer adeus à viagem de formatura! – Avisou irritada, parecendo estar mexendo em alguma coisa.
suspirou.
— Acalme-se, tudo bem? Vocês não podem simplesmente fechar a pizzaria e vir. Se você quiser, eu mesma a levo de volta no sábado. – Sugeriu, mesmo tendo plena consciência de que se arrependeria da decisão.
Alice ficou em silêncio, parecendo considerar a proposta. Até que um suspiro derrotado escapou.
— Tudo bem! Só não pode passar de sábado e deixe bem claro que ela sofrerá as consequências quando chegar! Não dê mole para ela!
— Pode deixar, mãe. – Concordou enquanto deitava novamente.
— Boa noite, . Se cuida. – Desejou num tom carinhoso e que era motivo de muita saudade para a jovem.
— Vocês também.
Ela guardou o celular novamente no criado-mudo ao seu lado enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Estava acostumada com esse tipo de tratamento por parte da mãe quando o assunto era a caçula, mas até mesmo essas situações faziam falta para a garota e mesmo que muitas das vezes, era o motivo da mágoa que carregava em seu coração. Acomodou-se melhor entre os travesseiros, bocejou e fechou os olhos. Teria o prazer de arrancar a orelha da irmã no dia seguinte.


☕☕☕☕☕


— Precisamos de mais vinte quilos de farinha de aveia... – anotava concentrada a contabilização dos materiais que estavam em falta no estoque. Uma tentativa de cumprir suas tarefas daquele expediente em troca de paz de espiríto – somente em alguns casos – enquanto a ansiedade em rever sua irmã caçula lhe consumia.
Ficou absorta em quantidades e produtos até que foi surpreendida por uma esbaforida.
! – Chamou-a num tom de desespero fazendo com que a jovem parasse as anotações e olhasse-a com uma expressão de confusão. estava sentada no chão, com as pernas dobradas embaixo de si, em frente a uma enorme prateleira de metal cinza que abrigava diversos sacos de farinha. O caderno do estoque em seu colo e a caneta na mão esquerda.
— O que foi? – Perguntou num tom de curiosidade enquanto observava com suas madeixas loiras presas num rabo de cavalo, vestindo preto dos pés à cabeça, assim como .
— Você não vai acreditar! Robert está aqui! – Anunciou ela empolgada em poder dar a notícia a amiga.
Assim que absorveu as palavras da amiga, arregalou os olhos quase os expulsando das órbitas e a boca se abriu num enorme ‘O’. E como se fosse impossível, as batidas do seu coração se agitaram como se estivesse correndo uma maratona.
— Como assim? Sem mais nem menos? Sem avisar antes? – Perguntou brincalhona enquanto se levantava toda desajeitada. A surpresa deu lugar à felicidade que estampou perfeitamente o seu rosto.
Ela e riram.
— Vamos, vamos, vamos! – Apressou-a brincalhona enquanto dava palminhas para dar ênfase as suas palavras. – Seu cliente VIP lhe aguarda! – Finalizou com um sorriso de empolgação.
passou a mão na bunda algumas vezes para limpar os resquícios de poeira na roupa preta, ajeitou seu rabo de cavalo e seguiu despreparada para estar frente a frente do seu homem. Riu enquanto seguia para fora da sala.
“Seu homem!” – Riu baixinho ao se dar conta de seu pensamento brincalhão.
Quando se aproximou do balcão, observou a movimentação da cafeteria naquele dia. Umas poucas pessoas ocupando algumas mesas. Respirou fundo tentando acalmar seu coração e passou a língua pelos lábios que estavam secos. Sacou sua caneta e seu fiel bloquinho que estava dentro do bolso do seu avental preto. Até que finalmente localizou Robert. Ele estava sentado em uma mesa no fundo da cafeteria, ocupava uma cadeira de costas para onde estava. Um boné preto escondia suas famosas madeixas e vestia uma camisa branca e calça moletom preto. Não conseguiu enxergar o que ele fazia, pois, as costas largas escondiam o que estava a sua frente. Ela respirou fundo e reuniu coragem para se aproximar dele, seguindo rapidamente até a mesa.
— Ora, ora, tenho um cliente novo para atender! – Soltou o comentário brincalhão, mas que se arrependeu amargamente ao ver a expressão fechada do homem. Ele segurava o cardápio e a encarava com uma expressão extremamente séria que deixou a jovem sem graça.
Inesperadamente, recebeu um discreto sorriso que rapidamente foi substituído pela expressão séria. Enquanto ele estava olhando atentamente o cardápio, aproveitou para analisá-lo com mais atenção. As maçãs do rosto estavam mais coradas como se tivesse ficado por um longo período exposto ao sol e parecia ter perdido alguns quilos. O cabelo estava com as laterais bem mais curtas do que de costume e os seus braços também, com a pele mais avermelhada pareciam um pouco mais definidos. O filho da mãe continuava muito atraente e por mais que muitos não o considerassem bonito, ela achava que era. Não tinha culpa se ele fazia o seu tipo.
— Um café puro... – Pediu e continuou avaliando o cardápio com calma. Continuou: - croissant de queijo. – Finalizou, fechando o cardápio e sorrindo educamente para a jovem que estava em pé ao seu lado anotando tudo com rapidez.
Terminou de anotar e quando voltou a atenção para o homem, ele já estava absorto em algo na tela de seu celular. se afastou, retornando até a cozinha e entregando o pedido para Enrico.
— É, não está em um bom dia. – Comentou Enrico risonho enquanto secava a mão no pano branco que estava em seu ombro, pegando o papel da mão de .
Ela deu de ombros retornando para o balcão.
— Um cliente novo para atender?! – Questionou ao seu aproximar com uma expressão de riso, apoiando-se no balcão ao lado da amiga.
suspirou chateada.
— Ele nem me deu confiança e nem foi educado! Que palhaço! – Ela reclamou enquanto sua atenção estava nas costas do homem que continuava com o celular na mão.
— Tudo bem que ele nunca exala simpatia quando vem aqui, mas está muito mais na dele. – Constatou enquanto olhava na mesma direção que a amiga.
— FKA esteve aqui hoje?
— Sim, bem cedo até. Acho que estão evitando se esbarrar aqui no café. Se bem que o mundo deles não é tão grande assim, uma hora isso vai acontecer em algum evento.
— Não sei. – deu de ombros.
— Acho que a pior parte de ser famoso é ter que aturar desconhecidos falando do seu relacionamento e não ter como evitar o ex.
riu com o comentário da amiga.
— Você vive quase a mesma coisa todos os dias. – Lembrou-a enquanto fazia um gesto discreto com a cabeça em direção à cozinha ocupada por um concentrado Enrico.
revirou os olhos deixando escapar um discreto sorriso.
O barulho da porta da cafeteria sendo aberta chamou a atenção das amigas que interromperam a conversa. quase pulou o balcão com tamanha felicidade ao ver a jovem de cabelo lilás acompanhada da sua irmã caçula.
!
— Catherine!
Disseram as irmãs empolgadas enquanto se envolviam num abraço apertado repleto de saudades.
— Senti muito a sua falta! – Confessou Cat com os olhos repletos de lágrimas, respirou fundo tentando evitar que o choro escapasse. Envolveu ainda mais forte o corpo da sua irmã.
— Eu também.
— Quanto amor! – Comentou enquanto seguia até e sorria dando um aceno com uma das mãos.
Ela e riram enquanto observavam felizes as demonstrações de afeto das irmãs, assim como todos os clientes que estavam na cafeteria e tiveram a atenção roubada pelo estardalhaço feito por elas. Todos que estavam presentes ali tinham a mesma expressão sentimental no rosto enquanto observavam o reencontro das duas. Após alguns minutos, se afastaram dos braços uma da outra e sorriram felizes.
— Como você cresceu! – Comentou enquanto Cat segurava as barras do seu vestido azul com flores amarelas e dava uma pequena volta, um sorriso alegre estava em seu rosto.
— Uma hora isso teria que acontecer. – Respondeu a caçula dando uma gargalhada. — Ai! – Gemeu ela ao receber um beliscão. Esfregou com uma das mãos o braço esquerdo, encarando a mais velha com uma expressão de irritação. — O que eu fiz dessa vez? – Perguntou indignada enquanto sentia a ardência do beliscão que havia deixado uma marca vermelha em sua pele.
— O que eu fiz dessa vez? – Repetiu debochada enquanto encarava a irmã com uma expressão séria. Continuou: — Mamãe ligou estressada e querendo me matar! Como você foge sem avisar ninguém? Enlouqueceu? O mundo é perigoso, Cat. – Falou suspirando enquanto tinha uma expressão preocupada ao encarar a caçula.
— Não pareceu quando você resolveu sair de casa. – Rebateu Catherine com uma expressão de deboche.
respirou fundo e pediu paciência aos céus.
— Ai meu Deus! É o Robert Pattinson! – Falou Catherine num tom de espanto enquanto abria a boca e arregalava os olhos. Suas mãos estavam encostadas em cada lado de seu rosto. Ela dá um passo para frente com a intenção de ir até ele, mas a irmã a segura pelo braço, impedindo-a.
— Cat, se comporte, por favor. – Pediu impaciente enquanto baixava o tom de voz, olhando com urgência na direção de Robert para ter certeza que ele não ouviu o escândalo que a irmã fez. E quase teve um treco quando viu que o mesmo já estava com a atenção voltada para elas e pior, ele sorria. Ficou indignada já que ele não teve a decência de sorrir daquela forma para ela mais cedo.
Quando voltou a atenção para sua irmã reconheceu que não adiantaria impedir, pois ela já estava decidida. Derrotada, soltou o braço da jovem e seguiu para o balcão sem coragem de ver o que aconteceria.
— Calma, . Você está muito sentimental hoje. – Comentou numa tentativa de acalmar os nervos da amiga.
— Relaxa! – Pediu. Continuou: - O Robert parece estar se divertindo com a situação. – Falou que estava sentada em uma cadeira e com a atenção voltada para a caçula dos .
Nem conseguia entender o motivo de estar tão agitada com aquela situação. Por isso, tentou acalmar os ânimos e deixar que tudo fluísse no seu devido curso – pensamento mais zen impossível.
, o pedido do Robert. – Chamou Enrico enquanto se aproximava calmamente com a bandeja, entregando-a a jovem.
— Obrigada.
— E aí, ! – Cumprimentou a jovem de cabelo lilás com um sorriso simpático enquanto dava um aceno. – ih, quem é aquela? Nova namorada do Pattinson? – Perguntou provocadoramente, lançando um sorriso zombeteiro na direção de que revirou os olhos achando sem graça a brincadeira do amigo.
— Não perde a chance de ficar quieto, né. – Devolveu ela enquanto seguia em direção a mesa que Robert ocupava e parou abruptamente ao ver que sua irmã ocupava a cadeira em frente ao homem. Ela voltou a se mexer e aproximou, servindo o que foi pedido por ele enquanto Catherine estava levemente corada. O seu rosto descansava em suas mãos com os cotovelos apoiados na mesa, tinha uma expressão abobalhada enquanto admirava Robert.
— Mais alguma coisa? – Perguntou educadamente enquanto encarava o homem que bebericou o café. Ele continuava de boné tendo apenas retirado o óculos. olhou bem dentro daqueles olhos e segurou a vontade de suspirar. Amava aquele olhar e poderia ficar ali trezentos anos luz.
— Que tal uma visita ao set de filmagens do meu novo filme? – Sugeriu ele com um sorriso enquanto inclinava levemente a cabeça na direção da jovem.
encarou-o surpresa e olhou para a sua irmã que tinha um sorriso convencido no rosto. Não acreditou que estava realmente ouvindo aquele convite.
— Não será preciso! Ela precisa ir embora... – Tentou dizer , que foi logo interrompida por sua irmã caçula.
— Não preciso, não. – Protestou indignada enquanto cruzava os braços.
A mais velha encarou-a com uma expressão ameaçadora enquanto mordia os lábios numa tentativa de não gritar com a caçula.
está te esperando. – Falou num tom irritado, mas com um sorriso no rosto enquanto Robert assistia a cena com uma expressão de diversão enquanto mastigava o seu croissant.
As jovens voltaram a atenção para o local onde estava e a mesma, acenou sem graça na direção das duas. observou rapidamente as expressões de diversão de Enrico e que pareciam prestes a gargalhar.
— Eu pensei que fosse ficar aqui com você, matando as saudades. – Falou Cat com uma expressão triste enquanto descruzava os braços e encarava a irmã.
suspirou quase caindo na tentativa da jovem em amolecer seu coração.
— Vou sair muito tarde e a ficou de te levar para conhecer alguns lugares... – Tentou argumentar, mas foi interrompida pelo protesto da melhor amiga.
— Ei! – Protestou que prestava atenção no desenrolar da situação.
voltou a atenção para a jovem e fez uma careta com um pedido silencioso, mas que poderia significar um grito de “Me ajuda aqui!”. acabou rindo e saindo em socorro da amiga.
— É, Cat. estava aqui dizendo que deveria te levar para conhecer cada centímetro da Sunset Boulevard. – Falou num tom simpático enquanto seguia até e agarrava-a sem delicadeza pelo braço direito, levantando-a da cadeira e forçando-a seguir até a mesa em que estavam as irmãs e um divertido Pattinson.
suspirou derrotada e lançou um olhar para e que significava “Estão me devendo essa!”. Recebendo como resposta um olhar de de “Você é a melhor!” e outro de que dizia “Nem pense em cobrar!”.
Enquanto acontecia todo esse desenrolar das meninas, Robert e Enrico se divertiam infinitamente com toda a situação. Só conseguiam pensar que as mulheres gostavam de dramatizar tudo e principalmente, se preocupavam demais com as coisas. Enrico não conseguia entender qual era o problema da irmã caçula de passar alguns minutos com o Pattinson já que ele mesmo havia convidado e estava parecendo se divertir. E isso era um ponto positivo já que o cara chegou ali com uma cara de que estaria há vários meses sem saber o que é ter uma mulher na sua própria cama.
— Tá bom! – Anunciou Cat dando-se por vencida. Fingiu chateação, mas a verdade é que estava se divertindo – e muito – com o desespero da irmã. Desde que aprendeu a falar descobriu o quanto era divertido deixar a mais velha irritada. Só conseguia pensar que a fuga havia valido muito a pena e principalmente, o quanto sentia falta de estar com ela.
suspirou aliviada parecendo que havia tirado uma bigorna das costas.
— Ah, tem certeza? - Perguntou Robert com um sorriso decepcionado, mas o seu olhar entregava que estava se divertindo.
— Foi um prazer conhecer o senhor! – Soltou ela demonstrando toda a educação que sua mãe lhe deu.
ficou vermelha feito um tomate enquanto se esforçava para segurar a risada.
— Estou tão velho assim? Você tem o quê? Dezoito anos? – Perguntou ele com o rosto vermelho e uma expressão de indignação.
— Dezessete.
— Não é uma diferença tão grande assim. – Argumentou ele dando de ombros enquanto ignorava o fato de ser quinze anos mais velho do que Catherine.
A jovem deu de ombros enquanto se levantava e sorria em despedida.
— Até mais tarde, . – Despediu-se seguindo animadamente em direção de . Deram tchau para e Enrico, saindo alegremente da cafeteria, deixando apenas o silêncio.
Robert e se encararam com o rosto vermelho até que finalmente começaram a rir.
— Ela é uma graça! – Comentou enquanto se acalmava.
confirmou com um gesto de cabeça enquanto secava algumas lágrimas.
— E pelo visto te irritar é sua função favorita. – Falou com um sorriso fofo enquanto tomava o restante de seu café.
— Com certeza! E toda vez acho que não vou ceder, mas acabo dando mole. – Disse com um sorriso terno enquanto recolhia o prato e a xícara, devolvendo para a bandeja que estava em sua mão.
— Uma hora você dá o troco.
— Será possível? – Questionou num tom divertido.
Ele deu de ombros enquanto se levantava da cadeira. Colocou novamente seus óculos, guardou seu celular no bolso do moletom e voltou sua atenção para que estava em pé próximo a ele.
— Deseja mais alguma coisa? – Perguntou solícita enquanto observava-o tão próximo, podendo sentir o perfume masculino que ele usava naquele dia.
— Não. Muito obrigado! – Respondeu com um sorriso.
— Disponha – Ela disse lançando um último sorriso simpático enquanto seguia com sua bandeja até o balcão. Ele seguiu atrás dela, porém continuou até o caixa.
observou ele se afastar com um enorme sorriso bobo no rosto enquanto abraçava a bandeja, agora vazia.


☕☕☕☕☕


— Cat! – Resmungou enquanto cobria a cabeça com o travesseiro numa tentativa inútil em abafar o barulho do celular que tocava incansavelmente.
Seria a segunda vez naquela semana que era acordada por uma ligação e só de pensar em ter que encarar a sua mãe novamente já lhe batia o desespero e pior, sabia que em alguns dias teria que levar sua irmã de volta para sua cidade natal e não estava preparada para encarar os seus pais depois de todos esses anos.
— NÃO É O MEU! – Gritou, a voz ecoando da cozinha.
— NÃO GRITA ESSA HORA! – Gritou de volta repreendendo a irmã. Ouviu passos descalços pelo pequeno corredor e depois o sussurro implicante: — Você começou! – Falou ela enquanto enfiava a cabeça dentro do quarto e tinha um sorriso debochado estampado em seu rostinho angelical.
revirou os olhos e arremessou o travesseiro em sua direção, errando grotescamente a mira e fazendo cair no chão. As duas riram e a caçula mostrou a língua numa careta provocadora.
O celular voltou a tocar.
— É o seu, maninha. – Falou Catherine enquanto seguia até o celular que estava jogado no chão. Olhou o nome no visor e atendeu sem a permissão da irmã.
— Catherine falando. – Atendeu num tom de voz animado.
— Quem é, Cat? Não era para atender! – Reclamou ao se sentar na cama e observando sua irmã que parecia estar prendendo a vontade de rir.
— Uma tal de Sunshine... – Tentou continuar ao afastar o aparelho do ouvido, mas a mais velha ao ouvir o nome quase voou da cama em direção a irmã. Arrancou o celular das mãos dela em desespero.
— Sunshine? Claro! Claro! Com toda certeza...
Catherine sentou-se na cama enquanto observava a irmã andar de um lado para o outro do quarto.
— Fica calma! Eu vou o mais rápido possível! Me passa o endereço por mensagem... Okay, okay... Até! – Finalizou a ligação já correndo em direção ao guarda-roupa. Arrancou o pijama e começou a vestir uma calça jeans e camiseta, calçou os sapatos aos pulos.
— Você vai sair? – Perguntou Cat tristemente enquanto observava a irmã se arrumar toda atrapalhada e explodindo depressa.
— Preciso dar uma força para a Sunshine! Parece que um garçom se acidentou em cima da hora e ela precisa com urgência de outra pessoa para ajudar na festa da Katy Perry. – Explicou tranquilamente enquanto prendia os cabelos num rabo de cavalo e se arrependeu de não ter lavado os cabelos mais cedo.
— KATY PERRY?!
— Isso! Grita mais para me expulsarem do prédio! – Ironizou revirando os olhos enquanto pegava o celular e mandava uma mensagem para pedindo para ir ficar com a caçula até que ela retornasse. Guardou o celular no bolso logo em seguida.
— Me leva! Por favor! Posso ajudar a servir! – Implorou Catherine com uma expressão pidona e que costumava derreter o coração da mais velha com facilidade.
— Não posso, Cat. Sunshine me mataria e além do mais, você vai ficar toda surtadinha quando ver os famosos.
Catherine bufou enquanto revirava os olhos.
— Graças ao meu surto... – ela fez sinal de aspas com os dedos indicadores e médios ao dizer a palavra “surto” – consegui uma visita ao set de um filme do Robert. – Falou enquanto colocava uma das mãos na cintura e com a outra jogava uma mecha do cabelo para trás, empinando o nariz em seguida.
resmungou e colocou a palma da mão aberta na testa, ainda abismada com o fato de Robert ter convidado sua irmã para conhecer o set de filmagens. Enquanto ela não ganhava nem uma bala de presente.
— Tanto faz. Já olho para aquela cara dele todos os dias. – Resmungou fingindo estar fazendo pouco caso da situação, mas no fundo queria ter sido convidada desde a primeira vez que o viu.
— Conta outra, ! Quer que eu te relembre do seu vídeo da promoção do set de Eclipse? – Perguntou irônica enquanto pegava o seu celular e começava a procurar o vídeo.
— Isso foi diferente.
— Sonhos não morrem. – Rebateu.
— Esse já está mais que enterrado.
— Ah, ! Eu posso perguntar ao Rob se você pode ir... – Falou Catherine com um sorrisinho implicante.
— E quem disse que não vou?
— Ele não te convidou!
— E você acha que confio em deixar você sozinha com ele? – Perguntou incrédula.
— E qual o problema? Ele não faria nada comigo, .
— O problema não é ele! É você! – Respondeu num tom como se fosse óbvio.
Catherine riu achando graça da ideia que se passava na cabeça da irmã.
— Pode deixar que irei pedir permissão para você nos acompanhar. – Finalizou Catherine ao se jogar de costas na cama e encarar o teto com um sorriso sonhador no rosto.
resmungou pedindo paciência aos céus.
— Cat, a vai ficar com você até eu voltar.
Catherine bufou derrotada.
— Será que o Rob vai estar lá? – Perguntou animada enquanto deitava de bruços, descansando a cabeça em uma das mãos.
— Ele é melhor amigo da Katy.
— Sempre quis conhecer a Katy Perry! – Confessou a caçula enquanto encarava a irmã que estava em pé, pegando as últimas coisas.
— Quem sabe na próxima o Robert te convide para o aniversário da Katy. – Debochou rindo enquanto ia saindo do quarto.


Capítulo 7 – Chateau Marmont

Maybe a reason why
Talvez a razão pela qual
All the doors are closed
Todas as portas estejam fechadas
So you could open one
É para que você possa abrir uma
That leads you to the perfect road
Que te leve para a estrada perfeita.
– Firework, Katy Perry.

Chateau Marmont Hotel, Sunset Boulevard.
— Sem chance, Sunshine! – Recusou enquanto uma risadinha escapava por seus lábios.
— Por favor... – A mulher insistiu docemente enquanto arrastava a amiga em direção ao pequeno banheiro que ficava disponível para a equipe do evento.
Sunshine era uma organizadora de eventos talentosíssima, muito conhecida entre os famosos por criar eventos do zero que esbanjavam criatividade e costumavam ser únicos. Conheceram-se quando se candidatou para a vaga de garçonete em seus eventos, já que precisava fazer um extra para pagar suas contas do mês. Depois disso, construíram uma amizade e que gerou muitas situações engraçadas para que ainda não aprendeu a resistir aos pedidos da amiga.
— Sabia que sua ligação não era atoa! – Resmungou enquanto entrava no banheiro e se recostava na pequena pia de vidro. Cruzou os braços e observou a amiga colocar uma enorme bolsa de viagens em cima do vaso sanitário, procurando algo com pressa.
— Te liguei porque você é a pessoa perfeita para me ajudar. – Disse ela num tom inocente enquanto se ajoelhava em frente ao vaso sanitário e continuava selecionando coisas dentro da bolsa.
— Hahaha – Forçou uma risada em tom de deboche enquanto ainda observava atentamente a amiga.
— Também te amo, ! – Falou concentrada enquanto retirava algo da bolsa com uma das mãos e lançava por cima da cabeça, em direção a que estava na mesma posição.
Ela se assustou com o objeto voador e agarrou toda atrapalhada, soltando até um gritinho de susto.
— Não, não, não! – Repetia sem parar enquanto segurava a peruca que tinha um corte que parecia ser na altura dos ombros, fios lisos e pretos com as pontas onduladas.
Ela não queria acreditar que mais uma vez – milésima talvez? – teria que se fantasiar em algum evento organizado pela amiga.
— Prontinho. – Anunciou levantando-se com tecidos vermelhos brilhantes, dobrados em seu braço esquerdo e na outra mão, segurava um sutiã da mesma cor com detalhes em prata e que tinha colado em cada bojo uma lata de chantilly envolvida com fitas vermelhas.
A boca de escancarou ao reconhecer um dos figurinos mais icônico do clipe de “California Gurls” e pior de tudo, seria ela a premiada a vesti-lo naquela festa.
— Não brinca! – Ela reagiu surpresa enquanto observava as peças serem penduradas no suporte de toalhas e Sunshine voltou sua atenção para a bolsa, pegando algumas maquiagens e acessórios.
— E eu sou de brincar? Quando digo que você é a pessoa perfeita para as minhas loucuras é a mais pura seriedade! – Respondeu sorridente enquanto terminava de arrumar as maquiagens na bancada da pia, empurrando para o lado com o quadril.
— Claro! Sou a única que não sabe escapar das suas loucuras!
Ambas riram.
— Isso também! – Assumiu descaradamente enquanto ficava de frente para a amiga que ainda segurava a peruca. – Preciso que se apresse! Essa é uma das fantasias mais aguardadas da noite. Vou te maquiar e te deixar maravilhosa. – Finalizou dando um aperto de leve na bochecha direita da amiga e caminhou para fora do banheiro.
— Como assim, uma das mais aguardadas? – Perguntou repentinamente observando-a curiosamente. Tentava entender qual a loucura inventada para o evento dessa vez.
— Toda a equipe está vestindo um figurino dos clipes da Katy. – Respondeu com uma expressão animada enquanto fechava a porta atrás de si para dar privacidade para a amiga trocar de roupa.
— Você é um gênio! – Elogiou encantada com a ideia enquanto se concentrava em trocar de roupa.
Agora, lá estava ela prestes a se tornar uma versão da Katy Perry – maravilhosa – e que teria que desfilar por toda a festa, servindo comes e bebes para milhares de convidados. Só esperava ser capaz de equilibrar uma bandeja enquanto caminhava usando saltos daquele tamanho.
Fingia acreditar que em algum momento da sua vida seria capaz de negar um pedido – ordem – de Sunshine.
Quem sabe.

☕☕☕☕

Nos últimos meses, a vida tinha ensinado uma importante lição para o Robert: dê valor aos seus amigos.
E era exatamente isso que estava fazendo naquela noite. Havia se esforçado para deixar a melancolia de lado, ignorando a vontade de apenas ir para casa e tomar uma boa cerveja ao som da sua banda favorita. Ficaria a noite toda se remoendo sobre os seus erros, se perguntando onde estaria sua ex naquele momento e se estaria sentindo a falta dele também.
Mas, a amizade de anos com Katy lhe obrigou a sair do set de filmagens direto para a festa de aniversário. Orlando Bloom havia feito o inesperado pedido de casamento e agora, ambos estavam radiantes e ele não poderia deixar de estar com os amigos num momento tão importante.
Por isso, naquela noite escolheram o Chateau Marmont como o local para a dupla comemoração: aniversário de trinta e quatro anos e o noivado.
— Pensou na minha proposta? - Perguntou Orlando enquanto segurava a sua dose de uísque, uma de suas mãos descansavam escondida em seu bolso da calça.
Robert sorriu levemente com o canto esquerdo da boca, sem exibir seus dentes e deu de ombros enquanto tomava um grande gole da sua cerveja.
— Não vem com essa! Você sabe que é perfeito para o papel! - Repreendeu num tom de indignação, mas os seus olhos revelavam o divertimento.
— Pretendo tirar férias assim que terminar as gravações. - Revelou Rob antes de tomar mais um gole de sua bebida.
— Ainda temos algum tempo até o prazo da produção. Você conseguiria suas férias e depois, já voltaria gravando.
Robert suspirou enquanto considerava a ideia.
Observou Orlando cumprimentar um casal, falar algo e se despedir deles. Tocava uma música eletrônica bem animada e quando olhava na direção atrás do homem, podia ver Katy e outros vários convidados dançando, rindo e bebendo enquanto garçonetes passavam fantasiadas com as roupas dos clipes da aniversariante. Estavam na área da piscina do hotel que era gramado, luzes ambiente, plantas e uma enorme piscina que ficava no meio do lugar. Todos estavam ao redor ou na varanda que era repleta de sofás, mesas e cadeiras.
— E então? - Questionou novamente pela falta de resposta do amigo.
— Vou pensar no seu caso e... - Falou, mas foi interrompido ao ouvir um grito feminino muito próximo de si acompanhado de som de vidro estilhaçado. Em seguida, sentiu o impacto de um peso sobre suas costas e o líquido gelado que escorreu da sua nuca por dentro da sua jaqueta preta. Precisou segurar rapidamente em um dos ombros de Orlando com a mão que estava livre, para evitar que caísse para frente. Quando olhou para o amigo só pôde ver a expressão de susto.
— Caral... - Interrompeu o xingamento ao se virar e constatar que havia uma mulher esparramada de bruços na grama. A bandeja e as taças estavam próximas, algumas taças quebradas e se mexia tentando levantar. O DJ havia interrompido a música, todos estavam sem reação enquanto a mulher tentava se levantar usando botas de couro vermelha de saltos enormes. Orlando foi o primeiro a reagir, fazendo com que Robert também reagisse. Ambos se agacharam e suspenderam a mulher pelos antebraços. Ela soltou um gemido de dor enquanto a franja da peruca estava quase tampando sua boca, impedindo que revelasse seu rosto.
— Acho que vai precisar levar alguns pontos. - Constatou Orlando ao ver sangue escorrendo da lateral do pulso até o cotovelo do braço esquerdo.
Ambos soltaram ela, permitindo que acertasse sua peruca preta no lugar que era o corte que Katy costumava usar. Pôde observar com mais atenção a roupa que vestia e era uma das roupas do clipe de California Gurls.
— Você está bem, é...? - Perguntou Katy num tom preocupado enquanto queria saber o nome da mulher.
Ela ajeitou sua peruca na cabeça que ficou um pouco mais torta para o lado direito, permitindo que olhasse o rosto melhor e não conseguiu evitar arregalar seus olhos por tamanha surpresa ao reconhecer.
?! - Soltou Robert num tom de surpresa.
Ela se virou na direção dele, seus olhos quase saltaram do rosto que estava vermelho e pôde ver que tinha prendido o lábio inferior entre os dentes.
! Você está bem? - Perguntou uma mulher que estava vestida com uma roupa social preta e sua expressão era de extrema preocupação.
Ela apenas confirmou com um movimento de cabeça e parecendo perdida, tentou se agachar para recolher a bagunça.
No mesmo instante, Robert, Katy, Orlando e a mulher que Rob descobriu se chamar Sunshine disseram ao mesmo tempo para não se preocupar, tentando ampará-la e levá-la para dentro. Ela parecendo atordoada, seguiu com eles até a área dos funcionários. Antes, Sunshine pediu que o DJ continuasse a festa e vários convidados soltaram exclamações de pena e preocupação sobre a cena que presenciaram.

☕☕☕☕

Robert ficou preocupado com ao ver seu estado mais claramente, pois a sala estava mais iluminada do que o lado de fora. Os seus joelhos estavam arranhados, sangue ainda escorria do seu braço e seu rosto estava vermelho, mas, partiu seu coração vê-la com os olhos cheios de lágrimas e uma expressão de vergonha. Ela já tinha tirado a peruca da cabeça, exibindo seu cabelo castanho preso na nuca. Parecia não ter coragem de encarar as pessoas que estavam em pé na sua frente, com expressões de pena. Passou a encarar o chão.
— Não precisa, Katy! - Falou Sunshine num tom doce enquanto impedia a mulher de se agachar para ajudar a retirar as enormes botas vermelhas dos pés da jovem.
— Eu insisto em ajudar! - Insistiu se agachando ao lado da mulher, fazendo com que se desse por vencida.
reagiu agitada enquanto chacoalhava a cabeça negando. Finalmente, libertou o lábio inferior que estava com um pequeno corte e respirou fundo, numa tentativa de segurar o choro.
— Por favor, não precisam se preocupar! Estou bem! Você precisa voltar para a sua festa, Katy! - Disse num tom controlado, mas seus olhos denunciavam seus verdadeiros sentimentos e Robert percebeu isso.
— A culpa foi minha. - Confessou tristemente.
deixou transparecer desespero enquanto se inclinava na direção da mulher que estava agachada à sua frente, segurando suas mãos.
— Não! Jamais! Eu que pisei em falso com esses saltos enormes! - Falou soltando uma risadinha enquanto exibia um de seus pés calçados com aquela plataforma enorme na cor vermelha brilhante.
Katy encarou-a com uma expressão triste.
— Ela tem razão, Katy! - Concordou Sunshine num tom doce enquanto colocava uma das mãos no ombro da mulher, demonstrando apoio.
Katy suspirou derrotada.
— Você precisa pelo menos levar pontos nesse machucado!
— Vou levá-la ao hospital hoje ainda! -
— Não precisa! Não vou atrapalhar a noite de vocês! - Protestou desesperada ainda segurando as mãos de Katy.
Robert e Orlando observavam toda a cena. Percebeu que o amigo encarava de uma forma muito esquisita.
— Você só vai atrapalhar, caso queira morrer por perda de sangue! - Soltou Sunshine num tom sério.
Robert soltou uma risadinha com o comentário dramático, fazendo com que as três mulheres o encarassem seriamente e obrigando-o a fazer cara de paisagem.
— Katy, volte para curtir sua noite! E eu cuido da . - Finalizou Sunshine enquanto descalçava a amiga.
— Concordo com a Sunshine, meu amor. A jovem vai ficar bem! - Pronunciou-se Orlando pela primeira vez, ajudando Katy a se levantar e dando um beijo em sua testa. Lançou um olhar esquisito na direção da jovem que percebeu, assim como Robert.
Katy suspirou derrotada e virou-se na direção da mulher.
— Me desculpe! Mil desculpas! - Pediu Katy num tom triste enquanto se aproximava e dava um beijo na bochecha direita da jovem.
— Relaxa! Estou ótima! - Tranquilizou-a e riu.
Katy voltou sua atenção para Robert que havia retirado sua jaqueta de couro e estava apenas com uma camisa cinza.
— Rob, você precisa se trocar! Está fedendo a álcool! - Declarou implicante enquanto fazia uma careta de nojo para o amigo.
Ele revirou os olhos e depois riu levemente com o comentário.
— Vou buscar suas coisas, ! - Disse Sunshine saindo rapidamente do local.
fechou os olhos e respirou fundo.
— Acho que é uma ótima oportunidade para ir para casa. - Declarou Robert tentando encontrar a deixa perfeita para ir embora.
— Nem pensar! A noite está só começando! Orlando pode te emprestar uma camisa, não é?
Orlando concordou.
Robert se preparou para protestar, mas o olhar sério de Katy deixou bem claro quem ganharia aquela discussão. Ele suspirou dando-se por vencido enquanto seguia Orlando, mas antes foi capaz de ver a expressão convencida de Katy.

☕☕☕☕

Orlando destrancou a porta de madeira branca do quarto, entrando e acendendo as luzes da enorme suíte. Sentiu uma tristeza lhe invadir ao ver o caminho de pétalas que seguia pela pequena ante sala até uma outra porta.
— Cuidado com as pétalas. É uma surpresa para Katy. - Alertou Orlando sorrindo bobamente enquanto seguia até a tal porta, abrindo-a e entrando.
Robert tomou cuidado para pisar apenas nas partes seguras do piso, não queria ser responsável por estragar a surpresa da melhor amiga. Mas não conseguiu evitar a melancolia que lhe invadiu o peito ver todo aquele romance explícito. Permaneceu de pé próximo a uma poltrona enquanto ouvia o amigo mexendo em algo.
Minutos depois, ele retornou para a ante sala com uma camisa preta nas mãos.
— Caprichou mesmo! - Elogiou Robert enquanto gesticulava apontando para as velas e as pétalas de rosas.
Orlando sorriu envergonhado, atirando a camisa em sua direção que apanhou-a facilmente.
— Isso se chama amor.
— É, sei bem como é - Comentou demonstrando a tristeza em sua expressão.
Ambos ficaram se encarando por alguns instantes sem dizer nada, algo incomum para Orlando já que o mesmo dificilmente vivia de boca fechada por um minuto inteiro.
— O que foi, Orlando? - Perguntou desconfiado.
Ele pareceu ponderar o que ia dizer, mas suspirou derrotado.
— Onde conheceu aquela tal de ?
Robert encarou-o com uma expressão de confusão.
— Ah! trabalha no café que costumo frequentar. Um lugar muito bom! - Respondeu dando de ombros enquanto trocava sua camisa molhada pela emprestada.
— Entendi. Então, ela não é atriz. - Concluiu com uma expressão de decepção.
— Caramba! Você não esquece esse filme por um segundo! - Constatou Robert num tom de divertimento enquanto observava a expressão de culpa do amigo.
— Não consigo! É o meu maior sonho, Rob!
— Eu sei, cara! Relaxa!
Robert se aproximou, descansando uma de suas mãos no ombro do amigo num gesto que demonstrava apoio.
— Quando vi aquele rosto só conseguia pensar na minha Penélope! Parecia que tinha criado vida bem na minha frente! - Confessou soltando uma risada enquanto passava uma de suas mãos pelo cabelo, depois descansou-as em sua cintura.
Robert gargalhou achando graça da fixação do amigo pelo tão sonhado filme.
— Ela é atriz, Orlando. E está há anos tentando conseguir um papel...
Ao ouvir as palavras do amigo, felicidade dominou o seu rosto.
— Então, meu caro amigo, ela já conseguiu! - Declarou convicto enquanto seguia alegremente para a porta, numa tentativa de sair dali e ir falar com a jovem.
— Aonde você vai? - Perguntou Rob confuso ao ver o amigo se adiantar em direção à saída.
Orlando parou com a porta na maçaneta e virou-se na direção do rapaz.
— Falar com ela! Não vou conseguir curtir a noite sem antes resolver isso!
— Não acha melhor conversar com ela em outro momento? Ela parecia prestes a explodir com tudo que aconteceu. - Robert sugeriu enquanto seguia até ao amigo.
Orlando pareceu ponderar a sugestão, soltando um suspiro derrotado.
— Tudo bem... Só me passe o contato dela.
— Eu não tenho!
— Como assim? Você é amigo da menina e não tem o número dela?
Robert encarou-o indignado.
— Nós não somos amigos... Ela é apenas uma fã que trabalha na minha cafeteria.
— Então só me passa depois o endereço que irei atrás dela. - Finalizou dando de ombros. E continuou ao se lembrar de algo: - Não esquece de me dizer qual dia iremos fazer o seu teste!
— Meu teste? - Perguntou confuso.
— Sim! Preciso ter certeza que você pode ser o Dean... - Respondeu ao abrir a porta novamente e parar no corredor enquanto esperava Robert fazer o mesmo.
— Ué, mas o papel já não era meu? -
— Bom, agora que tenho a Penélope vou precisar ter certeza da química de vocês. Já estou cogitando outros atores, caso você não sirva... - Explicou Orlando num tom tranquilo enquanto seus olhos denunciavam a diversão que estava sentindo ao ver a expressão de incredulidade do amigo.
— Agora é assim? Passa meses dizendo que sou o seu Dean...
Orlando interrompe o amigo: - de Penélope, não meu. - um sorriso implicante no rosto.
Robert revira os olhos e continua: - Que seja! - Desiste dando de ombros.
Orlando tranca a porta e seguem juntos para o elevador, ambos riem da situação.

☕☕☕☕

— Nunca mais quero usar salto! - Comentou indignada enquanto fazia caretas ao sentir a ardência do álcool em seu ferimento no braço.
Sunshine estava sentada em uma cadeira na sua frente enquanto segurava o pulso do braço estendido em sua direção. Enquanto cobria o ferimento com a atadura. já não vestia mais a fantasia, principalmente, as botas assassinas. Não tinha mais vontade de chorar pela dor da queda e da humilhação de todos os convidados terem presenciado o seu tombo, principalmente Robert que parecia só estar presente em momentos que a jovem passava vergonha.
O pior de tudo foi ter interrompido a festa de aniversário da - fada - maravilhosa da Katy Perry e que se mostrou ser um amorzinho ao ficar preocupada com o estado dela. Cat e enlouqueceriam ao saber de todos os detalhes daquela noite.
Pôde perceber que ao contrário de Katy, o Orlando pareceu não gostar da situação e os seus olhares esquisitos demonstravam isso.
— Nunca mais? Dificilmente, se você pensa em frequentar as premiações ou você acha que vou te deixar andar de tênis com aqueles vestidos maravilhosos? - Perguntou Sunshine revirando os olhos, finalizando o curativo.
riu, mas parou abruptamente ao ver Robert entrar na sala.
Observou atentamente aquele rosto bonito que era obrigada a ver todas as manhãs e sentiu a vergonha lhe dominar ao vê-lo vestindo outra camisa já que ela foi responsável por deixá-lo encharcado.
— Melhorou? - Perguntou num tom educado enquanto parava próximo a elas, suas mãos dentro dos bolsos de sua calça jeans cinza que parecia combinar muito mais com aquela camisa preta.
confirmou com um gesto de cabeça.
— E não vai precisar levar pontos, foi bem superficial. Achei que ela ia morrer de tanto pavor em levar alguns pontinhos… - Revelou Sunshine querendo deixar a amiga mais envergonhada ainda enquanto olhava inocentemente na direção dela que lhe lançou um olhar matador que foi lindamente ignorado.
Robert riu.
— Medo de agulha? Sério, ?
Ela deu de ombros, incapaz de dizer uma palavra.
Sunshine se levantou, pegou a maleta e saiu rapidamente, deixando-os sozinhos por alguns instantes.
Ambos se encararam em silêncio.
— Ah! Lembrei que precisava falar com você! - Disse ele tirando uma das mãos do bolso e passando pelo cabelo - uma mania que adorava e que diversas vezes imaginou poder acariciar e descobrir a textura daqueles fios claros.
— Sobre? - Perguntou tentando disfarçar a curiosidade.
— A visita ao set! Fui até a cafeteria te procurar para avisar, mas você estava de folga. Consegui marcar para amanhã de manhã! Queria saber se vão mesmo.. - Falou sorrindo sem jeito.
— Ah sim! Cat vai sim, com toda certeza ou ela me mataria se eu impedisse! - Brincou soltando uma risada enquanto pegava o celular e digitava rapidamente uma mensagem para a caçula avisando que a visita seria no dia seguinte.
— Onde posso pegar vocês?
— Cat vai estar te esperando no café, pode ser? - Perguntou.
Robert ficou confuso com a resposta e a jovem percebeu, resolvendo explicar.
— Infelizmente, não posso ir. Preciso cobrir a folga de . - Falou dando de ombros.
Ele não precisava saber que ela estava magoada de nunca ter sido convidada para uma visita ao set, já que sabia há anos que era sua maior fã.
— Ah, tudo bem. Quem sabe numa próxima, né? - Perguntou ele passando a mão novamente no cabelo.
forçou um sorriso em resposta.
— Combinado. Amanhã, então. -
— Até amanhã - Despediu-se ele, piscando para ela enquanto sorria de lado e virou-se em direção a saída.
— Até - Disse em resposta enquanto soltava um suspiro bobo.
Assim que Sunshine retornou, encarou a amiga com uma expressão confusa.
— Está tudo bem? Parece que vai vomitar!
riu.
— Só se for de amor.


Capítulo 8 – Dias Ruins

Arriscar e coragem andam de mãos dadas, uma dando suporte a outra. Quando uma precisa da outra, estendem suas mãozinhas e seguem adiante, não importa se é apenas uma decisão simples, como escolher um novo sabor do suco que você costuma tomar todas as manhãs ou até mesmo, deixar a vida que você conhece desde bebê para realizar o seu grande sonho - e que você nem tem a noção se realmente vai dar certo.
A grande questão é que tinha plena consciência que ainda levaria um bom tempo até se acostumar com as consequências, mas saber não significa que conseguiria. Cada dia parecia ser mais difícil que o outro, apagando uma vela atrás da outra, tornando mais fraca a sua força em permanecer firme no caminho que escolhera para si. E parecia que quando se lembrava da sua família, tudo se tornava mil vezes mais complicado do que antes, pois era tão mais fácil fingir que seus pais torciam por ela. Lembrar que no dia seguinte estaria frente a frente com seus pais para entregar a fujona da sua irmã caçula, abalava as suas estruturas de uma forma que nem mesmo os acontecimentos da noite anterior poderiam distraí-la.
— Maninha? - A caçula chamou-a num tom doce.
caminhou até o caixa de , guardando o giz que usara momentos antes para escrever as promoções do dia. Respirou fundo, tentando se acalmar enquanto vestia seu avental preto. Ao menos sua rotina no café acalmava um pouco os seus nervos.
— Hum. - Resmungou em resposta enquanto organizava o balcão e a estufa onde guardaria os doces, salgados e pães.
Conhecia sua irmãzinha o suficientemente bem para saber que estava querendo pedir alguma coisa e que a probabilidade de receber um “não” seriam quase nulas.
— Já que amanhã vou voltar para casa, pensei que seria legal ter uma despedida… - Sugeriu dando de ombros enquanto mexia no celular em suas mãos, ocupava uma cadeira próxima ao balcão e suas pernas descansavam em outra a sua frente.
— Tira os pés da cadeira! - Repreendeu atirando um pano de prato em sua direção que foi direto ao chão, próximo a mais nova.
Catherine se esforçou ao máximo para não revirar os olhos, sussurrando apenas desculpas enquanto colocava os pés no chão.
— Podemos fazer uma despedida? - Perguntou insistente enquanto observava a mais velha fingir que estava concentrada demais em limpar o balcão para escutá-la.
? - Chamou-a.
A irmã pegou a bandeja, enchendo-a de guardanapos, sachês de açúcar, sal e adoçante, partindo em retirada para a fileira de mesas mais próximas.
? -
— Não. - Respondeu curta e grossa, torcendo infinitamente para que não houvesse questionamentos.
— Por quê? - Perguntou indignada enquanto se levantava da cadeira e seguia até a mulher, cruzou os braços enquanto a observava.
— Estou cansada e vou precisar acordar mega cedo para te levar.
— Mas quem disse que vai ser até de madrugada? Seria só uma saída em algum pub com o pessoal e depois, partiu cama.
parou o que estava fazendo e virou para encará-la, com uma expressão de deboche.
— Até parece! Você não conhece o pessoal quando se trata de saídas, já perdi as contas das vezes em que viemos trabalhar virados.
— Você já trabalhou virada? - Cat perguntou incrédula.
— Diversas vezes. - riu, voltando sua atenção para a mesa.
— Ah, se mamãe soubesse!
enrijeceu na hora ao ser lembrada de alguém que estava lutando para não pensar.
— E então? Não acha que mereço uma despedida? - Perguntou forçando uma expressão fofa.
— Será que preciso te lembrar que você fugiu de casa no meio da noite e veio parar em Los Angeles sozinha? Uma menor de idade! Poderia ter causado um problemão para os nossos pais, caso te pegassem por aí! - Falou seriamente enquanto abastecia a próxima mesa.
Catherine suspirou derrotada.
— Eu sei! E só não digo que me arrependo, porque realmente estou feliz em estar com você! - Confessou num tom emocionado enquanto observava a expressão da mais velha mudar para algo mais próximo do emotivo.
— Ah, conta outra! Está mais feliz por estar amiguinha do Robert! - Debochou forçando um sorriso que mais saiu como uma careta enquanto seus olhos brilhavam pelas lágrimas que já queriam escapar por seu rosto.
Catherine riu.
— Nada a ver, maninha! -
— Eu te amo, Cat. Sério! - Declarou deixando a bandeja na mesa e dando um abraço apertado, repentino na caçula. Fechou os olhos e deixou algumas lágrimas escorrerem por suas bochechas. Sentiu o corte do braço pinicar por baixo da atadura e das trocentas camadas de merthiolate.
— Eu também te amo! Muito!
Ficaram mais alguns minutos abraçadas, até que ambas se afastaram secando as lágrimas e fungando.
— E então? Vai rolar a despedida? - Perguntou com um sorriso travesso enquanto secava mais algumas lágrimas.
fez uma cara pensativa, mas abriu um sorriso debochado em seguida.
— Só porque disse que me ama.
Ambas riram.


☕☕☕☕☕


— Que horas mesmo ele viria me buscar? - Perguntou Cat num tom entediado enquanto estava apoiada em um dos lados do balcão.
A cafeteria já estava funcionando a todo vapor naquela manhã ensolarada, parecia que todos acordaram desejando um bom gole de café.
— Ele disse de manhã. - Respondeu ao se aproximar com a bandeja vazia, após servir um dos clientes.
— De manhã, mas que horas? - Perguntou num tom irônico.
revirou os olhos, dando de ombros.
— Mas já são onze horas da manhã! - Retrucou indignada.
— Estrelinhas não acordam cedo, meu amor. - Falou debochadamente enquanto dava um aperto na bochecha da mais jovem e seguia direto para cozinha, onde Enrico estava concentrado em preparar todos os pedidos.
Catherine bufou irritada.
— O Pattinson não costuma aparecer tão tarde, pode ter perdido a hora. - Murmurou enquanto se aproximava da irmã da amiga e dava de ombros.
— Provavelmente. Eu só cheguei cedo da festa, porque me machuquei.
— Falando assim, nem parece que foi para trabalhar. - Implicou fazendo com que respondesse mostrando a língua, rindo em seguida.
— Lá vem ele! - Anunciou Cat aliviada enquanto ajeitava o cabelo que estava solto e bem arrumado, pegava sua bolsa marrom e observava o homem que estava prestes a atravessar a rua para entrar na cafeteria.
— Ih, está de mau humor! - Declarou sabiamente, afinal, via o homem quase todo dia.
Quando o Robert entrou no café, era perceptível que estava exalando mau humor. Vestia preto da cabeça aos pés, do boné aos sapatos. Os olhos que amava admirar e que costumava revelar o ânimo do ator estavam escondidos - mais um dia - pelas lentes escuras.
— Odeio gente mal-humorada! - Falou Cat irritada e revirando os olhos.
segurou a vontade de rir da cara da caçula, era perceptível como estava ansiosa para a tal visita ao set.
— Vai se acostumando, docinho. Estrelinhas vivem assim! - Falou repentinamente num tom debochado enquanto passava com uma bandeja repleta de copos de café e pães, seguindo até uma mesa ocupada por um homem e duas mulheres.
— Você não vai ficar assim, né mana? - Perguntou Cat num tom preocupado enquanto observava Robert se aproximar do balcão.
negou com um gesto de cabeça enquanto cumprimentava Rob juntamente com .
— Deixa eu adivinhar… café forte! Ah, e um donut! - Falou rapidamente antes que Robert pudesse fazer o seu pedido.
Ele bufou irritado, tocando a testa com o dedo indicador e médio e fechou os olhos por alguns segundos.
— Só o café mesmo. - Respondeu seco ao deixar o braço pender ao lado do corpo e encarar com uma expressão séria.
— Você que manda! - E seguiu para o bule mais próximo, enchendo uma xícara.
— É para a viagem! - Disse ele seco e aparentando impaciência em sua voz.
confirmou com um gesto de cabeça, pegando o copo que era específico para os clientes levarem.
— Ei! Não fale assim com a minha irmã! - Repreende Cat que estava com uma expressão séria. A reação dela pegou todos de surpresa, inclusive , que parou repentinamente e quase derramou café quente em si mesma.
Robert encarou-a erguendo uma de suas sobrancelhas.
— Calma, Cat! Está tudo bem! - Falou tentando forçar uma expressão de normalidade enquanto sua vontade era gargalhar até a barriga doer.
Catherine estava com uma expressão irritada enquanto os braços estavam cruzados na frente do corpo. Estava de pé frente a frente ao ator que não havia aberto a boca novamente.
Ele bufou achando graça e olhou na direção de .
— Desculpa! Não foi minha intenção… - Tentou se desculpar num tom mais ameno.
— Mas, fez! - Interrompeu Cat num tom acusatório.
Os clientes que ocupavam a mesa observavam toda a cena enquanto e tentavam aparentar normalidade para evitar chamar atenção.
— Está tudo bem! Sério! - Falou forçando um sorriso, mas no fundo tinha adorado a forma que sua irmã agiu, defendendo-a. Estendeu o copo na direção do homem, ele pegou e voltou sua atenção para a caçula.
— Vamos?
— Não! - Respondeu curta e grossa.
Robert encarou-a com a sobrancelha esquerda arqueada.
— Como assim, Cat? Você quer muito ir! - Falou confusa.
— Não posso sair com um cara que maltrata as pessoas, só porque está de mau humor! -
A boca de e estavam escancaradas num imenso ‘O’ enquanto observavam a jovem.
— Essa é das minhas! - Falou num tom animado enquanto cruzava os braços, apoiava as costas no balcão e observava toda a cena.
observou que alguns clientes pegavam seus celulares e começavam a gravar a cena, o desespero lhe abateu.
— É… - Tentou agir, mas ficou sem reação enquanto Cat estava numa posição irredutível e Robert parecia irritado com a situação. Ele deu uma breve olhada para os clientes e constatou o mesmo que .
— Tudo bem, então! Achei que iria me divertir um pouco, mas pelo visto o dia hoje está uma merda! - Falou ele dando de ombros, seguiu em direção ao caixa, mas parou ao se recordar de algo.
— A promoção ainda está valendo? - Perguntou ele levantando o copo quase na altura da sua cabeça, para indicar o assunto.
confirmou com um gesto de cabeça.
— Que promoção? - Perguntou num tom de confusão, assim como sua expressão enquanto observava a cena feito uma águia.
— Ah… você sabe… - Tentou se explicar, mas gaguejava sem saber o que dizer.
— O Robert ganhou uma promoção de trinta dias de café grátis. Foi mês passado, lembra? - Falou num tom dissimulado enquanto encarava a que agora, tinha uma expressão bem atenta a toda a situação.
— Não me lembro de promoção alguma… - Ela comentou num tom falso de confusão.
se aproximou da caçula, ignorando totalmente o problemão que estava prestes a gerar sua demissão.
— O que você tem? - Perguntou baixinho para a irmã que quase fuzilava Robert com o olhar.
— Não acho justo ele te tratar daquela forma. Você estava apenas fazendo o seu trabalho! - Falou num tom indignado ainda sem tirar os olhos do homem.
sorriu achando graça a reação da irmã.
— Já estou acostumada, além do mais, ele não é o único que às vezes age assim! Já perdi as contas de quantas vezes, isso aconteceu com outros clientes! Pensei que você soubesse como é lidar com clientes… -
— Nunca fizeram isso na pizzaria!
— As pessoas de lá são diferentes, Cat! -
— São pessoas, ! E nem por isso fazem isso. - Falou num tom irritado.
— Foi a primeira vez que o Robert me tratou assim e ele não parece bem! Não que justifique, mas ele teve uns meses bem pesados. Dá um desconto dessa vez. - Pediu num tom tranquilo enquanto observava tentando convencer sobre a promoção falsa.
Sabia que se Robert fosse uma pessoa ruim, ela não teria movido uma palha para tentar ajudá-lo com essa ideia louca de promoção. Ninguém é de ferro e também, já teve momentos em que ela mesma atendeu um cliente de um jeito mais seco ou até mesmo, lidou com outras pessoas da mesma forma, mas não por mal.
— Tem certeza que não vai? - Perguntou ele num tom sério, mas pela forma que franzia a testa, tinha certeza que ele estava arrependido do que tinha acontecido.
olhou para a irmã com uma expressão tranquila.
Catherine pareceu pensar por alguns segundos, e finalmente suspirou derrotada.
— Tudo bem! Só quero esclarecer que se você maltratar mais alguém, eu mesma vou chutar essa sua bunda branca tão forte que você vai parar na Inglaterra!
Robert abriu e fechou a boca, procurando palavras para responder a petulância da jovem, mas apenas optou por rir e tentar aliviar aquela aura pesada que estava o sufocando desde que levantou da cama naquela manhã.
riu.
— Então, o café continua sendo de graça, né? - Robert perguntou tomando um gole, sentindo o amargo tranquilizador dominar seu paladar.
— Sim, pode ficar tranquilo! - Disse forçando um sorriso, mas suas mãos estavam frias de nervosismo.
— Vou ter que falar com o Joey sobre ele deixar você fazer promoções só para os seus clientes! - Reclamou num tom indignado.
— Muito obrigado, então… E desculpa! Desculpa! - Falou ele num tom envergonhado enquanto seguia acompanhado por Catherine para fora do café.
Assim que eles sumiram de vista, soltou o ar dos pulmões e se apoiou no balcão.
— Você tem certeza que o Joey sabe sobre essa promoção, né? - Perguntou num tom sério enquanto olhava para .
sabia que se respondesse, iria vacilar, optou apenas por confirmar por um gesto de cabeça.
fingiu acreditar e seguiu para a cozinha. Enrico estava da porta da cozinha, acompanhando toda a confusão. Tinha seu característico sorriso estonteante estampado em seu rosto.
— Não posso deixar vocês um minuto que o pandemônio se instala! - Provocou ele enquanto gargalhava antes de retornar para a cozinha.
— Quando acaba essa promoção, ? - Sussurrou num tom preocupado enquanto se aproximava da amiga, observou se estava por perto.
— Desculpa por aquela hora, fiquei sem saber o que dizer!
— Não podemos continuar com isso! A não acreditou muito e se o Joey descobrir, vai nos matar! Pode até te demitir! - Falou num tom sério enquanto encarava a amiga no fundo dos olhos.
— Eu sei, eu sei! Só não sei o que fazer! - Confessou num sussurro desesperado.
— Acabar com isso!
estava completamente lascada e pior, não queria que Joey e muito menos Robert soubessem da verdade.


☕☕☕☕☕


— Não acredito que o Joey deixou ela fazer isso! Sempre deixam ela mandar como se fosse dona da cafeteria! - Reclamou indignada enquanto estava apoiada no balcão branco da cozinha, os braços cruzados enquanto observava Enrico preparar a massa dos pães da fornada da tarde.
O rapaz estava com uma bela expressão de concentração enquanto suas mãos morenas sujas de trigo, faziam movimentos hábeis.
— Cara, eu realmente nunca entendi até hoje o motivo de você odiar tanto a ! - Ele falou secando o suor da testa com o antebraço antes de lançar um olhar rápido na direção da namorada.
foi a terceira mulher que ele realmente amou, depois da sua mãe e de uma outra pessoa. Sabia que ela tinha os seus surtos bobos, conseguia ser cruel quase boa parte do tempo, mas quando estavam juntos se mostrava ser alguém totalmente diferente. Não conseguia julgá-la, pois sabia como o mundo era difícil para aqueles que tinham bom coração e ela tinha um, bem lascado, mas que se protegia da forma que achava melhor.
— Ela vive me estressando! Decide tudo aqui dentro sem ao menos perguntar ao Joey que é o dono! Faz e acontece sem ninguém questionar nada! - Falou num tom irritado enquanto bufava.
— Já te expliquei que o Joey confia nela por ser uma das antigas.
— Mas você chegou primeiro que ela.
Enrico riu.
— Ela é bem mais responsável que eu.
— Você é responsável! - Rebateu num tom óbvio.
— No passado, não. - Lembrou-a.
— Mas não deveria ser motivo para o Joey não confiar a cafeteria nas suas mãos ou te deixar fazer o que quiser.
Enrico suspirou entediado.
, eu não me importo com isso. A faz um trabalho ótimo e que com toda certeza eu não conseguiria fazer! Eu errei no passado e estou colhendo os frutos disso. O Joey gosta de mim, de todos nós da mesma forma e confia em nós. - Falou num tom calmo enquanto colocava as duas mãos nos antebraços da namorada, sujando-a de trigo.
Ela suspirou e sorriu, roubando um selinho.
— Você é impossível! - Ele disse rindo enquanto dava uma leve mordidinha na orelha dela e se afastava para voltar ao trabalho.
— Mesmo assim, acho tudo muito injusto! - Resmungou enquanto limpava o trigo do seu corpo.
— Olha, acho que já passou da hora de conversar abertamente com a . Resolver tudo isso, antes que você vá embora! Vocês são amigas! - Falou ele alternando sua atenção entre a namorada e a modelagem que fazia na massa.
revirou os olhos achando graça.
— Não somos amigas.
Enrico suspirou e deu de ombros, entediado por sempre ouvir a mesma resposta ridícula.
— Vocês mulheres complicam tudo. Só convidar para tomar uma cerveja bem gelada, abrir o coração e pronto! Melhores amigas para sempre! - Ele disse num tom zombeteiro enquanto colocava os pães na assadeira.
— Isso pode funcionar no mundo dos homens, mas no das mulheres é totalmente diferente, mais complexo. - Explicou ela empinando o nariz numa expressão superior.
Enrico achou graça.
— É mais chato, isso sim!
bufou.
— Sério! Só tenta resolver as coisas entre vocês. - Pediu enquanto exibia o seu sorriso mais bonito e que sabia que mexia com as barreiras da namorada, nem sua teimosia que costumava dar muito trabalho conseguia resistir.
Ela revirou os olhos e bufou derrotada.
— Tudo bem!
— Isso! Sabia que ia aceitar! - Comemorou ele num tom convencido antes de dar um beijo estalado em sua bochecha enquanto seguia até o forno, colocando os pães para assar.
— Mas, com uma condição!
Enrico revirou os olhos, fechou o forno e virou na direção da mesma, com um sorriso forçado.
— Qual?
— Vou confirmar antes com o Joey sobre essa promoção maluca! Se for mentira dela, ele vai ter que fazer alguma coisa! - Falou num tom decidido enquanto arqueava uma de suas sobrancelhas.
Enrico bufou entediado enquanto recolhia a louça suja.


☕☕☕☕☕


adorava ter dinheiro, amava a sensação maravilhosa ao comprar toda comida gostosa que desse vontade ou uma blusinha que havia morrido de amores à primeira vista, somente quando era o seu. Depois que passou a trabalhar como caixa na cafeteria do Joey, fez a triste descoberta que cuidar do dinheiro dos outros era muito chato. Não poderia vacilar no controle do caixa, deveria sempre ter o troco disponível para o cliente que gostava de aparecer com uma nota de cinquenta dólares de manhã cedinho para pagar uma xícara de café - vacilo puro - e estar sempre abastecida com elásticos. E os elásticos eram o motivo da sua ida ao estoque já que não encontrava para solicitar um saquinho dos bonitinhos.
E ela detestava ir ao estoque, principalmente, por achar que toda vez que entrasse lá ficaria presa junto com alguma alma penada que resolvesse assombrá-la.
Mas havia sido a primeira vez em que ao abrir a porta do lugar que estava escuro achou que seria atacada por algum rato. Conseguia ouvir um barulhinho bem irritante, um chiadinho que pausava e continuava.
Pensou se realmente estava tão necessitada em usar os elásticos enquanto segurava a maçaneta, encarando o ambiente escuro que era repleto de prateleiras de metal cinza que estavam abastecidas com todos os materiais que garantiam o funcionamento da cafeteria.
Sabia que se deixasse os elásticos de lado teria mais trabalho em fechar o caixa no final do expediente ou apenas poderia pedir ao Enrico para pegar, sem avisar do rato é claro. Só que tinha e não estava a fim de receber uma fuzilada ao estar a menos de um metro de distância do namoradinho dela.
Suspirou derrotada.
Começou a tatear a parede em busca do interruptor. O barulhinho irritante e persistente não dava trégua. Finalmente encontrou o botão e acendeu a luz, piscou diversas vezes tentando acostumar a visão com a luminosidade repentina.
— Merda, ! - Reagiu com o coração à mil ao tomar um baita de um susto ao ver uma encolhida no chão, os braços envolvendo as pernas e o seu rosto vermelho feito um pimentão, lágrimas escorrendo por seu rosto.
A amiga encarou-a fungando e secou as lágrimas rapidamente, tentando esconder que estava chorando.
— Era você que estava fazendo esse barulhinho? - Perguntou com uma expressão risonha enquanto se aproximava da amiga.
secou as lágrimas e forçou um sorriso.
— É a minha alergia a esse estoque. - Mentiu inutilmente enquanto se levantava e limpava a parte traseira da sua calça preta com as mãos.
bufou.
— Já te disseram que você chora igual um ratinho? Deu sorte que não peguei uma vassoura! - Brincou tentando aliviar a expressão triste da amiga.
revirou os olhos e secou os últimos resquícios das lágrimas.
suspirou e se aproximou da amiga que pegou novamente o caderninho do estoque e começou a cutucar a prateleira.
— O que houve? - Perguntou cruzando os braços na frente do corpo ao se aproximar da amiga enquanto observava a mesma anotar algumas coisas.
fingiu estar concentrada demais para responder.
A amiga deu algumas batidinhas com o pé direito no chão, impaciente.
suspirou derrotada, guardou o caderninho no bolso do avental e virou para a amiga, as lágrimas já querendo dar o ar da graça novamente.
— Não quero ir amanhã! - Confessou em meio ao choro que já escapava pela garganta, começou a chorar de soluçar e a escorrer tudo. Cobriu o rosto com as palmas das mãos, a tristeza lhe corroendo por dentro.
— Ai, ! - Murmurou num tom angustiado enquanto se aproximava o suficiente para envolver os braços em volta da amiga, consolando-a.
— Eu não posso voltar, ! Não ainda!
— Se quiser eu levo a Cat! - Ofereceu num tom angustiado ao sentir toda a dor no tom de voz da amiga.
— Ela é minha responsabilidade. Tenho que fazer isso, só não tenho coragem de voltar! - Declarou fungando algumas vezes enquanto seu rosto descansava no ombro da amiga. As lágrimas encharcando seu rosto e a manga da camisa preta de .
A mesma suspirou com o coração partido pela dor que a amiga carregava desde que se conheceram. Entendia o quanto era doloroso para estar longe dos pais, da irmã e o pior de tudo, ter que vê-los depois de anos sem ao menos ter conquistado uma lasquinha do sonho que levou-a embora da sua cidade natal.
— Não vou conseguir ver os olhares dos meus pais. A decepção no olhar deles vai me matar! Tem noção disso? Eu tenho cogitado deixar essa loucura para trás e voltar, seguir o que eles querem que eu faça! - Desabafou se soltando delicadamente do abraço, encarando-a e gesticulando de forma angustiada. O peito se retorcia, não conseguia palavras para expressar como se sentia com toda essa angústia, medo, decepção lhe corroendo por dentro.
— Não pode desistir, ! - Falou num tom sério enquanto segurava as mãos da amiga e olhava-a diretamente nos olhos.
Os lábios de tremeram enquanto mais lágrimas jorravam por seus olhos.
— Entendeu? Precisamos da família! Muito! E em algum momento, seus pais vão perceber que você fez o certo! Dando certo ou não! Eu vejo em você uma estrela que nasceu para brilhar. Os sonhos existem para nos dar um propósito na vida e o seu é brilhar não importa qual pele você vista! Você nasceu para dar vida à imaginação dos outros! - Disse num tom emocionado ainda na mesma posição, encarando os olhos da amiga que ainda chorava silenciosamente. Os seus olhos começaram a ficar marejados.
— Entendeu?
confirmou com um gesto de cabeça.
— Cabeça erguida, mulher! Desistir jamais! - Declarou num tom determinado ao soltar as mãos trêmulas da amiga, envolvendo-a novamente em seus braços. As duas com um sorriso estampado em seus rostos enquanto lágrimas escorriam por suas faces. Ambas agradecidas por terem uma a outra, principalmente, nos momentos mais difíceis.


☕☕☕☕☕


— Ela só pode estar de sacanagem! - Exclamou incrédula enquanto lia a mensagem no celular.
— O que foi? - Perguntou desviando a atenção da tela do seu celular enquanto estava em pé ao lado da jovem. Estavam atrás do balcão num silêncio. A cafeteria estava vazia naquele final de tarde, faltando poucas horas para o fim do expediente. havia saído mais cedo para resolver algumas coisas e prometeu encontrá-los na despedida de Cat. Como não tinham clientes para atender ficaram distraídos com suas redes sociais.
— Cat convidou o Robert! - Falou num tom irritado enquanto revirava os olhos.
Enrico que ocupava uma das cadeiras estava atento ao seu feed do Instagram, mas não conseguiu evitar um sorrisinho de canto ao ouvir a reação da amiga.
— Maravilhoso! Já posso imaginar os paparazzis fotografando a gente a noite toda! - Falou num tom sonhador enquanto largava o aparelho em cima do balcão, apoiando o rosto nas mãos e sorrindo bobamente.
— E amanhã nossas caras espalhadas nos sites de fofocas! - Acrescentou revirando os olhos, nível zero de empolgação.
— E uma namorada misteriosa para o Robert! - Soltou Enrico que não perdia uma oportunidade de implicar com a amiga.
riu debochada.
— Sabe que vai ser a Cat, né? Nesse instante, eles já devem ter sido flagrados juntos e pior se rolar o boato. Vão dizer que Robert está saindo com uma adolescente! - Supôs num tom falsamente inocente enquanto olhava para que começava a absorver suas palavras. Segurou a risada ao ver a expressão de desespero estampada na cara da amiga.
— Eu não tinha pensado nisso! Não, ele não pode sair com a gente! - Declarou num tom sério enquanto abria novamente a conversa com Cat e digitava rapidamente.

[]: “Kd vc???”
[Cat 🐱]: *foto da mão da Cat segurando um donut de chocolate com cobertura de morango e granulados coloridos. No fundo o estúdio repleto de câmeras com o Robert beijando uma mulher.*
[]: “💔”
[Cat 🐱]: “Já se beijaram umas dez vezes e nada de terminar a cena kkkk”
[]: “Sai daí direto pra cá! Já tá quase de noite!”
[Cat 🐱]: “N vai dar, tá faltando cena!!!! Vamos direto para a despedida!”
[]: “Direto pra cá!!! Dá seu jeito!!”
revirou os olhos ao perceber que havia agido exatamente como sua mãe durante sua adolescência.
[Cat 🐱]: “Te vejo na despedida 😘”

começou a rir repentinamente, atraindo a atenção de que encarou-a com uma expressão curiosa.
— Ih, já até sei… - Comentou Enrico olhando para sua namorada e suspirou, revirando os olhos. Ele sabia que aquela reação da namorada era porque lançaria mais uma das suas implicâncias para .
Ou seja, a conversa mais cedo entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
— Tarde demais! - Disse num tom provocador enquanto estendia o celular na direção da jovem. franziu a testa numa expressão de confusão enquanto focava sua atenção à tela do celular.
Xingou diversas vezes ao ver a imagem e ler o título “Robert Pattinson é flagrado com nova namorada” que estampava o site do TMZ. Voltou a atenção para o seu próprio aparelho e começou a digitar violentamente.

[]: “NADA DE ROBERT!!!!”
Digitou possessa, mas a mensagem não foi visualizada pela caçula. Sabia que iria esganar a sua irmã caçula quando a encontrasse, mas no fundo, bem no fundo, sentia uma invejinha de não ser ela passando o dia fora da cafeteria com o seu ator favorito feat crush.


Capítulo 9 – Jornada

Estava de volta a sua cidade natal e não sabia definir as sensações que lhe nocautearam com a força do melhor dos boxeadores: a vida.
Observou o céu azul livre de nuvens através do vidro do táxi sem conseguir evitar que um sorriso de satisfação lhe estampasse o rosto. Assim que desceu na esquina da sua antiga rua que era sem saída, acompanhada de Catherine, respirou fundo e resolver observar o lugar tão familiar. A rua largamente asfaltada e com calçadas de concreto claro, era ocupada por quatro casas rodeadas por cercas de madeira branca com seus gramados verdinhos. Olhou para a esquerda, semicerrando os olhos enquanto tentava enxergar ao longo da avenida principal, lá no que seria o final dela, as enormes e famosas montanhas que rodeavam a cidade.
- Você vem? – Perguntou Cat repentinamente num tom que revelava impaciência enquanto segurava sua mochila em um dos ombros, seu cabelo escuro preso no topo da cabeça. A mão esquerda em concha próxima aos olhos numa tentativa de fazer sombra para enxergar a irmã em meio ao sol.
A mais velha voltou sua atenção para ela, mordeu os lábios e ajeitou a mochila nas costas. Respirou fundo criando a coragem que não existia e deu os primeiros passos para alcançar a irmã, mas se interrompeu ao avistar a mulher em pé em frente ao destino.
Alice estava em pé na calçada em frente ao gramado da casa da família, o pequeno portão branco estava escancarado atrás de si. Os seus cabelos castanhos estavam soltos na altura dos ombros, vestia um vestido florido soltinho que balançava conforme a brisa daquele verão. Ambas as mãos estavam descansando na cintura e sua expressão era séria.
- Mãe! – Chamou Cat dominada pela alegria em rever a mulher.
Alice pareceu relaxar sua postura enquanto estendia seus braços na direção da filha caçula, envolvendo-a em um abraço de alívio e depositando um beijo em uma de suas bochechas.
observava a cena com o coração acelerado sem saber o que seria certo fazer naquele momento. Fazia anos que não via sua mãe e estar a poucos metros de distância lhe causava uma dor no peito, os seus olhos estavam úmidos pelas lágrimas que queria derramar. Manteve-se em pé no mesmo lugar, incapaz de se mover apenas observava o reencontro das mulheres.
Assim que se afastou de Catherine, Alice lançou sua atenção na direção da filha mais velha e sua expressão tornou-se emocionada.
- ! – Chamou-a num tom sofrido enquanto sua expressão revelava toda a dor que tinha carregado consigo durante a ausência da filha.
Aquela foi a faísca necessária para estourar as barreiras que a jovem tentava manter em seu coração. O choro irrompeu por sua garganta, lágrimas rolaram por seu rosto e seus pés tomaram vida novamente. Correu o mais rápido que pôde na direção da mulher, lançou-se em seus braços sendo envolvida num abraço apertado e acolhedor.
- Mãe... – Choramingou, sentindo a dor em sua alma, os braços apertando-a cada vez mais forte como se pudessem apagar todas as lembranças ruins, os momentos de saudade, as palavras não ditas ou até mesmo, as que foram ditas e machucaram ambos os corações.
Catherine sorriu emocionada ao presenciar a cena.
- Eu também quero! – Resmungou ela enquanto se lançava sobre as duas mulheres e as envolvia em um abraço apertado. Risos puderam ser ouvidos.
Depois de alguns momentos aproveitando a presença de ambas, criaram coragem suficiente para se afastarem. secou algumas lágrimas e olhou para sua direita, em direção à enorme casa branca com janelas azuis, e parecia que o peso que saíra de suas costas tinha retornado pesado milhões de toneladas a mais. Avistou o homem em pé em frente a porta, que estava apoiado na coluna da varanda enquanto seus braços descansavam cruzados à frente do corpo. Sua expressão revelava o desagrado em toda a cena. As mulheres falavam, mas ela não conseguia desviar sua atenção do pai. Ambas percebendo a expressão perturbada da jovem, olharam na mesma direção e tudo estava entendido como sempre fora.
Desde que se entendia por gente era a mesma coisa: o seu pai não precisava pronunciar uma palavra sequer, bastava aquele olhar e todos entendiam o recado.
Ela deveria retornar para Los Angeles, pois o seu pai não tinha perdoado sua partida. E isso doeu, mas como doeu na alma de .
- Vem, ! Vamos entrar! – Falou Catherine ignorando a imagem do pai em pé na varanda, agarrando uma das mãos da irmã, tentando fazer com que a mesma seguisse para dentro da casa.
olhou-a sem demonstrar qualquer emoção.
- Eu ainda não posso.
- Claro que você pode, ! Você vai entrar e ficar o quanto quiser! Quem manda nessa casa, sou eu! – Falou sua mãe num tom sério enquanto encarava a filha mais velha.
olhou novamente em direção ao pai que continuava exatamente na mesma posição, sem alterar a expressão.
Ela voltou a atenção para as mulheres e negou com um gesto de cabeça.
- Só volto quando conseguir o que eu quero e provar para ele que segui pelo caminho certo. – Confessou num tom determinado.
Depositou um beijo carinhoso na testa da irmã caçula que bufou irritada com a atitude da irmã.
- Você não tem que provar nada, minha filha. Eu só quero ter você por perto e acima de tudo, feliz. – Falou Alice num tom carinhoso enquanto pegava uma das mãos da filha, apertando-a delicadamente.
sorriu com os olhos úmidos novamente.
- Eu sei, mãe. Amo muito vocês, mas não vou conseguir ser feliz se desistir de tudo agora. Sem os meus sonhos eu não sou nada, mãe... – Falou parando para respirar fundo e se acalmar, continuou: - Admito que não foi e não tem sido fácil, penso em desistir todos os dias e morro de medo de fracassar, mas o que me mantém de pé é saber que os meus sonhos são eu e preciso torná-los realidade.
Alice soluçou enquanto o choro rompia por sua garganta. Secou algumas lágrimas, até que se lançou nos braços da filha envolvendo-a novamente em um abraço apertado, mas que transmitia força. Soltou-a e se olharam por alguns instantes enquanto a mãe secava as lágrimas.
- Se precisar de mim, estou aqui. Sempre estive, mesmo quando não conseguia entender que tudo isso tinha que acontecer. – Revelou num tom angustiado, apertando a mão da filha pela última vez antes de soltá-la.
Alice secou mais algumas lágrimas, envolveu Catherine pelos ombros e ambas ficaram em silêncio observando lhe lançar um último sorriso.
Virou em direção à casa novamente, encontrando a varanda vazia e a porta fechada. Voltou a atenção para as mulheres, acenou uma última vez e seguiu em direção a avenida principal.
A cada passo dado em direção ao ponto de ônibus uma certeza crescia dentro de si: ela iria vencer.


☕☕☕☕☕


- ?
A jovem que estava encarando seus tênis enquanto esperava impacientemente algum ônibus ou táxi, levantou o olhar em busca da voz que chamara por seu nome.
E localizou um rosto conhecido que estava encarando-a surpreso pela janela de sua picape vermelha.
- John?! – Falou ela num tom surpreso enquanto se levantava e caminhava até a picape parada rente ao meio-fio.
O jovem saiu do carro, deixando a porta aberta atrás de si e andou rapidamente até a mulher, envolvendo-a em um abraço de urso.
Ambos riram enquanto se envolviam num abraço apertado.
John Trent conhecia desde o jardim de infância, pois estudaram juntos até concluírem a escola. Sempre foram muito amigos e até teve uma fase em que quase se afastaram quando seus pais se separaram, mas no final das contas, continuou morando ali em South Jordan com sua mãe.
- Achei que estivesse em Los Angeles! – Falou num tom de surpresa enquanto se soltavam, um sorriso estampava seu belo rosto.
Ela estendeu a mão em direção aos cachos sedosos e loiros do garoto, bagunçando como sempre fizera. Ambos riram e ela observou os seus lindos olhos azuis que combinavam perfeitamente com o céu daquele dia.
- Bateu saudade da minha terra. – Comentou dando de ombros, evitando dar destaque para os motivos de estar ali.
- E não poderia ter me avisado? – Perguntou revirando os olhos enquanto se encostava no capô do carro, cruzando os braços.
voltou sua atenção para a avenida que estava apenas movimentada por carros, já que ônibus e caminhadas eram as últimas opções dos moradores de South Jordan.
- Desculpa, mas foi tudo em cima da hora! – Mentiu.
Apenas não queria que John soubesse de toda a confusão que rolou desde que Catherine decidiu fugir de casa e ir ao seu encontro em Los Angeles.
- Não podia ter mandado uma simples mensagem? Um "ei, estou voltando!" Você me enche de figurinhas engraçadas, mas não consegue me dizer uma palavra? – Perguntou num tom magoado.
A expressão dela se tornou de culpa ao perceber a tristeza no rosto de John. Mesmo se sentindo mal por toda a situação, foi apenas capaz de fazer o sinal para o ônibus que a levaria até a rodoviária.
- Me desculpe, John! Foi bom te rever. – Falou ela num tom carinhoso enquanto acenava rapidamente para o rapaz e seguia até a porta recém-aberta do ônibus cinza.
John se afastou desajeitado do carro, surpreso com a repentina partida, correu rapidamente até o ônibus e por poucos segundos, quase não foi capaz de agarrar o pulso da garota e puxá-la em sua direção.
Encostou seus lábios nos de que estava com o coração à mil, de olhos arregalados, por ter achado que cairia de cara no asfalto. Ouviu-a arfar de surpresa, soltando-a relutantemente ao ouvir o motorista reclamar que estavam atrasando seu percurso. Soltou-a irritado e lançou um sorriso debochado em sua direção enquanto acenava.
Ela encarou-o com uma expressão atordoada e entrou no ônibus sentindo o peso da vingança de John em seus lábios.


☕☕☕☕☕


Lá estava de volta a sua rotina no café, totalmente destruída depois da longa viagem. Deveria ter aceitado mais um dia de folga oferecido por Joey, mas não queria abusar e também, deixar seus amigos na mão. Só sabia que precisava estar inteira para a gravação do comercial de um novo creme dental que aconteceria daqui dois dias. Deveria engolir as falas, mas não conseguia achar que estava se saindo bem.
- É sério, isso? – Perguntou gargalhando tanto que seus olhos estavam úmidos pelas lágrimas, uma mão estava apoiada em sua barriga e outra segurava as folhas com o roteiro do comercial que participaria.
- É, sim! Qual o problema? – Perguntou num tom constrangido enquanto tomava as folhas da mão da jovem e voltava a reorganizá-las, sua expressão estava de falsa seriedade já que escondia a vergonha que sentia por acharem graça do papel que teria que interpretar.
- Uma pasta de dente gigante? – Perguntou incrédula soltando mais outra gargalhada.
Enrico entrou novamente no café após fumar seu cigarro, encarou as meninas que estavam reunidas próximas ao balcão.
O café estava pouco movimentado naquele dia devido as festividades que estavam rolando na orla da praia, fazendo com que os famosos e não-famosos preferissem curtir aquele dia ensolarado banhados pela brisa marinha.
- O que tá rolando? – Perguntou num tom curioso enquanto se sentava em uma cadeira que estava próxima a .
percebeu o olhar incomodado que a amiga lançou em direção ao rapaz. Enrico fingiu não perceber enquanto estava concentrada em apenas rir da cara de .
- ... vai interpretar... uma pasta de dente gigante! Ai! – Falou entre risos enquanto tentava recuperar o fôlego.
- Sério isso, ? Não deve ser tão ruim! – Falou Enrico tentando disfarçar a vontade de rir, mas os seus belos olhos só escancaravam a diversão do jovem.
revirou os olhos.
- Não é tão ruim? Ela vai vestir uma fantasia que vai esconder a cara dela e vai ter que aparecer dizendo “eu sou o Dentil e vim te salvar do bafo!” – Rebateu numa expressão divertida enquanto imitava uma voz boba ao falar o bordão da única fala da amiga.
Enrico estendeu a mão e a amiga entregou o roteiro, ele ficou quieto por alguns segundos enquanto lia tudo. Quando terminou, entregou e deu uma leve tossida tentando disfarçar o riso enquanto tentava manter uma expressão tranquila.
As meninas o encararam em expectativa, esperando o que ele diria. Ele olhou-as franzindo a testa, dando de ombros sem dar um pio, pois sabia que não teria condições de se pronunciar sem cair em gargalhadas.
bufou chateada e aceitando que realmente seria vergonhoso para seu currículo, mas ela pediu uma oportunidade e conseguiu. Cavalo dado não se olha os dentes, como diria Verônica. Infelizmente, teria que se conformar e dar o seu melhor mesmo que fosse apenas uma fala.
- Relaxa, ! Faz parte do início de carreira de qualquer ator ou atriz de sucesso... – Falou sempre positiva numa tentativa de ajudar a amiga. Continuou: - Até a Jennifer Aniston já passou por algo parecido!
- Sério? – Perguntou surpresa por jamais ter imaginado que uma das suas atrizes favoritas tivesse enfrentado o mesmo tipo de situação que ela.
acenou forçadamente a cabeça enquanto ouvia e Enrico quase rirem da mentira descarada.
- Ela teve se vestir de urso! Imagina! – Mentiu .
encarou-a surpresa.
- Até o Robert enfrentou o mesmo tipo de situação! – Finalizou ela numa tom que aparentava estar dizendo a mais pura realidade após ter trocado confidências.
- Caramba, não sabia que ele tinha passado por isso não... Só lembro que ele foi modelo antes... – Disse pensativa enquanto tentava forçar a memória para recordar o que já havia lido durante a adolescência sobre o passado de Robert.
- Falando nele... – Cantarolou lançando um olhar em direção à vidraça enquanto via um Robert atravessar a rua em direção ao café.
Robert abriu a porta e lançou um olhar em direção aos funcionários do café que o encaravam com uma expressão divertida.
- Boa tarde! – Cumprimentou-os educadamente com um leve sorriso enquanto retirava os óculos escuros e seguia até que estava posicionada atrás do balcão encarando-o com uma expressão esquisita.
Todos retribuíram o cumprimento.
- O mesmo de sempre por gentileza. – Pediu num tom suave enquanto apoiava um dos braços no balcão e sorria sem graça para .
Repentinamente Enrico começou a tossir, assustando-o e atraindo a atenção de todos. Ele estava com o rosto vermelho, se desculpou e seguiu feito um foguete em direção à uma porta que tinha atrás do balcão.
Quando Robert voltou sua atenção para , percebeu que mordia o lábio inferior ao encará-lo enquanto seus olhos denunciavam a diversão que estava sentindo, mas que não fazia sentido nenhum para ele.
Minutos depois, ela colocou o copo em cima do balcão, olhando-o com uma expressão engraçada.
Robert deu uma tossida antes de decidir perguntar:
- Algum problema?
- Posso te perguntar uma coisa? Se não puder, não tem problema não. – Falou num tom cuidadoso enquanto fazia gestos com as mãos.
Robert achou graça da situação e deu de ombros.
- Você já passou por algum momento na sua carreira que sente vergonha até hoje? – Perguntou num tom curioso enquanto observava atentamente a expressão do homem.
Ele estranhou a pergunta da jovem enquanto decidia se deveria ser sincero ou não, tomou um gole do seu café e voltou sua atenção para ela novamente.
- Hãm... não. Nunca parei para pensar nisso, na verdade. – Mentiu enquanto tomava mais um gole de café.
- Ah... – Murmurou ela num tom decepcionado enquanto encarava o balcão.
- Bom, é só isso? – Perguntou educado enquanto colocava os óculos escuros e olhava a hora em seu celular.
confirmou com um gesto de cabeça.
- Obrigada por responder.
Ele sorriu simpático enquanto pegava seu café e seguia até a porta, sem deixar de ouvir um sussurro.
- Não acabou com essa promoção ainda?
Robert franziu a testa numa mistura de curiosidade e confusão, mas tendo a plena certeza de que tinha a ver com ele. Assim que passou da porta, bufou irritado com sua decisão e retornou, abrindo a porta novamente, enfiando a cabeça para dentro da cafeteria.
- Momentos vergonhosos fazem parte da jornada. – Disse revelando a verdade em suas palavras enquanto um sorriso debochado surgia em seu rosto.
riu enquanto questionava se Robert estava incluso nessa categoria.


☕☕☕☕☕


Não conseguia parar de achar graça toda vez que pronunciava a sua única fala para o comercial. Levou a manhã praticamente toda dentro de uma fantasia quente de pasta de dente, repetindo mil vezes a mesma fala e criando várias formas de aparição nas cenas. Deveria surpreender cada personagem nas vezes que o mesmo pronunciasse a palavra “bafo” e que foram muitas já que os diretores queriam avaliar bem o que seria colocado na versão final.
Exigiu muito de , mas no final das contas, ninguém saberia que ela protagonizou o papel principal do comercial fazendo com que a sensação de dever cumprido lhe dominasse. A sensação era de subido um degrau rumo a sua grande carreira e esperava que estivesse certa.
Caminhou tranquilamente pela calçada enquanto seguia em direção ao Tribbiani’s Coffee, uma música tocava em seus fones de ouvido. Assim que chegou na entrada, conferiu toda a fachada e ajeitou o que precisava ser retocado tornando tudo na posição em que costumava arrumar todas as manhãs. Um enorme sorriso satisfeito apareceu em seu rosto, deu alguns passos até a porta de vidro e abriu-a, parando logo na entrada ao avistar as pessoas que estavam reunidas ali fazendo com que o sorriso desaparecesse sendo substituído por surpresa.
O grau de confiança nem sempre é certo, mas em alguns momentos vão realmente existir um sexto sentido que vai apitar quando algo extremamente ruim estiver para acontecer.
E queria que apenas uma vez, o seu tivesse apitado com dias de antecedência.


Capítulo 10 – A descoberta

“As verdades são frutos que apenas devem ser colhidos quando bem maduros.” - Voltaire


A reunião de uma ou mais pessoas, nem sempre pode significar tempos de felicidade e paz. Quando abriu a porta da cafeteria e encontrou todos com expressões sérias em sua direção, concluiu perfeitamente que estava encrencada. O clima tenso, os rostos que a encaravam em expectativa. Não sentia-se capaz nem de soltar a maçaneta da porta aberta atrás de si, se caso o fizesse estaria a milhas de distância dali.
Avistou Joey que encontrava-se em pé com os braços cruzados e uma expressão séria - algo raro de se ver - e ao seu lado, tínhamos Robert Pattinson. O homem que lhe trazia problemas toda vez que decidia beber um café e fato que se comprovou, mais do que se estivesse soando um alerta com direito a buzinas super barulhentas, ao ver um copo em sua mão.
Automaticamente, o seu olhar procurou pelo conhecido e seguro rosto de . A amiga se encontrava atrás do balcão, uma expressão de temor e ao ver que a encarava, sussurrou “Desculpa” e desviou o olhar em seguida. E mais do que nunca ficou óbvio que estava muito, muito encrencada.
E desde que começou a trabalhar no café, sabia que o circo nunca pegava fogo sozinho. Alguém precisava derramar a gasolina e outra, acender o fósforo. Procurou por e a encontrou, lado a lado de Joey. Parecia com um soldado que havia ganho uma batalha, os braços cruzados, rosto elevado e olhar de vitória. Poderia apostar todo dinheiro que tinha se encrencado mil vezes mais por causa dela. Ela não sabia segurar a língua ou jogar a real sem causar intrigas, além de ser impossível controlar seus impulsos. Nem mesmo Enrico, sentado em frente aos três, era capaz de impedir. Ele fez uma careta e deu de ombros ao perceber que a amiga o olhava. E a cereja do bolo, pensou, foi ter identificado uma moça próxima a eles com um café e uma expressão irritada.
“Chegou a hora!” – Pensou desolada, mas não iria dar o gostinho para . Respirou fundo tentando se acalmar o suficiente para manter uma expressão de tranquilidade, escondendo os seus temores.
A mulher - identificou ser uma cliente - bufou irritada e virou-se na direção de Joey, encarando-o com uma expressão de superioridade.
— O senhor consegue perceber claramente que tenho total direito de não pagar por esse café! Foi realizada uma promoção que não foi devidamente divulgada, impedindo que outros clientes, assim como eu, tivessem a oportunidade de participar! – Argumentou enquanto indicava algumas vezes o copo de café em suas mãos.
Todos ouviam em silêncio.
Joey abre o seu sorriso mais simpático, agindo como se nada de errado estivesse acontecendo e que o cliente estava coberto de razão. Admirava a brilhante habilidade do chefe em esconder seus verdadeiros sentimentos.
— Não precisa se preocupar, senhora. Esse café é por conta da casa. – Anunciou cruzando as mãos na frente do corpo, percebeu os dedos do homem ficarem brancos pela força que os apertava.
engoliu em seco.
Observaram a mulher abrir um enorme sorriso de satisfação e seguir até a saída. deu um passo para o lado e liberou a passagem, até que a cliente cruzou a porta e bateu atrás de si.
Joey soltou um suspiro derrotado e deu de ombros, voltando sua atenção para a jovem.
— Que prejuízo… – tentou dizer, mas parou ao ver o gesto de que pedia que se calasse.
segurou-se para não rir da expressão de descrença da jovem.
E sem limites, resolveu continuar:
— Mas Joey… – sendo interrompida novamente.
— Por favor, ! Não precisa dizer mais nada, tudo está resolvido!
Sentindo-se mais calma, deu alguns passos em direção ao grupo, mas parou pega de surpresa pela pergunta do homem.
— Você realmente fez uma promoção exclusiva para o senhor Pattinson sem a minha permissão, ? – Perguntou num tom sério assim como sua expressão.
Robert observou-a com atenção.
Ela mordeu o lábio inferior cogitando mentir, mas suspirou derrotada ao concluir que seria incapaz de continuar deitada na cama que havia preparado para si mesma. E como não estava sendo o poço da coragem naquele momento, apenas confirmou com um gesto de cabeça.
— Eu sabia! Eu sabia! – comemorou em puro êxtase, as mãos fechadas em punho chacoalhava na altura do rosto.
— Por quê? – Perguntou Robert num tom de incredulidade, continuando: – Eu tenho dinheiro suficiente para uma xícara de café ou milhares!
— Não esperava isso de você, ! Sinceramente! – Joey confessou enquanto sua expressão e voz era pura decepção. Soltou um suspiro triste olhando-a.
O sentimento daquelas palavras foram como facas no coração da jovem que sentiu os olhos arderem pelas lágrimas. Respirou fundo tentando se manter calma e não perder o controle. Entretanto, sabia o quanto seria difícil pois tinha um carinho tão grande pelo chefe. O considerava seu amigo, chefe - pai em seus sonhos. - Saber que havia enfraquecido os laços da relação que tinham a machucava.
— Ela fez isso para chamar a atenção do Robert! Não é a primeira vez que isso acontece! – se intrometeu num tom venenoso.
— Deixa o Joey resolver isso, ! – Pediu Enrico num tom sério que causou surpresa na namorada e em todos os presentes, já que o rapaz nunca tinha falado daquela forma.
Ela fez uma careta de irritação, mas manteve o sorriso de satisfação estampado em seu rosto.
respirou fundo e tentou se explicar:
— Nunca quis chamar sua atenção! Só queria trazer um pouco de felicidade para você, já que o término foi muito difícil. Quis apenas ajudar! – que só queria alegrar ele durante o término.
— Isso é loucura, ! – Robert se pronunciou numa expressão incrédula.
A visão dela fica embaçada pelas lágrimas que ameaçavam escorrer por seu rosto. Respirou fundo novamente.
— Você pode não conhecê-la tão bem, Pattinson! Só que a é assim! Ela gosta de ajudar as pessoas, mesmo que o resultado seja apenas um sorriso! – defendeu-a num tom sério, lançando um sorriso carinhoso na direção da amiga que retribuiu.
— Mas isso é loucura! Arriscar o próprio emprego para dar café de graça para um homem que ela nem conhece! – Rebateu Robert balançando o copo de café, ao gesticular enquanto falava.
Ouvir as palavras de Robert e ver a decepção estampada na expressão de Joey provocava muita tristeza e arrependimento. Admitia não ter pensado com clareza antes de tomar aquela atitude, mas agiu de bom coração. E doía ver que o seu ator favorito, o homem que sempre teve como exemplo no ramo e que um dos maiores sonhos era conhecê-lo, magoado com sua atitude.
E ainda tinha , que parecia querer viver para prejudicá-la e isso a entristecia, pois não conseguia entender os motivos. Sempre tentou se colocar no lugar dela, criar um vínculo de amizade, e no final, quando achava que tudo estava bem entre elas, alguma coisa acontecia que fazia com que se questionasse se ela realmente poderia ser considerada uma amiga. Ela não está errada em passar a situação para Joey, pelo contrário, fez o certo, mas a forma que age de encontrar felicidade quando a desgraça é dos outros é preocupante.
— Eu realmente não sei o que pensar de você, ! Sério! Todas as vezes que venho aqui, tento não te idealizar como uma stalker! – Confessou num tom cansado enquanto passava uma de suas mãos por seus cabelos.
franziu a testa em descrença encarando-o e decidiu se defender diante das palavras do homem.
— Stalker? Não era uma perseguição proposital! Desde a primeira vez que estive no mesmo ambiente que você tentei me aproximar, mas o medo de te incomodar era maior! E a vergonha de pedir uma foto!
— E ao invés de pedir, preferiu me perseguir por vários dias? – Perguntou num tom irônico.
— Foram só CINCO – deu ênfase – vezes! E duas delas foram por acaso. Não tenho culpa de ter ficado sem reação todas as vezes que te vi pessoalmente e além do mais, quem surtou com a síndrome de perseguição foi você! Ou se esqueceu que eu estava no meu local de trabalho quando você apareceu e surtou! – Desabafou indignada enquanto se recordava da fatídica primeira semana em Los Angeles.
Robert encarou-a com uma expressão de incredulidade e reforça:
— E como você explica essa promoção maluca? É o comportamento de uma pessoa racional?
Ela mordeu a língua para não xingá-lo tamanha a indignação.
— Vocês estão levando as coisas de uma forma exagerada. só quis ajudar, pode ter errado em fazer escondido de Joey, mas não precisam crucificá-la por isso. Ela é uma das melhores pessoas, funcionária exemplar e não merece nem um por cento pela forma que estão tratando-a. – Pronunciou-se Enrico ao ficar de pé enquanto lança um rápido sorriso reconfortante para a amiga e segue em direção ao café.
— Joey, eu sei que errei com você e te peço desculpa! Mereço sua desconfiança e vou aceitá-la, mas te garanto que vou reconquistá-la! Prometo que vou pagar cada centavinho dessa promoção! – Falou num tom sério enquanto parava em frente ao seu chefe.
O chefe permaneceu em silêncio encarando-a e massageia as têmporas, ela suspirou em agonia.
— Infelizmente, dessa vez não posso relevar, ! Terei que te demitir! – Soltou olhando-a com uma expressão de sofrimento.
Uma exclamação coletiva de espanto pôde ser ouvida enquanto ela ficou estática, os olhos arregalados e a boca escancarada em surpresa.
— Joey, isso realmente não será necessário… – Intercedeu Robert num tom calmo enquanto colocava o café no balcão e começava a tatear os bolsos da sua calça de moletom, continuou: – Posso pagar o prejuízo. Preciso só do valor… – Parou de falar enquanto localizava a carteira de couro preto e abriu, pegando um cartão de crédito vermelho.
— Infelizmente, é a única alternativa. – Justificou Joey.
se segura para não chorar na frente de todos, sentindo-se humilhada.
Robert dá de ombros e solta um suspiro cansado. Guarda novamente a carteira e pega o café do balcão.
— Obrigada pela iniciativa, mas acho que as coisas não são muito saudáveis entre a gente e agora, só consigo acreditar que o melhor seria mantermos distância.
o encara com uma expressão fria ao ouvir suas palavras, o orgulho e o recém-desprezo falando mais alto. Ergueu levemente o queixo e deu de ombros. Escondeu-se atrás da imagem de indiferença, mesmo que por dentro estivesse arrasada e profundamente magoada, sem saber o que dizer.
Ele entende a atitude da jovem como concordância, dá de ombros em resposta e vai embora, fechando a porta atrás de si.
— Joey, está pegando pesado demais! – Falou num tom tenso enquanto encarava seu chefe.
A expressão dele se torna confusa.
— Só posso ter enlouquecido! Não foi você que estava exigindo que fosse punida?
— Sim, mas nunca passou pela minha cabeça que fosse demitida. – Confessou dando de ombros. – Ela sempre tomou conta de tudo muito bem, mas pecou em criar uma farsa.
— E a única penalidade que vejo no momento é a demissão. – Ele declarou sério.
Assim como , todos os outros funcionários não acreditavam no que estavam ouvindo e vendo. Nunca tinham presenciado tamanho extremismo e seriedade por parte do chefe. Joey sempre foi brincalhão, parecia não se importar com as atitudes de cada um desde que não roubassem ou prejudicassem a imagem do café. E vê-lo naquela postura era algo bizarro.
— É uma decisão extrema demais até mesmo para você, Joey. – Falou num tom de obviedade.
— Por favor, não me mande embora! Eu gosto de trabalhar aqui e não tenho outra forma de sustento. – Implorou com os olhos repletos de lágrimas e a expressão de desespero. Completou: – Isso nunca mais vai acontecer!
Todos o encaram em expectativa enquanto ele passa a mão no cabelo de forma tensa e solta um suspiro de frustração.
— Tudo bem! A partir de hoje, você não é mais responsável pelo café. Quero você apenas no atendimento ao cliente. – Declarou determinado enquanto gesticulava e ela confirmava repetidas vezes, ouvindo atentamente em puro alívio. – E você vai assumir a função! – Apontou repentinamente para Enrico que bufou achando graça.
sorri numa mistura de empolgação e vitória.
— Estou muito, muito decepcionado e não adianta me olhar com essa cara. – Revelou numa expressão magoada enquanto lutava para agir da forma que julgava ser a correta. – Espero que não tenhamos que reviver um momento desse! Senão, juro que vou demitir todo mundo e fecho a porcaria desse café. Não ganho o suficiente para ficar careca por causa do estresse que vocês me causam! – Disse num tom que beirava o drama e seguiu bufando até a saída, batendo a porta atrás de si.
— Até parece que causamos tantos problemas assim. – Disse rindo enquanto saía de trás do balcão e se aproximava dos amigos.
— Será que ele vai me perdoar? – Perguntou num fio de voz, a expressão de pura tristeza.
— Perdoar? Ele ama você, ! Relaxa! Amanhã ele já vai ter esquecido. – Falou Enrico num tom divertido.
Uma coisa que Joey sabia fazer muito bem era esquecer as coisas. Isso ele era expert e todo mundo sabia muito bem.
— Está satisfeita? – Perguntou Enrico num tom sério para a namorada que não aguentou e abriu um sorriso enorme.
— Com toda certeza! – Falou dando um leve beliscão na bochecha do rapaz que continuava sério, sem se render aos encantos da mulher.
Ele indicou com um gesto de cabeça, a expressão irredutível enquanto a namorada negava em resposta. Ficaram nessa discussão muda até que ela se deu por vencida e aproximou-se de , soltando um suspiro desanimado.
— A intenção não era ser demitida! Só não acho justo qualquer um de nós fazer algo errado e ficar sem uma punição. Me desculpa mesmo! – Falou num tom carinhoso e deu uma beliscada na bochecha da jovem a sua frente.
revirou os olhos com as palavras e o gesto, suspirando derrotada.
— Além de esconder do Joey, ganhei o cargo de stalker.
— Ele é um babaca! – Soltou num tom indignado e envolveu os ombros da amiga com um dos braços. O gesto fez com que o autocontrole da amiga se rompesse, os lábios tremesse e as lágrimas jorrassem por seu rosto.
abraçou e acariciou suas costas gentilmente.
Enrico se aproximou das mulheres e acariciou os cabelos de .
— Me desculpa, gente! Sério! Eu não queria causar nenhum problema ou prejudicar vocês! – Falou dando algumas fungadas e soltando-se dos braços da amiga para encarar cada rosto.
— Relaxa, ! Você precisa curtir um pouco a vida e só por isso, vou aceitar me ferrar um pouquinho em seu lugar! – Falou Enrico num tom brincalhão enquanto abria o seu melhor sorriso.
Ela riu e secou algumas lágrimas, envolvendo-o em um abraço carinhoso.


☕☕☕☕☕


estava magoada, indignada e exalava raiva por todos os poros enquanto entrava feito um furacão no próprio quarto. Jogou a caixa de papelão vazia que trouxe do café e seguiu até a parede branca do seu quarto. Poderia ter tomado um banho e jantado, mas preferiu pôr todos os sentimentos que estava guardando para fora.
— Tinha a Kristen, Taylor, Ashley! Tinham vários atores e tinha que escolher quem? – Perguntou para si mesma debochada enquanto arrancava as fotos e posteres do Robert da parede, jogando dentro da caixa de papelão.
Ficou vários minutos assim, xingando-o e reclamando do ator mais esnobe do mundo e que era por isso, que não conseguia ter um relacionamento duradouro. Borbulhava de raiva e indignação enquanto se recordava das palavras dele naquele dia.
— Terminou com quem? – Perguntou repentinamente, assustando a amiga que virou-se e viu a jovem parada na entrada do quarto. Os cabelos lilás soltos e usava um vestido preto de paetês. Tinha uma expressão que misturava curiosidade e diversão, mas que tornou-se preocupação ao ver o rosto vermelho da amiga.
— Hahaha – Riu forçadamente enquanto voltava sua atenção para as prateleiras, pegou os livros e DVD’s da Saga Crepúsculo e voltou até a cama para guardar na caixa. Sentou-se em seguida no colchão e não aguentando mais, começou a chorar e soluçar.
— Meu Deus, ! O que houve? – Perguntou preocupada enquanto via a amiga chorando de soluçar com um pôster do Robert em suas mãos. Balbuciou algumas palavras que não fizeram qualquer sentido para . Ela tira a caixa da cama e coloca no chão, ocupando o espaço ao lado da amiga e envolveu seus ombros com um de seus braços.
— Se acalma, ! – Pediu num tom carinhoso e a amiga soluçou fungando enquanto tentava secar as lágrimas que jorravam sem controle. Apertou o pôster do Robert em seu peito e continuou na mesma posição.
Ela explicou toda a história daquele dia e ouviu em silêncio, prestando toda a atenção e amiga se sentiu reconfortada.
— Ele é um verdadeiro babaca, ! Isso que ele é! – Xingou-o num tom irritado enquanto gesticulava expressando sua indignação.
soltou um suspiro resignado e deitou a cabeça no colo da amiga que passou a acariciar seus cabelos.
— Não esperava que fosse me tratar assim! Como se eu fosse uma maluca! - Reclamou indignada.
— Talvez seja melhor manter distância, .
— Isso vai ser fácil já que ele me garantiu. – Disse num tom irônico enquanto sentia o corpo relaxa com o carinho que a amiga fazia.
nunca mais iria olhar na cara de Robert e se o visse na rua, atravessaria sem piedade. Foi boba em imaginar que ele era um príncipe injustiçado que não recebia o amor merecido. Tão boba! Enquanto a realidade é que ele era um homem egoísta e frio. E com esse pensamento, o seu coração parecia se estilhaçar ainda mais.


☕☕☕☕☕


A cafeteria estava vazia e silenciosa naquele final de tarde, funcionando apenas com a presença de e Enrico. A primeira estava posicionada no caixa, o cotovelo apoiado no balcão e o rosto descansando na mão, tédio estampava o seu rosto e o segundo, assobiava uma melodia tranquila que vinha de dentro da sua inseparável cozinha.
Desde o ocorrido de uma semana atrás, estava tentando se acostumar com sua única função de atender os clientes. Abençoadamente, Enrico deixou-a manter sua função favorita: abrir a cafeteria e arrumar toda a fachada. O que deixou-a menos triste e muito grata, principalmente, por não ter precisado implorar por isso. Ela havia aprendido a se apegar aquela função e buscar satisfação nela, fazendo com que criasse uma ideia insana de que seu dia de trabalho não começava bem, se não arrumasse cada placa, vaso que havia na fachada.
Empertigou-se automaticamente com a compreensão daquele pensamento, uma expressão de espanto.
— Tudo fazia sentido! O dia foi uma merda porque não fiz a minha rotina. – Concluiu bobamente falando consigo mesma e riu tristemente ao perceber que buscava uma desculpa esfarrapada para justificar o confusão em que se meteu.
Voltou a mesma posição de antes e minutos depois, quando decidiu pegar o celular no bolso do avental parou ao ouvir a porta se abrir. O seu corpo agiu, automaticamente, assumindo uma postura tensa. A expressão séria e totalmente fora do seu comum.
— Boa tarde! – Robert cumprimentou-a com um leve sorriso que demonstrava o quanto estava desconfortável com a situação.
Os pensamentos de eram como um furacão que oscilavam entre querer derramar um bule de café fervente bem na cara bonitinha do homem e xingá-lo, mandando para o inferno e até mesmo, zombar dele dizendo que estava mesmo funcionando manter distância, pois o mesmo solicitamente apareceu ali na maior cara de pau.
— Boa tarde, senhor! Posso ajudá-lo? – Perguntou num tom profissional tentando manter a fachada inabalável enquanto sua vontade era voar no pescoço daquele homem.
Observou as roupas que Robert vestia naquele dia e se xingou ao admitir para si mesma que continuava bonito. Ela sempre adorou o fato dele usar muito moletom e boné, ainda mais finalizando com óculos escuros. Como nutria total desprezo por ele e tinha enterrado bem no fundo do seu armário a fã, tentou ignorar profundamente os sentimentos platônicos que nutria por ele.
Ele mordeu o lábio inferior e fingiu pensar, pois ela sabia perfeitamente que seria o de sempre.
— O de sempre, por gentileza. – Pediu educadamente fazendo com que se segurasse para não exibir uma expressão de deboche.
Ele estava em pé com as mãos escondidas no bolso da calça, o capuz do moletom preto cobria o boné, de mesma cor, que estava usando. Continuava com o mesmo sorriso sem graça estampado.
Confirmou com um gesto de cabeça, lutando internamente para manter a expressão fria. Virou-se de costas para ele e seguiu até a cozinha. Assim que garantiu que ele não podia ver seu rosto, bufou indignada e revirou os olhos. Aproximou-se da abertura da cozinha e avistou Enrico concentrado em sovar a massa.
— O de sempre para o senhor Pattinson. – Anunciou repentinamente, chamando a atenção do rapaz que parou de sovar a massa e encarou-a com uma expressão de surpresa.
— Ué, ele não ia manter distância? Eu entendi como deixar de frequentar o café. – Disse Enrico irônico enquanto abria um sorrisinho de canto.
deu de ombros, a expressão séria.
Ele olhou-a com preocupação e perguntou:
— Quer que eu o atenda?
Ela negou com um discreto gesto de cabeça. Até ficou tentada a aceitar, mas não queria demonstrar a Robert que estava magoada.
Logo, Enrico entregou o copo de café e ela retornou para o caixa, encontrando o homem olhando-a atentamente. Manteve sua expressão séria e entregou o copo para ele, sentindo rapidamente o calor das mãos dele.
Ele colocou o copo no balcão e pegou a carteira, retirando o cartão vermelho. Entregou para a jovem e tomou cuidado para não encostar nele novamente.
— Débito, por favor.
Ela confirma com um gesto de cabeça enquanto digita os dados e vira a máquina para ele pôr a senha. Fez todo o processo rapidamente com um leve desespero para se livrar da presença detestável do homem.
— Obrigado! – Agradeceu dando um gole no café, mas sua expressão parecia denunciar o desejo de dizer mais alguma coisa.
Esperou que ele se mexesse para ir embora, mas continuou parado tomando o café. Ela se vira desesperada para fazer algo que a distraísse o suficiente para ignorá-lo. Pegou as várias xícaras da prateleira, agarrou o primeiro pano que achou e começou a esfregá-las. Mordeu os lábios, por tamanha tensão e tentou relaxar a postura. Estava em alerta para qualquer ruído, mas o homem continuava plantado no mesmo lugar.
Finalmente, ouviu um suspiro.
— Desculpa.
franziu a testa e parou a atividade por ter sido pega de surpresa, mas não ousava encará-lo.
Segundos que pareceram horas e finalmente, ele insistiu em continuar:
— Não queria ter dito o que disse, apenas fiquei sem saber como reagir com o lance da promoção e o passado turbulento que temos. – Rob falou num tom calmo.
Ela continuou congelada na mesma posição, mas tinha um sorriso debochado estampado em seu rosto. Achou graça do “passado turbulento”, parecia que tinham tido algo sério. Esforçou-se para voltar a limpar as xícaras que já estavam limpas.
— Admito que venci o meu orgulho ao vir aqui e ter certeza que você não foi demitida.
Mais um pouco ele teria conseguido convencê-la a se virar e olhá-lo, mas as palavras estavam frescas demais em sua mente e coração. Seria impossível se sensibilizar tão facilmente.
Virou-se determinada a encerrar a presença dele ali e ficou levemente abalada com a expressão em seu rosto. Os olhos que tanto gostava estavam verdadeiramente tristes e sua vontade era agarrá-lo bem apertado, entretanto, tudo que aconteceu entre eles surgia na mente.
— Deseja mais alguma coisa? – Perguntou num tom profissional, a expressão inabalável enquanto o interior surtava.
Robert fica em silêncio encarando-a diretamente nos olhos, aguardando ela dizer alguma coisa, mas não seria tão simples. O que ele fez, falou, afetou-a de uma forma muito mais profunda e incapaz de se resolver daquela forma.
— Espero que algum dia me dê seu perdão. – Suspirou chateado, franziu a testa parecendo refletir sobre algo enquanto tomava o último gole de seu café e continuou: - Afinal, se um dia trabalharmos juntos seria bom nos darmos bem. – Finalizou dando de ombros, jogou o copo na lixeira e partiu, sem olhar para trás.
soltou o ar dos pulmões aliviada e tenta evitar as lágrimas que ardiam em seus olhos.
Odiava Robert Pattinson com todas as suas forças.
— Nunca – Sussurrou num tom carregado de emoções.


Capítulo 11 – Tequila

Despedidas deveriam encerrar, mas parecem reavivar tudo o que foi arquivado.” - Thaay Marques

O quentinho do verão costumava ser muito bem-vindo, ainda mais após o inverno rigoroso que haviam enfrentado. Poder vestir shorts, vestidinhos, deitar e rolar na grama, curtir uma praia, fazer passeios de bicicleta e outras coisas que somente aquela estação permitia era algo maravilhoso. Ninguém esperava que naquele ano o verão seria insuportável. As temperaturas altas batiam recordes diariamente e a única salvação era o ar condicionado que aliviava os efeitos. O calor deveria espantar os clientes da cafeteria, mas parecia que o ar condicionado no máximo havia atraído todos feito abelhas no mel. O fato de ficar o dia inteiro enfurnada dentro da cafeteria impedia que sofresse com a nova estação, mas foi somente no dia das gravações de mais um comercial da pasta de dente Dentil que teve noção do sofrimento.
estava vestindo a fantasia de Dentil em outra cor, pois com o sucesso nas vendas resolveram criar outro sabor para a pasta e claro, aumentaram um pouco mais o cachê. Só que algum membro - sem noção - da equipe resolveu idealizar o comercial ao ar livre, o que de fato foi uma ideia terrível, em pleno verão. A fantasia parecia um forno e só piorava enquanto era obrigada a ficar com a cabeça coberta por ela. O suor escorria por dentro da fantasia e o ar quente da sua respiração atingia seu rosto, tornando-se terrível o ato de respirar. Foram horas de gravações e a jovem sentia-se exausta, segurou-se diversas vezes para não chorar em desespero.
Arrancou a cabeça da fantasia em busca por alívio ao ouvir o aviso do diretor que as gravações haviam se encerrado. Todos aplaudiram felizes e começaram os preparativos para desmontar a estrutura criada mais cedo. Bufou enquanto as mãos, cobertas e suadas pelo tecido vermelho, tentavam ajeitar o cabelo que estava preso no topo da cabeça. As bochechas estavam coradas e fios de cabelos molhados de suor cobriam sua testa. Sentiu o ar quente que atingiu seu rosto e revirou os olhos, irritada com o calor que sentia.
Caminhou até uma árvore que fazia sombra e sentou-se na grama, as pernas estendidas à sua frente e a cabeça da fantasia em seu colo. Observou a movimentação da equipe enquanto desmontava equipamentos e enfiou uma das mãos dentro da fantasia, puxando o celular que estava com a tela suada por ter ficado durante as gravações escondido no sutiã.
Ficou distraída ao checar suas mensagens até que sentiu um gelado na bochecha, despertando-a do transe. Olhou para cima, um dos atores estava em pé com uma garrafa de água estendida em sua direção. O reconheceu da última cena que gravaram no centro do parque sob o sol quente. Ele parecia acabado do calor, assim como ela. As bochechas de pele morena estavam coradas, os fios da franja estavam colados na testa, mas tinha um sorriso simpático em seu rosto.
— Obrigada. – Aceitou agradecida e abriu, tomando um gole do líquido bem gelado que refrescou o seu interior. A sensação do líquido foi tão maravilhosa que fechou os olhos absorta no mais profundo prazer.
O rapaz tomou um gole da sua própria garrafa e sentou-se na grama ao seu lado.
— Você parecia estar com sede. – Justificou dando de ombros, tomando mais um gole e o olhar em direção a equipe.
olhou-o mais de perto e percebeu uma gota de suor que escorria devagar pela testa e bochecha.
— Essa fantasia é uma sauna ambulante. – Riu bebendo mais água.
Permaneceram em silêncio, descansando na sombra da árvore e observando calmamente a movimentação no local. Quando achou que o assunto havia morrido, o rapaz resolveu se manifestar novamente.
— Você se saiu muito bem nas gravações. – Elogiou focando seu olhar na jovem que retribuiu, abrindo um pequeno sorriso.
— Ah - Fez um gesto de pouco caso com a mão, a expressão envergonhada. – A fantasia ajuda. - Finalizou dando de ombros e bebendo mais água.
— Discordo. Você tem um jeito diferente na atuação. – Ele falou numa expressão séria, mas os seus olhos castanhos denunciavam a diversão.
Ela riu achando graça do comentário do rapaz e percebeu que não sabia seu nome, resolveu estender uma das mãos em sua direção.
.
— Adam. – Falou, retribuindo o gesto e ambos sorriram simpáticos.
Adam.
Concluiu que o rapaz tinha cara de Adam - achou graça do próprio pensamento. Os cabelos castanhos e olhos de mesma cor, pele morena e parecia ser mais alto do que ela, mas como estava sentada não poderia determinar com precisão. Os olhos transmitiam tamanha simpatia e o jeito dele parecia atrair de alguma forma, sentia-se bem ao ponto de esquecer que sofreu durante horas no calor.
— Muito tempo no ramo? – Perguntou encarando-a, suas costas coladas no tronco da árvore, os tornozelos e braços cruzados, uma expressão tranquila em seu rosto.
— Poucos anos. – Deu de ombros.
— Uma iniciante, então? – Virou em sua direção e abriu um sorriso interessado.
— Mais ou menos. – Deu de ombros novamente e se levantou com certa dificuldade. Esticou as costas, pegou a cabeça da fantasia e a garrafa vazia. Virou-se para o rapaz, ficou sem graça ao perceber que prestava atenção em cada um de seus movimentos. – Preciso me livrar dessa fantasia e voltar ao trabalho. – Sorriu sem graça.
Adam se levantou e olhou-a com um belo sorriso em seu rosto, colocou ambas as mãos no bolso enquanto a garrafa vazia descansava embaixo do seu braço.
— Ah, você não vive da arte! – Afirmou olhando-a com interesse.
gargalhou achando graça.
— Bom, ainda não fiz nenhum papel de sucesso que me garanta alguns milhões na conta. – Brincou.
— Interessante. – Tinha uma expressão do mais puro interesse que deixou-a novamente sem graça. Ele parecia encará-la como algum projeto que merecesse uma pesquisa aprofundada.
Ela franziu a testa com aquele pensamento ridículo.
— E você vive da sua arte?
— Mais ou menos. – Dá de ombros.
— Entendo. Realmente preciso ir ou o responsável pelos figurinos vai me matar. Foi legal te conhecer! – Estendeu a mão, retribuído o gesto em seguida. Abriu um sorriso simpático. Afastou-se alguns passos e seguiu em direção a equipe que já tinha desmontado quase toda estrutura. Lembrou-se da água e parou repentinamente, virando-se.
— Ah! Muito obrigada! Salvou a pátria! – Agradeceu chacoalhando a garrafa vazia próximo ao seu tórax.
— Pode me passar seu telefone? – Perguntou numa expressão que denunciava a lembrança de algo repentino.
Ela confirmou com um gesto de cabeça, ele aproximou-se e estendeu o aparelho. Digitou o número e entregou. Observou-o digitar mais alguma coisa e em seguida, estendeu em sua direção. Olhou confusa, mas leu e gargalhou alto ao ver o apelido do contato: Dentil.
— Bom, vamos nos falando!
— Com certeza, minha jovem!
Ambos riram e finalmente, despediram-se.


☕☕☕☕☕


estava debruçada no balcão, o celular nas mãos e toda sua concentração no aparelho. Em casa e no trabalho não desgrudava do aparelho, um ritmo de digitar avidamente e rir em seguida. A jovem sentia-se feliz, depois da tempestade de dias atrás e tudo isso, graças a Adam que costumava diverti-la bastante com as suas opiniões extravagantes.
Enquanto a jovem estava distraída com a sua conversa, e ocupavam uma mesa próxima ao balcão. A cafeteria estava vazia naquele horário próximo do almoço, o que era comum. As garotas estavam cochichando e seus olhos observavam atentamente cada gesto da outra amiga, numa mistura de curiosidade e preocupação já que não costumava estar tão alheia ao seu redor.
resmunga e revira os olhos, cansada de apenas observar. Levantou-se, o seu característico sorriso debochado estampado em seu rosto. Parou, próxima ao balcão. A expressão denunciando o que pretendia fazer, segurando-se para não gargalhar. Arrancou repentinamente o celular da mão da jovem, assustando-a.
— Ei! - Protestou irritada ao cair a ficha que tinha pego o aparelho.
riu da reação irritada da amiga.
— Eu acho que vi um gatinho! - Anunciou num tom debochado ao utilizar a famosa fala do Piu-Piu quando avistava o Frajola, fazendo com que saísse de trás do balcão e fosse rapidamente para cima de , mas entrou na frente e aproximou o rosto para ver o que estava acontecendo.
— Me devolve! - Ordenou enquanto tentava recuperar o aparelho.
— Quem é esse? - Perguntou num tom interessado, encarando-a.
abre a foto e vira a tela do aparelho, exibindo. Na foto, Adam tinha um belo sorriso de covinhas, vestia uma fantasia de Romeu e ao fundo, parecia a coxia de um teatro.
— Nossa! Que gatinho! - confirma numa expressão de surpresa.
Uma batalha que se assemelha a adolescência, começa e enquanto uma tenta recuperar o celular, outra foge pelo lugar. Lia, interpretando em alto e bom som, cada trecho da conversa.
Caramba, Adam! Isso parece muito legal! - Leu numa voz propositalmente fina, numa tentativa de deixar mais irritada.
— Me devolve, ! - Ordenou indignada enquanto corria em direção a outra, começando uma verdadeira briga de gato e rato. A outra, ignorou totalmente o pedido e resolveu continuar enquanto desviava de mesas e cadeiras.
Que tal ir comigo amanhã à noite? - Falou num tom mais rude, tentando imitar uma voz masculina, mas que falhou facilmente.
— O quê? - solta surpresa, os olhos arregalados e os lábios entreabertos.
Ambas param e a jovem, estende o celular em sua direção para que pudesse ler a mensagem que havia sido recebida.
ri e se aproxima, explodindo de curiosidade.
Recuperou o seu celular e leu atentamente, umas mil vezes sem ter coragem de se pronunciar. Não estava levando as coisas por esse caminho e acreditou que Adam jamais fosse convidá-la para sair.
— Você tem um encontro, ! - Anunciou animada ao olhar o visor do aparelho por cima do ombro da amiga.
— Acho que tenho um encontro. - Compreendeu num tom abismado enquanto encarava as amigas, o celular descansando em sua mão.
— É o que parece. - confirma com uma expressão de diversão.
— Mas quem é esse Adam? - Perguntou explodindo de curiosidade.
Ela conta tudo o que aconteceu ao conhecer Adam e o assunto que estavam conversando naquele dia.
— Então, você vai com ele nesse tal clube? - Perguntou enquanto cruzava os braços e observava a amiga.
— Não sei. Pelo o que entendi, parece ser um clube frequentado por atores que curtem fazer improvisos. - Explicou e encarou-as com uma expressão insegura. — E se ele me fizer participar? - Perguntou.
— E qual o problema? Você não é atriz? - Rebateu num tom irônico.
— Sim, mas…
— Mas, nada! Você vai e pronto! - Determinou num tom sério e em seguida, descansou um de seus braços no ombro da amiga numa tentativa de demonstrar seu apoio.
— É difícil admitir, mas concordo com ela. Atores podem ser muito excêntricos, mas seria bom fazer conhecimento, . - Aconselhou de braços cruzados e uma expressão de desgosto ao revelar o que realmente acreditava.
As outras encararam em silêncio, suas expressões incrédulas pelas palavras que haviam ouvido.
— O que foi? - Perguntou revirando os olhos numa tentativa de disfarçar seu constrangimento. — É a verdade! Você só não se saiu melhor porque não fez amizades no ramo. Tem que andar com mais atores ou pedir para Joey te apadrinhar, teria o Robert…
soltou um resmungo de desgosto ao ouvir aquele nome.
— Ela não precisa pedir nada a ninguém. A é muito talentosa, uma hora vai acontecer. - interrompe o discurso num tom determinado. Cruzou os braços e encarou ambas.
suspirou derrotada.
— Não vou pedir nada a ninguém, mas seria bom conhecer outros atores para me darem dicas.
olhou convencida.
bufou e revirou os olhos.
— BU! - Solta repentinamente uma voz masculina ao se aproximar sorrateiramente do trio. Todas soltaram exclamações de susto, as batidas dos corações acelerados. Lançaram olhares de irritação e revirada de olhos fazendo Enrico gargalhar. Ele bagunça o cabelo de que ri, achando graça e esquecendo a irritação pelo susto. Sentou-se numa cadeira, o corpo de frente para o encosto enquanto mordia uma maçã.
— Você não tem mais o que fazer? - Perguntou irritada, encarando o namorado.
— Que isso, meu docinho! Pra quê toda essa agressividade? - Perguntou falando com a boca cheia, pois sabia que o gesto irritava profundamente a namorada.
Ela revirou os olhos ao decidir que seria melhor permanecer em silêncio ou seria capaz de atirar a maçã na cabeça do namorado.
— Então, qual a fofoca? - Perguntou num tom provocativo enquanto encarava cada rosto feminino, mordendo sua maçã mais uma vez.
Recebeu olhares ofendidos em sua direção.
Ele deu de ombros e riu.
— Não se façam de desentendidas! - Brincou.
— Por que você sempre acha que estamos fofocando? - Perguntou indignada.
— Porque é o único momento em que não estão tentando se matar! - Deu de ombros, rindo antes de morder novamente sua maçã.
ri e corrige-o: — Querendo matar a , né?
Todos riem achando graça do comentário e obviamente, concordando.
— Bom… - Iniciou num tom dramático, suspirando. — já que não querem me contar, eu preciso dizer algo. - Sua expressão tornou-se séria e suspirou novamente.
observava em silêncio, pois sabia do que se tratava enquanto as outras encaravam-o preocupadas e com uma leve suspeita sobre o que se tratava.
— Sexta-feira é o meu último dia. - Soltou e encarou as amigas com ansiedade pela reação de ambas. Levantou-se e abriu um sorriso quando e o envolveram num abraço.
— Eu estou feliz pela sua conquista, mas triste de não ter que olhar na sua cara todo dia! - Falou com o rosto escondido no peito do rapaz.
Enrico riu, mas a visão ficou embaçada pelas lágrimas. Chorar não era algo que costumava fazer com frequência e sempre ficava incomodado quando tinha que lidar com elas. Sua ficha realmente caiu ao revelar para suas amigas a data da sua partida. Depois de anos, iria abandonar o lugar que mais amava e sentia-se seguro para se jogar de cabeça na sua carreira com a banda. Joey e as meninas compartilharam todos os momentos nessa luta pela realização do seu sonho. Partir e não estar todos os dias ali seria doloroso. E Joey? Se já estava sendo difícil sem revelar para ele, imagina quando a noite chegasse? Ele iria até a casa do chefe para contar, mas admitia querer mandar apenas uma mensagem informando. O carinho e o relacionamento que tinha com o chefe ia além do emprego, tinha amizade e paternidade. Compartilhavam os gostos e recebeu muitos conselhos que foram úteis. Admitia que foi sortudo por conhecê-lo e guardaria todo o aprendizado daquela caminhada.
— Não vai chorar, né? - Sussurrou que o abraçava de lado, um pequeno sorriso em seu rosto avermelhado pelas lágrimas.
mordeu o lábio inferior numa tentativa em manter o controle ao observar a interação entre o seu namorado e . Diariamente tentava não surtar por ciúmes, mas não conseguia ignorar o fato que antes dela, Enrico e tiveram uma história e a jovem - obviamente - não tinha deixado de nutrir sentimentos pelo rapaz.
Enrico riu e secou uma lágrima no rosto da jovem, o que foi a gota d'água para que os afastou, deixando apenas que claramente chorava baixinho nos braços do rapaz. Ambos encararam-a com expressões resignadas e abandonando qualquer ideia de dizerem algo mais na presença da mulher.
— Até parece que nunca mais vamos nos ver! - Brincou , finalmente soltando o amigo e se afastando alguns passos, secava o rosto com as mãos. Estava totalmente alheia ao acontecido segundos antes entre o trio. estava afastada do rapaz e uma expressão explicitamente triste enquanto lançava olhares irritados para o namorado. Enrico estava triste e olhava para a amiga, um pequeno sorriso em seu rosto.
— Ah não ser que você me abandone. - Ele brincou enquanto abraçava lateralmente.
— Nem um pouco dramatico! - riu. — Além do mais, quem vai ficar famoso é você! - Lembrou-o num tom divertido.
— Não acredito que realmente está acontecendo! - Ele sorri em alívio enquanto afasta-se da namorada e ergue os braços num gesto alegre.
Todos riem compartilhando de sua alegria
— Queremos nossos quartos na sua mansão! - brinca enquanto aparenta estar mais tranquila, depois da notícia.
— Ah, vocês terão! - Enrico garante num tom animado.
Diferentes braços envolveram o rapaz num abraço reconfortante e que transmitia a mistura de sentimentos que todos compartilhavam com aquela notícia. Poderiam compartilhar a tristeza de não ter o amigo por perto todos os dias, mas a felicidade em vê-lo realizar o sonho prevalecia. Afinal, eram uma família e nem sempre significava que seguiriam pelo mesmo caminho.


☕☕☕☕☕


Inevitavelmente, o último dia de trabalho do Enrico na cafeteria chegou. Faltavam poucos minutos para encerrar o expediente, constatou ao terminar a limpeza da cozinha e verificar o horário no relógio pendurado na parede. Soltou um suspiro cabisbaixo ao secar as mãos no pano de prato e olhar ao redor do ambiente em que esteve durante os últimos anos. Sentiria falta do emprego e das responsabilidades que vieram junto. Foi difícil revelar para Joey que estava de partida, mas tudo melhorou ao ver que o mais velho estava verdadeiramente contente pela conquista do rapaz. Entretanto, restava uma pessoa e que tentou adiar o encontro até o último instante: .
Desde o dia que contou sobre sua partida para as meninas, não teve oportunidade de conversar a sós com ela, afinal, estava mais grudenta do que o normal e ele sabia que era pela cena que protagonizaram. Infelizmente, mesmo que a namorada surtasse, teria que se despedir da outra. não tinha culpa pelo passado deles.
Soltou outro suspiro derrotado e respirou fundo, olhando o lugar pela última vez e sorriu surpreso ao constatar que estava prestes a chorar. Riu baixinho, chacoalhando a cabeça algumas vezes em negação. Finalmente, permitiu que umas lágrimas escorressem por seu rosto e secou-as. Fungou e secou o rosto mais uma vez, sentindo o coração pesado pela angústia.
Caminhou até a porta sem olhar para trás, decidido, ao ouvir chamá-lo.
— Tcharan! - Ouviu vozes femininas animadas ao sair da cozinha e fechar a porta atrás de si. Abriu um sorriso divertido, mas os olhos avermelhados denunciavam as lágrimas. Encontrou as meninas em suas roupas pretas de trabalho, usavam colares de flores havaianas e exibiam sorrisos animados. segurava uma garrafa de tequila e estendia-a para o alto, exibindo-a com uma expressão animada enquanto sua namorada e tinham os braços estendidos na direção da bebida.
Ele se aproximou do trio e abriu o sorriso mais bonito enquanto o seu coração se enchia de felicidade pelo simples gesto das meninas.
— Tequila! - Gritou animado enquanto erguia os braços para o alto em uma comemoração.
Todos riram divertidos.
— Uma despedida, não é uma despedida sem tequila! - Explicou numa expressão séria e postura de uma cientista prestes a revelar que existia água em Marte.
— E depois de umas boas doses, iremos ao karaokê mais próximo e cantaremos até a voz sumir. - Falou num tom animado enquanto seguia até o balcão, colocando as canecas vazias ali, deixando-o confuso.
— Você acha que vamos tomar doses em copinhos? - Perguntou num tom divertido, cruzando os braços enquanto observava-o. — Nem pensar! Tem que ser nas canecas!
Enrico riu ao ver enchendo caneca por caneca.
— Droga! Faltou o limão e o sal. - Constatou revirando os olhos enquanto pegava uma das canecas.
— Tem na despensa. Eu pego! - Falou seguindo em direção a porta, sem ao menos aguardar qualquer resposta.
Enrico percebeu que era o momento certo e talvez, a única chance.
— Eu te ajudo! - Ele falou indo atrás da jovem rapidamente e fazendo o mesmo trajeto.
Tudo aconteceu tão rápido que não foi capaz de protestar ou até mesmo, segui-los. Sua postura se tornou tensa e sua expressão era assassina enquanto encarava a porta pela qual haviam partido. percebendo a repentina tensão da jovem, parou de mexer no celular e encarou-a confusa.
— Relaxa, !
— Relaxar? O seu namorado acabou de se enfiar com a ex-ficante numa despensa com a desculpa de pegar limão e sal? - Perguntou num tom debochado enquanto cruzava os braços e continuava com o olhar preso a porta.
soltou um suspiro cansado.
— Enrico está com você. - Lembrou-a numa tentativa de acalmar as paranoias da jovem.
fingiu não ouvir o que havia dito, afinal, sabia que ela tinha razão e olhou o relógio no pulso. Soltou um suspiro entediado e seguiu decidida pelo mesmo trajeto que os outros fizeram.
! - Chamou num tom irritado sendo ignorada por ela. Colocou sua caneca no balcão, prestes a ir atrás da jovem, mas uma leve batida na porta da cafeteria chamou sua atenção. Olhou para a porta que havia desaparecido e para a porta da cafeteria, sentia-se dividida entre seguir a amiga ou ver quem estava ali depois do expediente.
Soltou um suspiro derrotado e se aproximou da porta de vidro. Estava escuro lá fora, apenas uma lâmpada iluminava a entrada fazendo com que fosse um pouco difícil identificar quem era. Forçou a visão ao parar em frente a porta, constatando que era um homem vestindo bermuda jeans e camiseta enquanto calçava chinelos. Os óculos escuros e boné completavam o visual. A figura masculina observava-a pacientemente. Ela indicou a placa que indicava que a cafeteria estava fechada, mas o homem insistiu e quando finalmente abriu a porta, reconheceu a pessoa.


☕☕☕☕☕


seguiu firme até a despensa, decidida a não permitir que Enrico e ficassem a sós. Garantiria que pegassem o maldito limão e sal, tomassem a dose de tequila e partissem para a despedida do namorado. E esperava que nem tão cedo, ambos estivessem juntos novamente. Estava cansada de viver tensa, preocupada que ambos pudessem se aproximar novamente. Ela sabia onde estava se metendo quando resolver se envolver com Enrico e principalmente, quando aceitou namorar com ele.
Ela acreditava que ele a amava profundamente e que era passado, mas parecia que sempre uma voz no fundo da sua mente dizia que ela estava sendo ingênua e talvez, tenha sido por esse motivo que tentou justificar para si mesma a sua atitude.
O corredor estava silencioso, assim como não era possível ouvir vozes dentro da despensa. Bufou irritada e xingou baixinho enquanto se aproximava da porta e abrir rapidamente.
— Que merda é essa? - Gritou inesperadamente com a visão de Enrico e .


Capítulo 12 – E nasce uma estrela

“Quando todas as nuvens escurecem no céu, há uma estrada do arco-íris que pode ser encontrada.”
— Nasce Uma Estrela




Apenas uma única vez, nascemos do ventre da nossa mãe e, consequentemente, vivemos o que chamamos de vida, tendo o seu suporte e ensinamentos até alcançarmos uma idade em que possamos tomar nossas próprias decisões. Ao longo de nossa existência, teremos situações que serão cruciais para determinar por qual caminho estamos seguindo. Algumas dessas, fogem totalmente de nosso controle e quando ocorrem, mudam tudo. A mudança traz o renascimento e naquela noite em especial, os funcionários do Tribbiani’s Coffee acreditavam que seria a vez de Enrico, inesperadamente, haveria mais uma vítima do que chamamos de vida.
Quando se aproximou da porta, reconhecendo a figura que lhe encarava ansiosamente, estaria mentindo se alegasse saber do que se tratava, quer dizer, acreditava saber e por isso, automaticamente sua boca pronunciou-se.
— Olá, sr. Bloom! - Saudou-o com um sorriso que mesclava simpatia e pesar. - Infelizmente, estamos fechados.
— Oi, . - Cumprimentou-a em resposta, fazendo com que a expressão da jovem se tornasse surpresa ao constatar que o homem lembrava dela. - Posso dar uma palavrinha com você? - Perguntou o moreno, abrindo um sorriso simpático, mas era perceptível a sua ansiedade.
Ela franziu a testa confusa, mas concordou com um gesto de cabeça enquanto saía da frente da porta, sem soltar a maçaneta e, com o braço livre, fez um gesto indicando que o homem entrasse.
— Prometo que não vou atrasar o happy hour! - Orlando riu, sem jeito, indicando a bebida que estava no balcão e que ainda não havia sido tocada pelos amigos.
As palavras ditas por ele, fizeram com que a mulher acordasse para a vida e fechasse a porta, olhando em seguida para o caminho que havia seguido momentos antes. Estava realmente preocupada pela demora do trio e sabia que deveria ir atrás para verificar, tendo uma grande chance de impedir alguma tentativa de assassinato, já que se tratando de , tudo era possível. Só que era a primeira vez que via Orlando Bloom ali no café e o mais estranho, era o fato de estar ali para falar com ela. E aguçava sua curiosidade por não ter noção nenhuma sobre o que o ator gostaria de falar.
riu. Sentou em uma cadeira próxima e Orlando também, ficando em frente. Tirou o boné e abriu um sorriso tenso, as mãos descansavam cruzadas sob a mesa e a jovem repetia o mesmo gesto. Enquanto a expressão do homem era preocupada, por não saber como começar sem parecer que estava louco, já que a sua noiva KitKat -apelido que colocou na amada- havia dito que deveria tomar cuidado para não assustar a jovem. exalava ansiedade enquanto o observava atentamente.
Ele fez um barulho com a garganta, respirou fundo enquanto escolhia suas palavras.
— Não sei se você costuma ler livros e se já aconteceu algo parecido, mas sempre acontece comigo. - Começou num tom calmo, encarando-a diretamente, ela apenas confirmava com um gesto de cabeça ansioso. - Quando leio um livro, costumo procurar pessoas famosas ou não que possam ser comparadas aos personagens da minha realidade… - Ele riu achando graça, recebendo um sorriso em confirmação. - E você foi uma delas, .
— Como assim? - Perguntou rindo.
Naquele momento, ela não sabia o que pensar.
Orlando riu e fez um gesto para que aguardasse.
— Dois anos atrás, resolvi me aventurar na escrita e fiz um roteiro para um filme. Criei meus personagens de acordo com o contexto da história, mas sem baseá-los em pessoas reais. - Falou e riu. - Mas sei que é impossível algo assim, né? Tudo que conhecemos vem de alguém, mesmo que indiretamente. Enfim, quando te vi pela primeira vez foi surreal. Precisei de segundos para constatar que você não era a minha Penélope! - A empolgação presente em sua voz e expressão corporal, o tórax inclinado para frente e o olhar preso aos dela.
franziu a testa em extrema surpresa, a boca levemente aberta. Não sabia nem o que dizer diante daquela revelação.
Bloom encarou o silêncio da jovem como algo positivo, sentindo-se confiante para continuar.
— Sei que parece maluquice! - Riu e passou as mãos pelo rosto, descansando os cotovelos na mesa e cruzando as mãos embaixo do queixo, um sorriso divertido brincando em seus lábios.
— Um pouco! - Admitiu com um sorriso sem graça.
Orlando riu.
— A Penélope é a mocinha da minha história! E ela é você, ! Você é ela! - Ele riu achando graça da brincadeira em suas palavras, a empolgação explícita em suas palavras. - Fiquei muito feliz ao saber que você é atriz e por isso, estou aqui.
— Sim… Eu so-ou. - Gaguejou tamanha surpresa enquanto as palavras ditas pelo homem pareciam lhe atingir em cheio.
Ela não saberia o que dizer ou pensar. A única coisa que passava por sua mente era o fato de que haveria uma possibilidade de estar recebendo sua primeira proposta de trabalho.
— E isso é maravilhoso! Queria ter vindo antes, mas fiquei preso com alguns trabalhos e decisões que precisavam ser tomadas antes que lhe fizesse uma proposta. - Explicou ao espalmar as mãos na mesa e abrir um sorriso simpático, assumiu uma expressão séria. - Não sei a sua experiência como atriz, os trabalhos que você já fez e não encontrei nada sobre você no Google… - Falou rindo, completando num tom determinado. - Ainda! Quero você como a estrela do meu filme! Você topa? - Perguntou encarando-a em expectativa.
O silêncio reinou naquele instante.
estava estática no lugar, só percebeu que havia parado de respirar por mais de um minuto quando seus pulmões arderam. Respirou fundo diversas vezes, tentando recuperar o folego. A sua mente a mil e a boca parecendo dormente, não sentia-se capaz em pronunciar uma sílaba sem gaguejar ou até mesmo, chorar.
Orlando Bloom deu todo silêncio do mundo e sentia-se satisfeito com a reação da jovem, pois parecia que apenas estava surpresa com a proposta. E quem seria ele para crucificá-la? Ainda se lembrava da sua juventude no ramo, quando foi escolhido para o papel de Legolas no filme O Senhor dos Anéis e a mistura de sentimentos que lhe atingiu feito uma carreta em alta velocidade.
Encarou-a com uma expressão atenta ao vê-la se levantar, seguindo a passos desesperados até o balcão. Um sorriso divertido abriu-se no rosto de Bloom quando viu-a pegar uma das canecas e virá-la, bebendo o conteúdo. Ela fez careta enquanto tossia. Colocou o objeto no lugar, segurou-se no balcão atrás de si e encarou-o com uma expressão temerosa.
— É mesmo verdade?
Orlando abriu um sorriso carinhoso, levantando-se e aproximando alguns passos da jovem.
— É sim, . Totalmente verdade.
estava com as mãos trêmulas, o coração acelerado e as lágrimas embaçando sua visão. Quando Orlando fez a proposta e a ficha caiu, sua mente pareceu entrar em colapso. O seu corpo e sua sanidade pareceram gritar em desespero por algo forte que pudesse lhe acalmar, a única reação foi tomar uma dose de tequila como se fosse a sua única salvação. Respirou fundo duas vezes tentando não desmoronar ali, mas sabia que não conseguiria se controlar por muito tempo. Poderia ser comparada a uma granada que estava prestes a explodir, atingindo a tudo e todos com seus estilhaços. A proposta de Orlando pareceu apagar o fogo da destruição em que se encontrava, fazendo-a renascer das cinzas como uma fênix. Havia ali uma oportunidade de as coisas darem certo, finalmente.
As lágrimas escapavam de seu rosto enquanto balançava freneticamente sua cabeça num gesto positivo. Respirou fundo pelo nariz, mas as lágrimas e o choro venceram a batalha, rompendo as barragens do controle e pela primeira vez, na sua vida, sentiu que não seria errado se entregar.
Lançou-se, inesperadamente, nos braços de Orlando e o abraçou com toda força, tentando transmitir toda gratidão. Sabia que morreria de vergonha pela atitude quando sua mente esfriasse, mas naquele momento pareceu certo.
Bloom retribuiu o gesto surpreso e sem jeito, mas estava sentindo-se leve. No fundo, sabia que havia feito a escolha certa.
— Muito obrigada! - Agradeceu com a voz rouca pelo choro enquanto fungava e o apertava ainda mais, as lágrimas molhando a camisa do homem.
Orlando riu baixinho enquanto batia levemente nas costas da jovem, tentando acalmá-la.
o solta e se afasta alguns passos, seca as lágrimas com as mãos enquanto o rosto está vermelho. Respira fundo tentando se acalmar, mas o choro recomeça e ela cobre o rosto.


☕☕☕☕☕



O estoque parecia estar pegando fogo, a sensação é que todos seriam queimados vivos ali dentro. e Enrico haviam abandonado os braços um do outro e encaravam com um olhar preocupado, afinal, conheciam o temperamento difícil da jovem. Ambos tinham consciência que a situação em que foram flagrados não favorecia em nada e isso era algo preocupante.
, eu posso… - Enrico falou num tom calmo. Deu alguns passos até a namorada, mas estancou no lugar quando viu a expressão assassina em seu rosto. permaneceu onde estava, não estava com cabeça para lidar com a mulher e sabia que as coisas poderiam piorar.
— Você não pode nada! - Rebateu elevando o tom de voz, o rosto queimando de raiva. — Vá para o inferno! - Mandou irada enquanto fazia um gesto pouco lisonjeiro com o dedo médio. — Queimem no inferno! - Finalizou e virou-se até a porta que estava escancarada, saiu por ela feito um furacão enquanto tirava tudo dos eixos. Saiu tão desesperada que não deu oportunidade que se explicassem, mil pensamentos bagunçando sua cabeça e coração.
Qualquer uma delas, menos . Foi a única coisa capaz de pensar.
! - Chamou Enrico num tom frustrado enquanto via a namorada escapar. — Desculpa! - Pediu, a jovem que estava parada atrás de si, recebendo um dar de ombros como resposta. Ambos soltaram um suspiro cansado e resolveram seguir a amiga. Foram chamando-a por todo corredor, até que Enrico parou abruptamente ao atingir as costas da namorada que havia parado, repentinamente, na porta que ligava o corredor a cafeteria.
— O que houve? - sussurrou ao encostar nas costas de Enrico e perceber que a namorada dele estava impedindo a passagem.
— O que está acontecendo aqui? - ouviu perguntar num tom sério, mas bufou frustrada por não conseguir ter a visão da situação. Ela estava espremida no corredor e Enrico estava na sua frente, impedindo que enxergasse alguma coisa. Bufou novamente e cruzou os braços.
, me deixa explicar. - Enrico tentou insistir, mas a namorada virou para ele e o encarou numa expressão de indignação.
— Depois, Enrico! Não está vendo que tem algo errado com a ?! - Falou num tom impaciente enquanto apontava na direção da jovem e do ator. Identificou o rosto da jovem que estava avermelhado pelas lágrimas enquanto ela soltava-se dos braços de Bloom e secava as bochechas com as palmas da mão.
Quando Enrico e compreenderam que algo estava acontecendo com , começaram a se movimentar numa tentativa de conseguir enxergar através de . O mais irônico era que Orlando e não tinham noção, nenhuma, da confusão de momentos antes no estoque, porque o trio olhava com tanta preocupação que haviam deixado o próprio drama de lado para defender a amiga. Se chegasse uma sexta pessoa, ela poderia testemunhar em favor dos jovens e que eles estavam cem por cento, engajados pela causa chamada .
— O que houve? - Perguntou preocupada enquanto tentava empurrar o casal da entrada do corredor, mas ninguém se mexia. — Não consigo ver nada! Estou sufocando! - Dramatizou enquanto ficava nas pontas dos pés e se apoiava nos ombros do rapaz que continuava a sua frente.
revirou os olhos e virou para trás, vendo Enrico colado a suas costas e por cima do ombro dele, viu os olhos de .
— Não sabia que enxergava com os pulmões. - Provocou, voltou sua atenção para e Bloom enquanto se apoiava no batente da porta, impedindo a passagem.
— Sério! Esse corredor é sufocante! - Reclamou ainda tentando enxergar à frente.
bufou e revirou os olhos, saiu do batente da porta e se aproximou da parte de dentro do balcão. Virou-se e viu eles saírem do corredor. A jovem tomou fôlego aliviada e cruzou os braços em seguida. Enrico parou ao lado da namorada, o olhar preso em e Orlando. A primeira estava secando mais lágrimas enquanto o segundo, tinha um sorriso divertido estampado no rosto e observava os recém-chegados com interesse.
— Melhor? - perguntou debochada enquanto encarava por poucos segundos.
Recebeu um gesto positivo de cabeça e foi o suficiente para que o trio voltasse a encarar a jovem e o ator.
— E então? O que está rolando? - Enrico perguntou. Cruzou os braços e encarou o ator, a expressão ameaçadora e que ocultava a gratidão por terem um drama mais importante que o seu.
— Nada. - Orlando dá de ombros e sorri divertido.
O trio tem diferentes reações: revirada de olhos, suspiro de irritação.
— Está tudo bem, galera! Tudo sob controle! - se pronuncia enquanto funga e seca mais lágrimas.
— Sob controle? - perguntou incrédula enquanto dava alguns passos a frente e encarava-os. — Você parece que acabou de receber a notícia sobre a morte de algum parente.
riu e começou o choro.
, o que está rolando? - Enrico cruzou os braços e sua expressão tornou-se preocupada.
Ela agita os braços num gesto pedindo calma, mas continua soluçando pelo choro.
— Será que poderiam explicar logo? - perguntou irritada, jogou os braços para o alto e revirou os olhos.
confirmou com um gesto de cabeça e fez um sinal para que aguardassem. Riu e respirou fundo, tentando se acalmar enquanto secava as lágrimas. Abriu a boca duas vezes tentando dizer algo, mas o choro escapava pela garganta.
Quando Orlando pressentiu que as coisas poderiam ficar complicadas, fez um sinal com as mãos para chamar a atenção do trio e resolveu se pronunciar calmamente.
acabou de aceitar o papel de protagonista no meu filme. - Contou calmamente, a expressão tão tranquila que parecia estar comentando a previsão do dia e não, a notícia mais importante da vida daqueles amigos. Deu de ombros e colocou o boné na cabeça, mas as batidas do coração agitaram-se por susto ao ser surpreendido por gritos de animação.
Todos gritaram na mais pura felicidade enquanto corriam até a amiga e abraçaram-se coletivamente, nem mesmo Bloom escapou da demonstração de felicidade. O gesto dos amigos fez com que derramasse ainda mais lágrimas, fazendo com que os amigos ficassem com os olhos umedecidos. O êxtase pela notícia era tão grande, até mesmo o drama do triângulo amoroso ficou esquecido por aquela noite. Deveria ser uma noite de comemorações e não, confusão. Todos deveriam aproveitar e brindar a felicidade que estava assolando-os naquela noite.
— Bom, deixarei que aproveitem a noite. - Orlando riu e virou-se em direção a que estava com o rosto avermelhado e os cabelos bagunçados. O grupo desfez o abraço coletivo e encararam o ator em expectativa.
— Mais uma vez, muito obrigada. - sorriu extremamente agradecida.
Orlando fez um gesto com a mão para que ela deixasse de lado os agradecimentos.
— Você vai ser perfeita! - Elogiou com confiança enquanto abria um sorriso empolgado. — Aqui está meu contato. Me mande uma mensagem para salvar seu número e em breve, entro em contato com os detalhes.
confirmou com um gesto de cabeça enquanto guardava o cartão no bolso da calça.
— Boa noite, galera! - Ele desejou enquanto seguia Enrico até a porta, abriu e ele partiu sem olhar para trás, mas o coração estava muito leve. Sentiu-se nostálgico com os acontecimentos da noite e as lembranças de anos atrás, atingiram sua mente. Tempos difíceis, mas bons.
Enrico fechou a porta atrás de si, após Orlando Bloom sumir de vista. Suspiros são audíveis e uma novo choro de .
— Você merece, amiga! - diz abraçando-a apertado.
Ela afasta-se e ri, secando as lágrimas do rosto.
— Vamos comemorar! Temos a despedida de Enrico pela frente. Vocês pegaram o limão e o sal? - Perguntou com a voz rouca enquanto dava uma caneca para cada que havia sido servida com a tequila.
O trio faz um silêncio esquisito para a jovem que estava totalmente por fora da confusão e mais alheia ainda, pois sua mente estava atordoada com a grande novidade.
olha para Enrico que afirma com um gesto sutil com a cabeça e repete o mesmo, ao ver que é encarada em seguida. Silenciosamente, eles fizeram um voto de silêncio que significava que iriam deixar o ocorrido para trás. Uma promessa silenciosa de que aquilo nunca mais ocorreria.
— Para quê sal e limão? Essa noite merece tequila e só tequila! - Disse num tom debochado enquanto estendia sua caneca para o alto, propôs um brinde.
ri e confirma, aproximando sua caneca.
revira os olhos, mas segue o gesto com a caneca.
— Um brinde a nossa estrela de Hollywood! - Falou Enrico aproximando a própria caneca.
— Um brinde a banda mais famosa do mundo! - disse.
Logo, as canecas estendidas para o alto se tocam e fazem um barulho de cerâmica contra cerâmica. Eles gritam em animação e tomam todo o líquido em um gole.
Uma noite para celebrações e que jamais seria esquecida.

☕☕☕☕☕


— Entrou em contato com eles? - Bloom perguntou enquanto anotava algo em seu caderno e brevemente, encarava sua assistente.
A jovem sorriu animada e confirmou com um gesto de cabeça.
— Todos confirmaram o horário para o teste.
— E ? - Perguntou calmamente, mas por dentro estava pulsando em ansiedade. Um sorriso surgiu em seu rosto ao se recordar da noite em que ofereceu o papel a jovem. Tinha certeza que jamais esqueceria.
— Já falei com ela e está tudo combinado.
— Ótimo. - Orlando sorriu satisfeito enquanto a assistente saia da sala e sumiu de vista.
Penélope estava viva!
E quem seria o Dean?
Tirou os olhos de grau e massageou as têmporas. A ansiedade estava acabando com o seu sono, sabia que só descansaria quando estivesse com as filmagens prestes a começar. Colocou os óculos novamente e soltou um suspiro enquanto fazia umas alterações em seu roteiro.
O filme ia ser um sucesso! - Pensou enquanto um sorriso satisfeito surgia em seu rosto.


Capítulo 13 – Testes

Temos que estar preparados para os testes que a vida nos dá.


Um beija-flor. desconfiava ter um preso dentro de seu peito, bem no lugar onde batia o seu coração. Os seus batimentos cardíacos estavam agitados, veloz como as asinhas de um beija-flor e as mãos dela estavam geladas, milhares de borboletas dentro de seu estômago. Uma mistura de nervosismo e ansiedade, pois estava prestes a enfrentar o início das atividades da pré-produção do filme do Orlando Bloom.
Um mês tinha passado desde que recebeu a proposta e tiveram a comemoração dupla com a partida de Enrico. Quando Ashley, assistente de Orlando, entrou em contato para passar todas as informações, tirar dúvidas sobre contrato e os testes que deveria participar, ela precisou conversar com Joey. O homem ficou orgulhoso da jovem e até ficou emocionado. No final, ficou combinado que receberia férias no período das gravações. Afinal, ela ainda não era capaz de viver de sua arte e precisava do dinheiro para pagar suas contas. Ainda não tinha contado para sua mãe e Cat.
Havia trabalhado no período da manhã, a parte da tarde ficaria por responsabilidade de e junto com Harry, o novo cozinheiro. Joey estava treinando-o, mas podia perceber o quanto o chefe sentia falta de Enrico. Todos sentiam falta dele.
seguiu até o prédio espelhado da produtora New Line, uma das empresas envolvidas na produção do filme e distribuição, no centro de Los Angeles. Lá seria o quartel general da equipe e o local marcado para os testes. Ela não teria que fazer testes para conseguir o papel, mas teria que participar na escolha dos personagens. Quando as portas do elevador se abriram, ela estava em frente a uma porta envidraçada e que permitia ter a visão de uma sala de reuniões, avistou Orlando Bloom e mais duas pessoas.
. - Bloom ergueu-se da mesa de mogno e seguiu até ela, abrindo os braços e sorrindo animado. Abraçaram-se e a jovem pode ver duas mulheres e um homem observando-os simpáticos.
— Mais uma vez, muito obrigada pela oportunidade. - Agradeceu e sorriu timidamente.
Orlando sorriu sem graça e virou-se em direção a mesa.
— Vamos as apresentações. - Ele falou animado e fez um gesto pedindo que a jovem se aproximasse. — Bradley Jones, nosso Diretor de Elenco. - Colocou as mãos nos ombros do homem.
Bradley Jones era um senhor que aparentava os seus quarenta anos e cabelos grisalhos.Usava um óculos de grau e boné, tinha olhos verdes e um sorriso simpático.
— Muito prazer, . - Cumprimentou-a com um aperto de mão e sorriu, sentando-se novamente.
— Nossa produtora executiva, Karen Connor. - Parou atrás de uma mulher loira que aparentava os seus trinta anos e sorria simpática. Ela ergueu-se da cadeira e cumprimentou a jovem com um aperto de mãos.
— Seja bem-vinda, .
— E essa você já conhece. - Afirmou Bloom, apontou para uma jovem de cabelos castanhos que aparentava ser poucos anos mais velha que . — Minha assistente, Ashley Hudgens.
— Prazer em te conhecer, ! - Ela falou muito simpática enquanto cumprimentava-a com dois beijos na bochecha e sentou no lugar que ocupava.
Todos sentaram-se e assumiu uma cadeira ao lado de Ashley.
— Bom, eu sou o roteirista, Diretor e Produtor. Estou muito empolgado com o andamento do projeto e estou com muita expectativa para o sucesso. - Era perceptível a alegria no rosto do ator que ajeitou os óculos no rosto e observou cada um dos rostos presentes.
— Com toda certeza, meu amigo. - Afirmou o diretor de elenco.
— Hoje teremos três testes para o papel de Dean. - Ashley falou seriamente enquanto abria uma pasta de couro preta. Pegou folha de papel e distribuiu para todos os presentes. — Conseguimos três nomes de peso, conforme está no papel.
aproximou a folha de seu rosto e franziu a testa enquanto lia os nomes na listagem.
— Jensen Ackles, é um ótimo nome. Ele já finalizou as gravações da última temporada de Supernatural e deve estar em busca de novos papéis. - Afirmou Bradley calmamente enquanto ajeitava os óculos no rosto.
— Inclusive, o próprio me procurou para fazer o teste. - Bloom disse sorridente. mordeu o lábio inferior enquanto os olhos continuavam presos a folha de papel a sua frente. Não seria fácil trabalhar com o Jensen, afinal, o homem era maravilhoso e fez seu nome como Dean Winchester. O verdadeiro problema estava no último nome da lista.
— E o cachê não está alto. - Karen anotou algo em sua folha.
— Ele tem o perfil bastante parecido para o Dean e além disso, interpretou um Dean. - Lembrou Bradley enquanto anotava algo.
— Chris Evans. - Ashley listou o próximo nome e sorriu de forma esquisita.
— Capitão América. - Constatou Bradley enquanto coçava a nuca e dava uma breve olhada para Bloom. — Interessante.
— O cachê ficou um pouco elevado para o nosso orçamento. - Karen olhou para Orlando pensativa.
- Sim, mas se ele encaixar perfeitamente no papel, posso contribuir do meu bolso. - Explicou Orlando enquanto dava de ombros e anotava algo. A mulher confirmou satisfeita e anotou mais alguma coisa.
poderia atuar com Chris Evans? O homem era maravilhoso e arrebentava até em comercial de margarina. Como conseguiria acompanhar o ritmo do homem? E beijar aquela boca?
— E por último, Robert Pattinson. - Finalizou Ashley satisfeita.
não conseguiu evitar de suspirar, chamando a atenção de todos.
— Algum problema, ? - Bloom questionou com um sorriso divertido.
A jovem apressou-se em negar com um gesto de cabeça e arregalar os olhos. Bradley riu.
— Ele é o favorito para o papel. - Bradley disse divertido enquanto a encarava, parecendo refletir sobre algo.
controlou-se o máximo que poderia para não surtar em desespero. Aturar o Robert na cafeteria era uma coisa, outra coisa seria ter que trabalhar.
— Ele ficou indignado, quando contei que teria que fazer o teste. - Bloom riu ao recordar-se de algo.
— Admito que quando li sobre o Dean, pensei no Pattinson. - Revelou Ashley sorrindo.
— Bom, não podemos ter favoritismo. Nesse momento, teremos que ser imparciais.
- Aconselhou Bradley seriamente.
encarou os presentes e achou graça quando todos riram das palavras do homem.
— Temos atores de peso e não será uma escolha fácil. - Karen falou enquanto encarava os rostos presentes.
— O primeiro teste será com Jensen. Faremos um take sozinho e outros dois com a presença de . - Ashley explicou fornecendo outra folha.
Os olhos da jovem se arregalaram enquanto lia a cena que deveria fazer. A cena seria Penélope discutindo com Dean e outra, eles teriam que se beijar pela primeira vez.
Bloom riu, chamando a atenção de todos.
— Estou ansioso para esses testes.
Ao contrário dele, não estava ansiosa e sim, aterrorizada para o que lhe aguardava.

☕☕☕☕☕




iria conhecer Jensen Ackles, Chris Evans e teria que beijá-los. Poderia morrer e ir ao céu, pois estava prestes a zerar a vida. Além dos galãs de Hollywood, ainda tinha que atuar com Rob, o que estava zero a fim de fazer desde o que aconteceu entre eles. Estava muito nervosa, poderia ter um colapso a qualquer momento. Não saía da sua mente, o fato de serem atores experientes e muito renomados. Era até um crime terem que atuar com ela.
Encarou o próprio reflexo no espelho do banheiro e apoiou as mãos na pia, respirou fundo várias vezes. Ashley havia informado que Jensen tinha chegado e estava fazendo o take, logo iria fazer as cenas com ela. A situação caiu feito uma bomba
no colo da jovem, parecia prestes a explodir e não sabia o que fazer. Sabia que tinha nascido para a atuação, mas o medo de fracassar estava sufocando-a. Temia não conseguir viver Penélope da forma que Bloom havia imaginado e não atingir as expectativas. Além de si mesma, todos estavam colocando muita expectativa no trabalho dela e pela falta de experiência, beirava o desespero.
Olhou-se no espelho e os olhos encheram-se de lágrimas, embaçando a visão. Molhou o rosto novamente e respirou fundo.
Você lutou para ter uma oportunidade e não pode fugir agora! - Pensou tentando se motivar.
Afirmou para si mesma com um gesto de cabeça e tentou se acalmar. Ouviu uma batida leve na porta do banheiro.
?
— Já estou indo. - Passou as mãos no cabelo e saiu.
— Orlando pediu para te chamar. - Avisou uma Ashley sorridente. — Fica tranquila e arrebenta! - Incentivou-a ao notar o nervosismo da jovem.
forçou um sorriso animado e seguiu até a sala que foi indicada. Ashley abriu a porta, falou algo que fez com que as pessoas rissem e deu espaço para que a jovem entrasse. Quando entrou, avistou Bradley e Orlando Bloom sentados em cadeiras, lado a lado. E no lado oposto da sala, avistou um sofá de couro na parede. Sorriu timidamente ao reconhecer o homem acomodado no sofá.
Jensen Ackles ao vivo e a cores, banhado em simpatia e beleza. O homem conseguia ser ainda mais bonito pessoalmente e quase levou a jovem ao desmaio. Levantou do sofá, permitindo que visse a roupa que vestia. Usava uma camisa preta e jeans escuros, o cabelo num corte baixo e uma leve barba por fazer. Resumindo: maravilhoso. Os olhos castanhos esverdeados transmitiam uma alegria e o sorriso brilhante, evidenciava algumas marcas de expressão em seu rosto. Totalmente sem palavras para definir como se sentia.
— Jensen, essa é a que vai interpretar a Penélope. - Orlando apresentou-os. O ator olhou-o e fez um gesto afirmativo com a cabeça enquanto se aproximava da jovem e estendia uma das mãos.
Ela sentiu-se contagiada pela aura leve que o homem transmitia e acabou sorrindo em resposta. Apertaram as mãos em cumprimento sem perder o sorriso.
— Muito prazer, . - Respondeu com um sorriso digno de uma propaganda de Dentil. — Espero que me escolha como o seu Dean. - Ele deu uma piscadela divertida e manteve um sorriso.
Ela ficou atordoada e apenas riu sem saber o que dizer.
— Bom, podem pegar as falas para o teste. - Bradley informou enquanto os atores pegavam os papéis da mão de Bloom. — A primeira cena será a primeira discussão entre Penélope e Dean, em seguida teremos uma cena do primeiro beijo.
tentou disfarçar o nervosismo enquanto lia as falas na folha e quando deu uma rápida olhada em Jensen, tinha uma expressão de concentração. Fazia um leve biquinho muito sensual e que dava vontade de admirar por horas. Ela tentou manter o foco nas falas enquanto lia e relia, tentava absorver qual seria a interpretação como Penélope.
— Podemos começar? - Bradley perguntou enquanto ajeitava a câmera em direção ao casal.
Ambos confirmaram com um gesto de cabeça.
Orlando sorriu encorajador e folheou as páginas, a caneta brincando entre seus dedos.
— Cena 15, take um, teste com Jensen Ackles. - Falou Bradley ao ativar a gravação.
— Ação. - Bloom anunciou.
Respirações puderam ser ouvidas e o casal de atores se posicionou, frente a frente, as folhas nas mãos. A expressão no rosto de Jensen era séria e havia ficado com uma postura mais reta. Toda a aura de simpatia pareceu evaporar e o homem já não parecia ser ele mesmo.
— Dean Carter. - Ele estendeu a mão livre para a jovem, uma tentativa de cumprimento que foi ignorada e fez com que deixasse a mão cair ao lado do corpo. Encarou-a com uma expressão irritada, era perceptível que estava apertando a mandíbula por irritação.
assumiu uma postura mais confiante enquanto lançava um olhar de desprezo para o homem a sua frente.
— E…? - Perguntou irônica enquanto pendurava a alça da câmera no pescoço.
— E que sou o investigador responsável pelo caso e você tem que me fornecer as imagens. - Falou num tom autoritário e que gerou irritação na personagem de .
Ela revirou os olhos.
— Você tem um mandado? - Perguntou num tom calmo, mas o sorriso em seu rosto evidenciava o deboche.
Percebeu Jensen fechar as mãos em punho e apertar com força os dentes, flexionando a mandíbula.
— Não achei que fosse necessário, já que você é uma boa menina. - Falou num tom sedutor e abriu um sorriso que tentava conquistá-la, mas o olhar denunciava o sentimento de irritação que tentava camuflar.
massageou as têmporas num gesto de cansaço e deixou o braço cair ao lado do corpo, encarou-o com um sorriso divertido, mas o olhar afiado não passou despercebido pelo homem.
— Acho que deveria usar o seu tempo para conseguir o mandado ao invés de tentar vir com esse papinho furado. - Ironizou enquanto cruzava os braços.
Ele bufou irritado e pegou um chiclete, colocando-o na boca.
— O seu vídeo é importante para a investigação e, se não colaborar, podem surgir mais vítimas desse maníaco. - Falou num tom sério enquanto mastigava o chiclete que conseguiu sentir o cheiro de menta.
— Apenas com mandado, detetive Carrington. - Ela virou de costas e fingiu se afastar, fazendo um gesto de despedida sem olhá-lo.
— É, Carter. - Corrigiu-a num tom mais alto e revirava os olhos. Ela apenas ignorou de costas.
— Corta. - Orlando falou e ouviu-se palmas.
Ambos relaxaram animados e abraçaram-se. soltou o ar dos pulmões e trocou a página do roteiro. Sentiu uma leve vontade de chorar por conta dos sentimentos que lhe dominaram durante a atuação, afinal, tinha se tornado real.
— Você foi ótima. - Jensen elogiou-a e deu um sorriso que pareceu muito sincero.
— Você também. - Sorriu timidamente.
— Vocês foram maravilhosos! - Orlando elogiou-os e soltou um suspiro de alívio. — Arrebentaram! E adorei o lance do chiclete, Jensen. - Apontou em direção ao homem.
Jensen riu e deu de ombros.
— Vamos ao primeiro beijo de Penélope e Dean…
E foi o suficiente para começar a suar em nervosismo.

☕☕☕☕☕


— Você não tem medo de morrer, mulher! - Chris Evans repreendeu-a, massageou as têmporas e colocou ambas as mãos na cintura.
ainda estava atordoada por ter beijado Jensen Ackles horas antes e por isso, o raciocínio parecia escapar por seus ouvidos. Quando acreditou que depois do ator, seria capaz de conhecer Chris Evans de boa, se enganou completamente. Ainda se recordava do momento que o homem entrou na sala, os cabelos mais longos por causa de um filme recente e um sorriso caloroso. Guardou na memória o cheiro maravilhoso do homem e a sensação dos lábios macios em sua bochecha. Não estava sendo capaz de temer o beijo e sim, desejar que acontecesse logo. As amigas teriam um surto, quando compartilhasse todos os detalhes. Só um Jensen Ackles e um Chris Evans para tirarem Robert Pattinson de sua cabeça.
— A morte é inevitável. - deu de ombros e abriu um sorriso debochado. Chris Evans passou uma das mãos pelo cabelo, penteando a franja lisa para trás.
— Quando o motivo é causa natural e não por perseguir um serial killer. - Comentou revirando os olhos e enfiou a mão no bolso. Pegou um cigarro e colocou na boca, acendendo-o. Deu uma tragada sem desviar o olhar da jovem e soltou a fumaça pelo nariz.
tentou não se distrair com o gesto extremamente sensual. Detestava cigarro, mas Chris Evans fumando era uma cena indescritível e que não deixaria nenhuma calcinha seca.
— Ah! - Exclamou num gesto de pouco caso e deu de ombros, tentando disfarçar o nervosismo em suas palavras. — Eu estou aqui, não estou? - Perguntou dando de
ombros, a expressão de indiferença, mas a verdade é que estava assustada. Penélope quase foi levada pelo assassino misterioso e escapou por sorte, mas não admitiria que o investigador soubesse que estava coberto de razão.
— A questão é até quando… - Soltou friamente e numa expressão calma enquanto soltava mais fumaça pela boca.
revirou os olhos, mas a mão tremeu levemente e Chris Evans olhou com uma expressão de reconhecimento da reação da jovem.
— Corta. - Anunciou Orlando com um sorriso satisfeito.
— Excelente, excelente. - Bateram palmas, animados.
sorriu para Chris Evans e observou-o apagar o cigarro no cinzeiro, um sorriso satisfeito estava estampado em seu rosto. Sentiu um frio na barriga ao pensar que em breve teria que beijá-lo e depois, o próximo que teria que enfrentar seria Robert Pattinson.


Capítulo 14 – As voltas que o mundo dá

Quando é para acontecer, até quem tenta atrapalhar, ajuda. - Autor desconhecido.


- Eles já estão prontos. - A assistente avisou ao entrar na sala em que estava aguardando ser chamada.
Passou a última hora respondendo as mensagens de surto das amigas, imaginando mil cenários para o momento em que entrasse na sala e Robert visse quem seria a protagonista do filme. O seu tão sonhado momento de glória havia chegado. Imaginou-se andando confiante até a sala, Orlando abrindo a porta todo sorridente para ela e anunciando: “Entre, !”. E quando entra, vê a expressão de espanto do homem enquanto sua mão acaba de abandonar os cabelos, deixando-os bagunçados. E ela empina o nariz e solta uma ironia bem inteligente, deixando ele irritado.
Quem dera tivesse imaginado somente isso, mas não. Ela também perdeu só um tiquinho do tempo, pensando em como seria beijá-lo.
Mentira.
Pensou o tempo inteiro sobre isso e apenas quando estava seguindo Ashley pelo corredor que a cabeça começou a borbulhar com as opções de como agir ao entrar na sala.
- Por favor, não abre agora! - Pediu num tom desesperado enquanto secava as mãos suadas na roupa e respirava fundo.
A mulher parou e olhou-a preocupada.
- Não precisa ficar nervosa.
- Não? - Perguntou surpresa.
- Você beijou o Jensen Ackles e Chris Evans. - Lembrou-a com um sorriso divertido. Soltou um suspiro frustrado.
- Mas eles não eram o Robert Pattinson.
- Ah, entendi. - Ela riu baixinho para que os homens do outro lado da parede não ouvissem e soubessem de sua presença. - Você é uma fã. - Constatou.
Sorriu envergonhada e confirmou com um gesto tímido de cabeça.
- Que bonitinho! Vai ser a primeira vez perto dele?
- Não. - A mulher franziu a testa ao ouvir a resposta. - Eu o vejo praticamente todo dia. - Sorriu sem graça.
- Como assim?
- Eu trabalho na cafeteria que o Robert frequenta.
- E está nervosa? - Ela riu, cobrindo a boca com uma das mãos.
- Um pouco. - Suspirou enquanto estalava os dedos num gesto de nervosismo. - Dessa vez, é diferente. Vamos atuar juntos e… - Tentou continuar, mas desistiu.
- E beijar.
- E beijar. - Confirmou derrotada.
- Você quer desistir?
- Não! - Ela quase gritou e a mulher fez um gesto para que falasse mais baixo.
- Então, ponha na cabeça que quem está lutando por um papel é ele e não você. - Falou num tom firme, olhando-a seriamente. - Você teve a honra em ser convidada para o papel de protagonista, não é algo fácil de se acontecer com uma atriz de pouca experiência.
Secou os cantos dos olhos e respirou fundo ao ouvir as palavras da mulher. Ashley esperava pacientemente com um sorriso encorajador.
- Estou pronta! - Anunciou num tom firme enquanto respirava fundo e recebia um gesto positivo das mãos da mulher.
Quando a porta foi aberta e viu um Bloom sorridente, ela respirou fundo e entrou na sala com uma falsa postura de confiança enquanto tentava convencer a si mesma que sairia ilesa daquela situação.

☕☕☕☕☕




Robert estava sentado no sofá em frente aos outros homens e sua posição permitia que visse a porta perfeitamente. E foi difícil evitar revirar os olhos em direção ao Orlando, após constatar que realmente foi chamada para o papel de protagonista. Estava mais do que estampado na cara do amigo, o encantamento pela jovem. Permitiu-se encará-la com um sorriso simpático nos lábios enquanto segurava suas falas da cena que iriam gravar. Percebeu que ela vestia o uniforme de trabalho que ele já estava acostumado sempre que frequentava a cafeteria.
- Entre, .
- Oi, novamente. - Ela riu parecendo tensa por mais que estivesse com uma expressão tranquila.
- Robert será o nosso último candidato ao papel de Dean Carter. - Orlando sorriu amigavelmente enquanto retornava ao seu lugar ao lado do outro homem.
- Lembrando que o papel era meu.
O homem riu em resposta ao amigo enquanto a mulher franzia a testa em confusão. Observou-a confirmar com um gesto de cabeça e fechar a porta atrás de si. Pegou a folha e seguiu até ele. Levantou desajeitado, afinal, não estavam numa relação cliente-vendedor. Ali seria outra história e teriam que ignorar a relação que tinham fora dali.
- Preparado? - Ela perguntou enquanto segurava o papel com as duas mãos e o rosto estava com um sorriso tenso.
- Não precisa ficar nervosa, o meu beijo é mil vezes melhor que dos outros concorrentes. - Ele brincou enquanto sorria.
Ouviu risadas masculinas.
- Melhor do que Jensen Ackles e Chris Evans? - Ela perguntou incrédula, mas podia ver a zombaria em seus olhos.
Ele ignorou o comentário.
- Vamos acabar logo com isso. - Falou num tom determinado e voltou a encarar a jovem que estava ao seu lado. Observou a expressão surpresa em seu rosto. - Está pronta, ?
- Sempre. - Respondeu com um sorriso.
- Então, vamos começar com a cena do beijo.
— Cena 23, take um, teste com Robert Pattinson. - Falou Bradley ao ativar a gravação.
— Ação. - Bloom anunciou.
Transferiu sua atenção para o roteiro em suas mãos e leu a cena.
Um beijo. Seria moleza. - pensou confiante.
☕☕☕☕☕




Nunca. Quer dizer, apenas em seus sonhos imaginou que estaria prestes a beijar Robert Pattinson. Porque a realidade estava muito longe de acontecer… E a vida brincou.
estava cara-a-cara, esforçando-se para encarnar Penélope e esquecer que teria que fazer mais uma cena de beijo. Poderia ter sido fácil, mesmo depois de encarar Jensen Ackles e Chris Evans, mas não seria. E tudo isso, porque o seu maior ídolo estava a sua frente.
Observou Robert respirar fundo enquanto lia as folhas que segurava e em seguida, voltou a encará-la. A sua expressão era tensa e até passou uma das mãos pelo cabelo, tentando arrumar, mas só bagunçou ainda mais. E mesmo sendo ele ali, ela sabia que não era.
E que ela não era ela.
Eram apenas Penélope e Dean. A história deles e compreender isso, acalmou seu coração e tornou as coisas mais fáceis.
- O que foi, Carrington? - Ela perguntou num tom entediado enquanto cruzava os braços e observava-o impaciente.
- Fica comigo. - Ele pediu num tom sério, mas os olhos pareciam implorar por algo. Ela abriu um sorriso de canto e encarou-o debochada.
- Já estou aqui, não estou?
Ele soltou o ar dos pulmões e acendeu um cigarro. Observou atentamente enquanto o homem dava uma tragada e sorria divertido.
- Por que você torna as coisas tão complicadas?
- Eu não complico nada, meu bem. - Deu de ombros e manteve o sorriso debochado. - Já expliquei que só tenho compromisso com o meu trabalho.
- Nós somos iguais, Penélope. - Sussurrou dando outra tragada. - Nossa profissão é a nossa vida.
- Não é o que está parecendo. - Franziu a testa e cruzou os braços, mantendo o olhar preso a ele.
Dean ficou em silêncio saboreando o fumo, o olhar parecendo pensativo enquanto encarava um ponto acima da cabeça de Penélope. Quando finalmente terminou o cigarro, apagou no cinzeiro e encarou-a, um sorriso triste nos lábios.
- Eu pensei que apenas o meu trabalho seria o suficiente… - ele abriu um sorriso de canto e deu alguns passos, aproximando-se dela. Parou alguns centímetros de distância, olhou-a seriamente. - Mas me enganei. O que temos mudou as coisas… - ele colocou o indicador nos lábios da mulher, a sensação tão leve e gostosa que fez com que ambos fechassem os olhos. - Quero estar com você, Penélope. - Ele soprou num sussurro ao colar a testa na dela, permanecendo de olhos fechados.
O coração de bateu acelerado segundos antes de sentir os lábios quentes de Robert tocarem os seus e, quando abriu a boca para aprofundar o beijo, sentiu o gosto de tabaco em sua língua. Ambas as mãos seguravam-na pelas bochechas enquanto as dela passeavam livremente pelos cabelos do homem. Parecia tão fora de si, esquecendo-se de onde estava ou o que estava fazendo ali, o beijo estava muito bom e logo, sentiu o corpo esquentar.
- Corta! - A voz de Bloom ecoou na sala e quebrou no mesmo instante a magia daquele beijo. Assustou-a de uma forma que lembrava a sensação de estar prestes a adormecer e ser acordada repentinamente por algum barulho.
Eles se afastaram tão rápido que assemelhava a ter encostado em algo quente. Enquanto tentava acalmar o seu coração, observou Robert que a encarou parecendo atordoado e ajeitou os cabelos bagunçados.
- Vocês foram maravilhosos! Eu não tenho palavras! - Orlando falou radiante enquanto dava um beijo na bochecha de e dava dois tapinhas nas costas do amigo.
- Acho que não restam dúvidas, Orlando. - Bradley pronunciou-se satisfeito enquanto encarava o outro.
Ambos se encararam e fizeram um gesto afirmativo. Ela estava tão atordoada que ficou em silêncio.
Jamais esqueceria desse dia.
☕☕☕☕☕




Costumava ser muito orgulhoso e talvez tenha sido por isso que ele não abriu a boca para parabenizá-la. Entretanto, admitia e estava admirado com o talento de . A cena fluiu super bem entre eles e isso não era algo fácil de se acontecer, nem sempre o elenco conseguia atingir esse patamar. Tiveram alguns filmes que estrelou que a química não rolou e que algo parecia faltar, foi preciso sair para conhecer os colegas de elenco para melhorar o desempenho diante das câmeras. Nem sempre ser bom era o suficiente.
Observou se despedir e seguir Ashley e Bradley para fora da sala.
- Não acredito que convidou Jensen Ackles e Chris Evans! - Falou dando uma risada enquanto encostava na soleira da porta enquanto Bloom guardava uma pasta dentro da mochila.
O homem sorriu culpado e deu de ombros.
- Estava aberto a negociações. Eles estão no auge da carreira e os fãs seriam bilheteria garantida. - Robert bufou.
- Perdeu o seu tempo. - Brincou. - Afinal, confirmei mais uma vez que você estava errado. - Lembrou-o, um sorriso debochado no rosto.
- Não vai esquecer mais disso?
- Jamais.
Ambos riram.
Orlando saiu da sala, seguido por ele e caminharam pelo corredor.
- Se te conforta o coração, sempre foi você. - Bloom deu dois tapinhas no ombro do ator e riu.
Robert revirou os olhos e riu, seguindo-o.
- Não foi o que pareceu.


☕☕☕☕☕
- CHRIS EVANS? - Gritou chocada recebendo um pedido de que falasse baixo.
- JENSEN? - teve a mesma reação.
- Podem falar mais baixo? - Pediu olhando para ambos os lados enquanto pegava a cerveja e dava um gole. - É segredo, não deveria estar contando para vocês.
Elas riram.
- Cara, você é muito sortuda! - falou indignada enquanto tomava a própria cerveja. - Imagina beijar esses dois gostosos.
- Concordo totalmente. Sentava fácil. - falou tranquilamente enquanto bebia.
- ! - riu chocada.
- O quê? É a verdade! Vai dizer que você não?
- Até eu. - falou dando de ombros.
- ! E o Enrico? - Perguntou chocada.
- O que tem ele? Ele já falou que pegaria a Kim Kardashian e nunca morri por isso. - Ambas riram.
Elas tinham resolvido sair para beber, depois do expediente e estavam no Pink Rose. O lugar estava lotado enquanto um cantor se apresentava com algumas músicas animadas.
- E o Robert, ?
- Deve ter ficado com a cara no chão quando você chegou, né?
- Nem me lembre dele! Ainda estou processando o fato de ter beijado aquela boquinha. - Ela falou com uma expressão de sofrimento, mas que logo tornou-se divertida. - Nunca imaginei que aconteceria isso! Metade do tempo estou querendo matar ele e, a outra, beijar! - Ela riu e bebeu mais.
- Ele cuspiu para o alto, caiu na cara. - falou.
- Um brinde à nova estrela de Hollywood! - estendeu a garrafa, ambas fizeram o mesmo e riram, repetindo as palavras.
Era oficial: gravaria o seu primeiro filme.


Capítulo 15 – Luz, Câmera e Ação!

“Penelope cobriu a boca com as mãos sujas de terra enquanto encolhia o seu corpo atrás de um enorme e arredondado galão de gasolina. Passos ecoavam pelo abandonado galpão e pareciam estar cada vez mais perto, fazendo com que o desespero lhe dominasse.
E agora? Como escapar dali com vida? - Pensou aflita.”
- Orlando Bloom.


Nunca nos sentiremos cem por cento preparados. Podemos confiar, ter fé que tudo vai dar certo e, até mesmo, repetir mil vezes que vamos conseguir, mas não será um sentimento completo. Sempre vai existir a dúvida, o receio de não acertar, a sombra do fracasso querendo pairar sob nossa cabeça, mesmo que bem fraquinho. E isso é algo normal de sentir, afinal, somos humanos. É o mesmo que tomar um remédio e saber que existe o risco de sofrer algum tipo de reação alérgica. A dúvida sempre estará ali, o efeito colateral de sair da caixinha, ansiar pelo diferente assim como os pulmões precisam de ar, mergulhar de cabeça nos desafios e almejar o grande. Um sentimento ruim e que quando não é combatido, pode colocar tudo a perder.
E sabia muito bem disso, mas não conseguia evitar aquele sentimento. Sentia-se agoniada, banhada pela insegurança e o receio de não atingir as expectativas. A mente sendo recheada pelos vários momentos em que recebeu um “não” ou, até mesmo, quando não foi capaz de fazer um único teste. Doeu ao perceber que, uma das noites mais importantes da sua vida, estava sendo manchada pelo medo.
Precisou fechar os olhos, respirar fundo e forçar a mente a seguir por outro caminho.
Só ela sabia o custo que foi chegar até ali.
Precisou abrir mão de muita coisa, feriu-se e feriu aqueles que mais amava por não querer desistir do seu sonho.
- Começa agora uma nova etapa da sua vida, . - Sussurrou para si mesma ao abrir os olhos e observar a movimentação da produção. - Ainda tem muita luta pela frente. - Finalizou com um suspiro cansado enquanto ajeitava a alça da mochila nas costas.
Esforçou-se para abrir o seu melhor sorriso e seguiu, mesmo com medo.


☕☕☕☕☕



- Aconteceu alguma coisa? - Enrico perguntou ao se aproximar da namorada.
Tinha saído do estúdio de gravação e ido direto buscá-la no trabalho. Os poucos minutos que aguardou do lado de fora, olhando a fachada, causaram uma saudade da vida que levava todos os dias. Sonhou muitas vezes com o momento que realizaria o próprio sonho, mas admitia que sentia muita falta de estar enfrentando um dia de trabalho com os colegas de trabalho que se tornaram uma extensão da sua família.
A jovem o abraçou forte, escondendo o rosto em seu ombro.
A preocupação tomou conta ao ver sua expressão abatida, pois não era costume vê-la ficar assim. Os raros momentos foram por algum problema familiar e o que suspeitou.
- Minha mãe. - Deu de ombros evitando olhá-lo enquanto colocava a mochila nas costas e prendia o cabelo.
- E? - Ofereceu o capacete que foi pego.
Esperou pacientemente por sua resposta, mas como não existiu. Tomou o capacete da mão dela e recebeu um resmungo indignado. Segurou-a gentilmente pelo queixo e olhou dentro daqueles belos olhos.
- Me conte tudo ou não saíremos daqui. - Exigiu.
Ela fez um som de indignação, encarou o céu e sussurrou um xingamento. Olhou-o novamente com uma expressão de irritação.
- Vai chover.
- Deixa chover. - Deu de ombros ainda segurando-a gentilmente.
- Se quisesse me molhar, teria ido a pé. - Rebateu seca.
Ele abriu um sorriso que fez com que ela o fuzilasse novamente.
- Pode parando com esse sorrisinho engraçadinho.
- Que sorriso? - Fez uma expressão de desentendido.
Queria poder tirar aquela tristeza dos olhos da amada, ouvir cada palavra sobre o que aconteceu e ajudá-la a resolver, mas sabia que, naquele momento, o melhor que poderia ser feito era distraí-la por algumas horas. E quem sabe assim, ajudasse a aliviar o peso em seu coração.
Acariciou levemente o queixo dela e continuou sorrindo.
- Você sabe muito bem qual! - Ela forçou-se a manter a expressão de irritação, mas a diversão estava explícita no olhar.
- O que te seduz? - Perguntou num tom de voz mais sedutor. Aproximou a boca de sua orelha e sussurrou: - O que te faz desejar todos os meus beijos? - Depositou um beijo no pescoço da jovem que se arrepiou.
- O que te deixa com uma cara de otário. - E o afastou, arrancando o capacete da mão dele e enfiando na cabeça.
Ele riu divertido.
- Ai! - Fez uma expressão de falsa dor enquanto uma mão descansava no peito. - Assim você machuca os meus sentimentos! - Dramatizou.
revirou os olhos e levantou a viseira do capacete. O sorriso que ela tinha no rosto fez com que sentisse ainda mais vontade de beijá-la.
- Ou o seu ego? - O sorriso provocativo continuava em seu rosto.
- Deveria ter arranjado uma namorada que me valorizasse. - Fingiu falsa indignação enquanto colocava o capacete, subia na moto. Sentiu-a ocupar o espaço atrás de si e logo em seguida, envolvê-lo firmemente pela cintura. Ouviu o barulho do capacete dela atingindo a parte de trás do seu e a voz abafada.
- Para de drama! Coloca essa bicicleta para andar! - Ordenou.
- Seu desejo é uma ordem, madame. - Ele gritou divertido e deu partida na moto.
Momentos como aqueles faziam com que tivesse total certeza de que havia feito a escolha certa. era a mulher perfeita para si e ai de quem ousasse negar. Havia ganho na loteria!

☕☕☕☕☕



Em algumas horas, o cabeleireiro e a maquiadora juntamente com a equipe de figurinistas, transformaram em Penélope. O cabelo de foi cortado na altura da linha do maxilar - uma baita mudança radical -, mas pelo fato da personagem ser muito prática já que vivia para sua profissão. Penélope pregava a ideia de que uma boa jornalista deveria estar pronta para o furo de reportagem e por isso, cuidar do cabelo tinha que ser prático. O figurino da personagem consistia em regatas, camisetas, sobretudo, calça jeans e tênis, além de serem na cor preta - uma forma de não chamar a atenção enquanto fazia suas investigações. Algo muito bem-vindo por causa do conforto.
Depois de finalizarem tudo, um membro da equipe de produção levou-a para um trailer branco que tinha na porta uma folha de papel colada, onde estava escrito “ ”. E diante daquele momento, a sua visão ficou embaçada pelas lágrimas que queria derramar, mas controlou-se para não acabar borrando a maquiagem. Agradeceu ao rapaz e esperou que ele se afastasse.
Ao lado do seu trailer, outros dividiam o espaço cimentado formando um corredor. Virou para trás e viu que o de Robert ficava em frente ao seu. Depois, olhou para os lados e não avistou uma alma por ali. Então, abriu um sorriso enorme enquanto pegava o celular do bolso da calça jeans e subia os três degraus de ferro que ficavam na entrada de seu trailer. Agachou-se um pouco e mirou a câmera enquanto fazia uma careta com a língua para fora, o papel com seu nome bem visível na porta. Abriu a porta e entrou animada. Mandou a foto no grupo que dividia com as meninas e devolveu o celular ao bolso.
O primeiro cômodo era uma pequena sala de estar com um sofá de três lugares e uma janela atrás. A direita tinha a entrada para outro espaço, era um pequeno corredor que de um lado ficava uma beliche e do outro, uma mini cozinha com pia, fogão embutido de duas bocas e armário. No final desse corredorzinho, tinha uma porta que era um banheiro com vaso, pia e chuveiro com cortina. O lugar não era enorme, mas poderia descansar com conforto enquanto esperava pelas gravações que poderiam levar muitas horas.
Retornou para a sala de estar com a pasta que estava em cima da pia e sentou-se no sofá. Abriu e começou a ler a programação dos próximos meses de gravação. Folheou o roteiro das cenas daquele dia, a ficha caindo a cada segundo e deixando-a nervosa. As batidas do coração se aceleraram, as mãos começaram a suar frio e tremer, sentiu muita vontade de chorar. Começou a respirar fundo diversas vezes tentando se acalmar e evitar as lágrimas, não queria estragar todo o trabalho da maquiadora.
- Calma, ! Você consegue! - Falou para si mesma tentando manter o controle. Ergueu-se com o roteiro em mãos e começou a relê-lo enquanto andava de um lado para o outro, parando para repetir em voz alta alguma fala.
30 minutos depois, jogou-se no sofá e deixou o roteiro descansar na barriga. Decidiu que precisava ouvir uma música para se acalmar e colocou uma de suas favoritas - I Caught Myself do Paramore para a Trilha sonora de Crepúsculo -, sentiu vontade de rir ao imaginar Robert entrando e flagrando-a ouvindo aquela música.
No início, estava cantando de boa, mas começou a se empolgar e quando se deu conta, cantava alto.
- Now, when I caught myself, I had to stop myself from saying something that, I should've never thought… - Cantou animada enquanto relia o roteiro. Estava deitada no sofá, os pés com tênis pendurados no braço do móvel para não sujar, um dos braços descansando atrás da cabeça.
Ouviu uma batida na porta e ela jogou o corpo de lado em direção ao chão, ficando sentada. Ajeitou a postura e fez uma expressão de paisagem enquanto desligava a música.
- Entra.
A porta abriu, revelando um Robert Pattinson totalmente caracterizado com o figurino do personagem. Além das madeixas estarem mais curtas e num tom mais claro de loiro, vestia calça social preta, camisa social branca e um terno azul marinho para completar o visual.
- Podemos conversar? - Ele sorriu enquanto segurava a porta entreaberta, permitindo que a jovem o visse.
Franziu a testa com a pergunta do homem e por um momento questionou a si mesma se queria aceitar a visita, mas acabou dando por vencida pela curiosidade.
- Claro! Entra aí! - Deu de ombros enquanto ajeitava o roteiro que estava no seu colo e o observou entrar e fechar a porta atrás de si.
Era perceptível a postura tensa enquanto enfiava as mãos no bolso e segurava o roteiro embaixo do braço.
Ela se esforçou para não demonstrar que estava curiosa para saber o assunto.
- Quero te pedir um favor. - Soltou de uma vez encarando-a com uma expressão séria.
Ela franziu a testa em confusão, mas fez um gesto com a cabeça incentivando-o a continuar.
- Será que podemos esquecer as nossas diferenças durante o trabalho? - abriu um sorriso sem graça e se aproximou um passo. - Vai nos poupar energia e nos ajudar a conviver durante esses meses de filmagem, além de ajudar no desenvolvimento do projeto. E então, o que me diz? - Encarou-a em expectativa enquanto passava uma das mãos no cabelo, um gesto que denunciava o seu nervosismo.
Por mais que estivesse magoada com o que aconteceu, jamais iria prejudicar o próprio trabalho por algo que aconteceu numa época em que ela nem imaginava que estaria como protagonista de um filme do Orlando Bloom. Não conseguia mais ficar encantada por ele, mas tinha maturidade o suficiente para ser profissional.
- Quanto a isso, não precisa se preocupar. Tenho maturidade o suficiente para ser profissional enquanto estivermos trabalhando nesse projeto. - Ela levantou e se aproximou, ficando a poucos passos de distância. Inclinou levemente a cabeça, pois a diferença de altura não era muita. Abriu um pequeno sorriso educado. - O meu empenho aliado ao seu é o que garante o nosso sucesso, além disso, jamais vou decepcionar o Orlando. - Cruzou os braços na frente do corpo e continuou encarando-o.
- Temos esse acordo? - Estendeu a mão.
Ela olhou a mão esticada em sua direção e soltou um suspiro, finalmente, apertando e selando um acordo temporário de paz.
- Sim.
Afastaram as mãos e Rob soltou um suspiro de alívio enquanto segurava o roteiro.
- Ótimo! - Disse satisfeito e sorriu aliviado. - Agora, podemos ensaiar as cenas de hoje? Não podemos nos dar o luxo de errar as falas e precisar gravar vários takes. - Abriu o roteiro e encarou-a.
- Ah… - encarou-o preocupada. - Seria ótimo! - Forçou um sorriso enquanto abria o roteiro e se aproximava. Engoliu em seco e o nervosismo a atingiu. Realmente não queria deixar a insegurança perturbá-la, mas estava muito preocupada com o seu desempenho nas gravações, não tinha experiência com filmes, apenas com comerciais e teatro. Isso deveria contar pontos, né?
- ? - Chamou-a, deu uma leve tossida. Atento a expressão no rosto da jovem. - Está tudo bem? Você parece que vai vomitar. - Aguardou uma resposta.
Ela mordeu o lábio inferior enquanto transformava o roteiro em sua mão num rolo e fez uma expressão de dúvida.
Se fosse comparar a experiência e tempo de carreira de Robert, ela seria um bebê que ainda estava prestes a aprender a andar. Tinha muitas dúvidas sobre como funcionava a produção de um filme e como se portar diante das câmeras, sabia que só atuar não era o suficiente. Deveria utilizar algumas técnicas. Estava muito insegura por não saber o que lhe aguardava e tinha medo de revelar, virando chacota.
- Estou apenas ansiosa para começar as gravações. - Mentiu, dando de ombros e voltando a abrir o roteiro e lê-lo numa tentativa de evitar o rosto do ator.
Não enganou-o tão facilmente como o esperado.
- Sei o quanto pode ser assustador o primeiro trabalho, mas você vai tirar de letra. Esteja com o texto na ponta da língua sempre e tenha em mente a essência do personagem. - Aconselhou calmamente e sorriu.
- Obrigada. - Sorriu rapidamente e voltou a atenção para o roteiro em suas mãos.



☕☕☕☕☕



- Você já pode me contar o que sua mãe disse. - Enrico sugeriu e fez com que agarrasse o lençol cobrindo o corpo nu, acomodou-se melhor na cama e encarou o teto, as mãos segurando fortemente o tecido.
Desde que decidiu partir da sua cidade para realizar o seu maior sonho, sempre se sentiu bem com aquela certeza dentro de si de que havia feito a escolha certa para a sua vida, mesmo que a realidade foi muito mais difícil do que parecia. Esforçava-se ao máximo para não se deixar abater diante das dificuldades, mantinha os sentimentos bons sempre em primeiro plano em seu coração, a sensação de que poderia conquistar o mundo, caso quisesse, entretanto, bastava uma ligação da sua mãe e o terror lhe dominava. A nuvem negra sobrevoava sua mente com dúvidas e o medo de estar perdendo tempo, algo que evitava ao máximo cogitar. Se considerava uma pessoa muito resiliente, mas a sua família era o seu calcanhar de Aquiles.
Deitou-se de lado, encarando o namorado que estava na mesma posição e a observava atentamente.
- Ela perguntou se eu já estava dançando com a Katy Perry…
- Imagino que num tom de deboche, né? - Interrompeu e revirou os olhos.
O namorado não conhecia sua mãe pessoalmente, mas sabia que o mesmo já nutria uma aversão a sogra.
Soltou um suspiro em resposta.
- E disse que precisava voltar para casa. - Resumiu sem querer dar muitos detalhes dos 10 minutos de ligação que pareceram horas, onde teve que ouvir sobre a separação dos pais e o fato de que a mãe precisava de ajuda financeira para sustentar a casa e o irmão caçula de 10 anos. Sabia que os pais não tinham um dos casamentos mais felizes e ao menos uma vez por ano brigavam e o pai saía de casa, mas pelo tom de voz da sua mãe, sabia que a situação tinha chegado ao seu limite. Pretendia conversar com o pai antes para averiguar e realmente confirmar se dessa vez era verdade. Torcia para que fosse apenas mais um episódio, pois não estava pronta para abrir mão do seu sonho e também, não queria ver os pais separados.
- Somente isso? - Perguntou incrédulo. - Sem qualquer pressão psicológica? - Continuava descrente. Ergueu a parte superior do corpo, apoiando o peso nos cotovelos e franziu a testa confuso. - Sua mãe sabe exatamente como foder com seu psicológico e, a forma como te encontrei mais cedo, só confirma isso. - Soltou um suspiro. - Você sabe que não precisa voltar, né?
Ela deitou de barriga para cima novamente e esfregou os olhos, a expressão de exaustão psicológica.
- Já disse que odeio o fato de você me conhecer tão bem? - Virou o rosto em direção ao namorado e abriu um sorriso que evidenciava o seu cansaço.
Ele riu.
- Faz parte do papel de namorado.
- E você o desempenha perfeitamente.
- Obrigado. - Mostrou a língua com uma expressão divertida, mas se transformou em séria, fazendo com que ela voltasse a encarar o teto, mas preparando-se para as próximas palavras.
- Você não precisa voltar, .
Ouviu atentamente, mas o olhar mais interessado no teto acima de suas cabeças.
- Pode ajudá-la daqui e se for necessário, posso contribuir. Ei. - Tocou seu ombro nu para fazer encará-lo, como manteve-se firme na mesma posição, ele aproximou o rosto do seu e soprou no ouvido dela.
Ela riu e virou o rosto na direção, a expressão tornou-se séria ao ver que o rapaz estava da mesma maneira.
- Você é uma mulher muito talentosa e está no caminho certo. O mundo vai brigar para ter uma dançarina tão maravilhosa. - Sorriu confiante.
Os olhos dela se encheram de lágrimas e ela apertou a mandíbula numa luta para não ceder ao choro.
- Poderíamos fazer com a , quem sabe não consegue ver com o Orlando. - Sugeriu.
A expressão da jovem tornou-se dura.
- Não quero a ajuda de ninguém. - Revirou os olhos e tentou virar o rosto novamente, mas ele segurou-a gentilmente pelo queixo e manteve o contato visual.
- Ela não vai te arrumar a vaga.
- Quero que seja cem por cento por mérito próprio.
- Eu sei, meu amor. - Soltou um suspiro e depositou um beijo em sua testa. - Qual seria o problema em apenas conseguir uma indicação para o teste? Se passar ou não, aí seria por mérito próprio.
- E se sentissem que deveriam me contratar por causa dela?
- E tem essa moral toda? - Ele riu brincando.
Ela revirou os olhos e abriu um sorriso divertido.
- Não duvido! Você viu a expressão abobalhada do Orlando? - Sorriu achando graça.
- Ela é muito talentosa e mereceu.
- Sim. - Admitiu com um suspiro.
Ouviu a risada alta do namorado que caiu de costas no colchão.
- O que foi? - Perguntou indignada.
- Você! - Continuou gargalhando, o que a irritou ainda mais. - Parece que vai morrer caso admita que algo positivo sobre a ! E ouvir em voz alta é muito divertido!
Ela revirou os olhos.
- Não gosto de falar para não inflar o ego dela. - Abriu um sorriso divertido.
- Aham. - Debochou e parou de rir, manteve apenas um sorriso no rosto. Deitou-se de lado e acomodou a cabeça no travesseiro. - Pense no que te falei.
Ela revirou os olhos.
- Não.
- Sim.
- Não e não.
Ele revirou os olhos de uma forma tão bonitinha que aqueceu o coração da jovem.
- Você é muito teimosa. - Acusou.
- E você também. - Devolveu.
Ambos abriram um sorriso divertido e riram, os olhos demonstrando o amor que sentiam um pelo outro.


☕☕☕☕☕




A equipe de filmagem estava agitada e se movimentava o tempo inteiro conferindo cada detalhe antes que começassem as gravações daquele dia. Foram duas horas ensaiando com Robert no trailer e o clima tornou-se tão confortável que havia perdido a noção do tempo, até que uma leve batida na porta estourou a bolha que os tinha envolvido. Desejava fortemente que as gravações fossem tão tranquilas quanto o ensaio, tiveram momentos em que espiou o ator e observou-o fascinada. Sabia que não deveria perdoá-lo tão facilmente pela forma que tratou-a, mas ficava difícil não se deixar levar ao tê-lo tão perto e poder vivenciar o compromisso que nutria pelo trabalho era palpável o quanto amava o que fazia.
Iriam gravar assim que a noite chegasse, o local era um bosque repleto de árvores altas com troncos grossos, arbustos e grama, uma paisagem que seria muito sombria no cenário noturno. Estava em pé diante de uma mesa repleta de sucos, pães, bolos e biscoitos. A câmera fotográfica já estava pendurada em seu pescoço, o roteiro descansava embaixo do braço enquanto tomava um copo de suco gelado. Observou por alguns minutos a montagem da cena do crime e as instruções que Orlando passava para os figurantes, em seguida sua atenção foi para o colega de trabalho que falava ao celular e parecia ter uma expressão agitada. Franziu a testa enquanto se esforçava para fazer uma leitura labial que não deu certo ou ele realmente estava falando sobre frango assado para o jantar.
Não conseguiu evitar o sorriso divertido.
- Você deve ser a protagonista. - Uma voz masculina chamou sua atenção e fez com que desviasse o olhar de Robert para um rapaz que aparentava ter a sua idade. Observou o homem moreno que sorria de forma muito simpática. Usava um uniforme policial num tom de azul e o distintivo estava escrito “Josh Andrews” - o que fez compreender que seria o ator que interpretaria o policial que ajudava Penélope com informações.
Ela sorriu achando graça.
- Sou Patrick. - Estendeu a mão.
- . - Apertou gentilmente.
- Então, animada para esse filme? - Ele pegou um donut de chocolate e abocanhou.
- Sim, muito.
- Isso é bom, muito bom! - Sorriu satisfeito enquanto mastigava. - E o sinal de que gravaremos tudo bem rápido! - Encarou-a divertido enquanto lambia os dedos.
O comentário do ator fez desaparecer o sorriso alegre do rosto da jovem e deixou-a preocupada novamente.
- Espero que sim! - Disse insegura ao terminar o último gole de sua bebida.
Ele franziu a testa.
- Não… - Ia dizer algo, mas ouviram Orlando chamá-lo alguns metros de distância. - Preciso ir. - Anunciou indicando com a cabeça e sorrindo sem graça.
Ela confirmou com um gesto de cabeça e o viu partir, soltando um suspiro de alívio em seguida. Não entendia a fixação das pessoas em gravar as cenas em apenas um take, não era possível que fosse algo normal por trás dos filmes que assistia. Sentia-se inconformada com essa pressão.
- Fazendo amizades? - Uma voz masculina e muito conhecida falou por trás de si, fazendo virar.
Robert estava guardando o celular no bolso da calça e tinha um sorriso divertido no rosto, mas o olhar parecia tenso.
Encarou-o com curiosidade. Era perceptível a tensão física do ator, algo que não havia reparado durante o ensaio.
- Aconteceu alguma coisa? - Perguntou séria, mas a expressão tornou-se divertida ao repetir o comentário feito por ele mais cedo. - Você parece que vai vomitar.
Ele gargalhou alto, o que surpreendeu-a. Observou-o tombar a cabeça para trás e passar uma das mãos pelo cabelo, arrumando para trás.
- Normalmente pareço que vou vomitar o tempo inteiro. - Abriu um sorriso tão carismático e que evidenciava a sua diversão, o que fez com que ela retribuísse a expressão animada.
Ambos precisavam relaxar, isso era evidente. E fingiria para si de que o homem também compartilhava de sua preocupação com as filmagens.
- Sei bem o que é isso. - Segurou a vontade de rir. - Me fizeram o mesmo comentário mais cedo. - Mostrou a língua.
Ele riu novamente.
- Não conhecia esse seu senso de humor. - Sorriu simpático, as duas mãos enfiadas no bolso e o roteiro embaixo do braço.
Ela deu de ombros e cruzou os braços, o olhar se desviando para Orlando que conversava com a equipe.
- Parece que vamos começar. - Comentou sentindo o nervosismo.
- Finalmente! - O tom de alívio.
Ela virou-se para o ator e confirmou com um gesto de cabeça.
- Orlando está nos chamando. - Indicou com um gesto de cabeça e se afastou.
Ela observou as costas do homem e soltou o ar dos pulmões. O seu sonho estava prestes a se tornar realidade e nunca passou pela sua cabeça que de quebra teria o seu ídolo fazendo parte dele.
- E que os jogos comecem! - Anunciou nervosa, seguindo-o.


☕☕☕☕☕



- Corta! Corta! - Bloom gritou a plenos pulmões enquanto levantava de sua cadeira e se aproximava de . - Você não pode sair dessa marcação ou... - Apontou para uma câmera que estava do lado esquerdo da atriz. - Aquela câmera vai desfocar o seu rosto.
Ela soltou um suspiro cansado e confirmou com um gesto de cabeça.
Era o décimo take da cena e estava sentindo a exaustão mental, pois a cena não conseguia ser finalizada por sua culpa. Sentia-se irritada e frustrada consigo mesma, além de envergonhada, pois percebia os olhares preocupados da equipe e dos colegas de elenco, o único que mantinha uma expressão tranquila era Robert que sempre dava alguma dica. Estava aprendendo da pior forma que apenas o texto e essência do personagem não eram suficientes para uma gravação acontecer rapidamente. Tinha toda a questão de posicionamento, entonação da voz e a repetição tornava tudo mais cansativo.
Enquanto Orlando dava as instruções percebeu alguns sussurros por parte da produção, o que deixou-a ainda mais tensa.
- ? Está prestando atenção? - O homem perguntou num tom impaciente.
- Sim! - Apressou-se em garantir e voltar a focá-lo.
- Muito bem, então. - Forçou um sorriso satisfeito. - Vamos continuar! - Anunciou aumentando o tom de voz e batendo algumas palmas para chamar a atenção de todos enquanto ocupava o seu lugar novamente atrás das câmeras. - Ação! - Gritou e o silêncio foi total.
- Você não pode divulgar essas imagens. - Robert encarou-a seriamente enquanto tragava o cigarro e fazia um gesto com a cabeça para a cena do crime. Um cadáver falso estava estripado no gramado do bosque e um legista o analisava, outros policiais - inclusive o Josh Andrews - conversavam próximos à fita de isolamento da cena de crime.
abriu o melhor sorriso de deboche e inconscientemente, deu um passo para trás, tomando um susto.
- CORTA! - Orlando berrou a plenos pulmões, a expressão irritada. - Acho que foi o suficiente por hoje, podemos continuar amanhã à noite. - Lançou um olhar significativo para ela e voltou a atenção para a equipe. - Obrigado à todos pelo excelente trabalho! Dispensados! - E foi até ao diretor de elenco.
Voltou a atenção para Robert ao sentir o seu toque no braço, a mão estava quente.
- Não se preocupe! - Tentou acalmá-la - o que foi em vão - É só o primeiro dia, logo vai pegar a manha.
Ela confirmou com um gesto de cabeça e abriu um pequeno sorriso, em seguida, partiu.
- Viu como não é tão fácil? - Ouviu a voz de Patrick e quando o encarou, tinha um sorriso simpático, mas que não combinava com o tom de voz que não a agradou. - Mas você vai tirar de letra. - Piscou e partiu sem olhar para trás.
A visão ficou embaçada pelas lágrimas de irritação e seguiu a passos firmes para o seu trailer. O gosto amargo do fracasso alojado em sua língua.


Capítulo 16 – Muito mais que Luz, Câmera e Ação!

- Eu o vi. - Penélope confessou com uma expressão que beirava o desespero, as lembranças do galpão em sua mente. Cada centímetro do seu corpo repleto de hematomas e arranhões que ganhou ao lutar por sua própria vida.
Dean segurou-a pelo rosto, o toque delicado enquanto a expressão estava séria. Tinha um cigarro aceso pendendo entre seus lábios.
- Conte-me cada detalhe, meu amor. - Dean falou.



Não sabia se chorava ou ria em desespero. Cobriu o rosto sonolento com o travesseiro e gritou abafado. O seu primeiro dia de gravação foi um fiasco, a sensação de fracasso não lhe abandonava. A equipe sorriu e garantiu que foi um ótimo trabalho, o que deveria ser o suficiente para acalmar as suas preocupações; no entanto, ainda sentia o gosto amargo da decepção em sua boca. Estava lidando com as suas próprias expectativas e as dos outros. Sentia-se envergonhada pela confiança que Orlando depositou em seu trabalho, poderia ter dado o papel para qualquer atriz com mais experiência, mas escolheu ela.
E o que ela fez?
Começou as filmagens de forma vergonhosa. Queria se esconder embaixo das cobertas e não sair nunca mais, mas sabia que não resolveria nada. Deveria ser mais persistente, tirar proveito da situação e adquirir conhecimento. Precisava de ajuda e só tinha uma opção: deixar o orgulho de lado e pedir ajuda a quem menos queria.
Levantou da cama ao ouvir uns barulhos e abriu a porta do quarto, viu roupas espalhadas pelo corredor e a porta de aberta. Recolheu as várias peças do chão e parou no batente da porta, a expressão assustada enquanto via a melhor amiga de pijamas, estirada na cama e o lugar revirado. Parecia que um furacão tinha atingido o cômodo e bagunçado tudo, ao ponto de ser impossível enxergar o chão.
- Amiga! - A jovem falou num tom choroso ao vê-la parada na porta, a expressão desesperada. Tirou uma calcinha rosa que estava na cabeça e atirou-a na cama. Sentou-se no colchão, o olhar desolado, o que franzir a testa em preocupação. - Não sei o que fazer! - Cobriu o rosto com as mãos e grunhiu irritada.
- Surtou? - Perguntou preocupada. Colocou as roupas em cima de uma cadeira e seguiu até a cama, sentando-se em cima de várias roupas.
No mesmo instante, a amiga deitou a cabeça em seu colo e pegou a mão para que fizesse um carinho em seus cabelos. Soltou um suspiro desolado e fechou os olhos. A amiga começou a afagá-la, a expressão preocupada.
- O que aconteceu, ?
Ela suspirou novamente.
- Preciso ganhar dois milhões de seguidores.
A boca da outra escancarou, chocada.
- Como assim?
A jovem abandonou o colo da amiga e encarou-a, a expressão séria.
- Tenho que chegar em dez milhões de seguidores para que uma marca aceite produzir meus batons. - Grunhiu e se jogou de costas no colchão, cruzou as mãos na barriga e encarou o teto, a expressão desolada.
- Dois milhões. - Franziu a testa enquanto encarava a bagunça no chão. - Ok. Você consegue! - O tom confiante.
- Não consigo, . Impossível.
- Claro que consegue, amiga! - Encarou-a e descansou a mão em sua coxa. - Você já chegou a oito, não vai ser difícil bater dez!
- Não seria se tivesse que conseguir em um mês!
- Um mês? - Perguntou chocada.
sentou novamente e encarou-a com uma expressão séria.
- Exatamente! Impossível!
- Impossível não é, mas…
- Mas… - Incentivou.
- Vai dar um pouco de trabalho, mas tenho certeza que você consegue. - Abriu um sorriso confiante.
- Queria ter essa confiança que tem em mim.
A outra riu.
- E eu em mim mesma. - Confessou tristemente ao se recordar das suas próprias preocupações.
Vendo a expressão desolada da amiga, lembrou-se do que queria saber no dia anterior.
- Como foram as gravações?
- Péssimas! Estraguei tudo! - Foi a vez dela de grunhir irritada e se jogar de costas no colchão, a amiga deitou ao seu lado. Permaneceram em silêncio por vários minutos.
- Vai dar tudo certo! - A jovem de cabelo lilás garantiu para si mesma.
- Vai dar tudo certo! - Repetiu a outra numa tentativa de acreditar naquelas palavras. Olharam-se e riram em desespero, mas era perceptível a felicidade em saber que tinham uma a outra para se apoiar, caso tudo desse errado.

xXx


Assim que passou dos portões de entrada, buscou na memória os motivos para se manter firme diante do fracasso do dia anterior. Tinha um sorriso estampado no rosto que se assemelhava a uma careta, mas ao mesmo não estampava o desespero interno. Cumprimentava com um “bom dia” simpático, todos que cruzavam o seu caminho até o trailer. A gravação continuaria sendo no mesmo local, então estava familiarizada o suficiente para seguir sozinha.
- Bom dia, flor do dia! - Patrick cumprimentou-a inesperadamente e envolveu os seus ombros com um dos braços o que surpreendeu-a pelo contato. Forçou um sorriso e se desvencilhou educadamente.
- Bom dia. - Forçou um sorriso e continuou o seu caminho.
- Achei que não viria. - Comentou com um sorriso divertido.
Ela parou abruptamente e o encarou, confusa.
- Por quê?
- Você saiu daqui tão abalada… - Deu de ombros. - E com os boatos, achei que não teria coragem de voltar. - Lançou um olhar de pena e colocou as mãos no bolso.
- Boatos?
- Ah, você ainda não sabe! - Constatou e suspirou com pesar, a postura era de que estava com a pior missão do mundo. Olhou para os lados, verificando se alguém poderia ouvir e virou-se para ela. - Parece que a equipe não ficou muito satisfeita com o seu desempenho ontem.
O rapaz fez questão de dar ênfase no fato dela não ter se saído bem com as gravações.
Esforçou-se para não perder o controle bem ali, perante a todos. Precisava lidar com aquela situação de forma madura e sensata. Se fosse para surtar, perder o controle, surtaria dentro do seu próprio trailer tendo apenas as paredes metálicas como testemunhas. Por isso, reuniu o resto de dignidade que tinha após aquele comentário e manteve a expressão neutra.
- O meu desempenho. - Confirmou. - Foi cansativo o primeiro dia, mas hoje vai ser melhor. - Forçou o tom a sair firme, mas a expressão duvidosa do rapaz fez com que franzisse a testa.
- Tem mais alguma coisa?
Ele mordeu o lábio inferior e mais uma vez, olhou ao redor antes de sussurrar.
- O boato que rola na produção é que Orlando Bloom te ofereceu o papel para não processá-lo. - Sorriu sem graça e deu de ombros, mas o olhar parecia escaneá-la, analisando minuciosamente sua reação.
Ela o encarou surpresa, a mente registrando as palavras do outro.
Processar? Que loucura! E como sabiam sobre o que aconteceu na festa da Katy? Não sabia o que dizer, por isso apenas riu. - algo que surpreendeu a si mesma.
- Posso te fazer uma pergunta? - Tinha uma expressão envergonhada.
Confirmou com um gesto de cabeça e continuou a andar.
- É verdade?
Ela riu, mesmo que aquela informação tivesse plantado a sementinha da dúvida em seu coração.
- Não. - Riu forçadamente.
- Fico muito feliz! Seria vergonhoso saber que uma jovem talentosa como você, só conseguiu o papel por causa de um acidente. - Ele piscou e abriu um sorriso alegre. Olhou o relógio no pulso e voltou a olhá-la. - Vou me atrasar para a maquiagem! Tchauzinho!
E partiu, sem olhar para uma atordoada.

xXx


O chão do trailer iria abrir um buraco, pois ela andava de um lado para o outro desde que chegou. A cabeça parecia uma panela de pressão prestes a explodir, tamanha a bagunça de pensamentos. Queria acreditar que era apenas um boato, mas como sabiam do que aconteceu na festa? Além disso, ela estava fantasiada e era anônima! Como? O vazamento foi feito por alguém que estava presente e sabia de toda a história. Será que Orlando realmente mentiu para ela? Não faz sentido algum! Ter o risco de arruinar um trabalho muito importante para evitar um processo.
Grunhiu irritada, começando a sentir uma dor de cabeça. Jogou-se no sofá, apoiou os cotovelos nas coxas e cobriu o rosto com as mãos.
Será que todas as filmagens aconteciam esse tipo de coisa? Segundo dia de gravação e ela já estava lidando com problemas.
Ouviu uma batida na porta, disse para entrarem.
Robert abriu uma fresta da porta e enfiou parte do corpo para dentro.
- Tá tudo bem? Se quiser eu volto outra hora.
Descobriu o rosto e o encarou, soltando um suspiro cansado.
O ator analisava-a atentamente.
- Não, eu só tinha esquecido que íamos passar o texto cedo. - Pegou o roteiro que estava ao seu lado no sofá e começou a folheá-lo.
- Não para os dois? - Franziu a testa em confusão, um pequeno sorriso no rosto. Ainda estava em pé na porta.
Ela largou o roteiro no colo e massageou as têmporas. Parou o movimento e o encarou, a expressão séria.
- Não estou bem, mas precisamos ensaiar essas cenas ou vou fazer vergonha hoje! - Deu de ombros e voltou a atenção para o roteiro.
Ouviu o som da porta sendo fechada e achou que o homem tivesse partido, mas quando levantou o olhar, viu que ele se aproximava. Parou à poucos passos de distância, o roteiro em uma das mãos.
- Quer conversar? - Perguntou num tom preocupado.
Observou a cara inchada de quem acabou de acordar, o cabelo bagunçado e vestia um conjunto de moletom preto. Nada diferente do que estava acostumada a lidar na cafeteria.
- E admitir o meu fracasso? - Perguntou com um sorriso tristemente divertido. Voltou a folhear o roteiro e lê-lo.
Quase morreu do coração, ao sentir uma mão masculina e quente cobrir a sua. As batidas agitadas pelo susto, além da surpresa pelo gesto do ator. Levantou o olhar e viu a expressão preocupada dele que estava agachado à sua frente, apoiado nos calcanhares. Ver aqueles olhos tão próximos, deixou-a muito nervosa e sem saber como reagir, abriu a boca duas vezes, mas não conseguiu dizer nada. Sabia que tinha nutrido uma decepção por ele, mas naquela situação a sua versão adolescente estava surtando. Imaginava-a pulando e sacudindo um pôster do Robert. Mordeu o lábio inferior para não rir com o pensamento e esforçou-se para ouvi-lo.
- Me conta o que está perturbando essa sua cabecinha. - Usou um tom doce, diferente de todas as versões que conheceu do homem, algo irreal. Ele encostou o indicador levemente em sua testa e abriu um sorriso divertido.
Ela não sabia o que dizer, só sentir. Nunca imaginou que ele agiria daquela forma.
Afastou a mão gentilmente e ficou de pé, soltando um gemido.
- Nunca vi uma posição para cansar tanto! - Brincou. Esticou as pernas e passou uma das mãos no cabelo, bagunçando-os ainda mais. - Sei que não sou a sua pessoa favorita, mas estou aqui para te ajudar. - Sorriu sem graça.
Percebeu que ele encarou o silêncio dela de forma negativa.
Ela sorriu atordoada pela situação em que estavam, ainda tentava digerir os acontecimentos dos últimos minutos.
- Agradeço a…
- Imaginei que não iria querer se abrir comigo. - Interrompeu-a com um sorriso triste enquanto remexia nos bolsos do moletom, parecia procurar alguma coisa. - E eu entendo! Juro! - Garantiu num tom compreensivo.
- Não, Robert! Não… - Tentou continuar, mas foi interrompida novamente.
- Não se preocupa, ! Sério! - Insistiu enquanto colocava um cigarro na boca e tentava acendê-lo com o isqueiro.
- Você está realmente fumando? - Perguntou incrédula.
Ele fechou os olhos e soltou uma baforada, parecia deliciar-se com o tabaco. Voltou a encará-la desculpando-se enquanto seguia até uma janela atrás do sofá, abrindo-a e estendendo a mão que segurava o cigarro para fora.
- Estou muito ansioso e não consegui evitar. - Deu de ombros e fumou novamente, baforando pela janela.
Ela ajeitou-se numa posição que pudesse olhá-lo mais confortavelmente, o cotovelo descansando no encosto do sofá.
- Você tinha parado, né? - Perguntou num tom preocupado.
Ele confirmou com um gesto de cabeça.
- Depois que essa ansiedade passar, eu paro. - Sorriu divertido.
Ambos permaneceram em silêncio e por mais incrível que pareça, o clima era confortável. Não existia nenhum sentimento que tornasse a situação desconfortável, o que assustou-a ao constatar que não era ruim estar na presença do ator. Estava muito agitada com todas as suas preocupações, por isso não percebeu que mexia uma das pernas sem parar.
- Ainda está remoendo as baboseiras que o Patrick te falou.
Ela encarou-o assustada, pois havia se afundado nos próprios pensamentos e tinha até esquecido que continuava com companhia. Observou-o dar uma tragada final, apagar a ponta num pedaço da janela e depois, atirá-lo lá fora. Fechou a janela e fez um gesto com a cabeça, um pedido silencioso para dividirem o sofá.
Confirmou e viu-o sentar numa posição que pudesse olhá-la.
- Você ouviu tudo? - Perguntou envergonhada enquanto cobria o rosto com as mãos.
- Vim garantir que estivesse bem. - Deu de ombros e sorriu compreensivo.
- É difícil não acreditar, sabe? - Perguntou num tom triste, a expressão em seu rosto demonstrando sua agonia. - Ontem saí daqui muito envergonhada e decepcionada com o meu desempenho. - Apontou para a porta. - E ainda ter que ouvir a confirmação dos meus maiores medos, tornou tudo mais real. - Desviou o olhar para a sua própria perna e observou o roteiro intocado.
- Você não tem experiência em frente às câmeras, mas vai pegar o jeito.
Voltou a encará-lo.
Descansava um dos braços no encosto do sofá e tinha uma expressão tranquila, além do cheiro de cigarro que dominava o ambiente.
- Você é muito boa! Tem que acreditar mais em si mesma. - O tom sério.
- Morro de medo de fracassar com vocês. - Confessou, os olhos repletos de lágrimas. Engoliu em seco ao revelar o que realmente se passava em seu coração. - Eu amo o que faço e me sinto abençoada pela oportunidade, mas não deixo de pensar nas expectativas de todos. - Sorriu triste.
Ele inclinou o corpo para a frente, ficando mais próximo dela. Mais uma vez, tocou a mão dela num gesto reconfortante.
- Eu sei como funciona a insegurança e… - Afastou a mão da dela e bagunçou o cabelo, depois as mãos descansaram no próprio colo. - É difícil, mas você tem que achar uma forma de virar a mesa. - O olhar perdido, parecia se recordar de algo e voltou a encará-la. Abriu um pequeno sorriso no rosto.
- Estou tentando. - Mordeu o lábio inferior e soltou um suspiro desanimado.
- Não vai conseguir se der atenção às fofocas de bastidores. - Lembrou-a.
- Mas não tive culpa! - Defendeu-se. - Patrick que veio me contar.
- Eu sei! E precisa aprender a ler as pessoas. - Aconselhou com um olhar enigmático. Levantou do sofá e espreguiçou-se.
Ao ver o rosto confuso da jovem, soltou um suspiro.
- Não posso te influenciar, mas abre o olho! - Reforçou.
- Você acha que o Patrick quer me sabotar? - Perguntou pensativa.
- Talvez. - deu de ombros - Você precisa tirar suas próprias conclusões, eu já tenho as minhas, mas não quero te influenciar.
Ela suspirou cansada e esfregou o rosto.
- Obrigada. - Sorriu sincera.
- Vou nessa. - Apontou para a porta. - Nos vemos na gravação. - Sorriu em despedida e saiu do trailer, fechando a porta atrás de si.
- Que loucura! - Murmurou enquanto escorregava o corpo no sofá e cobria o rosto com as mãos.
Muita coisa para pensar, sentimentos e ainda estava surpresa com o rumo que aqueles dias estavam tomando. A vida sempre surpreendendo.

XXX


- Está esperando o inferno congelar?
A voz masculina assustou e fez o seu coração bater acelerado. Colocou a palma da mão no peito e respirou fundo, os olhos fechados. Assim que conseguiu normalizar a pulsação, encarou o padrasto.
- Oi, Joey. - Cumprimentou-o irônica. Fechou o notebook e enfiou embaixo do braço, erguendo-se do sofá.
Estavam de folga da cafeteria naquele dia e ela tinha aproveitado para descansar, passar o dia sem fazer nada, mas acabou se remoendo em frustração sobre se inscrever no American Idol ou não. Tinha o sonho de fazer sucesso com suas músicas, mas também nutria receio de não ser boa o suficiente. Um dos motivos que nunca deixou Joey interceder através de seus contatos nas gravadoras de LA.
- Você não vai se inscrever? - Perguntou curioso enquanto tomava sua cerveja e se jogava no sofá em frente ao que a enteada ocupava. Descansou os pés descalços na mesa de centro e ajeitou o corpo no sofá.
Revirou os olhos divertido ao ver o olhar da jovem no local onde estavam seus pés, retirando-os dali e deixando cair no tapete.
- Eu não sei se é uma boa ideia. - Ela confessou em pé atrás do sofá, o computador apertado em um abraço.
- Você precisa confiar mais no seu talento, . - Tomou um gole da cerveja, a expressão sempre divertida permanecia com uma seriedade incomum.
- É difícil fazer uma escolha que pode cagar todo o meu sonho, tá legal? - Falou irritada e virou-se, seguindo para as escadas.
- L.A. será pequena demais para você! - Ele aumentou o tom de voz enquanto via a jovem sumir pelas escadas. Tomou sua bebida, o rosto preocupado.
Conhecia todos os seus funcionários e o talento que carregavam. Via um pedaço do jovem Joey Tribbiani em cada um e não queria vê-los sofrendo por não lutarem até o fim. Ele pensou em desistir muitas vezes, passou por tantos fracassos para se tornar o brilhante ator de Hollywood. E se tivesse deixado o medo vencer? E se tivesse dado ouvidos aos comentários negativos? Onde estaria naquele momento? Nunca deixou de olhar para trás e valorizar a sua trajetória até ali.
E a sua experiência de vida só confirmava que cada um deles poderia chegar ao topo, mas precisavam perder o próprio medo ou seria tarde demais.

XXX


Quando um filme chega à tela do cinema, os telespectadores não imaginam o tamanho do trabalho que dá para produzi-lo. Começando do roteiro ao investimento para o projeto sair do papel até os efeitos cinematográficos finais para ajustar os últimos detalhes. Algo realmente interessante de se vivenciar. Jamais iria assistir um filme sem pensar em toda a trabalheira.
Mordeu o pão recheado enquanto vestia a jaqueta que fazia parte do figurino da sua personagem e pegou o roteiro no sofá.
- Entra! - Murmurou com a boca cheia enquanto recolhia os pertences antes de sair do trailer e começar as gravações.
Não começou empolgada, pois o dia anterior havia sido um fiasco -totalmente fora das suas expectativas, mas a conversa que teve com Robert aliviou um pouco as suas inseguranças. Estava decidida a focar na melhora do seu desempenho e deixaria que a equipe decidisse caso não estivesse atingindo-as.
- Oi, . - Sorriu simpático e fechou a porta metálica atrás de si. Parou com as mãos no bolso. Vestia jeans e camiseta, um boné preto na cabeça e óculos escuros.
- Oi. - A jovem respondeu engolindo secamente o pão, o rosto surpreso e preocupado pela aparição repentina de Bloom em seu trailer.
Ela terminou de ajeitar a jaqueta no corpo e mastigou o último pedaço do pão. Segurou o roteiro firmemente, a expressão forçada de calma, mas as batidas aceleradas no peito demonstravam seu nervosismo.
- Estive conversando com o restante do elenco e faltava você. - Sorriu divertido. - Como está sendo a experiência cinematográfica?
Tentou sorrir, mas fez uma careta. Sentiu-se presa em um labirinto sem saber que direção tomar. Deveria ser sincera com Orlando? Ou mentir? Não seria justo seguir pelo caminho da falsidade já que o homem confiou tanto no trabalho dela.
- Acho melhor você se sentar. - Soltou um suspiro e sentou-se no sofá. Viu-o ocupar o espaço ao seu lado, a expressão atenta.
- Pensei que fosse mentir para mim. - Sorriu brevemente. Cruzou os tornozelos e uniu as mãos no colo, encarando-a atento.
Ela mordeu o lábio inferior nervosa e apertou o roteiro em suas mãos suadas, o peito agitado.
- A oportunidade que você me deu… - A voz embargou em emoção, limpou a garganta. - Não tenho palavras para agradecer.
Permaneceu atento, total silêncio. Sabia que a jovem precisava se sentir confortável para falar abertamente o que ele suspeitava.
Ela umedeceu os lábios com a língua.
- Estou me sentindo um fracasso. - Confessou frustrada. - Criei uma ideia perfeita na minha cabeça de que me sairia perfeitamente bem nas gravações e não ter sido assim, abalou minha confiança. - Soltou outro suspiro e desviou o olhar para os pés, a vergonha estampada no rosto e…
- É o seu primeiro trabalho com filmes, . - Fez um gesto para que ela ouvisse. - Já estive no seu lugar e sei o quanto é frustrante não alcançar a expectativa das pessoas que confiam em nós, por isso é normal. - Sorriu compreensivo. - Você é uma atriz talentosa, mas ainda não tem experiência com esse tipo de trabalho. Fiz a proposta ciente disso, mas errei por não esclarecer que estaria disposto a ajudá-la no que precisasse. - O rosto tornou-se envergonhado.
Ela soltou o ar aliviada.
- Não sabe o quanto saber disso me tira um peso das costas! - Riu.
- Me desculpa por ter deixado você nessa situação, não foi minha intenção. - Ergueu-se do sofá e estendeu a mão para a jovem.
Aceitou.
Levantou-a.
Ambos sorriram divertidos.
- Que nada! Eu sou muito grata pela oportunidade. - Garantiu. Abraçou o roteiro e sorriu.
- Estou ciente dos boatos que rondam o set e quero deixar bem claro que escolhi você por enxergar a Penélope em carne e osso. - Riu. - Não dê ouvidos aos idiotas. - Piscou e seguiu até a porta, a mão parou na maçaneta. - Qualquer dificuldade, dúvida, você pode falar comigo. Estarei sempre disponível para você… - chacoalhou a cabeça divertido, parecendo recordar algo e se corrigiu. - Menos quando estiver com a Katy, pois sou proibido de tratar de trabalho em casa. - Finalizou divertido.
Os olhos de ficaram marejados, engoliu em seco.
- Obrigada, Orlando. - Sorriu aliviada.


Capítulo 17 – Re-conhecer

- CORTA! - Orlando gritou animado e bateu palmas em comemoração.
Toda a equipe repetiu o gesto, expressões de alívio eram visíveis. Estavam gravando desde o início da noite anterior e finalizaram ao amanhecer. Além do cansaço, teriam que reunir energia para encarar um dia cheio de trabalho.
estava acostumada a acordar cedo para trabalhar, mas não aguentava o pique de ver o sol raiar. Passou horas vagando pela floresta, mergulhada nos sentimentos de Penélope que fervilhavam com a determinação, medo, cansaço e raiva. Foram várias tomadas em que perseguiu o assassino, perdendo o rastro, mas encontrou outro corpo. Perdida, marcou as árvores com uma pedra para indicar o trajeto até o local e, em seguida, encontrou a saída do lugar. Acionou os personagens de Robert e Patrick. Ambos chegaram ao local apenas de madrugada, pois a cena deles seriam curtas.
Ela estava destruída pelo cansaço físico e mental, o estômago roncando de fome. O figurino e cabelo, propositalmente cobertos de sangue falso, terra e suor, parecia mais uma sobrevivente do Apocalipse zumbi.
Seguiu o caminho até a tenda com o café da manhã. Cobriu a boca com a mão e bocejou. A postura tornou-se tensa ao sentir um braço envolvê-la pelos ombros e a voz de Patrick ao seu lado.
- Parabéns, ! Você conseguiu soar desesperada o suficiente. - A ironia presente em sua voz.
Manteve o olhar à frente, ignorando o comentário do rapaz.
Estava muito satisfeita e foi perceptível a aprovação sobre o seu desempenho nas filmagens, além disso, Orlando tirou muitas dúvidas e deu muitas dicas durante todo o processo, o que facilitou. Dessa vez, não queria se deixar levar pelas alfinetadas, por isso, sem qualquer delicadeza, agarrou a mão que descansava em seu ombro e levantou-a, afastando-o de si.
Não satisfeito com o silêncio, persistiu.
- Espero que consiga manter a qualidade, pois vai ficar mais exaustivo. - Soltou num tom ácido, o que fez ela encará-lo. Viu o olhar frio, a expressão séria.
Ela abriu e fechou a boca diversas vezes, mas desistiu de se pronunciar. Não queria perder o tempo irritada com o ator.
Claramente satisfeito com a falta de reação dela, decidiu partir, deixando-a em paz.
Relaxou o corpo e observou-o seguir até Orlando, assumindo uma postura simpática e alegre. Nem parecia a pessoa que destilou veneno segundos antes e que sempre usava-a como um alvo de dardos, atingindo-a com suas alfinetadas numa tentativa de desestabilizá-la. O que enfrentava diariamente, trazia em sua mente as histórias de bastidores, as brigas de elencos que lia na internet. Era comum ter pessoas como Patrick, derramando discórdia por onde passava e tudo isso com o objetivo de alcançar o estrelismo e a superioridade que existia apenas em suas próprias cabeças. Infelizmente, tentava aprender lidar ou seria a única prejudicada.

☕☕☕☕☕



Fechou os olhos, entregando-se ao descanso. Tinha comido e conversado com a equipe, depois arrastou-se até uma enorme árvore, estendeu a jaqueta na grama e deitou. Era sete da manhã e sua próxima cena seria às nove, por isso tinha a intenção de tirar um cochilo. Remexeu-se desconfortável, até encontrar uma posição satisfatória. Se não fosse o cansaço, dificilmente teria conseguido dormir no chão. Ouvia ao longe os barulhos da movimentação e os sons vindo do balançar das folhas das árvores, uma brisa fresca atingindo seu rosto. Aos poucos um relaxamento foi tomando conta de seu corpo, uma sensação agradável de tranquilidade.
- . - Ouviu a voz de Robert próxima, um leve chacoalhar em sua mão.
Abriu os olhos assustada e piscou diversas vezes com a claridade.
- Já está na hora? - Perguntou grogue, apoiando-se nos cotovelos e erguendo um pouco a cabeça para encará-lo.
O ator estava em pé ao seu lado, vestia jeans preto e camisa social branca com as mangas enroladas até o cotovelo. Segurava uma garrafa de água e. na outra, um casaco dobrado.
- São sete e meia. - Abriu um sorriso divertido.
Agachou e colocou o casaco atrás dela.
Ela franziu a testa confusa e torceu um pouco o pescoço tentando acompanhar o gesto do ator.
- Para que isso? - Questionou ao ver o casaco acima de sua jaqueta.
Ele continuou na mesma posição e tomou um gole de água.
- Estou te salvando de um torcicolo. - Observou-a tranquilamente, a garrafa brincando entre suas mãos.
A expressão dela acendeu-se em compreensão e sorriu.
- Sabe que Cristine vai te esganar, né?
Ele tomou outro gole e estendeu na direção dela.
A atriz negou com um gesto de cabeça.
- Toma. - Insistiu, um sorriso divertido permanecia em sua expressão. - Lava essa boca cheia de baba.
- HAHAHA. - Ela riu debochada.
Ele piscou e acabou cedendo ao cansaço da posição, sentou-se ao lado da atriz. Colocou a garrafa no chão e envolveu os joelhos com os braços.
- Cristine vai te matar. – Avisou, fingindo temer.
Viu-o dar de ombros, a expressão despreocupada enquanto observava a movimentação da equipe.
- É por uma grande causa. - Deu de ombros novamente e encarou-a, parecia querer gargalhar. - Estou salvando a protagonista de um torcicolo. - Piscou e desviou a atenção para o topo da árvore que protegia-os do sol.
- Obrigada. - Ela sorriu enquanto observava-o fechar os olhos, parecendo desfrutar da mesma tranquilidade que envolveu-a quando deitou ali.
Admirou-o, diretamente, sem qualquer preocupação em ser pega no flagra, afinal, ele parecia estar bem longe dali. Vê-lo numa postura tão relaxada era raro e estar próxima, compartilhando o momento era surreal.
A brisa suave e refrescante, balançava os cabelos dele e a gola da camisa. Bocejou relaxado, esticou as pernas e apoiou o peso nos cotovelos, a mesma posição que ela. Mantinha os olhos fechados.
Nunca teve talento com pincéis e tintas, mas se tivesse, iria adorar eternizar o momento numa grande tela. A forma como a sombra das folhas projetavam em sua pele clara, a mecha solitária da franja que balançava da esquerda para a direita, toda vez, em que a leve brisa atingia-o. As mãos com palmas grandes e dedos longos, as unhas cortadas curtas, que afundavam na grama irregular. Os troncos acinzentados das árvores que davam início a floresta atrás deles. Uma verdadeira obra de arte e que jamais sairia de sua mente.
Desistiu de observá-lo ou perderia as poucas horas de sono.
Acomodou-se novamente, sentindo a posição da cabeça mais confortável ao encostar no travesseiro improvisado. Fechou os olhos e cruzou as mãos acima do estômago.
Respirou fundo numa tentativa de relaxar, mas franziu a testa ao sentir o perfume masculino e que vinha de muito próximo, atrás de sua cabeça. O travesseiro improvisado estava impregnado com o cheiro de Rob, o que deixou-a alerta em relação a presença dele. Ouviu o som de movimento abafado na grama e, em seguida, o bocejo masculino.
Discretamente, abriu os olhos e virou a cabeça em direção a ele. Franziu a testa ao vê-lo deitado na grama, a camisa limpa e da cor do algodão, diretamente em contato com a grama., um dos braços cobrindo o rosto e o outro em cima da barriga.
Esforçou-se para fechar os olhos novamente, o coração acelerado.
As lembranças dos últimos anos em sua mente, todas as interações que tiveram e a forma que ambos se relacionavam, voltavam com clareza. Recordava-se, perfeitamente, do Robert Pattinson que se dignava a um “bom dia”, o raro momento em que ele abraçou-a todo molhado pela chuva num gesto de desespero e a frieza que tratou-a após a descoberta da promoção. Sentia um misto de sentimentos que se alojaram em seu estômago, além da incredulidade de tudo. Por mais que se esforçasse, o Rob daquelas gravações não parecia ser o mesmo que frequentava a cafeteria todas as manhãs e isso a confundia profundamente. Antes de trabalharem juntos, se alguém dissesse que um dia ele iria se preocupar com ela e preferir tomar uma bronca da figurinista ao invés deixar ter torcicolo, era riria até faltar ar nos pulmões. Tudo bem que antes disso tudo, nunca cogitou que beijaria a boca dele ou que fariam um par romântico em um filme, quer dizer, só nos delírios adolescentes dela. Quer dizer… Recentes também, mas ninguém precisava saber disso.
Como voltar a dormir depois dessa interação? E o que será que amoleceu o coração dele para pensar no pescoço dela? Quem era esse Robert e o que fizeram com o antigo? Seria apenas um golpe repentino de bondade? Ou estava apenas se esforçando para tratá-la bem? Às vezes ter o vislumbre de humanidade do seu ídolo, trazia uma sensação boa, tornando tudo mais real. Independente de qualquer coisa, iria aproveitar esses momentos e curtir a oportunidade.
Soltou um bocejo e, em seguida, ouviu-o fazer o mesmo. Esforçou-se para não sorrir, mas gostou de senti-lo tão real ao seu lado, às vezes tudo que estava acontecendo na vida dela parecia tão irreal. Evitava muito pensar que em breve teriam que se beijar e ir muito mais além, resta saber se teria nervos de aço para isso.
Permaneceu de olhos fechados e em silêncio por tanto tempo que adormeceu, o sono vencendo qualquer tipo de constrangimento.



☕☕☕☕☕



- !
Reconheceu a voz de Orlando e virou-se, parou e ajeitou a mochila nas costas. Sentia-se exausta, depois das longas horas de gravações e evitava ao máximo pensar no que a aguardava no dia seguinte. Bastaria um pensamento e não conseguiria fechar os olhos.
- Gostei muito dos resultados de hoje. - Comentou num tom satisfeito. Descansou as mãos nos bolsos da calça caqui. - Está nervosa para a cena de amanhã?
Ela apertou os lábios com mais força, deixando-os levemente brancos e confirmou com um gesto de cabeça, acabou rindo de nervoso.
- Estou evitando pensar ou vou ficar sem dormir.
- Eu também ficaria, caso tivesse que beijar o Rob. - Brincou. Forçou uma expressão de nojo, os olhos espremendo-se, a boca aberta, a língua para fora. - Não conte para ele! - Tornou a expressão séria, um ar de conspiração ao colocar uma das mãos em concha na frente da boca como se tivesse acabado de contar um segredo.
Ambos riram.
- Muito obrigada, Orlando - Sorriu sincera ao colocar uma das mãos no ombro esquerdo dele. - Por tudo. - Afastou a mão e voltou a segurar a alça da mochila.
Sentia-se em dívida com o homem e toda a bondade que estava tendo com ela. Eram pessoas, profissionais como ele que mostravam que Hollywood não era um lugar totalmente perdido. Ela tinha consciência de que não teria essa sorte muitas vezes, por isso deveria se preparar para enfrentar outros tipos de pessoas.
- Não precisa agradecer. - Retribuiu o sorriso. - Antes de você ir, quero te fazer um convite.
Ela encarou-o curiosa e permaneceu em silêncio, incentivando-o a continuar.
- Katy e eu, gostaríamos de sua presença no chá revelação no sábado. - Puxou um pequeno envelope branco do bolso e estendeu na direção da atriz que pegou.
- Vocês vão ter um bebê! - Constatou animada e abriu um grande sorriso enquanto lia o convite.
- Sim! Estamos muito empolgados para descobrir o sexo do bebê! - Confessou radiante.
A atriz aproximou-se e envolveu-o num abraço apertado.
- Desejo toda felicidade para vocês! Parabéns! - E afastou-se, guardando o envelope na mochila.
- Obrigado! - Ele fez um gesto de positivo com ambas as mãos e sorriu. - Contamos com a sua presença!
- Pode deixar. - Sorriu e acenou em despedida, finalmente, seguindo para sua casa.


☕☕☕☕☕



Por que a vida de é tão complicada?
Soltou um resmungo de frustração, deixou o corpo tombar no colchão, o impacto fez o celular quicar ao lado. Cobriu o rosto com as mãos numa tentativa de esconder os olhos lacrimosos. Não iria se render as lágrimas de frustração e tristeza, não iria mesmo. Estava exausta de carregar os problemas do casamento de seus pais nas costas, assumindo uma responsabilidade que não era sua e em meio a esse sentimento, existia outro que fazia com que não fosse capaz de virar as costas para sua família, afinal eram sangue do seu sangue e sabia que a amavam de uma forma que era difícil identificar e até mesmo duvidava ser real, mas eles amavam sim.
Queria ter uma opção, mas não tinha. Não queria entregar a toalha, mas estava complicado. Teria que voltar para casa, mesmo que doesse o fardo do fracasso.
- Sua mãe de novo? - A voz repentina de Enrico, surpreendeu-a e fez com que sentasse, o corpo rígido, o rosto abatido.
Essa não era ela, não se dobrava frente aos problemas, por isso soltou o ar dos pulmões e relaxou a postura, a expressão tornou-se a bem conhecida e que costumava estar aliada à sua língua afiada.
- Eu não vou voltar.
Viu o namorado vestir a camisa preta e encará-la com um sorriso satisfeito.
- Hum… - Avaliou-a atentamente, o olhar demonstrando aprovação. Cruzou os braços. - Parece que a guerreira está de volta. - Piscou divertido.
Ela revirou os olhos, mas deixou escapar um sorriso. Virou-se para pegar o celular e abriu as mensagens.
- Vou pensar em uma forma de sair dessa situação. - Falou num tom firme, fingia prestar a atenção nas mensagens, mas estava apenas evitando encará-lo e deixar que seus olhos transparecessem os seus verdadeiros sentimentos. Não queria e não iria se deixar levar pelo negativo, mas no fundo, a dúvida estava no seu coração.
- Que tal ver se as meninas podem te ajudar? - Sugeriu enquanto pegava a carteira, chaves da moto e capacete.
Ela olhou-o seriamente.
- Não quero que elas saibam disso.
- Elas são suas amigas. - Ele soltou sério.
A namorada suspirou e revirou os olhos, mas ele sabia que estava tentando esconder os sentimentos. Uma amizade esquisita, mas elas eram unidas e claramente, gostavam dela.
- Vamos. - Chamou-a enquanto estendia um capacete para a jovem. - Eu te levo. - Arqueou uma das sobrancelhas, um sorriso de lado.
Viu-a revirar os olhos, um gesto característico, e pegar, colocando-o na cabeça.
- Já disse que você é muito chato? - Levantou da cama e saiu andando na frente dele, seguindo para fora do quarto.


☕☕☕☕☕



Assim que abriu a porta, fez uma careta e voltou a postura de cansaço, parecia se arrastar ao trancar a porta e parar na entrada da cozinha, em frente a sala e ao sofá que ocupavam. Encostou uma das mãos na parede, apoiando o peso do corpo.
- Ela está viva, meninas! - ironizou, levantou os braços e bateu palmas, ocupava o lado esquerdo do sofá.
riu, sentada no meio e o notebook descansava em seu colo. E ficou surpresa ao ver , uma expressão de desdém, o rosto descansando na mão. As três dividiam o espaço, o chão tinha algumas garrafas de cerveja.
- Estou destruída e amanhã acordo cedo. - Bocejou e seguiu até o corredor, mas parou ao ver a expressão esquisita no rosto das amigas. - Aconteceu alguma coisa?
- Estamos tentando convencer a a se inscrever no American Idol. - deu de ombros e tomou a cerveja.
- Você ainda está enrolando? - perguntou surpresa.
Viu-a dar de ombros e voltar a atenção para o computador.
- E olha que tem talento, se não tivesse já estava lá. - riu divertida.
- Aliás, já ficou sabendo da fofoca?
A atriz negou com um gesto de cabeça.
- Parece que o vampiro vai virar morcego. - A amiga falou parecendo divertir-se ao ver a expressão de confusão da outra.
- Hã? - Fez uma careta. - Explica isso direito, pois estou muito lenta de sono e realmente não consegui entender. - Franziu a testa, realmente esforçando-se, mas nada vinha a sua mente.
Viu a expressão indignada da amiga.
- Sério que não entendeu?
- Dou créditos a ela, essa foi péssima. - riu e tomou mais um gole.
- Por que vocês nunca entendem o que eu digo? - Dramatizou.
Todas riram.
- Conta logo ou ela vai dormir em pé sem saber da fofoca. - riu.
Encararam e viram uma quase dormindo em pé.
- Robert vai ser o novo Batman. - Soltou de uma vez.
- O quê? - Despertou no mesmo instante. - Como? Mas ele não comentou nada… - A surpresa estampada em seu rosto, mas tornou-se compreensiva ao lembrar de alguns momentos que demonstraram que algo estava acontecendo com o ator.
- Por enquanto, nada foi confirmado, mas está rolando pela mídia. - falou dando de ombros.
Viu os rostos interessados.
- Você sabe de algo… - suspeitou.
A amiga começou a negar com um gesto de cabeça.
- Estou tão surpresa quanto vocês.
- Hum… - A outra não parecia tão convencida.
- Estou feliz em ver vocês, mas eu preciso dormir e muito. - Falou num tom de cansaço e usou o resto de suas energias para sorrir. Olhou para . - Se inscreve! - Soltou firme.
Acenou para as amigas e seguiu pelo corredor até a porta do seu quarto, parou na entrada ao ouvir a voz de ecoando da sala.
- Lançamento do CD do Enrico é mês que vem, ele falou que pode convidar quem quiser. - E forçou um tom despreocupado. - Até mesmo o Robert. Quem sabe dar uma forcinha com a mídia?
sorriu divertida e entrou no quarto, tombando o corpo na cama.


☕☕☕☕☕



Quando se vê diante de um desafio, você acredita ser o pior que poderia enfrentar e a insegurança aparece, mas aí vence e tudo fica bem. E então, quando respira fundo e sente-se aliviado, a vida vem e traz mais um combate. Novos obstáculos surgem diariamente, exigindo mais e mais, estimulando-o a superar as dificuldades. existia no ciclo chamado vida. Confrontou com todas as suas forças, até mesmo nos momentos em que sua espada parecia muito pequena para a disputa, entretanto, a sua persistência deu a vitória. A cada nova cena trouxe a insegurança e o medo, mesmo assim, seguiu até o fim. Teve o mesmo pensamento a cada dia de filmagem e saiu vitoriosa.
E por que aquele dia não seria diferente? Era difícil ignorar os próprios sentimentos diante de mais um dragão.
Estava inquieta, ansiosa para gravar e se livrar da sensação que rastejava dentro de si. As falas, as reações, o figurino, tudo estava certo, mas ainda poderia jurar que havia um alfinete espetando seu peito.
Ocupava sua cadeira no local da gravação, o pé esquerdo atingindo o chão num movimento inconsciente. Relia o roteiro pela quinta vez para tentar acalmar os ânimos, mas a técnica parecia não funcionar. Colocou-o na cadeira vazia ao seu lado e que pertencia ao Robert. Voltou a atenção para o enorme andar de concreto do estacionamento do estúdio, ali gravariam a tão temida cena. A equipe estava muito reduzida por se tratar de uma cena mais íntima. Todos trabalhavam concentrados, testando todos os detalhes em volta do carro que estava estacionado. Um sedan preto que pertencia à Penélope e que deveria estar no estacionamento da Redação que trabalhava. O lugar tinha chão e paredes de cimento, marcações para indicar caminhos e vagas, além de ser todo fechado e iluminado por lâmpadas amarelas. O cenário favorito dos filmes de terror.
- Preparada? - Uma voz feminina falou ao seu lado, fazendo-a virar.
- Sim. - Respondeu num tom inseguro. Umedeceu os lábios com a língua e sorriu para Ashley, assistente de Orlando.
Levantou da cadeira e ajeitou o vestido amarelo com estampa de flores, um vestuário pouco usado por sua personagem. Caminharam em direção ao veículo que estava rodeado por refletores, microfones, as cadeiras e câmeras.
Quando avistou o parceiro de cena, compreendeu o incômodo. O problema não era gravar uma cena de pegação pela primeira vez e sim, a pessoa que seria o seu par. Enfrentaram problemas no passado, fizeram uma trégua e estavam dedicando-se ao máximo para o filme ser um sucesso, mas isso não anula as suas próprias emoções. Não seria fácil assumir uma posição tão íntima, estar a uma distância de um suspiro e dentro de um carro. Deveria e seria profissional, mas o problema estava ali. O primeiro e único beijo foi no teste, mas sua mente fantasiava as escondidas quase todas as noites, criando uma história em que estavam juntos. Um segredo que não deveria acontecer, mas era difícil não se deixar levar pelos sentimentos. Sempre nutriu um crush por ele e conviver todos esses anos só agravou. Conheceu um outro lado do ator, um homem mal-humorado, reservado, mas humilde que soube reconhecer os seus erros, além de valorizar o amor, tanto é que lutou para salvar o próprio relacionamento. E também, muito dedicado e apaixonado pela própria profissão. Arrependeu-se e tentou se desculpar com , depois de tudo que aconteceu, também preocupou-se em ajudá-la nos momentos que precisava. A proximidade e convivência durante as gravações estavam mostrando todas as facetas de Robert Pattinson - ídolo, cliente, colega de trabalho e homem - e ela não estava preparada para descobrir a última. A admiração sempre existiu e estaria em seu coração, mas a cada dia parecia seguir por um caminho mais profundo e era assustador, tendo apenas uma opção: colocar o pé no freio.
Parou ao lado do ator e recebeu um sorriso em cumprimento. Posicionaram-se de costas para a lateral do carro e de frente para a forte luz, além de toda a equipe.
- Antes de começarmos a gravação… - Bloom sorriu e encarou os atores. Segurava o roteiro e uma caneta. - Quero parabenizar vocês pelo excelente trabalho e dizer que estou muito orgulhoso… - A equipe assoviou e bateu palmas. - Eu tenho certeza de que será um sucesso! - Ouviu-se um coro de gritos em concordância. - Começaremos pela cena em que Dean caminha até Penélope que está guardando as coisas no carro… - Ele começou a dar as instruções.


☕☕☕☕☕



- segura na porta e encara Robert diretamente. - Bloom colocou a mão dela na posição e virou-se para o ator. - E você tem que segurá-la pela nuca e beijá-la. - Dividiu a atenção para ambos. - Tem que ser aquele beijo que poderia salvar todo um relacionamento.
- Quem dera fosse fácil assim. - Ela brincou.
Todos riram.
- Vamos lá! - Orlando bateu palmas para chamar a atenção de todos e voltou para trás das câmeras.
A atriz fechou os olhos e respirou fundo, soltando o ar pela boca. Buscou em sua mente todos os motivos para o sofrimento de sua personagem e o motivo de ter se afastado do par romântico. Abriu os olhos, a expressão angustiada e afirmou com a cabeça para o ator. Viu-o ajeitar o cabelo com a mão e em seguida, segurou-a delicadamente com ambas as mãos pela nuca. Sentiu o contato com a pele, tentou ignorar o fato de que estava com a nuca suada de nervosismo. Conectou o seu olhar com o dele, o rosto demonstrando tudo que deveria sentir no lugar da sua personagem.
- AÇÃO!
- Eu te amo, Penélope. - Robert falou com fervor enquanto o rosto aproximava-se do dela até cobrir a distância que os separava. Atuando ou não, o coração dela acelerou-se em expectativa e o peito ardeu pedindo ar, pois o nervosismo estava tão grande que havia ficado tempo demais sem respirar. Abriu a boca quando deveria fechá-la, então sentiu o choque entre dentes e ambos afastaram-se com as mãos na boca.
- CORTA!
Os atores riram e a situação acabou quebrando a aura de tensão - ao menos para ela.
- Não precisa me deixar banguelo. - O parceiro de cena brincou. Umedeceu os lábios com a língua e moveu-a para os dentes da frente.
- A culpa não é minha se você não sabe beijar. - Zombou de volta.
Ambos riram.
- POSIÇÃO!
Posicionaram-se novamente, ambos tentando alcançar a aura do personagem, mas fracassando e caindo em gargalhadas ao olharem nos olhos um do outro.
- FOCO, PESSOAL! - Bloom motivou.
Eles confirmaram com um gesto de cabeça. Ela precisou respirar fundo para afastar o divertimento e mergulhar novamente na angústia. Confirmou com um gesto de cabeça e focou no olhar do ator. O seu corpo ciente da presença masculina tão próxima de si, tocando-a gentilmente.
- AÇÃO!
- Eu te amo, Penélope. - Rob repetiu a fala com fervor, aproximou-se novamente e encarou-a diretamente nos olhos, a expressão presa numa paixão determinada.
O coração acelerou em expectativa enquanto sentia a pele quente em contato com sua nuca. Os lábios úmidos e quentes roçaram-se e logo, deu início ao beijo lento, profundo, sentiu o gosto de café que dominava a língua que brincava com a sua. E pela primeira vez, não fez careta ou reclamou do amargo que tanto detestava, pelo contrário, tinha certeza que na próxima vez que experimentasse a bebida, teria outros tipos de sensações. As mãos masculinas estavam quentes, os dedos enroscados nos cabelos e os puxava suavemente para inclinar a cabeça dela enquanto o beijo se aprofundava e com isso, um calor subiu por seu corpo. As próprias mãos estavam presas com força na frente da camisa do homem, puxando-o e mantendo-o em sua direção, colado ao seu corpo e fazendo com que sentisse o calor masculino.
Lutou para se concentrar no que deveria fazer e não se deixar levar pelas sensações que estava lhe causando. Repetia na sua cabeça que não era real para tentar manter o foco, mas estava difícil.
O movimento começou a desacelerar até que parou, deu uma leve mordida no lábio inferior dela e puxou-o delicadamente. Afastaram os rostos, ofegantes por ar.
- E aí, quem não sabe beijar agora? - O ator abriu um sorriso provocador e deu uma piscada para completar a implicância.
Ela encarou-o desnorteada com as sensações e com a mente embaralhada o suficiente para impedi-la de soltar uma boa resposta. Por isso, apenas fingiu não ter escutado e seguiu, rapidamente, até a mesa com as bebidas e comidas.
Será que estaria viva até o final das gravações?


☕☕☕☕☕



bebeu a água de sua garrafa com vontade, tentando acalmar a pulsação e apagar o calor que ainda dominava o seu corpo. Observava Orlando posicionar Robert no banco do passageiro. O beijo da cena anterior foi muito intenso e isso ficou perceptível para o parceiro de cena que ainda resolveu provocá-la no final. E o que irritou-a profundamente, pois estava tão fora de si, foi a mente em branco e incapaz de rebater dignamente, mas estava decidida a dar o troco na próxima cena. Faria o seu melhor e quem ficaria com cara de bobo seria ele - segurou-se para não sorrir com o pensamento. Sabia que a adolescente que vivia em seu interior estava surtando e sofreria um desmaio com o que estava planejando.
Bloom sinalizou para que se aproximasse.
Entregou a garrafa para Ashley e forçou uma máscara de serenidade, mesmo que estivesse prestes a explodir de nervosismo. As mãos suavam frio e secou-as discretamente na lateral do vestido. Forçou um sorriso ao parar do lado do diretor enquanto o parceiro estava acomodado no carro.
- Você vai sentar de frente para ele. - indicou o local. - E as câmeras vão pegar tudo pelas janelas e espelhos retrovisor. - apontou.
O coração dela bateu ainda mais rápido. Olhou para o ator que estava sentado numa posição relaxada. Ele vestia calça jeans escura, camisa preta, um visual do personagem fora do trabalho.
- Beleza! - Confirmou tentando soar tranquila, mesmo que as pernas estivessem feito gelatina.
Ela ia sentar no colo do seu ídolo. E jamais iria superar.
- Vem, eu te ajudo. - Ele falou com um sorriso simpático, a expressão tranquila enquanto estendia uma mão.
Ela aceitou.
- Cuidado com a cabeça. - Alertou.
Ela dobrou o corpo, abaixou a cabeça e apoiou um pouco de seu peso na mão dele, espremeu-se de frente, o porta-luvas encostando em suas costas. Pulou as pernas dele com a sua direita, passou as mãos para o ombro dele e bateu com a cabeça no teto, quando foi sentar no colo. Afastou o bumbum o máximo possível para a direção dos joelhos dele, longe da área que não queria ousar pensar estar tão próxima. Descansou as costas no porta-luvas e virou o rosto em direção a Bloom que estava na porta aberta, verificando o posicionamento. Cruzou os braços na frente do corpo, forçou uma expressão tranquila.
Repetia mil vezes em sua mente que não era real e que não estava sentada no colo do Robert Pattinson prestes a encenar uma cena quente dentro de um carro.
Estava ciente do calor das pernas dele entre as suas que estavam nuas por causa do vestido. O perfume masculino estava impregnado no ar e ouvia até mesmo a respiração dele um pouco pesada. As batidas do próprio coração estavam tão fortes que ecoavam em seus ouvidos, o frio na barriga tomando conta. Torcia para que não fosse possível ouvir o barulho em seu peito ou morreria de vergonha. Enquanto ouvia as orientações, pelo canto dos olhos dava uma verificada na expressão do ator e que parecia irritantemente tranquilo, nem um pouco abalado com a proximidade. Estava numa postura totalmente profissional, as mãos respeitosamente afastadas dela.
- EM POSIÇÃO!
- Não sei se isso vai funcionar. - Ela confessou num sussurro enquanto acomodava-se da melhor maneira possível, as mãos posicionando-se nos cabelos da nuca do ator delicadamente. As mãos quentes e grandes tomaram posição em sua cintura.
- Na hora do beijo, tenta curvar mais a coluna na minha direção para não bater a cabeça no teto.
- Vou tentar, mas corro o risco de sentir dor na coluna. - Revirou os olhos. - Ser alta e ainda ficar por cima, não é fácil. - Sorriu divertida.
Ele retribuiu sua diversão.
- Quer que empurre o banco para trás?
Ela confirmou com um gesto de cabeça. Sentiu o banco mover-se para trás e precisou apoiar uma das mãos no ombro dele ou cairia para frente.
Ambos deram o sinal positivo com as mãos para a equipe.
- AÇÃO!
Os rostos estavam a um palmo de distância, respirou fundo e ficou séria, encarou-o diretamente nos olhos. Apertou mais firmemente o cabelo dele e puxou a cabeça para trás, tendo uma visão melhor do rosto masculino e aproximou o rosto, respiração com respiração, a tensão no ar. Sentiu uma das mãos escorregarem da cintura para sua coxa e apertá-la. Mordeu o lábio inferior e abriu um sorriso provocador, recebendo outro em resposta. Diminuiu bem devagar a distância de suas bocas, até grudá-las em um selinho, a língua pediu passagem e foi muito bem recebida. Passou os lábios para a região da orelha, beijando e mordiscando, descendo pelo pescoço e voltando a boca. Deixou as mãos passearem por baixo da camisa, espalmando no peito quente. Soltou um gemido de satisfação quando a boca molhada começou a descer por seu pescoço e clavícula, as mãos segurando firmemente sua bunda. Fechou os olhos com força, desfrutando-se das sensações que inundavam seu corpo, as respirações ofegantes e gemidos que preenchiam o ar. Indo cada vez mais fundo na aura que havia sido criada para a realidade dos personagens, mas que, na verdade, estava sendo real para ela e queria acreditar que o outro, estava tão afundado quanto. Mordiscou a linha da mandíbula com a barba rala, os lábios pinicaram com o contato.
Inconscientemente, acomodou-se melhor no colo de Robert e quase parou, surpresa com o que sentiu. Continuou a beijá-lo com fervor, pois estava motivada a fazê-lo experimentar o que ela poderia fazer e descobrir que estava alcançando o seu objetivo, incentivou-a.
Levou as mãos até a barra da camisa e ajudou-o a retirá-la, arremessando-a para o banco de trás e viu-o sorrir surpreso. E como provocação, ele desceu as alças do vestido e saboreou a pele dos ombros, causando arrepios. Ela deixou a cabeça tombar para trás e soltou um gemido. Voltaram a buscar com urgência pela boca um do outro e soltaram sons de alívio ao alcançarem o objetivo. As mãos dele foram para a sua bunda e fez pressão para que fosse mais para frente, sem separar suas bocas. A adrenalina, desejo, tensão sexual que pulsava fortemente em suas veias e que há muito tempo não sentia por alguém, tornava fácil ignorar a realidade do espetáculo que deviam estar dando para as câmeras.
A sanidade havia ido para o espaço e a necessidade de contato crescia com força, fazendo o desejo tomar conta de suas atitudes. O quadril movimentou levemente, mas o suficiente para incendiar muito mais.
- CORTA!
Esforçou-se para não soltar um resmungo e relutantemente, parou o beijo e abriu os olhos. Forçou uma expressão neutra, mesmo que internamente estivesse pegando fogo em todas as partes existentes em seu corpo e as batidas de seu coração ecoaram em seus ouvidos.
Olhou para Robert e abriu um sorriso triunfante ao ver a boca vermelha, o olhar atordoado, os cabelos gostosamente bagunçados.
- Pode respirar agora. - Imitou o sorriso que recebeu mais cedo e piscou.
Ele passou uma das mãos pelo cabelo e abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompido por Orlando.
- Maravilhoso! - Elogiou empolgado, mas tinha um olhar divertido que foi lançado para ambos. Abriu a porta do carro e estendeu a mão para a atriz.
Ela ajeitou as alças do vestido, a sensação dos beijos que recebeu no local retornando a sua mente e sentiu o corpo esquentar ainda mais. Olhou para o ator rapidamente e pegou-o olhando-a estranhamente. Nunca o viu encará-la daquela forma como se tivesse acabado de conhecê-la.
- Minha perna ficou dormente. - Ela riu e fez uma careta enquanto saía toda estabanada do colo do ator e pisava para fora do carro, a mão do diretor lhe dando apoio.
Movimentou a perna tentando trazê-la à vida novamente enquanto disfarçava o fato de estar chocada com o que aconteceu e como agiu tão sem pudor, passando longe do profissionalismo. Esforçou-se para não sorrir com a satisfação que sentia da casquinha que havia tirado do ídolo. Sua versão adolescente pulava com um extintor de incêndio nas mãos.
- Não vai sair daí? - Ela virou-se para o carro e sorriu zombeteira.
O parceiro estava no mesmo lugar, a cabeça descansando no encosto do banco, o olhar preso ao teto parecendo perdido em pensamentos. Encarou-a intensamente e sorriu.
- Minhas pernas estão dormentes. - Piscou descaradamente.
Ela mordeu o lábio inferior para não rir e virou-se mancando.
Ashley aproximou-se da atriz e tinha um sorriso sonhador, começou a abanar o próprio rosto com um roteiro.
- Olha, estou sentindo calor até agora. - Ela riu e soltou um suspiro. Estendeu a água para a atriz que aceitou e tomou alguns goles. - Orlando não ousou interromper para não estragar o clima. - Parou de abanar e encarou-a com um olhar conspirador, sua voz tornou-se um sussurro. - Garota, você abalou o Pattinson. - E indicou discretamente o ator que estava fora do veículo e bebia água, conversando com Bloom.
sorriu divertida e voltou a beber.
Teria que sofrer uma lavagem cerebral para esquecer aquele momento e o nível de contato que teve com o ator. Ela não acreditava em tudo que foi capaz de fazer e o que sentiu em resposta. Pelo menos, conseguiu dar o troco. Apenas temia que o seu coração seguisse por outro caminho, muito mais perigoso.


Capítulo 18 – Margaridas

“- Eu não sei se conheço o Dean de verdade. - Penélope tomou um gole de sua bebida e sorriu tristemente, o olhar preso ao balcão do bar.
- E será que ele te conhece de verdade? - Jane tocou a mão livre da amiga, fazendo encará-la. - Talvez ambos necessitam retirar suas armaduras e abaixar suas espadas.
A outra deixou escapar uma gargalhada de puro divertimento ao ouvir as palavras da melhor amiga.
- Ah, Jane! - Sorriu carinhosamente e deu um leve aperto na mão da mulher. - Só você é capaz de transformar conselhos em histórias medievais. - Recebeu uma careta em resposta. - E mesmo assim, soa com toda razão. Vou me permitir conhecê-lo melhor.
- Fico feliz em ouvir isso.
Ambas ergueram suas canecas de cerveja e brindaram, sorridentes.” - Orlando Bloom.

Poderia usar milhares de frases clichês para tentar mostrar o quanto a vida estava surpreendendo e, mesmo assim, não seria o suficiente para alcançar os sentimentos que dançavam em seu coração. Quando refletiu sobre sua trajetória até aquele momento, compreendeu que alcançou muito além das suas próprias expectativas e que a vida é feita de escolhas óbvias e ocultas; e a última, a guardiã das surpresas. Foi o inesperado, dentro de cada escolha, que a levou até ali. Descrevendo, perfeitamente, a sua situação.
Nunca - em milhares de anos - imaginou que estaria dentro de um táxi, seguindo como convidada de um chá revelação de Katy Perry e Orlando Bloom. Às vezes, beliscava a própria pele para ter certeza que era real.
A mistura de ansiedade e nervosismo triplicou enquanto avançava pelo condomínio de luxo à beira mar. A visão das mansões que poderiam pertencer a qualquer famoso de Hollywood, faziam imaginar como seria morar em imóveis tão grandes que se caso quisesse, poderia ficar sem esbarrar com um parente durante semanas. O pensamento lhe causou divertimento e distraiu-a por poucos minutos, até que finalmente, o veículo parou no seu destino. Resolveu a corrida com o motorista e desembarcou. Lutou para dar o primeiro passo enquanto olhava encantada a residência imponente e que nunca tinha visto uma de perto, além da que estaria prestes a entrar.
Não tinha muro, apenas um enorme gramado bem aparado e verde, repleto de canteiro de flores coloridas, árvores e uma trilha cimentada que ligava todo o trajeto até a escada da entrada. Seguiu, calmamente, admirando a paisagem e a fachada que não dava qualquer sinal de que realmente estivesse rolando uma festa. Era composta por três andares pintados na cor creme, o terceiro andar tinha duas varandas com parapeito de grades pretas que combinavam com as janelas quadradas espalhadas. Assim que subiu a escada de cinco degraus, entrou numa varandinha pequena e encarou a porta de vidro que lembrava o designer das vidraças do lugar.
Passou as mãos no cabelo, ajeitou o vestido longo de tecido leve e esvoaçante que era ombro-a-ombro, respirou fundo duas vezes e forçou um sorriso no rosto para disfarçar o nervosismo, estendeu uma mão e tocou a pequena campainha, mas que fez um barulho muito alto. Cruzou as mãos na frente do corpo e melhorou a postura, aguardando pacientemente.
Demorou uns minutos até que a porta abriu, repentinamente, assustando-a, pois não conseguiu ouvir qualquer movimento que denunciasse a chegada de alguém.
- ! - Orlando abriu os braços e sorriu animadamente, abraçou-a e voltou para dentro dando espaço para que um novo rosto surgisse.
- Seja muito bem-vinda. - Katy apareceu e disse animada, depositou um beijo na bochecha da atriz e em seguida, abraçou-a, evitando encostar a enorme barriga da gravidez. Usava um vestido no modelo parecido com a jovem, porém com estampa de onça e tinha um lenço em tons parecidos cobrindo seus cabelos tingidos de loiro. Estava realmente muito bonita.
O casal parou dentro do vestíbulo com expressões tão contagiantes que fez com que esquecesse de qualquer nervosismo, sentindo-se muito bem acolhida. Uma aura tão inexplicável que encheu o coração da jovem atriz de alegria e paz, aumentando o desejo de que aquela tarde jamais se encerrasse.
- Muito obrigada! - Levou uma das mãos ao coração e sorriu sincera. - Agradeço muito pelo convite e aqui está… - Lembrou do pacote em sua mão e estendeu em direção a cantora. - Uma pequena lembrança.
- Não precisava, mas obrigada! Ela… - Riu divertida enquanto aceitava o presente. - ou ele vai adorar! - Uma das mãos livres acariciou docemente a barriga.
- Bom! - Orlando acariciou o ombro da amada e olhou para a convidada, um sorriso orgulhoso no rosto. - Vamos entrar! - Afastaram da entrada para que a outra pudesse passar.

☕☕☕☕☕


O casal guiou-a pelo interior da mansão e esforçou-se para não demonstrar o deslumbramento com o lugar e sua bela decoração. Seguiram até uma ampla sala de estar com portas francesas, Bloom se adiantou e abriu-as, permitindo que atravessassem. O lado externo tinha um enorme gramado bem aparado que foi decorado numa mescla de azul e rosa, mesas foram espalhadas pelo lugar e decoradas com margaridas, um painel e uma mesa com um bolo ficava do outro lado do local. Tudo estava realmente muito bonito e com toda certeza, Sunshine havia caprichado nos mínimos detalhes.
- Katy, precisamos tirar algumas fotos antes que escureça! - A organizadora surgiu como num passe de mágica e abordou o trio com um fotógrafo a tiracolo.
A cantora jogou um dos braços por cima dos ombros da atriz e sorriu, fazendo uma pose com a mão livre tocando a barriga.
- Posso? - pediu timidamente com a mão erguida em direção a barriga.
- Claro!
Ela sorriu e tocou gentilmente, encarou a câmera e logo, vários flashs.
- Lindas! - Sunshine elogiou e se aproximou da dupla.
- Boa parte da equipe está aqui hoje. - Orlando avisou a jovem e pegou uma taça de champanhe com um garçom que passava. Entregou-a para ela que sorriu em agradecimento. - Espero que se divirta! - Falou animado. - Bom, vou me retirar e entreter os convidados para me distrair da ansiedade. - Riu divertido.
- Awn, querido! - Katy sorriu amorosamente e se aproximou dele, envolvendo-o pela cintura e depositando um beijo carinhoso em sua bochecha. Descansou a cabeça no ombro dele e olhou para as meninas.
- Vamos tirar mais fotos? - A organizadora sugeriu animada, as mãos unidas na frente do corpo em expectativa.
O casal concordou, acenou em despedida para a atriz e seguiram com o fotógrafo.
- Quem diria, ! - Sunshine abraçou-a animada e afastou alguns passos, um enorme sorriso no rosto. - Convidada para o chá Revelação da Katy Perry e Orlando Bloom! - Forçou uma expressão magoada. - E espero que esteja sofrendo por não ter me contado tudo que aconteceu depois daquela festa!
Pegou as mãos da amiga e apertou-as gentilmente.
- Me perdoa, Sun! Sério! Foi tudo muito rápido, mas quero te agradecer e muito. - deu ênfase. - Se não tivesse me chamado para te ajudar, jamais teria conhecido o Orlando e nunca teria sido a Penélope.
- Ah, para! - Ficou sem graça.
- É a verdade. - Insistiu.
- Você é muito talentosa, ! Se não fosse Penélope seria qualquer outra personagem, mais cedo ou mais tarde, você iria conseguir. Eu sei que iria! - Riu. - Fiquei muito feliz, quando encontrei a em um evento e ela me contou a novidade. Parabéns! - Abraçou-a forte, mais uma vez e depositou um beijo em sua bochecha.
- Graças a você!
- Não mesmo! - Riu e afastou-se. Ajeitou o terninho e assumiu a postura séria. - Preciso voltar ao trabalho e você deve aproveitar a festa, espero que se divirta e lembre de indicar os meus serviços para os seus novos amigos de Hollywood, principalmente, - fez um gesto discreto com a cabeça para a esquerda e sorriu conspiradora. - o Pattinson.
Ela não queria olhar, mas não resistiu e o fez.
E a sua atenção chocou-se com a dele, forçou um sorriso simpático, mesmo que estivesse com o coração acelerado por ter sido pega no flagra. Nem esperou para ver se receberia algo em troca, apenas voltou a encarar Sunshine.
- O que foi? - Perguntou para a organizadora que tinha um sorriso divertido estampado no belo rosto.
- Nada. - Deu de ombros, mas continuava com a mesma expressão. Olhou para ela e depois para o ator. Finalmente, soltou um suspiro derrotado e disse: - Vou voltar ao trabalho, falo com você depois.
- Tudo bem. - Sorriu e viu-a partir.
Tomou um gole do champanhe e olhou para o local repleto de convidados, reconheceu algumas pessoas da equipe. Resolveu ir cumprimentá-los.


☕☕☕☕☕



Trocou uma ideia com boa parte da equipe e quando chegou ao grupo de Robert, quase chorou de emoção ao ver que ele não estava. Falou com o Bradley Jones, Karen Connor e a Ashley que conversavam animadamente. Depois pediu licença e decidiu aproveitar a vista da praia privativa.
Seguiu até o deck que ficava entre o gramado e a areia, encostou-se no peitoril. A brisa marinha balançava seu cabelo e o longo vestido com estampa floral azul. Poderia permanecer por anos ali, observando a beleza do adeus do Sol e o olá da Lua, sem qualquer cansaço ou preocupação. Fazia tempos que não se sentia tão bem.
Tomou um gole do champanhe gelado.
- É muito bonita. - A voz familiar surpreendeu-a ao seu lado.
Ela virou-se surpresa e encontrou a bela visão do seu colega protagonista que a encarava com um sorriso no rosto.
Ficou confusa com o comentário, quase cogitou estar recebendo um elogio, mas acreditava que o homem estava falando da vista.
Observou-o atentamente, os cabelos estavam penteados, vestia uma camisa social azul e que percebeu combinar com o seu próprio vestido, uma calça preta e tênis. Estava muito bonito, mas ele não precisava ter conhecimento de que pensava aquilo.
- Sim. - Sorriu e voltou a atenção para a vista. - A natureza e suas maravilhas.
- Exatamente. - Ele manteve o sorriso enquanto a encarava, mas a mulher não viu, pois obrigava-se a olhar para frente.
Caíram em um silêncio que não foi nada confortável para ela e que estava se esforçando para esquecer quem era sua companhia. Esforçou-se para focar no mar e nos sons da festa atrás deles, mas estava difícil ignorar o calor que o corpo do ator emanava alguns centímetros da lateral dela. A presença era forte demais para ser ignorada. Quando decidiu tomar mais um pouco da sua taça, o homem decidiu falar.
- Você foi ótima ontem. - Falou numa voz neutra.
O comentário repentino pegou-a de surpresa e fez com que ela quase cuspisse a bebida na cara dele. E como não queria passar vergonha, forçou-se a engolir do jeito que deu e engasgou. Tentou evitar o acesso de tosse, mas não conseguiu.
Os olhos marejaram enquanto cobria a boca com a mão.
- Você está bem? - Perguntou preocupado enquanto se aproximava mais.
Ela estendeu uma das mãos e fez um gesto para tranquilizá-lo enquanto tossia mais um pouco.
- Bebe a minha água. - Estendeu o copo.
Aceitou agradecida e forçou o líquido que desceu refrescante.
- Obrigada. - Devolveu e tossiu mais um pouco. Secou os olhos com as costas das mãos, soltou o ar dos pulmões num suspiro de alívio.
- Melhor?
Tossiu mais um pouco.
- Ótima. - Sorriu divertida, brincando com o comentário que ele fez. - Você também foi ótimo ontem. - Devolveu com falsa inocência.
Ele gargalhou ao sacar o que a colega estava fazendo. Passou a mão pelo cabelo - mania que ela adorava e todo o mundo também - e depois, descansou o quadril no peitoril, a mão apoiada ao lado do corpo. Posicionou-se melhor para encará-la.
- Pensei que você fosse ter dificuldade com a cena, mas me surpreendeu. - Sorriu e mais uma vez, mexeu nos cabelos. - Todos ficaram muito satisfeitos. - Deixou a mão cair novamente.
Ela sorriu sem graça.
- Dei o meu melhor. - Riu.
- É sério, !
Quando ouviu o seu apelido, virou a cabeça no mesmo instante com a expressão da mais sincera surpresa e devia estar soando tão esquisita que o ator parou de falar e encarou-a sem graça.
- Disse algo errado? - Coçou a nuca num gesto que evidenciava seu desconforto pela reação da colega. Cruzou os braços na frente do corpo, analisando-a atentamente.
- Não… - Negou sem graça e encarou a areia abaixo. - É só que você nunca me chamou pelo apelido...
Ele interrompeu-a.
- Se tiver problema para você, eu posso…
- Não tem problema, Robert! Juro! - Garantiu.
Viu-o soltar o ar aliviado.
- Pode me chamar de Rob. - Sorriu divertido. - Você aturou meu mau humor por mais tempo do que minhas próprias namoradas - Brincou. - Isso te dá o privilégio mais do que merecido de me chamar pelo apelido. - Finalizou com um dar de ombros.
- Caramba! Que baita privilégio! - Provocou-o e riu achando graça da expressão do ator.
- Inclusive, quero reforçar o meu pedido de desculpas por ter sido tão injusto com você. - Olhou-a de forma tão sincera, a expectativa estava presente. Havia abandonado o ar de brincadeira, parecia realmente estar falando sério, o que surpreendeu-a totalmente.
Ela ficou sem palavras, mas não queria demonstrar o quanto aquele pedido era importante e aliviava um pouco do peso que a história deles tinha adquirido nos últimos tempos.
- E então? - Perguntou com um leve sorriso amigável. - Amigos? - Estendeu a mão com a palma aberta.
Dividiu a atenção entre a mão do ator e o rosto, no final das contas, retribuiu o gesto, selando aquela inesperada amizade.
- Amigos. - Afirmou incerta, mas o que viu, afastou as dúvidas. Repetiu com mais firmeza: - Amigos.


☕☕☕☕☕



- Ela foi no chá revelação da Katy e do Orlando. - comentou enquanto contava o dinheiro em suas mãos.
- Eles estão bem próximos, né? - perguntou enquanto limpava o balcão.
As meninas estavam arrumando a cafeteria para facilitar o trabalho no dia seguinte, pois estavam desfalcadas, já que a havia tirado o dia de folga e ainda não tinha encontrado uma pessoa para ajudar a cobri-la. A amiga dizia ainda não ser capaz de se sustentar somente com as gravações do filme, mas todos sabiam que rolava um pouco de apego com a cafeteria e sua equipe, por isso ela continuava trabalhando lá durante o horário que estava longe do estúdio.
- Bastante. - deu de ombros. - É quase impossível não gostar dela, poucos - Desviou a atenção do caixa para a outra, o olhar irônico e acusador, não deixando qualquer dúvida. - conseguem a proeza de detestá-la. - Continuou os cálculos e anotações, perdendo a revirada de olhos que recebeu pelo comentário.
- E quem disse que detesto a princesinha do Joey? - Debochou usando o apelido que havia dado para a atriz.
- Você só pode estar de brincadeira! - Riu com falso humor e seguiu para o estoque com o dinheiro em mãos.
A outra bufou cansada.
- Eu… Gosto dela. - Soltou com um pouco de esforço, mas riu divertida. Teve que reforçar ao ver a incredulidade da caixa. - É sério, ! - A mão que segurava o pano, descansou na cintura.
- Tá, né?! - Deu de ombros e abriu a porta. - Você que está dizendo. - Além do mais, independente disso, eu sei que ela te ajudaria com a Katy. - Falou de forma cuidadosa. Escapou pela porta, como se sua vida dependesse disso, entretanto, não pensou que teria que retornar e dar de cara com a amiga. Afinal, iria embora como?
- Eu vou matar o Enrico! - A dançarina falou furiosa. Começou a colocar as coisas nos lugares fazendo barulho para extravasar. - Não sabe manter a língua dentro da boca!
- Sabemos que isso é a última coisa que ele faz. - brincou e riu baixinho, mas levantou as palmas num pedido de desculpas silencioso pela olhada que recebeu.
- O que você sabe? - surgiu perto da outra, apoiando os braços no balcão e a expressão insegura, o pano apertado em sua mão.
A enteada do Joey parou o que estava fazendo e avaliou-a, o rosto bondoso.
- Não sei se é tudo, mas o suficiente para saber que você precisa ser contratada o mais rápido possível e que a é nossa melhor ajuda.
A dançarina cobriu o rosto com as mãos em total silêncio, realmente estava com vergonha pela situação e pelo fato de precisar de uma indicação para conseguir realizar o seu sonho. Iria arrancar a cabeça do namorado, quando chegasse em casa. Ele não deveria ter contado nada.
- , você é nossa amiga. - Falou docemente, descobrindo o rosto da jovem com delicadeza. - Pode não parecer, porque implicamos e brigamos uma com a outra, mas você é nossa família e nenhuma amizade é perfeita. - Garantiu com sinceridade enquanto envolvia as mãos nas suas, apertou um pouco. - Não quer dizer que você não tem talento ou é menos porque foi indicada para uma audição ou porque te deram uma vaga. Eu acredito que existem portas que não conseguimos abrir sozinhos e que precisamos de mãos extras. - Sorriu. - Agora, ajuda ou não, depois que abre, a responsabilidade em fazer valer a oportunidade é com você. Não precisamos ir tão longe, não vê a ?
Ficaram em silêncio, mirando-se enquanto a dançarina enxugava as lágrimas que escaparam, a mente tentando assimilar e internalizar as palavras da outra.
Quando se recuperou da emoção e abriu o seu familiar sorriso que antecede uma provocação, revirou os olhos, mas sorriu.
- Nunca imaginei que um dia, você iria me ser tão útil. - Manteve o sorriso, mas os olhos expressavam a gratidão, movimentou um “Obrigada” apenas com os lábios sem qualquer som. - Já não vou matar o Enrico, apenas torturá-lo. - Riu maliciosamente e virou as costas, ambas retornando para os seus afazeres.

☕☕☕☕☕


A noite havia chego trazendo consigo a revelação do sexo do bebê. Todos os familiares e amigos foram convidados a se aproximarem da mesa com bolo, os papais soltavam piadinhas com expressões de orgulho no rosto. Câmeras foram direcionadas, preparadas para registrar o momento tão especial e único. estava muito encantada, não conseguia desviar o olhar por um segundo, assim como todos que parecia compartilhar o mesmo sentimento.
- Preparados? - Sunshine falou próxima a eles. - Não ouvi. - Brincou, uma das mãos na orelha.
- SIM! - Katy gritou e deu pulinhos, rindo, ansiosa.
- Cinco… - Todos começaram a contagem regressiva.
A cada número a cantora e o ator pareciam mais ansiosos, cochichando no ouvido um do outro, as mãos compartilhando a mesma espátula.
Perry colocou a mão no coração e soltou o ar.
- Parece que vou morrer do coração. - Riu, nervosa.
Bloom beijou a testa da mulher e sorriu, provocando a plateia. - UM! - Gritou, atropelando a contagem que ainda estava no três e assustou a amada que riu, mas seguiu na brincadeira, cortando a fatia do bolo. Enrolaram-se um pouco, mas ambos arregalaram os olhos em surpresa e gritaram, abraçando-se.
- É O QUE? - Começaram as várias vozes curiosas enquanto esperavam o casal revelar, mas eles estavam submersos em sua própria felicidade, beijando-se, pulando e rindo em alegria. As pessoas se perguntavam, quando iria revelar.
- Então, papais do ano, teremos uma menina ou um menininho? - Sunshine assumiu a situação enquanto o fotógrafo estava a todo vapor registrando aquele momento.
Katy e Orlando pareceram recordar que não haviam dito nada, gargalharam e depois, viraram, o ator foi surpreendido pela cantora que enfiou a mão no bolo e arrancou um pedaço. A intenção dela foi tão inesperada que ele não teve como fugir do destino daquele pedaço de bolo, logo estava com a cara toda suja de glacê rosa.
- MENINA! - Sunshine comemorou e abraçou Katy. - Eu sabia!
Foi uma mistura de risos, aplausos e a chuva de gente invadiu a mesa para abraçar e parabenizar pela menininha que estava por vir. A atriz estava extasiada pelo momento, conseguiu se aproximar e finalmente, abraçá-los e parabenizar, mas de forma rápida. A fila estava enorme atrás de si. Recusou a taça de champanhe, tinha bebido várias e ficou com medo de acabar no brilho. Seguiu até uma mesa repleta de doces e comeu um deles.
Começou a tocar uma sequência de músicas agitadas e que levou a maioria dos convidados para o meio do gramado, embaixo das luzes coloridas. A atriz ocupou uma cadeira próxima e que permitia assistir as pessoas mexendo o esqueleto uns com os outros. Sempre que iniciava uma música e a animação continuava a todo vapor, dizia para si mesma que deveria levantar e dançar, mas a vergonha vencia, mantendo-a em seu lugar. A pele estava arrepiada pela brisa mais gelada que vinha do mar, balançando seus cabelos. Estava sozinha desde o momento que Robert partiu para atender uma ligação e Ashley veio se despedir, pois tinha a festa de um sobrinho para ir. Passou as mãos pelos braços numa tentativa de se aquecer, os pés batendo no chão no ritmo da música, não lembrava a última vez que dançou até doerem as pernas.
- Quem dança, o frio espanta. - Robert falou ao ocupar a cadeira vazia que estava abandonada do seu lado esquerdo.
- Hoje você está inspirado, hein? - Ela brincou e voltou a assistir a pista de dança improvisada.
Ouviu os acordes iniciais de Into Me You See, música da própria Perry e que foi feita para o relacionamento dela com o Bloom. O casal foi para a pista, o ator envolveu a cintura da mulher e ela, o pescoço dele. Admiravam-se, expressões apaixonadas, os corpos balançavam no ritmo lento da canção, uma cena realmente linda de assistir. Os casais como eles, motivaram a atriz acreditar no amor verdadeiro, não tiveram uma história perfeita, ficaram um período afastados, sofreram um pelo outro e anos depois, o destino uniu-os novamente. Agora, lá estavam eles, mais apaixonados, mais maduros e prestes a iniciar uma família. Desejou silenciosamente que o universo e o grande Poderoso iluminasse e enchesse de alegria a vida deles, pois merecem toda felicidade do mundo.
- Você ficou sabendo? - Pattinson falou, repentinamente, tirando-a do transe.
Ficou tão absorta com o casal que bailava apaixonadamente que esqueceu dele.
- Do quê? - Confusa. Ele parecia muito ansioso, a perna cruzada, as mãos descansando no colo.
Franziu a testa e inclinou o corpo mais na direção da colega de elenco, o olhar conspirador, parecia que estava prestes a revelar um segredo. Acendendo a curiosidade da mulher. Espiou ao redor, voltou-se a ela, o tronco inclinado cada vez mais em sua direção, o coração da atriz bateu mais forte pela proximidade repentina. Quando ele ficou satisfeito com o pouco afastamento, mais ou menos de um antebraço, sorriu.
- Eu vou ser o Batman. - Sussurrou num volume tão baixo que se a música não fosse mais lenta, ela não teria ouvido.
- Então, é verdade? - Devolveu no mesmo tom, a satisfação perceptível.
Ele arqueou uma das sobrancelhas em dúvida, mas o rosto compartilhava do mesmo sentimento que a mulher, pois decifrou o que ela sentiu com aquela informação.
- Pensei que não soubesse. - Provocou.
- A minha vida está tão corrida que não consigo ter tempo para nada, soube por minhas amigas, mas disseram que era um rumor. - Deu de ombros. - Parabéns. - Sorriu e esticou uma mão, deu um leve aperto no braço dele.
Recebeu um sorriso mais intenso em resposta. A mão masculina e quente, envolveu a sua num aperto carinhoso.
- Agora que está fazendo o próprio filme, deixou de ser minha fã número um? Não era você que estava sempre atualizada sobre a minha vida? - Provocou, largou a mão dela e mexeu nos cabelos.
Ela riu, mas não ia cair nessa.
- Não foi você que me acusou de ser uma stalker? - Rebateu, a ironia presente em sua voz, imitou a levantada de sobrancelha. - Então, deveria supor que eu já sei de tudo, até mesmo, dos projetos que está negociando.
Viu-o abrir e fechar a boca três vezes seguidas com a língua entre os lábios, fazendo um som engraçadinho, o olhar perdido parecendo pensar no que dizer.
- Vai continuar negando? - O melhor que conseguiu usar para insistir na provocação.
- Óbvio, afinal não foi minha culpa ter esbarrado com você e ter ficado sem reação. Uma pena que ninguém me avisou que você é paranoico, pouparia meus sentimentos. - Cruzou os braços e piscou.
Fingiu estar ofendido, já que estava era se divertindo com a conversa.
- Isso é o efeito colateral da fama, mas não tem problema, meu amor. - A voz doce feito mel, mas era notável a palhaçada. - Em breve, muito em breve, você vai saber do que estou falando e vai vir correndo dizer que estava certo.
- Nem ferrando! - Negou com fervor, aumentando um pouco o tom de voz e acabou percebendo que chamou a atenção para eles. Relaxou a postura novamente, normalizando a voz. - Pode esperar sentado.
- Veremos. - Falou uma última vez, o rosto ficou mais sério e atento. - O que você… - Pareceu arrependido e negou com um gesto.
- Fala! - Insistiu, curiosa.
- Não é nada.
- Agora que começou, continua ou vou morrer de curiosidade.
Ele mordeu o lábio inferior parecendo inseguro e desviou a atenção para a grama por alguns segundos, voltando a encarar, porém com intensidade, uma seriedade como se as palavras que fossem escapar por sua boca seriam as mais importantes de uma vida inteira. O que fez os batimentos dela se acelerarem, a boca mais seca e a postura tensa.
- Seja sincera.
- Serei. - Garantiu.
- O que você acha de eu ser o novo Batman? - A expectativa era palpável.
Ela foi surpreendida pela pergunta, até piscou algumas vezes parecendo atordoada e molhou os lábios, a mente processando o questionamento, pois não imaginava que iria falar algo desse tipo, não para o ator. De alguma forma, pareceu que sua resposta seria realmente importante e, por isso, tentou clarear as ideias. Viu-o descansar as mãos no colo, atento, os dedos indicador e médio da mão esquerda acariciando o dedo médio da mão direita, uma mania para os momentos em que estava depositando toda sua atenção ao assunto.
- Você não curtiu, né? - Questionou parecendo desapontado.
- Não! Não é isso. - Apressou-se em dizer. - Não parei para pensar muito sobre isso e, além do mais, você me pegou de surpresa com essa pergunta.
- É isso! Você não gostou! - Dramatizou, mas apenas estava brincando com o desespero da colega. Bagunçou o cabelo e cruzou os braços, encarando-a com divertimento.
sacou a intenção do homem, irritação dominando seu rosto.
- Está tirando uma com a minha cara, Robert?
Ele riu, não aguentando mais disfarçar.
- É culpa sua me divertir tanto. - Deu de ombros.
- Se eu soubesse que você era tão irritante, teria sido Team Jacob.
- Ouch! - Gemeu com uma mão no lado do coração, uma falsa expressão de dor. - Assim você me machuca, .
- É para doer mesmo.
Observaram-se em silêncio, uma música tocava ao fundo acompanhada de conversas, gargalhadas, mas nada que tirasse o foco um do outro. Aguentaram um minuto, até que a gargalhada escapou e ambos quase choraram pelo divertimento.
- E então, ? - Rob insistiu apenas para implicar.
- Vê se me erra, Pattinson! - Ela soltou jogando os braços para o alto, rindo e levantou da cadeira, seguindo até a pista de dança improvisada.
O ator observou-a com atenção enquanto um sorriso não abandonava seu rosto, além de uma sensação que a conversa deles causou. Naquele dia, ele percebeu que realmente gostava da companhia da colega de elenco.


Capítulo 19 – Santa Monica

“Penélope fotografou o corpo à distância enquanto a área era isolada com fitas amarelas. Observou o legista sussurrar algumas palavras para Dean e receber dois tapinhas em resposta. Em seguida, o detetive deu algumas instruções para os policiais do local e saiu da área, focado em alcançar sua viatura. Ela sabia que estava sendo ignorada, afinal, o homem não se dignou a lhe lançar uma olhadela, mas não se irritou com a situação e pendurou sua câmera no pescoço, indo até ele.
- Dean. - Chamou-o calmamente ao parar ao lado do carro, o homem já estava prestes a dar a partida.
- Sim? - Perguntou friamente.
- Eu aceito o encontro. - Soltou de uma vez.” - Orlando Bloom.


entrou em casa silenciosamente e seguiu pelo corredor até o seu quarto, mas parou quando viu que a porta do quarto de estava entreaberta com a luz acesa. Enfiou a cabeça e viu a amiga estirada na cama enquanto encarava o teto, o que chamou sua atenção foi o espelho do guarda-roupa rabiscado de caneta piloto e vários post-it coloridos colados.
Repentinamente, a amiga, sem notar a presença da atriz, levantou num pulo e rabiscou mais algumas coisas com a letra garranchada. Nem se quisesse conseguiria decifrar o que havia sido escrito ali.
- . - Chamou-a.
A outra reagiu ao susto com um xingamento e virou-se para encará-la com uma careta de desgosto.
- Você quer me matar? Sabe que detesto ficar sozinha em casa à noite e me faz uma dessa? - Deixou a mão cair do peito e virou-se para escrever algo.
- Não esperava te encontrar em casa. Aconteceu alguma coisa? - Perguntou preocupada. Abriu mais a porta e encostou no batente, os braços cruzados.
Ouviu um bufar exasperado e a mulher encarou-a, o cansaço evidente em suas feições. Jogou-se de bruços no colchão e começou a murmurar coisas incompreensíveis, pois o rosto estava escondido. Era o verdadeiro retrato do drama e quase fez a atriz rir. Ela abandonou sua posição e aproximou-se da cama, estendeu uma das mãos e acariciou os fios tingidos de lilás.
- Não entendi uma palavra do que você disse.
A amiga ergueu a cabeça e apoiou-a com as mãos, a tristeza era evidente em suas feições.
- Continuo no sofrimento da saga dos dois milhões. - Fez um biquinho. - O relógio não para, meu prazo vai acabar e, aí, eles vão assinar contrato com outra pessoa mais famosa. - Suspirou, lágrimas prestes a serem derramadas. - Não tive uma ideia legal! Só pensei no mesmo que vários já fazem e até eu mesma fiz. - Resmungou em frustração e deixou a cabeça afundar no colchão novamente.
A amiga voltou a acariciar de forma reconfortante sem dizer uma palavra, tentou descobrir uma forma de ajudar, pois sabia o quanto era importante para ela e não gostava de ver o seu sofrimento.
- Que tal vídeos curtinhos de reações às coisas aleatórias que você gosta ou se identifica com o seu público? - Sugeriu. - Bastante gente compartilha essas coisas e isso atrai novos seguidores. - Finalizou com um bocejo, o cansaço do dia batendo e nada mais justo de acontecer, após passar o dia fora no chá revelação e por ser início da madrugada.
- Ótima ideia! - A jovem levantou rápido e anotou no espelho, depois fitou-a em expectativa, o piloto preparado.
- Você gosta muito de ler, pode começar a fazer algumas indicações de leitura. - Apontou para os livros que ocupavam uma estante.
Recebeu um olhar inseguro.
- Eu nunca fiz uma resenha na vida, não sei se daria certo. - Balançava a caneta piloto entre os dedos. - Além do mais, estou acostumada a falar de moda e não sei se o meu público iria aceitar mais esse conteúdo.
- Só vai descobrir, se tentar. - Incentivou. - Arrisque e veja no que dá! Nem tudo são só números, . As pessoas podem conhecer mais de você, não só uma parte. Tudo bem que tem partes que eu não recomendaria, se não vai acabar a mágica. - Zoou.
- Que mentira! Sou um amor de pessoa. - Riu.
- Iludida. - Cantarolou implicante. Retornou para a porta, a mão na maçaneta. - Te amo.
- Também te amo.
A atriz fechou a porta atrás de si, entrou no seu quarto e seguiu até a cama, deitou de barriga para cima. Estava no escuro e tinha esquecido de acender as luzes antes de entrar, a preguiça de levantar dominou, mas sabia que teria que levantar novamente para tomar banho e colocar o pijama. Não tinha condições de dormir sem banho, passou o dia fora e o corpo estava com uma mistura de perfume, sal do mar e suor.
A porta abriu e a luz que vinha do corredor atingiu seu rosto.
- Eu não acredito que vai dormir sem banho! - provocou e o cômodo iluminou-se. - Sou uma péssima amiga e egoísta. - Dramatizou. - Esqueci de perguntar como foi o chá.
esforçou-se para esconder um sorriso, mas a luta não passou despercebida pela outra.
- Pelo visto superou as expectativas.
- Muito! Estou apaixonada pela Katy e Orlando. - Suspirou sonhadoramente. - Eles formam um casal maravilhoso. Foi tudo muito lindo.
- E o Robert foi?
- Claro!
fitou-a atenta e de uma forma que parecia ler a mente da amiga.
- Aposto que vocês conversaram.
A atriz riu.
- Você acredita que ele teve a coragem de dizer que eu fui ótima - Deu ênfase, a voz indignada. - na cena do carro? Bem na minha cara, !
- E você falou o quê? - Perguntou achando graça da situação.
- Quase morri engasgada para não cuspir champanhe na cara dele! - Riu. - Que vergonha! Mas a culpa foi dele, ! Ele vem de boa conversar comigo, fora do local de trabalho, tivemos uma cena quente e que eu dei tudo de mim para tirar uma casquinha e o cara me fala o quê? - Perguntou para ninguém em particular, não conseguia esconder o descontentamento. - Você foi ótima ontem! - Tentou a engrossar a voz para soar masculina.
- Queria ser uma mosca para ver essa cena hilária! - Riu.
- Não foi nada engraçado. - Esforçou-se para ficar séria, mas falhou miseravelmente e gargalhou. - Pelo menos, agora somos amigos.
- Amigos, é? - Perguntou com uma expressão maliciosa.
- Apenas amigos. - Reforçou.
- Então, agora você não precisa ficar com vergonha de chamar ele para a festa do Enrico. - Arqueou uma das sobrancelhas e ficou movimentando para cima e baixo, um sorrisinho malicioso.
Revirou os olhos em resposta ao comentário.
- Vai dormir, vai!
- Também te amo, sua chata. - Brincou e fechou a porta atrás de si.

☕☕☕☕☕



A fantasia estava abafada, mas não tão sofrida por estar gravando no estúdio com ar condicionado. estava em pé no meio do cenário com um fundo verde, prestes a cantar uma música e fazer uma dancinha agitando os bracinhos, improvisando um sapateado acompanhada de mais quatro crianças. Originalmente, eram cinco, mas o pobrezinho ficou com medo do Dentil e começou a chorar a plenos pulmões deixando todos desesperados, nem mesmo a mãe foi capaz de acalmá-lo. A atriz tirou a cabeça da fantasia tentando ajudar, mas pareceu piorar e, com isso, ela fugiu das vistas do pequeno antes que caísse na risada pelo acontecimento inusitado. Já imaginava as amigas morrendo de rir no expediente da cafeteria, quando contasse a história. Admitia que ser o Dentil era puxado, pois incomodava respirar e transpirava muito, mas apegou-se a viver o personagem, aprendeu a se divertir durante as gravações e, algumas vezes, precisou improvisar tendo a sorte do diretor gostar no final. Sabia que logo teria que abandonar o personagem e alçar voos mais altos, mas não sentia-se preparada para dizer adeus, um ano vivendo o Dentil e a pasta de dente tornou-se o seu xodó.
- CORTA! - O diretor gritou e a equipe aplaudiu. As crianças correram para os pais e responsáveis enquanto a atriz retirava a cabeça da fantasia. Ela seguiu para retirar o figurino.
Assim que entrou no camarim repleto de araras, Suzie começou a abrir o longo fecho de suas costas e ajudou-a a retirar a fantasia, pendurando-a no cabide. A porta abriu-se, repentinamente, a assistente do diretor segurava uma prancheta e tinha um sorriso simpático.
- Podemos conversar, ? - Olhou para a figurinista e fez um sinal claro com a cabeça para indicar que a mulher saísse.
Logo, ficaram a sós e começou a falar.
- Você tem feito um excelente trabalho como Dentil! - O tom empolgado. - Esteve muito empenhada em dar o seu melhor e olha que tivemos três atores antes de você que não se dedicaram da mesma forma. - Observou o rosto da atriz com expectativa. - O diretor em conjunto com o produtor e o dono da marca conversaram, eles decidiram te oferecer o papel de garota propaganda da marca. Você receberia um pagamento maior e mais visibilidade, nada mais justo do que recompensá-la por um ano de excelente trabalho. - Sorriu simpática.
A atriz ficou surpresa, a boca levemente aberta em descrença.
- Eu-u não esperava! Sério! - Gaguejou pela mistura de sentimentos, o olhar desviou para a fantasia vermelha, um inesperado aperto no peito. - Posso ter um tempo para pensar? - Quando voltou a encarar a assistente, ela mirou-a como se fosse louca, por isso resolveu acrescentar. - Estou em outro projeto, preciso saber antes se tem problema em usar minha imagem nesse período de produção.
- Compreendo. - Manteve a expressão de animação mais contida. - Vou informar a eles, peço que nos dê a resposta no máximo em dois dias para que possamos encontrar outra pessoa para um dos cargos. - Finalizou e saiu.
Logo que ficou sozinha, ela caiu sentada na cadeira mais próxima, a incerteza era evidente em suas feições e sentimentos. Recebeu uma ótima proposta, mas não poderia negar que gostava realmente de dar vida ao personagem. Compreendia que não tinha o que pensar, tornar-se a garota propaganda ajudaria na sua imagem e também receberia para isso, entretanto, era difícil não deixar de sentir-se triste por ter que abandonar o Dentil. Mantendo o pensamento, ergueu-se, colocou a mochila nas costas e saiu rumo à cafeteria onde teria o turno da tarde até precisar seguir para as gravações noturnas. O dinheiro que estava recebendo pelo projeto segurava suas contas e ainda sobrava uma parte para gastar ou poupar. Ela continuava ali porque gostava do trabalho e também, se mantinha na cafeteria porque amava aquele lugar e os amigos que fez, mas sabia que uma hora teria que abrir mão, só não parecia estar pronta para isso ainda.


☕☕☕☕☕



Quando avistou a familiar e reconfortante fachada preta com enormes vidraças, parou em frente e admirou os detalhes que cuidou durante anos: os vasos de plantas que decoravam as pilastras e a calçada, o quadro com a promoção do dia. Lá dentro estavam três clientes divididos em algumas mesas, segurava o cardápio e explicava algo para uma menina desconhecida, estava atrás do balcão numa posição relaxada enquanto ria de alguma piada feita por seu padrasto.
Um ar de nostalgia envolveu a atriz ao relembrar a manhã que atravessou aquela porta em busca de um emprego, o nervosismo ao reconhecer Joey e ser entrevistada por ele. Continuou a observar o fluxo pelo vidro, o riso querendo borbulhar por sua garganta ao lembrar o dia em que Robert apareceu e pela primeira vez, teve que atendê-lo.
Uma sucessão de lembranças dominou sua mente, as milhares de implicâncias de , as risadas e piadinhas compartilhadas com e, claro, as situações difíceis em que um cliente causou algum problema ou quando um colega retornava depois de receber um “não” nos processos seletivos. Compartilhou muitos momentos, riu, chorou e amadureceu. Será que algum dia seria capaz de dizer “adeus” para essa parte da sua vida? A visão tornou-se embaçada e a garganta apertou pelo choro, precisou respirar fundo para se acalmar. Obrigou as pernas a funcionarem, abriu a porta e assim que entrou, ouviu a voz masculina que alegrava e também, dava broncas às vezes, mas bem às vezes.
- HEY! HEY! HEY! - Tribbiani soltou de forma calorosa, passando longe da discrição, abriu os braços e o sorriso característico dominou suas feições. - Nem ficou famosa ainda, mas já está me abandonando. - Implicou ao envolvê-la apertado.
- Jamais. - Ela sussurrou de forma carinhosa, a voz embargada.
Ele riu, distribuiu tapinhas carinhosos nas costas da jovem e libertou-a, as mãos descansando na cintura. Ficou sem saber o que dizer ao ver o rosto dela molhado em lágrimas, a atriz desesperada para secá-las com as mãos e o antebraço. - Aconteceu alguma coisa? - Questionou preocupado, franziu a testa.
Ela negou com um gesto de cabeça e secou as últimas lágrimas, riu sem graça com a situação.
- Só estou feliz em rever vocês. - Deu de ombros.
- Nós também, . - falou indo ao encontro da amiga e abraçando-a, depois soltou-a e seguiu para o caixa onde um cliente aguardava.
- Temos novidades! - O patrão, empolgado, aproximou-se de e da menina desconhecida. Reparou que ela vestia o avental da cafeteria e foi o suficiente para compreender a situação. - Francesca é nossa nova funcionária e vai te substituir.
O coração apertou tristemente no peito, mas forçou um sorriso animado. As mãos seguraram uma das alças da mochila com força.
- Seja muito bem-vinda! Tenho certeza que vai amar trabalhar aqui. - Falou sincera, mas as palavras saíram com dificuldade.
A jovem abriu a boca para responder, mas foi cortada.
- Ela é a Princesinha do Joey. - provocou enquanto apontava com o polegar para a atriz. - Chata, mas a maior parte do tempo é uma ótima amiga e colega de trabalho. - Deu de ombros com uma expressão de pouco caso, mas era perceptível a brincadeira.
- ! - Tribbiani repreendeu-a, mas o homem não conseguia se manter de forma severa por muito tempo e seria até um crime ser privada de vê-lo alegre, por isso o sorriso voltou ao rosto.
- Agradeço muito por ter ficado até que conseguíssemos outra pessoa, agora você pode focar nas filmagens e carreira. - Joey encorajou. - Tem que aproveitar a oportunidade para entrar de vez em Hollywood, totalmente concentrada. - Encostou-se ao balcão, os braços cruzados na frente do corpo. Vestia uma camisa xadrez vermelha, o óculos escuros estava pendurado na gola, bermuda jeans e chinelos. O corte de cabelo estava mais curto, o castanho com algumas mechas grisalhas.
- Não precisa agradecer, afinal, sou eu quem deve agradecer pela oportunidade que me deu anos atrás. - A visão ficou turva, controlou-se para não chorar mais uma vez. - Sempre que precisar pode contar comigo.


☕☕☕☕☕



- Então, agora é oficial. - apoiou-se no balcão ao lado da atriz e da caixa. Joey havia partido e Francesca estava limpando as mesas. - Somos apenas eu e você. - Olhou para a loira com uma expressão de conformismo.
A atriz comeu um pedaço do cookie de chocolate.
- Relaxem! Logo, vai chegar a vez de vocês. - Encorajou-as. - É estranho pensar que não trabalho mais aqui.
- Vai ser triste não te ver todo dia. - A caixa disse tristemente, apertou uma das mãos da amiga e voltou a descansar o rosto na mão.
- E como vocês estão? - perguntou com interesse.
- Semana que vem vou fazer uma audição para o American Idol. - confidenciou nervosa. - Estou morrendo de medo de fazer vergonha! - Cobriu o rosto com as mãos.
- Pode parar! - descobriu o rosto da amiga. - Você vai passar até se cantar o rótulo de xampu.
- Concordo completamente.
- Vocês falam como se fosse tão fácil. - Revirou os olhos.
- A Katy Perry vai ser jurada, né? - A atriz perguntou. Comeu o restante do cookie.
- Falando nela… - começou timidamente, mas foi interrompida.
- Pode ficar tranquila que vou falar com Orlando.
- Enrico também te contou? - Perguntou indignada.
- Ele não quis arriscar que você desistisse de falar comigo. - Deu de ombros.
Ela resmungou e xingou algumas vezes, as outras observaram a amiga em silêncio dando tempo para que se acalmasse.
- Obrigada. - Agradeceu timidamente.
A atriz franziu a testa, surpresa estampada no seu rosto por ver a jovem agir daquela forma, mas ela entendia a importância.
- Não precisa agradecer. - Deu um tapinha carinhoso no ombro dela. - Somos amigas.
- Viu? - soltou divertida. - Te falei que ia ser de boa!
- E a festa do Enrico? Já convidou o pessoal?
- Hoje vou gravar a noite, aí falo com o Rob.
- Rob? - sorriu maliciosamente.
fingiu-se de desentendida, olhou ao redor para ter certeza que não ouviam a conversa delas. Faltava meia hora para encerrar o expediente, o único cliente estava ocupando uma mesa do fundo enquanto lia um jornal e Francesca estava concentrada com sua tarefa. Respirou fundo e transmitiu os fatos da mesma forma que fez com , contando todos os detalhes do chá revelação e o rumo que estava seguindo com o ator.
- Aposto que ele ficou bem gamadinho nela. - comentou ao ouvir toda a história. - Ela falou que o beijo nem foi técnico!
- Eu aposto dez dólares que eles vão se pegar. - A caixa estendeu a mão e a atriz encarou-a descrente.
- E eu 20 que se pegam na festa do Enrico! - esticou a mão também e apertaram num gesto que firmou o acordo.
- Vocês piraram? - A atriz soou indignada. - Não está rolando nada além de amizade e não vai rolar nada além disso. Sou fã do cara, colega de trabalho. - Falou negando com um gesto de cabeça. - Isso nunca aconteceria! - Finalizou.
Os olhares que recebeu em resposta causaram ainda mais irritação. Ela não queria cogitar aquela ideia maluca.


☕☕☕☕☕



As gravações naquela noite estavam a todo vapor, as cenas seriam gravadas no estúdio que havia sido transformado no escritório de Dean. Infelizmente, teria que dividir o trabalho com Patrick que milagrosamente ainda não tinha ido encher os ouvidos da atriz, pois estava mais preocupado em conquistar a atenção de Bloom e sua equipe. Aguardavam a chegada de Robert que tinha se atrasado por conta de um compromisso, por isso ela se manteve num canto afastado atrás das câmeras. Segurava o roteiro nas mãos e lia suas falas tentando não esquecê-las e, também, absorver as emoções necessárias para a sua personagem.
Forçou-se a manter o olhar nas páginas, quando ouviu a voz de Patrick.
- Olá, ! - Cumprimentou-a com doçura. - Vejo que segue focada no trabalho.
- Sempre. - Fingiu estar concentrada demais para conversar, mesmo que revisse a mesma frase mil vezes, pois o ator deixava-a tensa e atrapalhava-a.
- Vim parabenizá-la pela cena quente que gravou com Rob semana passada. - O tom evidenciando a provocação. - Disseram que a atuação foi tão boa que os beijos pareciam reais.
Ela apertou as folhas com mais força e não conseguiu evitar, encarou-o com um sorriso forçado.
- Nosso trabalho é esse, não é mesmo? - Piscou de forma irônica, a sensação de satisfação surgiu ao ver o sorriso convencido do ator desaparecer de seu rosto, ele foi pego de surpresa pelas palavras da mulher.
- Exatamente. - Respondeu seco e se afastou, puxando assunto de forma simpática com um membro da equipe.
Ela voltou a atenção para o roteiro e suspirou aliviada, toda vez que pensava que ainda tinha uma longa noite aturando o rapaz, o desânimo lhe consumia. Torcia para que só tivesse que revê-lo no tapete vermelho da estreia, uma pena que estava muito longe de acontecer.


☕☕☕☕☕



fechou a porta do trailer e jogou-se no sofá, largou o roteiro em cima de sua barriga. Adiantou uma cena enquanto Robert não chegava e quando acabou, resolveu se isolar ali até que começasse a próxima remessa com o seu colega protagonista. Ali era o único lugar que poderia manter distância do veneno de Patrick, por isso inventou para Bloom que precisava ter uns minutos a sós para absorver mais as emoções de Penélope. Prometeram chamá-la assim que Pattinson chegasse.
Fechou os olhos e respirou fundo.
A mente relembrando os acontecimentos do dia, a tristeza de ter saído da cafeteria ainda estava potente em seu coração e era uma angústia, uma emoção tão confusa sufocante, doía se acostumar com a ideia de que não trabalhava mais no Tribbiani’s Coffee. E além disso, recebeu a proposta para aposentar a fantasia de Dentil e mostrar o rosto como garota propaganda da marca. Não era fácil passar horas numa fantasia quente para ganhar poucos dólares, mas ela tinha aprendido a gostar do trabalho. Pensar que estava seguindo por um novo caminho com essas mudanças causava medo do desconhecido e também, tristeza por ter que deixar essa fase da sua vida para trás. Era impossível não se apegar ao que gostava e mais complicado ainda, desapegar. Sempre soube que não seria para sempre, entretanto, quando o momento realmente chegou, abrir mão se tornou mais complexo do que o esperado.
O celular vibrou no bolso da sua calça jeans, pegou-o e viu o nome da sua irmã.
- Oi, Cat!
- Oi, maninha! Está podendo falar? - A voz doce e que a mais velha reconhecia como o prenúncio para um pedido.
- Depende do que você quer me pedir. - Resmungou.
- Nossa, ! Assim você me magoa!
- Até parece que você me engana, Catherine.
- Odeio quando você me chama assim, parece até a mamãe. - Suspirou audivelmente do outro lado da linha.
- É o seu nome. - Implicou.
- Aconteceu alguma coisa? Você está mais chata do que o normal hoje.
- Estou gravando.
- Então, vou ser rápida! - Falou animada. - Quando você vem me buscar para a festa do Enrico?
A mais velha sentou no sofá, a expressão séria enquanto massageava as têmporas.
- Como você sabe da festa?
- me contou. - Soltou inocentemente.
A mais velha resmungou.
- Sem chance de você vir!
- Qual é, ! Por favor! - Implorou.
- Estou agarrada nas gravações, não tenho como te buscar e, mesmo se tivesse, você não viria. - Finalizou seriamente.
Ouviu a caçula choramingar.
Uma batida leve na porta soou e a porta abriu, uma cabeça masculina conhecida surgiu e exibiu um belo sorriso em saudação. A atriz fez um gesto com a mão para aguardar.
- Sinto sua falta. Faz meses que não te vejo e quase não temos nos falado. - A caçula apelou para a chantagem emocional, mas que não teve qualquer efeito na irmã.
- Prometo que te busco outro dia, mas essa semana não dá, Cat.
- E se outra pessoa vier me buscar? - Sugeriu esperançosa.
- Você sabe que mamãe e papai diriam não. - Alertou-a.
A outra bufou indignada.
A atriz viu a cara de divertimento do ator, mesmo que ele fingisse não ouvir a conversa dela.
- Preciso desligar. - Falou. - Não ouse fugir! - Alertou numa voz brava.
- Não vou! - Ela soou irritada. - Te amo.
- Também te amo.
Desligou a ligação, sorriu tristemente encarando o aparelho, desviou o olhar quando o ator falou.
- Irmãos caçulas.
- Incontroláveis. - Ela riu.
Robert fechou a porta atrás de si e aproximou-se alguns passos, vestia o figurino de seu personagem composto por camisa e calça social, sapatos lustrosos. Segurava o roteiro das cenas da noite.
- Faz muito tempo que vocês não se encontram? - Perguntou curioso. Colocou o roteiro embaixo do braço e escondeu as mãos no bolso.
- Desde a época que vocês se conheceram. - Levantou e pegou os seus próprios papéis. Ajeitou o seu figurino, jeans e camiseta com um sobretudo preto, os pés protegidos por tênis de corrida azul.
- Então, tem um tempo. - Constatou pensativo.
- Tem sim. Ela queria vir para a festa do Enrico, mas eu vou estar presa nas gravações. - Explicou com pesar. - Não posso ir até Utah. - Seguiu até o ator.
- A nossa carreira nos mantém longe da família. - Ele soou conformado com a constatação. - Vai chegar uma fase que você vai se acostumar com a distância e os poucos momentos, mas também vai valorizar mil vezes mais o tempo que puder passar ao lado deles.
- Sim. - Pensou na relação que tinha com seus pais desde que saiu de casa disposta a realizar o seu sonho, lutou contra a avalanche de sentimentos que surgiam sempre que refletia sobre o assunto e o que poderia fazer para resolver tudo, afinal, amava os seus pais com todo o coração.
-
- Sim? - Despertou dos pensamentos.
Viu as costas do colega enquanto ele abria a porta do trailer, mas ao invés de sair para os degraus de ferro, ele apenas parou com a mão na maçaneta e virou para olhá-la, o rosto dele fez ela franzir a testa em confusão, começou a questionar-se sobre ter perdido alguma parte do assunto.
Robert abriu e fechou a boca duas vezes seguidas, sem emitir qualquer som, passou os dedos pelo cabelo quase bagunçando-o, sorte que estava com bastante endurecido pelo spray fixador e também, mais curtos. O que realmente não passou despercebido pela colega é que essa mania do ator indicava nervosismo, com isso ela também ficou tensa.
- Topa almoçar comigo amanhã?
O coração dela bateu acelerado pela surpresa.
- Ah! - Sorriu simpática, mas a timidez ficou evidente. - Claro! - Enrolou o roteiro nas mãos e apertou num gesto casual, mas estava descontando o nervosismo pela situação.
- Ótimo! - Sorriu animadamente e desceu todos os degraus, fez o mesmo que ela com o roteiro e fez um gesto com o objeto indicando a direção para o estúdio, o questionamento presente em suas feições. - Você vem?
Ela riu sem graça, mas estava estampado na cara dela a animação.
- Óbvio! - Abriu um sorriso provocativo enquanto fechava a porta atrás de si e descia, rapidamente, os degraus, juntando-se a ele. - Ou você acha que o seu Dean pode gravar sem a minha Penélope? - Provocou-o.
Ambos riram.


☕☕☕☕☕



A atriz ergueu o rosto para o céu azul assim que seus pés tocaram a calçada cimentada do seu bairro em Los Angeles. Despertou naquela manhã numa mistura de emoções que pareciam embaralhar sua mente e explodi-la em pedacinhos brilhantes. O dia anterior foi emocionalmente desgastante, além das gravações, teve a proposta de ser a nova garota propaganda da Dentil e que teria que abandonar a fantasia do personagem.
Além disso, Joey tinha contratado outra pessoa para ocupar sua vaga na cafeteria e agora estava oficialmente dispensada, livre para focar na sua carreira de atriz. Sua vida profissional estava começando a indicar uma grande possibilidade de dar certo, mas naquele dia não sentia-se cem por cento feliz. Era mais do que grata pelas portas que estavam se abrindo, mas alguns assuntos lhe rodeavam, causando uma angústia insuportável, por isso decidiu sair mais cedo de casa e andar para refletir antes de ter que almoçar com o Robert.
E ainda tinha o ator e colega de trabalho que estava se mostrando uma boa pessoa para se ter por perto, totalmente diferente da única faceta que ele exibia na cafeteria todas as vezes que a mulher o atendia. Foi engraçado ver a cara de , quando soube do convite do homem e o desespero para ajudá-la a se vestir para a ocasião. Não tinha como negar que teve um crush por ele durante anos, mas depois do que aconteceu entre eles no início e nas filmagens do carro, ele perdeu o brilho que o rodeava.
Era como se uma chave tivesse virado, a versão adolescente - finalmente satisfeita - tivesse saído de cena e deixado a adulta tocar o barco. Enlouquecedor demais! E não satisfeita, parecia preocupada sobre realmente ter merecido a posição que estava na carreira, difícil não recordar os momentos dolorosos em que deixou de ter uma oportunidade, porque concorreu a um trabalho com alguém apadrinhado. Como não se encaixar no mesmo quadrado?
- Ao menos o dia está bonito. - Sussurrou para si mesma e respirou fundo numa tentativa falha de acalmar as emoções, mas se a cabeça não contribuísse não adiantaria de nada.

Uma hora depois, chegou no píer de Santa Monica e percorreu toda a extensão com calma, sentindo a brisa marinha, o Sol em sua cabeça, os ouvidos preenchidos pela mistura de sons que iam desde veículos, pessoas, gaivotas. Permaneceu passeando por toda sua extensão por algumas horas e quando faltava uma hora para encontrar o colega de elenco, resolveu seguir a pé até o local marcado.
A Santa Monica Pizzeria estava localizada na Pico Blvd, um lugar mais afastado do grande fluxo de turistas da região e tinha um clima bem aconchegante com a cara da Califórnia. Àquela hora, o lugar não estava com muitas mesas ocupadas e, quando entrou, observou ao redor totalmente encantada pelas paredes de tijolinhos gastos, grandes vidraças e que permitiam ver as fachadas dos comércios do outro lado da rua, além das enormes palmeiras características da Califórnia que estavam mais distantes no calçadão da praia. Todas as mesas eram quadradas de madeira escura com cadeiras combinando, estrategicamente espalhadas para que todas pudessem ter um pouco da visão que as enormes janelas proporcionam. Pela primeira vez, a atriz ficou em dúvida sobre escolher uma mesa mais reservada e distante da vista externa ou uma posição que pudesse apreciar a visão, entretanto, não iria ser um almoço com um de seus amigos anônimos e sim, um ator conhecido internacionalmente, futuro Batman e prato cheio para os paparazzis.
Estavam longe da movimentação habitual dos turistas e até mesmo dos famosos, mas quem garante que um paparazzi ou até mesmo um turista não poderia fotografar o encontro deles? A grande questão é: estava preparada para sair na mídia ao lado do ator? Eram apenas colegas de trabalho e agora, caminhavam para uma possível amizade, mas ela sabia que o mundo pensaria de outra forma, assim como ela pensou várias vezes sobre ele e seus possíveis relacionamentos.
Tentou não rir com o pensamento de que em breve, ela mesma teria que ser mais discreta para manter sua privacidade, isso se ela realmente conseguisse chamar a atenção dos holofotes no seu papel como Penélope.
Optou pela mesa que estava mais no fundo, bem mais afastada da movimentação e das entradas que pudessem ser avistadas. Deixou a bolsa descansar na cadeira ao seu lado, colocou o celular em cima da mesa e o visor mostrou uma notificação de desejando um bom encontro, o que arrancou um sorriso enquanto negava que fosse um encontro e depois, guardou na bolsa para não arriscar que Rob visse alguma coisa. Apoiou o rosto na mão e soltou um bocejo, fechou os olhos por alguns segundos, uma preguiça pelo relaxamento tomando conta, pensou que atacaria com mais força depois de estar com a barriga cheia.
- Boa tarde! - Uma voz masculina desconhecida surpreendeu-a.
Ela abriu os olhos assustada, riu sem graça, sentou mais ereta, as mãos caídas no colo.
- Oi! Boa tarde!
O rapaz que vestia o uniforme do lugar que consistia numa camisa escrita o nome da pizzaria e calça jeans de lavagem clara, sorriu simpático e segurava um cardápio. Ele aparentava ter a idade da atriz.
- Trouxe o cardápio. - Entregou na mão dela que aceitou com um sorriso. - Deseja adiantar a bebida? Temos também algumas opções de entrada. - Finalizou. Tinha um bloco e caneta na mão preparados para anotar o pedido.
- Estou esperando um amigo. - Explicou. Recebeu um aceno em confirmação. - Vou escolhendo o que comer enquanto ele não chega.
- Tudo bem! Qualquer coisa pode me chamar, sou o Sam. - Apontou para o próprio peito.
- Pode deixar! Muito obrigada. - Viu-o partir e voltou sua atenção para o cardápio plastificado em suas mãos que tinha várias imagens de pizzas, os nomes dos itens e os preços escritos caprichosamente em negrito. Olhou os diversos sabores tentando escolher algum, mas sabia que não seria tão simples, porque costumava ser muito indecisa quando se tratava de comida.
- Aí está você! - Rob surpreendeu-a.
- Ah, oi, Rob! - Cumprimentou-o simpática ao desviar a atenção do cardápio para o ator em pé do outro lado da mesa.
- Pensei que tivesse me dado um bolo. - Riu. - Cheguei e não te vi em lugar nenhum, depois de uns cinco minutos parado feito bobo na entrada, o Sam veio perguntar se tinha algum problema. - Apontou com o polegar para trás, ela seguiu a direção e viu o jovem que a atendeu minutos antes, ele acenou divertido. - Falei que estava esperando uma amiga e ele me mostrou você disfarçadamente para eu ter certeza que não era a pessoa. - Tirou os óculos escuros, mas permaneceu com o boné azul na cabeça. - E adivinhe a minha surpresa?
riu.
- Foi mal! Não pensei em te mandar mensagem ou que ia ter dificuldade em me achar. - Falou sem graça.
- Só não achei que fosse escolher uma mesa tão escondida. - Comentou dando de ombros, pareceu receoso em continuar, mas falou. - Você está com vergonha de ser vista comigo ou algo assim? - As mãos descansando no encosto das cadeiras que ficavam no outro lado da mesa.
A boca dela abriu e fechou duas vezes antes de falar em surpresa.
- Claro que não! - Negou com as mãos e a cabeça num gesto frenético.
- Calma! É brincadeira! - Riu.
Ela revirou os olhos com falsa indignação.
- Muito engraçado, Pattinson. - Ironizou.
- Que tal mudarmos de mesa? - Sugeriu com um sorriso de canto, a diversão estava muito presente em seu olhar. - Eu reservei uma.
- Beleza! - Levantou e pegou a bolsa, seguiu-o para uma mesa que ficava bem exposta, posicionada em frente a enorme janela. Dali viam as fachadas, os carros, pessoas que trafegavam pela região, acima o céu azul com o sol e a copa das palmeiras que ficavam na margem do calçadão da praia que estava localizada atrás da Pico Blvd.
Assim que sentaram, Sam aproximou-se e entregou os cardápios, fugindo em seguida.
Os atores pegaram os cardápios e começaram a lê-los com muita atenção, sem dizer uma palavra sequer, o clima tenso era perceptível através da postura ereta e desconfortável de ambos, além das expressões de falsa concentração e com o longo tempo de dedicação para escolher os sabores de pizza. A atriz desistiu de tentar escolher e pegou o seu sabor favorito que era pepperoni. Deixou o cardápio na mesa e olhou pela janela, pois estava sem jeito de ficar encarando o homem à sua frente. Logo em seguida, Sam retornou com o seu bloco.
- E então? Prontos para pedir?
- Sim! Vou querer a pepperoni de oito fatias pequenas e uma Pepsi. - Ela pediu.
- Robert? - O jovem voltou a atenção para o ator que franziu a testa, depois mordeu o lábio inferior numa careta divertida.
- Estou indeciso. - Riu.
Sam revirou os olhos.
A atriz percebeu que o ator era um cliente frequente pela forma que os rapazes se relacionavam e sentiu uma pontada de inveja do jovem, pois só ela sabia o que enfrentava atendendo o ator na cafeteria todos os dias.
- O de sempre. - O rapaz decidiu por ele com falsa impaciência, o que causou uma risada no ator que entregou o cardápio.
- Perfeito! - Pattinson afirmou e deu de ombros, a expressão realmente satisfeita.
- Não sei porque ainda te dou uma chance de escolher algo diferente. - Resmungou e partiu com um sorriso debochado.
riu e voltou a atenção para a rua, o silêncio reinando novamente.
Foram longos minutos sem qualquer palavra pronunciada. Pattinson estava com os antebraços descansando na mesa, os óculos escuros brincando nas mãos, a atenção presa a movimentação do lugar. Por fora, poderia se dizer que estava tranquilo, mas a verdade é que não sabia qual assunto puxar com a colega e melhorar o clima. E ela continuava com os olhos pregados lá fora, esforçando-se para mantê-los ali, pois realmente não sabia que assunto abordar e admitia estar tímida, era diferente lidar com ele fora das gravações e da cafeteria, ali eram apenas Robert e , dois seres humanos numa tentativa de interação e que para ela parecia não estar dando muito certo.
Na verdade, não queria que fosse ruim por falta de empenho da sua parte, quem não garante que ele também não estava tímido? Por isso, destino ou não, ambos pareceram ter o mesmo interruptor ligado e desviaram os rostos em direção um ao outro, quando se encontraram de forma inesperada, tentaram prender o riso, mas logo as gargalhadas escaparam por seus lábios. Foi naquele ponto que a bolha do estranhamento foi estourada.
- Acertei na escolha do lugar?
- Sim! Nasci e fui criada numa pizzaria. - Revelou mais confortável, encostou-se de forma relaxada na cadeira ficando livre para encará-lo diretamente. Sentiu uma leve pontada no peito ao tocar no assunto, pois realmente doía lembrar da família e o que poderia ter sido seu futuro.
- Sério? - Imitou a posição, entretanto, cruzou os braços na frente do corpo.
- Sim! - Esticou os braços e cruzou as mãos em cima da mesa. - Se não fosse atriz, eu estaria nesse momento cuidando dos negócios da família.
- Caramba! Agora, entendo porque você era tão boa na cafeteria. - Constatou parecendo realmente que uma peça havia se encaixado.
Ela foi pega de surpresa pelo comentário e sorriu timidamente.
- Agora não sei se ter te trago numa pizzaria foi uma boa escolha ou não. - Brincou. Inclinou-se e apoiou o cotovelo, descansando o rosto na mão. - Parece que estou com uma especialista em pizza.
Riu e fez um gesto de pouco caso com a mão.
- Sem querer te decepcionar, mas já te decepcionando, eu não frequento pizzarias exatamente por isso. - Zoou.
O cheiro delicioso de pizza tornou-se mais forte e logo, Sam surgiu com a bandeja preenchida pelos pedidos. Assim que colocou o dela em sua frente, ela fechou os olhos e inspirou, a boca começou a salivar. Reabriu os olhos curiosos para saber qual a escolha do ator e espantou-se.
- Aí, Sam! Temos uma especialista em pizza. - Anunciou animado.
O jovem franziu a testa em surpresa, a bandeja vazia em suas mãos.
- Quem?
- Ela! - Apontou com um gesto da cabeça em direção a atriz, o que divertiu-a foi a expressão orgulhosa do homem como se ela fosse a melhor coisa que poderia ter acontecido. - Os pais são donos de uma pizzaria no… - Virou para ela com dúvida. - Onde mesmo?
- Utah. - Respondeu enquanto pegava uma fatia e mordia com vontade. A mistura de maciez com crocância, o sabor mais acentuado do pepperoni e o queijo tornava tudo muito delicioso.
- Uau! Nem vou comentar isso com meu chefe ou ele vai te alugar por horas. - Piscou divertido. - Bom apetite para vocês! - E partiu.
- Que coincidência! Sua pizza favorita também é a pepperoni. - Ela falou animada.
Ele confirmou com um gesto de cabeça, pois a boca estava cheia de pizza.
- E você se arrepende de ter vindo para Los Angeles? - Perguntou repentinamente.
- Não, nenhum pouco. - Respondeu de boca cheia, cobrindo a boca com a mão enquanto mastigava, assim que engoliu continuou. - Foi difícil tomar a decisão, mas não me arrependo, hoje realmente sinto que sou feliz. E você?
- Amo o que eu faço, mas admito que sinto mais falta de estar próximo da minha família e ser mais anônimo, sabe? - Mordeu outra fatia e mastigou rapidamente.
- A parte da família eu entendo, mas a parte da fama só posso te responder se algum dia for perseguida por paparazzi. - Tomou um gole de refrigerante e pegou outra fatia. - Por enquanto, a única experiência é expulsá-los da cafeteria.
Ambos riram.
- Depois de um tempo, nós aprendemos a despistá-los e ter um momento de paz, mas aí tem os fãs que acabam fotografando também. - Deu ombros. - Então, a minha privacidade é só dentro de casa.
O ator ficou com sua expressão desanimada enquanto comia, ela resolveu mudar de assunto.
- Você gosta bastante de música, né?
Confirmou, transparecendo animação pelo tema e o que encheu-a de confiança para prosseguir.
- Já pensou em voltar a lançar músicas? Eu realmente gosto muito da sua voz, admito que a música que você cantou para a trilha sonora de Twilight foi maravilhosa. - Nostalgia explicita em seu tom. - E o piano? Sério! Maravilhoso. Minha voz não é nenhum pouco para cantoria e sou péssima com violão ou piano… - Riu enquanto cobria a boca com o guardanapo, limpando-a de molho. - Ou qualquer instrumento.
Ele abandonou uma fatia mordida no prato e descansou o corpo na cadeira, cruzando os braços e as feições tornaram-se pensativas. Fechou os lábios com a língua entre eles, o olhar preso à mesa enquanto ela continuava comendo, observando-o.
- Foi uma boa pergunta! - Garantiu com evidente satisfação. Agarrou a aba do boné em sua cabeça e girou-o para trás, depois cruzou as mãos na mesa, o corpo ainda jogado numa posição relaxada. - Estou tão acostumado tendo a música como um escape muito pessoal que nunca mais parei para me questionar sobre isso, mas no momento, eu diria que não. - Considerou dando de ombros. - Prefiro expor apenas a minha atuação por enquanto, pode ser que no futuro eu mude de ideia. Mas e você? Tem algum hobby bem pessoal e vergonhoso? - Incitou-a com tom de brincadeira.
Fingiu refletir por poucos segundos, mas negou - o que era a maior mentira. Ninguém precisava saber que adorava reler seus livros favoritos e encenar sozinha todos os personagens dos diálogos mais marcantes. Imagine se o ator presenciasse as milhares de vezes que ela fingiu ser o Edward, Jacob e Bella ao mesmo tempo? Usou toda a concentração mental para manter-se plena, sem deixar escapar qualquer emoção que traísse a sua resposta.
- Não acredito nenhum pouco, ! Todos temos um escape que nos dá vergonha em revelar…
- Eu tenho, mas não vou te contar! Sem chance disso acontecer. - Disse embaraçada.
Gargalharam juntos.
- Com licença! - Uma voz feminina atraiu a atenção da dupla que virou-se para encará-los.
Duas jovens adolescentes, claramente ansiosas, tinham enormes sorrisos de expectativa e deslumbre direcionados para o ator e a imagem causou uma pontada desconfortável no peito da atriz. Reconheceu nas garotas o mesmo sentimento que sua versão de anos atrás ainda mantinha em relação a Robert, toda a mágica de estar frente a frente com seu ídolo e a ideia de distanciamento como se ele ocupasse um patamar impossível de uma mortal como ela alcançar.
Ele deu uma olhadela para a atriz com um sorriso de desculpas e levantou-se com graça, simpatia e bom humor exalando pelos poros. Parecia realmente feliz em abraçá-las e tirar uma foto em pé.
- Pode tirar, por favor? - A mais alta pediu timidamente.
- Claro! - A atriz levantou-se com o celular em mãos e mirou, tirando umas cinco fotografias seguidas e depois devolveu, sentando-se novamente.
- Obrigada! - Agradeceram empolgadas enquanto viam as fotos.
Rob manteve o largo sorriso e tirou o boné para ajeitar os cabelos, enfiando-o novamente no lugar, porém com a aba para a frente.
Assim que as jovens despediram-se agitadas, ambos voltaram a se encarar, o ator até mesmo tomou um gole da sua bebida.
- Pelo visto o seu problema sempre foi comigo. - O pensamento escapou por sua boca de forma provocativa, o tom de deboche usado apenas para disfarçar o sentimento que realmente a incomodava.
Ele franziu o cenho, a confusão evidente em suas feições.
- Nunca recebi o mesmo tratamento, pelo contrário, fui acusada injustamente de ser uma fã stalker. - Riu.
- Eu não… - Tentou continuar, mas foi interrompido pelo celular que começou a vibrar em cima da mesa, pegou e olhou o visor, o olhar preocupado, gesticulou para que aguardasse. - Só um minuto.
Ela esforçou-se para manter a postura relaxada, assim como seu rosto ou iria transparecer o que não queria. Deveria ter mordido a língua para evitar falar, mas foi difícil não extravasar os pensamentos que rondavam a sua mente deixando a mágoa no lugar.
- Droga! - Levantou-se apressado. - Estou a caminho! Devo demorar porque estou em Santa Monica, mas logo chego aí! - Desligou e olhou para a atriz. - Não planejava encerrar nosso passeio agora, mas eu realmente esqueci que tinha um photoshoot hoje. - Bateu a mão na testa de leve enquanto a outra mão guardou o celular no bolso.
- Acontece! - Viu-o puxar a carteira do bolso traseiro e retirar várias notas, colocou na mesa.
- Nem pensar, Robert! - Apressou-se em protestar que o homem pagasse toda a conta.
- Não! - Insistiu achando graça. - Estou furando mais cedo, então eu pago tudo dessa vez.
- Que isso…
- É sério! E sobre o que me falou, - Mirou-a preocupado. - depois conversamos com calma.
- Foi uma brincadeira! - Mentiu e aproveitou para emendar em outro assunto. - Sábado que vem é o lançamento do álbum de estreia da banda do Enrico, ele pediu para te convidar.
O celular começou a vibrar novamente e ele bufou irritado, colocou no ouvido e começou a insistir que estava a caminho. Cobriu o bocal com a mão.
- Vou ter que olhar na agenda, tenho algum compromisso. - Pareceu refletir. - Mas me passa o endereço e horário que se der eu apareço. - Voltou a atenção para a conversa eletrônica e murmurou uma confirmação.
Ela observou em silêncio.
- Nos vemos depois! Se cuida! - Despediu-se apressadamente da atriz ainda com o aparelho preso à orelha.
riu da cena enquanto o via partir para fora do restaurante. Cobriu o rosto com as mãos e bufou indignada consigo mesma por ter falado o que não deveria. Permaneceu assim por um minuto inteiro, afundando-se nos pensamentos revoltados direcionados para si mesma.
- Adorei o nosso almoço! - Rob assustou-a ao retornar e depositar um beijo rápido em sua bochecha, partindo novamente em passos apressados até sumir de vista, sem olhar para trás, abandonando uma desnorteada e que segundos depois, quase derreteu na cadeira em reação ao gesto inesperado do ator.


☕☕☕☕☕



estava muito nervosa, poderia ser comparada com um vulcão em erupção onde sua lava composta pelo nervoso misturado à ansiedade e ao medo de ter uma grande decepção. Era quase hora do almoço de uma terça-feira e sua folga, ela estava ocupando uma cadeira desconfortável há horas com vários outros desconhecidos, mas que compartilham algo em comum: o amor pela música e o sonho de serem cantores profissionais. A audição inicial para selecionar os participantes da competição do American Idol estava rolando em Los Angeles durante dois dias, segunda e terça-feira, mas ela foi convocada para terça-feira junto com mais 500 inscritos. Não conseguia parar quieta no lugar, mexia-se o tempo todo para mudar de posição, roía as unhas, passava a mão na capa do violão para tirar a poeira inexistente e abrir as mensagens no celular, mas nada disso ajudava o tempo a passar mais depressa. E o pior de tudo é que o clima de tensão era palpável, dificultando mais ainda o relaxamento. Quando ia responder a mensagem de , um funcionário do programa com sua prancheta anunciou o nome dela no alto-falante, quase gritou em alívio por finalmente ter a oportunidade de acabar com aquele sofrimento, entretanto, quando levantou da cadeira que percebeu as pernas trêmulas e o frio na barriga. Respirou fundo e acenou para o responsável para mostrar que estava ali e havia ouvido o seu nome.
”Vai dar tudo certo! Eu consigo!”- Começou a repetir como um mantra enquanto pegava o violão, seguia até a porta e entrava na sala dos jurados. As mãos trêmulas e suadas, abriram o zíper da capa e ajeitou o violão contra o corpo. Esforçou-se para dar o seu melhor sorriso, mas tinha certeza que parecia mais uma careta de desespero.
A sala tinha as paredes brancas, o outro lado em frente à porta pela qual entrou, tinha uma bancada igual à que ficava no programa e que era ocupada por Lionel Richie na ponta direita, Luke Bryan na ponta esquerda e entre eles, Katy Perry. Posicionou-se alguns metros de distância onde tinha um X de durex vermelho no chão e aguardou, analisando as expressões de cada um dos jurados, Luke Bryan era o único que estava numa postura mais séria, aumentando o desconforto dela.
Os jurados cumprimentaram.
- Oi, me chamo , tenho 21 anos, trabalho numa cafeteria e algumas vezes na semana, eu toco em um barzinho. - Falou o mais devagar possível para não se atropelar nas palavras.
- E por que você quer ser uma Idol? - Lionel questionou enquanto ajeitava os óculos de grau no nariz, uma caneta na mão, a atenção totalmente voltada para ela.
A jovem respirou fundo para diminuir o nervosismo, mas era uma tentativa falha.
- Porque eu amo música, amo escrever as minhas músicas e cantar. Quando faço isso, parece que estou vivendo outra realidade banhada de felicidade e satisfação. - Abriu um grande sorriso, o brilho nos olhos era evidente e assim como o tom apaixonado. - A música me faz sentir completa e eu acredito que este programa vai me dar a oportunidade de mostrar o meu talento. - Finalizou. Observou um rosto de cada vez tentando decifrar os pensamentos, mas as expressões não davam qualquer pista.
- E qual música vai cantar? - Luke Bryan pronunciou-se num tom sério.
- O meu vício do momento que é a 11 minutes do Yungblud em parceria com a Halsey e Travis Barker.
- É muito boa! - Perry falou animada. - Pode começar.
respirou fundo, o coração batendo forte, os dedos posicionando-se nas cordas. Começou a tocar a melodia e a cantar numa pegada mais acústica, a cada verso parecia que sua alma estava abandonando o corpo e uma dormência dominou-a, parecia que via de fora toda sua apresentação. Fechou os olhos e colocou mais sentimento, potência no refrão e minutos depois, encerrou a canção. Antes de abrir os olhos, desejou mais uma vez que tudo desse certo e quando abriu-os, recebeu um susto com os olhares que misturavam espanto, admiração e simpatia.
- Uau! - Katy soltou deixando a boca aberta por alguns segundos, os olhos arregalados de forma divertida. Girou o corpo para encarar os colegas que tinham sorrisos divertidos, acenaram com gestos de cabeça.
Quando Luke começou a falar, pareceu não compreender uma só palavra, pescou apenas o “Te vemos no programa” e assim que sua mente registrou aquele trecho, a boca escancarou, nenhuma palavra escapou de sua boca.
- Acho que ela entrou em choque. - Perry comentou simpática. Levantou da cadeira e caminhou até a jovem, abraçando-a. - Você tem uma voz maravilhosa! Estou realmente ansiosa para ver seu desempenho no programa. - Comentou ao soltá-la e descansar as mãos no ombro dela, encarando-a diretamente.
- Obrigada! Muito obrigada! - Repetiu com a mão livre cobrindo a boca. - Ainda não acredito que eu passei!
- Pois acredite! Você passou! - Lionel riu.
- Eu passei! - Ela repetiu várias vezes e na segunda vez, o tom mudou para a mais genuína felicidade. - Muito obrigada! - Falou para os jurados, Katy havia voltado para o seu lugar.
Estava tão eufórica com a aprovação que a pequena entrevista com Ryan Seacrest passou feito um borrão, não se recordava de nada do que disse. Assim que saiu do processo, pisou o pé na calçada, pegou o celular e ligou para sua mãe, em seguida, pretendia localizar os amigos e avisar a novidade. Queria gritar a plenos pulmões, girar, pular, dançar ali mesmo na rua e comemorar, extravasar a alegria em saber que muito em breve se tornaria uma cantora profissional e o mais legal de tudo, a sua carreira estava só começando.


☕☕☕☕☕



Não, Catherine não iria obedecer a sua irmã mais velha e se manter quietinha dentro de casa enquanto poderia estar em Los Angeles conhecendo os famosos que só via na televisão e internet. Tentou negociar com sua mãe para que alguém a levasse, mas a mulher foi irredutível e alegou que o pai não ficaria nada feliz se mais uma filha partisse, a grande verdade era que o pai se arrependia de não ter feito as pazes com , mas teimoso, não tomava uma atitude para reparar o relacionamento. E ela por acreditar que o homem realmente não havia perdoado sua escolha, evitava ter qualquer contato, mesmo que em sua última visita ficou evidente o quanto a atriz estava sofrendo pelos anos de distanciamento da família. Até mesmo Cat tinha que admitir que depois que a mais velha foi embora, o clima em casa se tornou deprimente e, além disso, sentia falta de tê-la a uma porta de distância.
Dias depois de sua ligação e a negativa sobre ir para a festa do Enrico, ela teve que pensar num plano para escapar e encontrou os parceiros perfeitos para a aventura: Scarlet e Richard.
Enfiou as roupas dentro da mochila, vestiu o casaco e colocou o capuz na cabeça para esconder seus cabelos, agarrou a bolsa e foi até a janela do seu quarto, abriu-a, a brisa gelada atingiu o seu rosto. Analisou a distância até o chão, respirou fundo e enfiou uma das pernas para fora, uma mão agarrou o galho grosso da árvore que ficava colada à lateral do seu quarto. O início da madrugada era tão silencioso que a sua movimentação para pular para o galho da árvore parecia que iria acordar os mortos, além da sua respiração e batimentos cardíacos estarem tão audíveis que o vizinho do outro lado da rua poderia escutar. Pediu aos céus que não fosse pega no flagra ou as consequências seriam piores. Abraçou o grosso tronco da árvore como uma tábua de salvação e tentou enxergar com a pouca iluminação que vinha de dentro do seu quarto, tomando cuidado, abaixou para sentar no galho e com um dos pés, tocou outro mais embaixo e testou o peso, mas ele cedeu ao seu toque fazendo um estalido, assustando-a. Temeu tentar se apoiar em outro galho e fazer mais barulho, por isso pesou suas possibilidades e chegou à conclusão de que uma perna quebrada teria um alívio no castigo que receberia. Contou com esse pensamento e se lançou do galho tentando aterrissar como um gato com graça e leveza, mas atingiu o gramado feito uma pedra, o baque alto atiçou um dos cães da vizinhança que começou a latir. Xingou baixinho e agarrou o tornozelo que doeu com a queda. Ergueu-se desesperada para sumir dali antes que alguém fosse conferir o motivo do barulho, correu aos tropeços, mancando no lado direito. Atravessou o portão, fechou-o silenciosamente, deu uma última olhada para a casa e abaixou-se para se camuflar no escuro, seguiu firmemente até a rua principal e agradeceu aos céus ao ver Scarlet abrir a porta de uma kombi.
- Vem! - Acenou apressadamente, olhava para todos os lados, mas ao perceber a corrida desengonçada da amiga, seguiu e agarrou-a pelo braço, apoiando-a.
- O que aconteceu? - Richard perguntou no banco do motorista.
Cat abaixou o capuz e ajeitou os cabelos, a mochila no colo, a respiração ofegante, ocupou o banco entre os irmãos.
- Tentei descer pela árvore e caí de mau jeito.
- Você é maluca! - A amiga falou chocada. - E se você quebra a perna? E se seus pais te pegam? Ia perder a formatura! - O tom freneticamente desesperado. - Isso é muita loucura! - As mãos foram para as bochechas, os olhos arregalados em desespero. - A mamãe vai nos matar! - Encarou o irmão mais velho.
Richard deu de ombros, a atenção no volante enquanto dirigia calmamente. Ele era dois anos mais velho que as garotas e tinha sua habilitação.
- O vovô vai nos ajudar.
- Você sabe que a mamãe não vai ouvir uma palavra do que ele disser…
- Onde conseguiram o carro?
- É do vovô. - Scarlet apressou-se em explicar. - Apesar de ser velho demais para dirigir, ele não consegue se desfazer do carro, porque ele diz que lembra a época que viveu com a vovó. - Sorriu tristemente.
- E é seguro para a viagem? - Perguntou cautelosamente enquanto reparava o painel antigo, o couro dos bancos gastos.
Richard riu.
- Esperamos que sim ou quem sabe vamos ter que parar na estrada pedindo carona com uma placa de papelão. - O tom inocente.
A simples fala do rapaz foi suficiente para apavorar a amiga.
- A mamãe vai nos matar ou algum serial killer de beira de estrada! - A irmã do rapaz desandou a falar desesperada. - Não acredito que deixei que você me influenciasse, Cat! - Finalizou arrependida.
- Relaxa, Scar! - O mais velho falou. - Somos jovens e por honra não podemos dizer não para uma aventura. - Divertido encarou ambas.
- Vocês vão amar Los Angeles! - Cat falou animadamente e jogou os braços nos ombros dos amigos. - Não poderia escolher companheiros melhores!


☕☕☕☕☕



releu as falas da cena que aconteceria na delegacia e teria a amável presença de Patrick e o dublê de costas de Robert. O ator havia desaparecido desde o dia que almoçaram juntos, o que soube assim que chegou para trabalhar é que ele teve uma emergência familiar em Londres e precisou se ausentar por uns dias, por isso Orlando fez uns ajustes para algumas cenas e usaria o dublê de costas. Enquanto Penélope aparece na delegacia desesperada pela prisão do irmão caçula, discute com o Josh Andrews que a impede de visitá-lo, a câmera mostra ao fundo as costas do Dean parecendo discutir com o preso. A filmagem da continuação da cena vai ocorrer, quando ele estiver de volta.
Ela cruzou as pernas e observou a movimentação no estúdio, as preparações da equipe para começar.
- Já ficou sabendo? - Patrick surgiu repentinamente, ocupou a cadeira vazia de Rob que ficava ao seu lado. Não esperou resposta, apenas continuou sem dar atenção. - Orlando está apresentando o novo ator para todos, em breve vai nos apresentar o seu irmãozinho. - Sorriu debochado. - Ele é muito atraente. - Soou malicioso.
Voltei a atenção para o roteiro, ignorando-o. O dia ainda estava no começo e ser atingida pela energia do ator tão cedo não era a melhor escolha.
- Lá vem eles. - Anunciou cantarolando, ergueu-se da cadeira e sumiu de vista.
Ela suspirou aliviada e levantou o olhar para conferir se era verdade, a boca escancarou ao ser nocauteada pela surpresa com o que viu, quer dizer, quem viu.

Continue...

Nota da autora: sem nota.